17 setembro, 2006

Portugal no Afeganistão

PORTUGAL NO AFEGANISTÃO


in "The Economist"

Após ter expressado, há poucos dias, a minha discordância em relação ao envio de tropas portuguesas para o Líbano, hoje venho defender o reforço do contingente português no Afeganistão.

No Afeganistão, distante dos olhares e atenção do grande público, desenvolve-se o mais importante combate entre o Ocidente e o terrorismo islâmico radical, no caso, a NATO contra os Taliban e a Al-Qaeda.

Até este ano, exclusivo de tropas especiais dos EUA, a NATO tomou este ano a cargo a luta directa contra os Taliban no Sul do país, num esforço para trazer segurança e estabilidade social e política a todo o Afeganistão, requisitos para o desenvolvimento económico e para uma erradicação mais consolidada do radicalismo islâmico que prolifera nas zonas remotas entre o Afeganistão e o Paquistão.

Até agora, para além dos EUA, só o Reino Unido, a Holanda e o Canadá, tiveram a coragem política de reforçar os seus contingentes no Afeganistão e de movimentar tropas do relativo conforto de Cabul e outras cidades, para desenvolver uma acirrada caça aos terroristas na zona meridional do país, nomeadamente nas províncias de Helmand e Kandahar.

Este mês, a NATO solicitou aos 26 Estados-Membros um reforço de 2.500 tropas de combate para somar a um contingente de cerca de 20.000. Até agora, só a Polónia disponibilizou uma generosa oferta de 1000 soldados a partir de Janeiro de 2007. A Dinamarca informou que ponderava reforçar o seu contingente. Dos restantes, excluindo-se aqui aqueles que já estão fortemente envolvidos, apenas o silêncio. É lamentável.

A estabilização do Afeganistão e o seu desenvolvimento, pode significar muito para o mundo:

· a erradicação de um ninho de terroristas perigosos;
· um rude golpe na maior produção mundial de ópio/heroína;
· a edificação de um estado responsável encaixado entre dois dos maiores produtores de radicais islâmicos xiitas (o Irão a Oeste) e sunitas (o Paquistão a Sul e a Leste).

Entre o medo de perder soldados, o terror de perder votos e a habitual distracção com coisas menores, a maioria dos líderes políticos europeus vai assobiando para o lado. Claro que, quando as bombas rebentarem à porta de casa, ou os índices de consumo de heroína dispararem, levarão as mãos à cabeça e correrão para Bruxelas à procura de uma política comum milagrosa que, se não resolver os problemas, lhes permitirá deles lavar as mãos.

Portugal tem, no Afeganistão, uma excelente oportunidade de mostrar que é diferente para melhor, alinhando com os corajosos e descolando dos medíocres. Acredito eu nisso? Infelizmente, não.

2 comentários:

Anónimo disse...

Isso é bom de dizer e eu até concordo com os princípios, mas o pior é que as nossas tropas correriam riscos e podemos ter baixas. E depois? Carlos Alberto

Rui Miguel Ribeiro disse...

Isso é um risco natural da guerra. Não é desejável, mas é um preço que poderemos ter de pagar pelos benefícios que poderemos colher. E não, não digo isto de ânimo leve.