23 outubro, 2008

"Gajo" Sem Princípios

GAJO SEM PRINCÍPIOS
Assisadamente, Portugal foi um dos (muitos) países a nível mundial que não reconheceu a independência do Kosovo em Fevereiro passado.

Logo então se percebeu algum desconforto do Governo com a (in)decisão, aparentemente mais resultado das fortes reservas do Presidente da República Cavaco Silva do que de alguma convicção formada.

Pouco mais de meio ano depois, eis que o Governo vira o bico ao prego e, após um simulacro de consultas, reconhece a independência do pequeno protectorado balcânico.

As justificações (?) foram lamentáveis, reduzindo-se a um pífio sentimento de solidão, dado a maioria dos Estados membros da NATO e da EU já terem feito o referido reconhecimento. Esse desesperado sentimento foi ilustrado pelo MNE Português Luís Amado com o desabafo “Os nossos aliados olham para nós e pensam: Mas afinal o que é que estes gajos estão a fazer?”*, supostamente ilustrando a perplexidade dos nossos parceiros nessas organizações perante o nosso não-reconhecimento. Não contente, voltou à carga: “Porque é que estes gajos não tomam uma decisão?”* Na verdade já tínhamos tomado: não reconhecer a independência do pequeno protectorado. Devo acrescentar que só estas frases do MNE me levou a colocar um título que noutras circunstâncias não escolheria.

Esta viragem vergonhosa do Governo (apoiado pelo PSD) não tem justificação. Em primeiro lugar, o que Lisboa decide em ralação a Pristina não preocupa Washington, Berlim, Londres, Paris ou Roma. A decisão destes países em reconhecer o Kosovo foi decisiva. A partir daí, poucos reconhecimentos seriam relevantes e o nosso não se enquadra nessa categoria.

Em segundo lugar, o timing do reconhecimento português é dos mais infelizes, dois meses após a Guerra na Geórgia e do reconhecimento da independência da Abkhazia e da Ossétia do Sul pela Rússia. Na verdade, os acontecimentos do Cáucaso sublinham uma das mais fortes contra-indicações ao reconhecimento do Kosovo, pois, por muitos malabarismos que se façam, a diferença entre um caso e os outros é muito pequena, se é que existe.

Será talvez de esperar, que daqui a uns meses Portugal reconheça a independência da Abkhazia e da Ossétia do Sul, não vão os gajos na Rússia interrogar-se com impaciência de que é os gajos em Portugal estarão à espera.

Portugal demonstra não ter princípios e, por outro lado, parece ter uma confrangedora incapacidade de não ter de seguir sempre as pequenas e as grandes opções das grandes potências, mesmo quando daí não resulta nenhum prejuízo. Popularmente falando, não temos espinha.

* in Diário de Notícias, 11 de Outubro 2008, p. 15

13 outubro, 2008

The Surge


THE SURGE

General David Petraeus: o rosto do Surge.
Há dois anos atrás medravam os catastrofistas que anunciavam a derrota dos EUA no Iraque, a implosão deste país, o carácter irreversível da espiral de violência.

No final de 2006, num acto de coragem política e de (tardia) visão, o Presidente George W. Bush optou pela via impopular mas racional: mudou a liderança militar americana no Iraque, aumentou em 5 brigadas (cerca de 30.000 homens) o contingente militar aí colocado (The Surge) e deu luz verde para que uma nova estratégia fosse implementada.

O General David Petraeus, recentemente promovido a Comandante do US Central Command (que superintende os teatros do Afeganistão e do Iraque), foi o cérebro e o rosto da nova abordagem, que passou pela colocação de soldados norte-americanos em pequenos aquartelamentos numa espécie de tropa de vizinhança, pelo incremento de operações conjuntas EUA/Iraque e pela cooptação de insurgentes sunitas insatisfeitos com a vertigem sanguinária da Al-Qaeda. Petraeus é o rosto e o símbolo de uma viragem notável nos destinos da Guerra do Iraque e, se conseguir dar o mesmo ímpeto positivo ao esforço de guerra no Afeganistão, poderá ser o mais notável militar americano do início do século XXI.

Volvidos cerca de 20 meses, o Surge constitui um sucesso notável. O número de vítimas da violência, ainda elevado, caiu drasticamente, sejam elas militares dos EUA, da Coligação, ou do Iraque, sejam elas civis. As forças de segurança iraquianas já receberam o controle de mais de metade das províncias do Iraque. Condições foram criadas para que o normal processo político possa desenvolver-se, como atestam a aprovação de leis infra-estruturantes como a dos hidrocarbonetos e das eleições regionais e o regresso ao governo de partidos sunitas.

