31 dezembro, 2006

2006: The Best and the Worst

2006: THE BEST AND THE WORST

Acabando o 2006 a recuperar de uma arreliadora gripe, não tenho tempo, nem capacidade para elencar de forma exaustiva “The Best and the Worst of 2006”. Também tenho dúvidas de que essa seja a melhor forma de abordar este assunto num Blog que se quer legível, no sentido de readable. Deixo então uma short list para os meus amigos apreciarem (ou não).
 
THE BEST


MI5






















 
O MI5, Serviços Secretos do Reino Unido figuram em 1º lugar nesta lista por dois motivos:

* Porque conseguiram, no Verão deste ano, evitar em tempo útil o que poderia ter sido a maior série de atentados terroristas da História – a explosão de vários aviões de passageiros sobre o Atlântico em ligações entre o Reino Unido e os EUA, presumivelmente salvando milhares de vidas inocentes. Sabe-se que muitas outras conspirações foram abortadas graças aos Serviços chefiados por
Dame Eliza Manningham-Buller.
* Por simbolizarem um heróico e invisível trabalho desenvolvido pelos principais serviços de segurança e contra-espionagem ocidentais e que contribuíram para que a Al-Qaeda chegue ao final de 2006 “a seco” no que respeita a grandes acções terroristas no Ocidente. Bem hajam por isso.

ITÁLIA – SQUADRA AZZURRA



 Del Piero faz o 2-0 contra a Alemanha nas meias finais.

Italianos celebram o Tetra em frente ao Il Duomo de Milano.

A Itália venceu de forma justa e inequívoca o Campeonato do Mundo de Futebol Alemanha/2006, a segunda maior competição desportiva mundial (a maior de uma só modalidade). Lippi, Pirlo, Cannavaro, Del Piero, Buffon, Matterazzi, Zambrotta, Luca Toni, Gattuso, Gilardino, Grosso. Totti, De Rossi, Iaquinta, Inzhaghi e todos os Tiffosi merecem figurar aqui.




























 

Os Gladiadores do século XXI festejam la più bella victoria!

 
CAVACO SILVA
 
Cavaco Silva na primeira visita à Armada na qualidade de Presidente da República.

Pela primeira vez desde 1976, os Portugueses elegeram um Presidente da República um candidato oriundo de um dos partidos (PSD) à direita no espectro político português e com o apoio exclusivo do PSD e do CDS.

Já autor da 1ª (e da 2ª) maioria absoluta monocolor em Portugal, Aníbal Cavaco Silva confirmou-se como um animal político talhado para grandes vitórias eleitorais, desertificando à direita para a monopolizar e conquistando ao centro esquerda para alcançar a maioria absoluta.


Com um primeiro ano de mandato dominado pelas preocupações de estabilidade política e solidariedade institucional e sem surpresas, figura aqui apenas pelo significado da sua vitória eleitoral frente a 4 (quatro) candidatos de esquerda. Mais à frente se verá se aqui volta por outras razões.

THE WORST
NPT- NUCLEAR NON-PROLIFERATION TREATY

O NPT (1968) foi ao longo de quase quatro décadas a pedra angular do esforço de não-proliferação nuclear. 2006 foi o annus horribilis do NPT: o avanço do programa nuclear do Irão, com a cobertura de Moscovo, o teste nuclear da Coreia do Norte, contando com a benevolência de Pequim e Seoul e o cada vez mais próximo reconhecimento oficial do estatuto de potência nuclear da Índia, com Washington a apadrinhar, foram pregos sucessivos bem martelados no caixão do NPT. Como é óbvio, com sponsors deste calibre, as sanções e ameaças do Conselho de Segurança da ONU à Coreia do Norte e ao Irão, tornam-se cada vez mais risíveis.


IRAQUE E SADDAM HUSSEIN



The end of the line for Saddam Hussein.

O Iraque está num estado desgraçado, pasto do selvagem sectarismo de (alguns) Sunitas e Xiitas, do terrorismo internacional, de interesses inconfessáveis de vizinhos mal-intencionados (Irão/Síria) e de um pós-guerra desastrado gerido (?!?) pelos EUA.
 
Saddam Hussein, atingiu o previsível fim da linha. Enforcado no dia 30/12/06, é a imagem forte que nos fica neste estertor final de 2006. No surprise, no mercy, no sorrow. Talvez fosse bom alguns recordarem tudo o que aconteceu no Iraque entre 1979 e 2003 para não cantarem loas ao “idílico” Iraque de Saddam Hussein.


PORTUGAL - GOVERNO E OPOSIÇÃO

Entalados entre um Governo que faz o contrário do que prometeu e aumenta a ingerência do Estado na vida do cidadão e uma oposição amorfa (PSD), ou em processo autofágico (CDS), os Portugueses terminam mais um ano de sacrifícios, sem vislumbrar perspectivas de um futuro melhor. O surto consumista deste Natal, faz lembrar o Titanic a ir ao fundo com a orquestra a tocar!
in “Diário de Notícias”

Com os melhores e os piores, desejo a todos os leitores do “Tempos Interessantes” um 2007 pleno de felicidade, saúde e realizações pessoais. And may you live in Interesting Times!

Rui Miguel Ribeiro

27 dezembro, 2006

10-0

10-0


Simão festeja com Nuno Gomes e Nuno Assis o 1-0.

O Benfica tem sido intratável no Estádio da Luz nesta época: 7 vitórias em 7 jogos para o Campeonato e 10 vitórias em 11 jogos oficiais.

Mesmo assim, é com particular satisfação que eu e o Afonso registamos um score particular de 3 jogos, 3 vitórias e 10-0 em golos! Depois de 3-0 ao Áustria de Viena e outra vez 3-0 ao Celtic Glasgow, tivemos uma prenda de Natal sob a forma de 4-0 ao Belenenses.

