03 fevereiro, 2009

O Estado do PS

ESTADO DO PS
 

 
A situação do PS é francamente melhor do que a do PSD, mas não suficientemente boa para ter um 2009 tranquilo.

PRÓS:

1- As sondagens, que lhe dão resultados abaixo da maioria absoluta, mas suficientemente perto para acalentar esperanças de lá chegar dentro de 9 meses.
2- A ineficácia e descrédito da oposição, especialmente a que está à direita, que tem permitido ao PS ocupar grande parte do centro do espectro político.
3- A crise internacional, que permite ao Governo exportar as causas dos problemas e importar as soluções que lhe são mais convenientes em ano eleitoral.
4- A reacção do eleitorado à performance de José Sócrates, que tem balançado entre a aceitação e a apatia.
5- O feeling generalizado de que o PS já ganhou.

CONTRAS:

1- Os focos de resistência ao Governo, protagonizado por grupos sócio-profissionais, maxime, os professores.
2- O acolhimento que o PCP e o BE têm tido em tempo de crise e que as sondagens têm confirmado. Pode estar aqui a chave de um eventual falhanço eleitoral do PS.
3- A crise, se adquirir os contornos mais negros que se receia, pode torpedear a credibilidade do Primeiro-Ministro, do Governo e do PS.
4- O Caso Freeport.
5- A agitação/rebelião da ala esquerda alegrista.
6- A teimosia de uns (Lurdes Rodrigues) e o caceteirismo troglodita de outros (Santos Silva) membros do Governo

O PS ocupa claramente a pole position na corrida eleitoral de 2009 e é o partido do Governo, o que significa que muito do que serão as eleições depende do que (não) fizer. Detém grande controlo sobre a agenda política, pode tomar as medidas que entender nos seus timings e, é claro, é vulnerável aos humores da economia.

Curiosamente, até ver, a crise é a grande aliada do PS para 2009. Por um lado, permitiu a José Sócrates deflectir o ónus pelas dificuldades económicas para a crise internacional, branqueando as dificuldades endógenas. Por outro lado, permite ao Governo inundar o país com investimentos e apoios potencialmente geradores de retorno eleitoral, o que não seria possível num cenário económico mais tranquilo. A dura realidade que este autêntico fartar vilanagem vai ser feito atirando às urtigas o esforço que os Portugueses tiveram de fazer durante 3 anos para reduzir o deficit só será consciencializado e sentido depois das eleições.

O Caso Freeport é uma sombra na caminhada vitoriosa de José Sócrates, com um impacto que é prematuro avaliar. No entanto, tendo em conta o cinismo prevalecente na relação dos Portugueses coma política e os políticos, creio que os efeitos que vier a ter serão pouco significativos, a não ser que sejam produzidas revelações devastadoras e sustentadas.

Pior para o PS é o dinamismo eleitoral que a extrema-esquerda parece demonstrar e que pode ser potenciado pela previsibilidade da vitória socialista, que poderá levar eleitores de esquerda a sentirem-se mais confortáveis em castigar o Governo sem correr o risco de contribuir indirectamente para um triunfo do PSD. Igualmente mau será uma eventual tradução eleitoral da revolta dos professores com a política educativa (?) do PS; é apenas uma hipótese, porém suficiente para hipotecar a maioria absoluta, ou mesmo a vitória.

Muito do resultado do PS dependerá, por um lado, da evolução da crise e da percepção que dela tiverem os eleitores ao longo da Primavera e Verão e, por outro, do desempenho de José Sócrates: se os Portugueses o vêem como solução ou factor da crise, como impoluto ou corrupto, como firme defensor do interesse público ou teimoso e arrogante na persecução da sua agenda política, enfim, mais do que os outros partidos, o PS estará dependente da (im)popularidade do seu líder à entrada do ciclo eleitoral.