Lentamente, o desenvolvimento económico e social vão ganhando importância para os Iraquianos, sinal de que a segurança e a sobrevivência deixaram de ser a preocupação nº 1 da grande maioria.

George W. Bush também merece crédito por ter resistido a uma redução abrupta, ou mesmo a uma retirada acelerada do contingente militar. Os ganhos são muito grandes, mas custaram a conseguir e seria estúpido deitar tudo a perder com uma jogada política popular.

Nem tudo está ganho ou garantido no Iraque, mas o que se passou nos últimos dois anos deixa um sinal de esperança, afinal aquilo que se havia perdido nos tempos difíceis de 2005/06. Como sempre defendi, o veredicto final sobre se valeu a pena a invasão de 2003 ainda não saiu. Eu continuo a acreditar que valeu a pena, apesar do tempo perdido.


P.S. A Guerra do Iraque quase desapareceu do radar das Eleições Presidenciais dos EUA. Isso é um bom e um mau sinal. Bom sinal, porque significa que as coisas no terreno vão correndo bem. Mau sinal, porque foi a hecatombe financeira e bolsista que varreram da atenção dos eleitores outros assuntos.

Também é pena porque se esquece que o Senador John McCain foi um dos principais defensores do surge e é, indirectamente um dos principais responsáveis pela reviravolta positiva no Iraque. É pena, finalmente, porque faz esquecer que o Senador Obama, sobre o Iraque, se limitou a defender as posições que, no momento, eram as mais populares; por ele, a guerra já teria sido perdida há muito.

06 outubro, 2008

Nuno 150 Golos


NUNO 150 GOLOS


Nuno Gomes celebra o 2-0 contra o Nápoles na Taça UEFA e o seu 150º golo pelo Benfica
in www.maisfutebol.iol.pt


Nuno Gomes atingiu mais uma marca histórica ao serviço do Benfica: 150 GOLOS em jogos oficiais.* O golo da efeméride aconteceu no melhor palco (Estádio da Luz), perante 57.000 espectadores e num jogo importante: Benfica-Napoli para a Taça UEFA. Minuto 83, centro de Carlos Martins, duas desmarcações sucessivas do nº 21, defesa fora da jogada e remate de cabeça cruzado e imparável a fazer o 2-0 e a confirmar a presença do Benfica na fase de grupos da Taça UEFA.

Para se ter uma ideia da dimensão da proeza, é preciso recuar 32 anos para se encontrar um Benfiquista mais goleador, no caso, Nené com 362 golos; é preciso recuar 14 anos (Rui Águas com 104 golos), para encontrar o último jogador do Benfica a atingir os 100 golos. Nuno Gomes apresenta um registo invejável: 10º melhor marcador de sempre do Benfica, 4º melhor nas competições da UEFA, 9º melhor de sempre no Campeonato!

Esta marca foi conseguida por Nuno Gomes ao longo de 10 épocas, muitas das quais jogando no sistema que menos o favorece, actuando como único avançado da equipa e raramente tendo o privilégio de marcar penalties (embora não falhe quando é chamado a marcá-los), isto para não falar das lesões que lhe roubaram longos períodos de actividade em várias ocasiões.


Nuno Gomes festeja com Miccoli o 0-3 em Leiria, 100º golo pelo Benfica
no Campeonato Nacional in
www.maisfutebol.iol.pt

Finalmente, refira-se que o Capitão do Benfica e da Selecção de Portugal (29 golos – 4º maior goleador de sempre) não é um goleador puro e duro. Porventura se fosse mais egoísta na grande-área, já teria marcado mais, mas quem o vê jogar, sabe que se trata de um jogador de equipa, que cria espaços para os colegas, faz assistências e não regateia esforços na hora de defender. A prova da sua utilidade, é que as grandes contratações se sucedem e Nuno Gomes encontra sempre o seu espaço no onze encarnado.

Os 150 golos de Nuno Gomes são a sua imagem de marca, o selo com que marca o seu lugar na História do Sport Lisboa e Benfica! Espero ver ainda muito mais golos com a marca “Nuno Gomes”.

* Os 150 Golos de Nuno Gomes

Campeonato Nacional - 113 (9º da História do SLB)
Competições Europeias - 22 (4º da História do SLB)
Taça de Portugal - 14 (23º da História do SLB)
Supertaça - 1 (4º da História do SLB)
TOTAL - 150 (10º da História do SLB)


Nuno Gomes festejando um dos dois golos marcados na vitória 0-2 do Benfica
no Estádio do Dragão.