A jogar bem, a marcar golos e a ganhar, talvez ainda voltemos à Luz mais um par de vezes esta época…Assim vale a pena!


Kikin Fonseca estreia-se a marcar pelo Benfica, fazendo o 3-0 contra o Belenenses.
in http://www.slbenfica.pt/  

P.S. O Post anterior de “Tempos Interessantes” foi o 100º do Blog. A um número marcante, correspondeu O evento mais relevante: o NATAL. Feliz coincidência, que não quis deixar de sublinhar.

24 dezembro, 2006

Feliz e Santo Natal

FELIZ E SANTO NATAL
REMBRANDT – The Holy Family At Night – Rijksmuseum, Amsterdam

Desejo a todos os leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes” um Santo e Feliz Natal, na companhia dos que mais amam, com todo o conforto e na Paz do Senhor.

Rui Miguel Ribeiro

21 dezembro, 2006

One Million Dollar Report

ONE MILLION DOLLARS REPORT
 




















 
in International Crisis Group

Os Estados Unidos e o mundo viveram, no que concerne o Iraque, suspensos do famigerado Relatório do Iraq Study Group, liderado por James Baker e Lee Hamilton. Ao longo de 8 ansiosos e intermináveis meses, respaldados num orçamento de US$ 1 milhão, foram ao Iraque, falaram com George Bush e Tony Blair, reuniram dezenas de vezes, a situação no Iraque foi-se agravando, os EUA tiveram eleições, o Médio Oriente continuou no seu perpétuo estado de agitação, houve uma pequena guerra no Líbano, o petróleo subiu ao pico e começou a descer… e a comissão deliberava.

Como acontece frequentemente quando a expectativa sobe demasiado, o resultado tende a ser um pouco pífio. Já em Dezembro, da bruma saiu, não o poderoso Nabucodonosor de Verdi (Nebuchadnezzar II da Babilónia) em estilo sebastiânico, mas um longo relatório, que pouco acrescenta de novo e que deverá ter um efeito prático residual. E o que se sabia é que:

1- Não há soluções tipo pudim instantâneo para o Iraque.
2- A resolução dos confrontos sectários intra-iraquianos passam fundamentalmente pelos próprios Iraquianos.
3- A retirada das tropas da Coligação, mormente as dos EUA, lançarão, com toda a probabilidade, o país no caos.
4- Algo precisa de ser mudado.

O Iraq Study Group (ISG) propõe 79 medidas. Duas das mais emblemáticas estão erradas e, tudo o indica, não vão ser aplicadas pela Administração Norte-Americana: a gradual mas vincada redução das tropas combatentes do Iraque e o estabelecimento de conversações com o Irão e a Síria.

O anúncio de um calendário de retirada, seja ele formal ou subsumido, teria um efeito muito próximo do supra-enunciado no ponto 3. Sabedores que as tropas dos EUA estão em via de ir embora, as diversas facções ou grupos armados preparar-se-iam para, a partir desse dia, levar às últimas consequências os ajustes de contas, as lutas pelo controle de parcelas do território e a expulsão ou extermínio de populações de etnia e/ou religião diferente da sua, das zonas por si controladas. Por outras palavras, é impraticável no curto prazo.

Negociar com o Irão e a Síria nos termos e âmbito propostos, seria humilhante para os EUA, penalizador e inaceitável para Israel, reforçaria a hegemonia que Teerão tenta afirmar no Médio Oriente e, pior ainda, não produziria resultados. Isto porque, na actual conjuntura, o que Iranianos e Sírios tentariam extorquir de Washington não lhes poderia ser dado por George W. Bush – hegemonia regional e programa nuclear para Teerão, Montes Golan e Líbano para Damasco. Finalmente, porque, havendo interferência externa no Iraque, na actual conjuntura, nem que o Irão e a Síria colaborassem de boa fé, não teriam o poder de estancar a violência no Iraque, pois esta tem vindo a perder carácter exógeno e a ganhar contornos endógenos cada vez mais nítidos.

A melhor alternativa que se prefigura, passa por tentar aumentar a presença militar dos EUA no Iraque, mesmo que por pouco tempo, para aumentar a capacidade de conter/bater os grupos armados, acelerar ainda mais o treino das forças militares e de segurança iraquianas, garantir que o Governo de Bagdad combata as milícias armadas com mão de ferro (esta não é fácil) e intensificar os investimentos e os esforços tendentes a caminhar para normalização económica do país.

É uma via estreita e sem nenhuma certeza de sucesso, mas parece-me francamente melhor, em termos de probabilidade de sucesso do que o Relatório do ISG.

P.S. E podem ter a certeza de que demoraria menos do que 8 meses e cobraria menos de US$ 1.000.000!



19 dezembro, 2006

Europa e África


EUROPA E ÁFRICA

Portugal tem insistido frequentemente na realização de Cimeiras Europa-África, ou melhor, UE-UA. Este ano, o Governo Português porfiou para conseguir essa realização durante o 2º semestre de 2007, durante a Presidência Portuguesa da EU. Esta semana conseguiu-o: a Cimeira terá lugar em Lisboa.

Um dos obstáculos à realização do evento foi a resistência que alguns Estados-Membros, mormente o Reino Unido, puseram à participação de Robert Mugabe, Presidente vitalício do Zimbabwe.

Aliás, a União Europeia tem uma posição comum, que terá de alterar, que veda tais convites a tal criatura. O problema é que vários países africanos não participarão se Mugabe for excluído “em nome da solidariedade entre Africanos.” (DN, 16/12/06; p. 12) Duas notas:


1- EUROPA: Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, tem de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.

2- ÁFRICA: “Solidariedade entre Africanos”?!? Seria verdadeiramente hilariante se não fosse tão trágico. Solidariedade entre Sudaneses? Entre Hutus e Tutsis no Ruanda e no Burundi? Entre o Ruanda e o Congo? Entre a Etiópia, a Eritreia e a Somália? Entre Marrocos e a Argélia? Entre o Uganda e a Tanzânia? Entre o Sudão e o Chade? Entre Nigerianos? Entre Liberianos? Na Serra Leoa, ou na Costa do Marfim? Entre a Guiné-Bissau e o Senegal? É claro que alguns dos “solidários” também não terão grande moral para condenar Mugabe, mas isso só vem agravar o problema.

Pelo menos que a Cimeira sirva para deixar cair a máscara de que a UE e/ou os seus Estados-Membros não praticam a Real Politik. Desde que haja interesses envolvidos, nem que seja o da mera vaidade e prestígio de organizar uma grande cimeira internacional, guarda-se os princípios na gaveta por uns dias. It’s business as usual.

11 dezembro, 2006

"Portugal Merece Melhor"

“PORTUGAL MERECE MELHOR”

Portugal padece de um mal comum a muitas democracias: uma ausência de reais políticas alternativas. Os principais partidos têm uma vincada diferença histórica e programática, mas o dito pragmatismo e a luta desenfreada pelo centro político, fazem com que não tenham muito mais do que nuances de direita ou de esquerda.

Conquistado o poder, frequentemente as grandes linhas de acção conhecem vários pontos em comum, havendo casos, como no Reino Unido com o Labour de Tony Blair e em Portugal com o PS de José Sócrates, em que os partidos vencedores se apropriam de algumas bandeiras características dos seus adversários, assim retirando-lhes uma parte da respectiva base de apoio.

Neste tipo de cenários, o papel da oposição alternativa ao governo torna-se mais complicado do que o normal, pois a gradual confluência da praxis política estreita o espaço para a crítica, retira credibilidade aos ataques à acção governativa e, à falta de uma real e completa alternativa, confina o exercício da oposição ao trivial, ao acessório, ao fait-divers. Por outras palavras, aniquila-a.

Daí, alguns terem concluído que o poder não se ganha, mas sim que se perde. Não deixando de ser, por vezes, verdade, esta convicção conduz à prostração e passividade políticas, tornando-se o líder de oposição bem sucedido aquele que, pelo timing em que exerce o cargo, ou pela tenacidade com que a ele se agarra, se encontra nessa posição quando o poder efectiva e eventualmente, cai de podre.

Foi por recusar este estado de resignação, foi por ter alergia a este síndroma do politicamente correcto que assola as democracias europeias do nosso tempo e que conduz a uma crescente igualdade de políticas, foi por ter consciência que a democracia definha à falta de reais e credíveis alternativas, que no simbólico dia 1 de Dezembro, fui a Gaia participar no almoço realizado sob o lema “Portugal Merece Melhor”.

O slogan foi bem achado e é difícil não concordar com ele. Eu também apreciei a extraordinária mobilização (perto de 3000 pessoas) num período amorfo de militância político-partidária, o profissionalismo com que o evento foi organizado que o assemelhou à apresentação de um candidato a Primeiro-Ministro e, principalmente, o conteúdo das intervenções, nas quais foi feita uma real e implacável oposição ao governo do PS e se adiantaram algumas alternativas substantivas e não meramente retóricas ou cosméticas.

Luís Filipe Menezes está de parabéns. Contudo, como médico, saberá melhor do que eu que a última coisa que um doente em situação difícil precisa é de falsas esperanças; o fatal regresso à realidade coloca-o num estado de desespero e desesperança superior ao anterior. A sua responsabilidade é demonstrar ao paciente, até 2009 e nos quatro anos seguintes (se for caso disso), que tem efectivamente receitas e remédios diferentes e mais eficazes para Portugal do que aqueles que nos têm sido apresentados. Para bem de todos, desejo-lhe muito boa sorte, engenho e arte.

29 novembro, 2006

O Comboio dos Fracos

O COMBOIO DOS FRACOS 





Em 1982, na Guerra das Falkland, um submarino britânico torpedeou e afundou o cruzador argentino General Belgrano, um dos dois maiores vasos de guerra da marinha de Guerra da Argentina. A partir daí, o almirantado argentino decidiu manter o outro, o porta-aviões Vinte e Cinco de Maio, resguardado no Mar da Prata, não fosse a Royal Navy afundá-lo também!!!

Perguntar-se-á: mas então o porta-aviões não era para utilizar em situações de guerra e, consequentemente, de risco? Ou servia para abrilhantar os desfiles militares e encher de bazófia os almirantes argentinos? A resposta é: devia ser a primeira hipótese, mas a realidade mostrou que era a segunda.

Avançando 24 anos e deslocando-nos para o Afeganistão, verificamos que lá se trava um combate sem tréguas pela pacificação do Sul e do Leste do país e pela erradicação dos Taliban ressurgidos, de restos da Al-Qaeda e ainda da cultura da papoila»ópio»heroína. Nessa missão, a cargo da NATO estão envolvidos 37 países e 33.000 soldados. Tal como acontece em muitos casos, cada contingente tem os seus “rules of engagement”, ou seja, a tipologia de missões que podem levar a cabo, a tipificação das situações em que podem usar a força (e em que grau) e de quem é que podem receber luz verde para actuar.

Como se refere no post anterior, “O Comboio dos Duros” , vários países de grandes, médias e até pequenas dimensões, estão envolvidos em missões de combate contra os Taliban, enquanto outras estão disponíveis como reserva, prontas a ser utilizadas quando, onde e se necessário. Tal é o caso de Portugal.

Porém, um grupo de grandes (?!?) potências europeias, nomeadamente a França, a Alemanha, a Itália e a Espanha, recusam terminantemente: flexibilizar as possibilidades de actuação das suas tropas, não permitindo que possam acorrer em auxílio de aliados em dificuldades (a não ser com equipas médicas e humanitárias); permitir que as tropas sejam deslocadas das zonas relativamente calmas e confortáveis do Norte e do Oeste para as zonas de combate; em suma, envolverem-se em situações de combate e de risco. Esta posição foi reafirmada na recente Cimeira da NATO realizada em Riga.

Para países com este potencial económico, político, tecnológico, demográfico, militar (supostamente), não está mal: encaram as suas tropas da mesma forma que os Argentinos tratavam o porta-aviões, guardando-as com cuidado não se vão estragar. Curiosamente, a maioria destes estados, nos últimos 200 anos, foi cilindrada em grande parte das guerras em que participaram. E queriam alguns destes países liderar uma alternativa de poder aos EUA e esvaziar a importância da NATO! Risível!

É evidente que, com isto, não quero dizer que vidas humanas sejam postas em risco de forma aligeirada, irresponsável e desnecessária. O que se trata aqui é de um conflito muito importante, no qual o sucesso é vital para o Ocidente e para o mundo, e de tropas profissionais que se supõe estarem bem treinadas, bem armadas e preparadas para combater.

Infelizmente, a guerra implica riscos, coragem e baixas, mas a história mostra-nos sobejamente que a cobardia, a fraqueza e a incapacidade de assumir posições firmes em tempos de crise, podem conduzir a resultados bem piores a prazo.

No Afeganistão, enquanto uns arriscam a vida pela segurança dos seus países e dos outros, este autêntico “Comboio dos Fracos” vai criticando os outros de palanque, enquanto que se esquiva da acção como o diabo da cruz.

O Comboio dos Duros

O COMBOIO DOS DUROS
 

Já tive oportunidade de referir por duas vezes neste Blog que o Afeganistão é uma frente fundamental no combate ao terrorismo internacional (maxime Al-Qaeda), à produção e tráfico de droga (ópio/heroína) e ao islamismo mais radical (Talibans).


Neste cenário de 3 em 1, está tanto em jogo que dezenas de países investiram tropas, técnicos e dinheiro para apoiar a reconstrução do país e a erradicação das ameaças.


Como é evidente, o desiderato estruturante de repor o Afeganistão a funcionar nos planos político, económico e social, é necessário, antes da ajuda técnica e financeira, criar condições de segurança e estabilidade. Tal tem-se mostrado crescentemente complicado em 2006, quando se assiste a um ressurgimento dos Taliban.


Ora, a única maneira (ou pelo menos a principal) de resolver este problema é através da força armada aplicada com a contundência necessária para tentar o extermínio das forças Taliban/Al-Qaeda, ou pelo menos, feri-las severamente de forma a colocá-las fora de combate.

No entanto, conforme já escrevi no post
“Portugal e o Afeganistão” de 09/09/06, Até agora, para além dos EUA, só o Reino Unido, a Holanda e o Canadá, tiveram a coragem política de reforçar os seus contingentes no Afeganistão e de movimentar tropas do relativo conforto de Cabul e outras cidades, para desenvolver uma acirrada caça aos terroristas na zona meridional do país, nomeadamente nas províncias de Helmand e Kandahar.

Já passaram quase 3 meses e a situação mantém-se quase idêntica, havendo a acrescentar a Austrália e a Dinamarca aos países que têm a coragem e a firmeza para enviar as suas forças para desempenhar a missão primordial para a qual existem: combater! A estes podemos acrescentar pequenos países, como Portugal e a Estónia, hoje referenciados positivamente pelo Presidente George W. Bush têm rules of engagement suficientemente latas para poderem ser empregues em missões de combate efectivo.


A NATO tem 26 Estados-Membros. Destes, 6 (EUA, Reino Unido, Holanda, Canadá, Austrália e Dinamarca) combatem pelo interesse comum num ambiente agreste, hostil e perigoso. Há mais uns poucos que estão a postos para colaborar.


Usando linguagem cinematográfica, é com este “Comboio dos Duros” que podemos contar para este combate vital. Bem hajam!

 

 
Distribuição dos principais contingentes da NATO no Afeganistão.

23 novembro, 2006

O Regresso de Pedro

O REGRESSO DE PEDRO


Depois de um ano e meio a “andar por aí”, Pedro Santana Lopes regressou. Primeiro, numa intervenção em reunião do Grupo Parlamentar do PSD, depois com a publicação de um livro e uma subsequente entrevista à RTP1.

Naquela, no plano político-partidário esteve bem, equilibrado, apontando de forma clara algumas das deficiências do estilo e substância da oposição que o PSD faz ao Governo e fazendo-o no sítio certo.

O livro não o li, portanto vou reportar-me à entrevista. Santana Lopes expôs uma tese conspirativa, que envolveria Jorge Sampaio, Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, José Sócrates, Marques Mendes, pelo menos, para além de dar um rude golpe no carácter de Durão Barroso. Num tempo em que as teorias da conspiração mais mirabolantes proliferam em livros, na televisão (recordo o pseudo-comentário sobre o 09/11 que a RTP1 inacreditavelmente teve o desplante de apresentar no passado 11 de Setembro) e na Internet, confesso ser um céptico em relação a essas teorias. Por outro lado, também não sou muito propenso a coincidências excessivas, sendo verdade que todos os supra-citados se opuseram de uma forma ou de outra a Santana Lopes e que a maioria deles está hoje melhor do que há dois anos.

Não é fácil tomar uma posição, pelo que talvez seja melhor comprar o livro e fazer uma análise mais cuidada. É, porém, possível, tirar algumas conclusões com os factos que se conhecem e com a própria entrevista.

1- Pedro Santana Lopes fez bem em escrever o livro e dar a entrevista. Ele foi, antes, durante e após a sua passagem pelo Governo, alvo de uma barragem de ataques ad hominem como não haverá paralelo na História recente de Portugal. O tempo em que “andou por aí” foi um período de nojo, mas chegou a altura de contar a sua versão das coisas e demonstrar que, maugrado os seus erros e defeitos, há outros responsáveis pelo que se passou no Verão/Outono de 2004.
2- É evidente que não faltou no PSD quem lhe fizesse oposição para além do razoável e não me refiro ao Conselho Nacional da sucessão, nem ao Congresso de Barcelos.
3- Last, but not least, Jorge Sampaio. Ficou patente na entrevista o que já se percebera na época: Sampaio actuou de má fé, de forma arbitrária e parcial, violando de forma grosseira os deveres de lealdade e imparcialidade do Presidente da República. Toda a sua conduta, desde Julho até Dezembro, aponta para uma premeditação, patente nos condicionalismos que colocou ao novo Governo, nos constantes avisos e ameaças, na espera por uma solução mais credível no PS e, finalmente, na falta de sustentação da decisão de dissolver o Parlamento.

Não sei se o destino de Pedro Santana Lopes continua ou não escrito nas estrelas; sei que este ainda não é o seu tempo. Encerrado este lamentável episódio, Pedro Santana Lopes deverá prosseguir a sua vida, andar por aí se assim entender e resguardar-se. Quanto ao resto, vivemos Tempos Interessantes, nos quais é quase impossível prever como Portugal e o mundo irão ser em 2009, 2010, 2011… e se realmente estiver escrito nas estrelas, o segredo está em saber esperar que a roda da fortuna lhe torne a passar à porta.










 
 
 
 
 
 
Pedro Santana Lopes
in BBC News
at
http://www.newsimg.bbc.co.uk/media/images/

19 novembro, 2006

Saiu o Elo Mais Forte

SAIU O ELO MAIS FORTE

Eu leio, vejo, ouço e custa-me acreditar. O PSD atirou pela janela fora a maioria que, com o CDS, detinha na Câmara Municipal de Lisboa, quando o Presidente da Câmara resolveu retirar os pelouros a Maria José Nogueira Pinto, vereadora do CDS.

Eu não vivo em Lisboa, mas Maria José Nogueira Pinto parece ser um dos melhores membros da vereação: calma, ponderada, com ideias e capacidade de realização e de pensar pela sua cabeça.

Esta decisão de Carmona Rodrigues segue-se a uma votação em que Nogueira Pinto votou contra uma proposta dele para a administração da Sociedade de Reabilitação Urbana. Realmente, parece mal. O estranho é que entre a feitura da lista e a sua ida a votação, um dos três nomes que a integrava, desapareceu. Pior é saber-se que tal terá acontecido por imposição do Presidente ou da Direcção do PSD. A ser tudo isto verdade, e os indícios são muito fortes, as leituras que se podem retirar do episódio são lamentáveis:

1- Carmona Rodrigues que tanto gostava de apregoar a sua qualidade de independente, portou-se como um qualquer amanuense do Partido.
2- Marques Mendes parece estar mais empenhado numa espécie de “limpeza étnica” interna do que em realizar uma oposição eficaz e intransigente ao governo do PS.
3- A Presidente da Distrital do PSD de Lisboa, Paula Teixeira da Cruz, também não fica bem na fotografia, dado que teve uma desavença pública com Maria José Nogueira Pinto, após a qual disse que o assunto seria resolvido no sítio próprio. Seria através do tribunal ou de uma vendetta?
4- A Câmara Municipal de Lisboa perdeu uma boa vereadora, porventura o elo mais forte do executivo.

Os Lisboetas têm realmente motivos para estar mesmo “satisfeitos”: entre as depurações do PSD, a guerra civil no PS e os desvarios do vereador do BE, quem saiu foi o elo mais forte. Triste sina.

 
P.S. Dias depois da publicação deste post, Carmona Rodrigues deu uma entrevista à Antena 1, parcialmente reproduzida no Jornal de Notícias de 25/11/06. Nela, registam-se contradicções, manifesta-se uma total ausência de sensibilidade política e confirma-se que Marques Mendes o pressionou a deixar cair o nome de Pedro Portugal Gaspar. Para além de tardia, fica-se com a sensação que a franqueza resulta mais da falta de jeito do que da vontade de ser transparente. Resultado: credibilidade ao fundo.

17 novembro, 2006

When The Going Gets Tough...

WHEN THE GOING GETS TOUGH…


Poucos dias passaram sobre as mid-term elections nos Estados Unidos e aí temos os primeiros sinais exteriores de irresponsabilidade de Congressistas Democratas. Pedem a retirada das tropas americanas, alvitram/exigem deadlines, reclamam a redução do contingente no Iraque.

E não se trata de figuras menores acabadas de chegar a Washington D.C. Falamos, por exemplo, de Harry Reid, Senador Democrata do Nevada e futuro líder da maioria que anunciou que iria pressionar o Presidente Bush a anunciar uma rápida e faseada retirada das tropas americanas e também de Carl Levin, Senador Democrata do Michigan e futuro Presidente do Comité para as Forças Armadas do Senado exige que aquelas comecem a retirar num prazo de 4 a 6 meses. Se a estes acrescentarmos os personagens do cartoon: os Senadores John Kerry e Edward Kennedy (Massachussets) o Presidente do Partido Democrata Howard Dean e a futura Speaker da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi (Califórnia), o cenário torna-se potencialmente aterrador. Pelosi apoiou (em vão) o Congressista John Murtha (Pennsylvania), apesar de um comportamento eticamente duvidoso, porque este foi dos primeiros a reclamar a retirada do Iraque.

Ora, um dos problemas que têm afectado a actuação e os resultados da coligação no Iraque, é a insuficiência de homens no terreno. Isso mesmo foi admitido pelo Comandante do Central Command dos EUA, General John Abizaid, perante uma Comissão do Senado. Há quem vá mais longe, como o Senador Republicano do Arizona, John McCain, defende mesmo um substancial incremento do contingente americano no Iraque. Tal não será, porventura, viável.

É, porém, evidente que uma retirada iniciada prematuramente e o anúncio de um calendário de retirada é um exercício de demagogia totalmente irresponsável e mostra o desastre que pode constituir a gestão democrata no Congresso. Esta atitude só iria motivar todas as facções combatentes no Iraque e conduziria inevitavelmente a uma guerra civil generalizada, pautada com uma violenta limpeza étnica, à medida que os diversos grupos tentavam definir o controle da sua etnia/religião/partido sobre o maior e melhor território possível. Felizmente, o próprio Partido Democrata é um mosaico diversificado e nem todos os Congressistas alinharão por este diapasão.

Não pretendo ignorar os erros cometidos no Iraque durante o pós-guerra. Mas a partir do momento em que os EUA, o Reino Unido, a Austrália, a Itália, a Polónia e outros lá estão, bater em retirada quando a situação se torna mais complicada, revela cobardia, oportunismo e falta de sentido de estado.

Como os Anglo-Saxónicos costumam dizer, “when the going gets tough, the tough get going”, que é como quem diz, quando as coisas se complicam, os durões põem-se a milhas. Não é disso que os Iraquianos precisam neste momento.
 



P.S. Ontem, 16/11/06, o "Tempos Interessantes" registou a sua 1000ª entrada. Não sendo algo de vital e muito menos de notável, aproveito o pequeno landmark para agradecer o interesse de todos os que contribuiram para estas 1000 visitas em mês e meio.


12 novembro, 2006

Os Elefantes Também se Abatem

OS ELEFANTES TAMBÉM SE ABATEM





















Caricatura de Thomas Nast, publicada na Harper’s Weekly em 1872 e que originou os ícones dos dois grandes partidos dos EUA.

O “worst case scenario” para os Republicanos confirmou-se: a revolução republicana de 1994 deu lugar à reviravolta democrata de 2006 e o GOP perdeu a maioria no Senado e na Câmara dos Representantes. Recorrendo à simbologia dos partidos Norte-Americanos, o Burro venceu o Elefante.

À desvantagem habitual do partido maioritário, ou melhor, do que ocupa a Casa Branca, nas mid-term elections, somaram-se a impopularidade crescente que o atrito do conflito no Iraque vem gerando e os escândalos que abalaram algumas figuras republicanas proeminentes no Congresso.

E agora George W.? Bem, o Presidente dos EUA já enviou uma mensagem pós-eleitoral conciliatória, mesmo para aqueles cujo único lema eleitoral parecia ser “Vote contra o Bush!” Há, no entanto, alguns aspectos que importa não ignorar:

1- George W. Bush teve uma experiência, enquanto Governador do Texas, de governar com uma legislatura de maioria democrata e foi bem sucedida.
2- George W. Bush foi eleito com o slogan de Compassionate Conservative, e mostrou mais disto do que daquilo. Tal traduziu-se na forma determinada (ou obstinada, ou inflexível) como conduziu a sua política nos últimos 5 anos.
3- O ponto anterior, não invalida que o Presidente dos EUA não saiba adaptar-se, mesmo que tacticamente, a novas e menos favoráveis situações: já o fez no plano externo depois de reeleito em 2004.
4- Os Democratas estão inebriados com a vitória, mas não têm os trunfos todos: a sua maioria no Sendo é virtual – o resultado foi de 49-49 e 2 independentes com ligações ao Partido Democrata; no entanto, um deles, o Senador Joseph Lieberman do Connecticut, foi batido nas primárias do partido por um candidato da ala radical dos Democratas que depois foi esmagado nas urnas. E porque é que Lieberman perdeu dentro do partido? Porque apoiava fortemente Bush na questão do Iraque. E poderá haver cismas entre os democratas mais radicais que são visceralmente anti-Bush e os moderados que acreditam que não será com uma plataforma (?) dessas que poderão vencer em 2008.
5- A iniciativa em política externa e de defesa, como em muitas outras num sistema presidencialista, pertence ao Presidente, o que significa que a margem de manobra democrata para inverter o rumo das coisas no Iraque, no Afeganistão, na Palestina, na Coreia do Norte, é muito limitada.
6- Finalmente, exceptuando os radicais irresponsáveis que querem uma rápida retirada do Iraque, como o pateta do Senador John Kerry, os Democratas não têm um real plano B para o Iraque. Estão, tal como os Republicanos, à espera das conclusões de uma comissão bipartidária nomeada para o efeito. Ou seja, fosse qual fosse o resultado a 7 de Novembro, alguma coisa iria mudar na postura dos EUA face ao Iraque.

Posto isto, será obviamente mais difícil para George W. Bush governar nos próximos dois anos. No entanto, algo me diz que a sua popularidade será maior no final de 2008 quando for eleito o seu sucessor do que é actualmente. Para os Elefantes isso seria um bom sinal. Para o mundo também.

O Maior do Mundo

O MAIOR DO MUNDO



O MAIOR DO MUNDO!!! 160.400 associados, tornaram o SPORT LISBOA E BENFICA no maior clube do mundo no que a número de sócios diz respeito, superando o anterior líder, Manchester United (152.000) e encabeçando uma lista na qual figuram o Bayern Munchen (145.000), Barcelona (130.000) e Arsenal (100.000).

É claro que esta distinção não substitui outras, nomeadamente a conquista de títulos, mas que constitui motivo de orgulho e o testemunho vivo da enorme e fiel falange de apoio que o Benfica tem em Portugal, mas também na Europa, América e África, isso é indesmentível.

Releva também, que o Benfica consiga ser o líder mundial de sócios, sendo de um país com 10.000.000 de habitantes, quando os países dos quatro clubes que se seguem têm 82 milhões (Alemanha), 60 milhões (Reino Unido) e 40 milhões (Espanha).

Parabéns Benfica! Na qualidade de Sócio nº 11.035 do SLB, sinto-me orgulhoso por ser parte desta “chama imensa”.

06 novembro, 2006

Mil Perdões

MIL PERDÕES
 
Na sequência da “História de Veneza”, prometi que voltaria à temática dos pedidos de desculpas que tem estado em voga estadistas (quase sempre ocidentais) pedirem a outros povos/países por acções cometidas pelos respectivos antepassados.

Por princípio, considero esta prática uma aberração sem sentido, que resulta da era politicamente correcta (condicionada por complexos e hipocrisia) em que vivemos e do sentimento de culpa que alguns grupos conseguem inculcar nas lideranças políticas.

1- Estes pedidos de desculpas são unilaterais: são sempre os mesmos a pedir desculpa e os mesmos a recebê-las, como se uns fossem uns pecadores impenitentes ao longo dos séculos e os outros fossem uns mártires sem mácula. Não posso subscrever esta visão unilateral e redutora da História.

2- Estes pedidos de desculpa ignoram a natural evolução das coisas e a relatividade dos valores ao longo da História. Até há meio século atrás, a conquista era um acto normal nas Relações Internacionais, que só não era praticado por quem não tinha poder para isso. Há 500 anos, a escravatura era normal, como o era há 2000 anos; e foram muitos os povos que a praticaram e as culturas que a aceitaram. Há 600 anos atrás era comum passar a fio de espada os vencidos; já Júlio César exclamava “vae victis” (ai dos vencidos).

3- Se TODOS, os povos e países pedissem desculpa pelas “malfeitorias” que ao longo de 500, 800, 2000, 3500 anos de História os seus antepassados foram fazendo a outros, a diplomacia mundial resumir-se-ia a um corropio de troca de desculpas. Os Árabes pediriam desculpa a todos, desde a Índia até à Península Ibérica, passando por todo o Norte de África, para não falar nos escravos que capturavam na África negra; os Italianos, herdeiros do Império Romano, teriam de o fazer ao mundo Euro-Mediterrânico; os Franceses e os Alemães fá-lo-iam a quase toda a Europa, a que acresce, no caso da França, a inúmeras colónias; Portugal, por exemplo, teria de se desculpar perante os nativos do Brasil, Guiné, Angola, Moçambique, Timor, etc, mas receberia desculpas da Espanha, França, da Liga Árabe e da Itália.

Há, naturalmente, que fazer uma distinção entre factos remotos e acontecimentos contemporâneos. Uma coisa é a Alemanha assumir as suas responsabilidades pelo Holocausto e dele pedir desculpa, outra bem diferente seria a Grã-Bretanha pedir desculpa à França pela ocupação territorial e pelos massacres cometidos durante a Guerra dos Cem Anos. Não obstante, isto não significa que a Alemanha tenha de viver vergada pelo sentimento de culpa ou coagida na sua acção política pelo Holocausto. O capítulo encerra-se e segue-se em frente. Isto não significa esquecer a barbárie, ou ignorar a dor das vítimas e dos seus descendentes, mas apenas a ordem natural das coisas: life goes on.

Esta prática – a reivindicação de desculpas e a subsequente das ditas – resulta na manutenção do Ocidente como refém moral do resto do mundo, como se lhe fossem assacáveis os males do mundo, ignorando todas as benfeitorias e como se povos, nações, estados, que são independentes há 30, 50, 100 anos, tivessem vivido todo este tempo num estado de inimputabilidade absoluta e fossem alheios ao estado miserável em que muitos deles estão.

Eu não sinto nem necessidade, nem dever, nem vontade, nem obrigação de pedir desculpa a povo algum por aquilo que os nossos antepassados fizeram. Estamos no III Milénio e os países têm de seguir o seu caminho e assumir a responsabilidade pelo seu presente e pelo seu futuro, sem estarem permanentemente a recriminar D. Afonso de Albuquerque, Cristóvão Colombo, Elizabeth I, George Washington, ou Pedro o Grande, ou quaisquer outros, pelas suas desditas actuais.
 

02 novembro, 2006

Festa, Vitória e Fair-Play

FESTA, VITÓRIA E FAIR PLAY

Nuno Gomes festeja o 2-0 contra o Celtic no Estádio da Luz.

Aproveitando o feriado, fomos (eu, o Afonso Duarte e dois amigos - o João Carlos e o Fernando Daniel) a Lisboa ver pela segunda vez este ano um jogo da Liga dos Campeões (o primeiro foi o Benfica, 3 – Áustria Viena, 0). Desta vez, com grandiosidade acrescida por já se estar na fase de grupos; 55.000 espectadores no Estádio da Luz, 10.000 dos quais Escoceses. De longe a maior falange de adeptos visitantes que eu já vi na Luz; quase que diria que em Lisboa, poucas vezes se terá visto tantos adeptos de futebol vestidos de verde e branco.

Ambiente de festa, muito fair-play (notável a iniciativa dos supporters do Celtic de homenagear Miklos Fehér exibindo uma gigantesca camisola nº 29 do Benfica ao som do “You Will Never Walk Alone”.

Bom também ver o Benfica a fazer um bom jogo e a vencer outra vez por 3-0 (podia ter sido 4-0), resultado que aconteceu nas 4 vezes que os dois clubes se defrontaram e sempre a favor dos visitados.

No final, festa, fair-play, sã convivência entre os adeptos (nisto os Britânicos são inigualáveis). Tudo muito diferente, o oposto mesmo, do que se passa no plano interno. Assim dá mais gosto ir ao futebol.

29 outubro, 2006

Descubra as Diferenças

DESCUBRA AS DIFERENÇAS



Facto: centenas de milhares, a Encliclopédia Britânica estima em cerca de 600.000, o número de Arménios que morreram em 1915, em plena I Guerra Mundial, no que era então o Império Otomano.

A Arménia defende que foram mortos 1.500.000 de Arménios no que constituiria um genocídio perpetrado pelos Otomanos.

A Turquia considera que o número de mortes foi na ordem dos 300.000 e que tal aconteceu num contexto de guerra, lutas intestinas, doença e fome, agravadas pela desordem do colapso do velho Império Otomano.
Posto isto, descubra as diferenças:
Na Turquia é crime punível com prisão aludir à existência de um genocídio arménio às mãos dos Turcos.

Em França, a negação do genocídio arménio (reconhecido como tal por Paris) é crime punível com multa e prisão.

Senão descobrir nenhuma diferença relevante pode concluir que:


a) A intolerância é a mesma e portanto a distância da Île de France à Anatólia não é tão grande como se pensaria.
b) Que ambos podem estar na União Europeia.
c) Que nenhum dos dois devia pertencer à UE.
d) Que os governos de Paris e Ankara deviam ter mais que fazer do que se entreter com estas coisas.

P.S. Quem tiver a melhor resposta ganha um croissant ou um kebab, conforme a preferência.

24 outubro, 2006

Na Mouche

NA MOUCHE
 
Como é habitual, o cartoonista Bandeira, do “Diário de Notícias”, acertou na mouche. O que é que fazem com o meu/nosso dinheiro? Porque é que em Portugal parece não existir aquele maravilhoso conceito Anglo-Saxónico que se designa de Accountability. Ou seja, porque é que o Estado não presta contas de forma transparente, perceptível e exaustiva? Porque é que temos a sensação/certeza de sermos explorados/espoliados/esmifrados/gamados diariamente e indecentemente?

Tal como os arrumadores com a heroína, também o Estado Português se mostra irremediavelmente viciado no nosso dinheiro. E o pior é que não se contenta com a moedinha da praxe...


Por Bandeira, in "Diário de Notícias" de 21/10/06
 
 
P.S. O eleitor que passa 4 anos a resmungar contra um governo, que acusa os políticos de não cumprirem promessas e que nas eleições seguintes se abstém, ou vota nos mesmos, também é responsável por este estado de coisas. No fundo, está a branquear a irresponsabilidade e a mentira.

23 outubro, 2006

Uma História de Veneza

UMA HISTÓRIA DE VENEZA



Em 2001 participei numa conferência sobre Segurança e Defesa em Veneza com o Instituto de Defesa Nacional e os seus congéneres de Itália, França e Espanha.

A parte social do programa incluía as inevitáveis e inesquecíveis visitas à Piazza San Marco à Basílica San Marco e ao Palácio dos Doges. A dado momento da visita, a guia veneziana mencionou que determinada pintura não se encontrava no local, porque tinha sido levada pelo Exército Napoleónico; mais adiante, esclareceu que certa escultura era uma cópia, pois o original se encontrava em França. À terceira referência (feita de forma casual) às pilhagens francesas, alguém perguntou à guia – “Porque é que a Itália (ou Veneza) não exige a devolução das suas obras de arte à França?” Após uma breve pausa, a guia respondeu: -“ Porque se pedíssemos para nos devolverem o que outros nos levaram e eles nos solicitassem a entrega do que nós tirámos, não sei se não ficaríamos a perder.”

Game, Set and Match! Foi uma das mais breves, lúcidas e inteligentes análises que já ouvi e que resume a impossibilidade, a inutilidade, a impertinência, a petulância e a hipocrisia de tentar corrigir o que de mal aconteceu ao longo de séculos de História.

Pior ainda, é que o ónus das correcções e desculpas pela História fica sempre nos mesmos: os ditos países desenvolvidos, o Ocidente. Como se cada um de nós (Ocidentais), carregasse sobre os ombros o peso de séculos de guerras, opressões, miséria e injustiça, uma espécie de portadores do pecado original, sem os quais os demais povos viveriam felizes, prósperos e contentes. Será que não podemos aprender alguma coisa com aquela guia de Veneza?

20 outubro, 2006

O Cretino

O CRETINO
 
Gerou compreensível revolta e celeuma o arrepiante aumento de 15,7% das tarifas de electricidade para os consumidores domésticos, proposto pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos para o ano de 2007.

O Secretário de Estado da Indústria e da Inovação, António Castro Guerra, resolveu imputar aos consumidores este extraordinário aumento, “acusando-os” de aumentarem o consumo. É extraordinário! A electricidade nos anos anteriores não aumentou mais nem menos do que o previsto na lei, ou seja, ao ritmo da inflação. Aquilo que os consumidores consumiram, pagaram ao preço estipulado (que não é negociável). E agora, Sua Excelência tem a insolência de culpar os Portugueses pelos prejuízos acumulados. Provavelmente também somos culpados dos aumentos da gasolina (até foram os consumidores que exigiram novo aumento do ISP), do café (porque bebemos muitos), das portagens (porque não queremos circular por estradas antigas e congestionadas), do gás (porque não temos aquecimento a diesel), do diesel (porque não temos carros a gás) e por aí fora.

No dia seguinte, disse que teve um dia mau (acontece a qualquer um) e pediu/exigiu… paciência. Desculpas? Zero! Retratação? Nada. Arrependimento? Nenhum. Conclusão: não só foi cretino, como, provavelmente, é mesmo cretino.