27 dezembro, 2007

Destino Fatal


DESTINO FATAL


BENAZIR BHUTTO (1953-2007)

Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/


Não acredito no destino como uma fatalidade incontornável, mas há situações que se apresentam com contornos próximos daquilo a que designamos por “Destino”. E o destino de Benazir Bhutto era o Paquistão e parecia ser um fim trágico.

Poder-se-á mesmo dizer que era um destino anunciado pelo duplo ataque bombista de que foi alvo em Outubro em Carachi quando regressou ao Paquistão, ou até que é uma marca familiar fatal de glória e morte. Os Bhutto no Paquistão, os Gandhi na Índia.

Apesar da previsibilidade, fiquei chocado. Benazir Bhutto era a melhor esperança do Paquistão a curto-médio prazo. A sua previsível eleição em Janeiro, trazia perspectivas de um novo rumo, alternativo à dicotomia Exército/Islamismo radical. Por outro lado, o seu assassinato poderá conduzir à continuação e agravamento da espiral de violência em que o país vai mergulhando.

Para além das consequências negativas para os Paquistaneses, há que lembrar que o Paquistão é um dos principais formadores de terroristas e a principal fonte de instabilidade no Afeganistão.

Quer gostemos, quer não, o que se passa no Paquistão tem muito a ver com a segurança do Ocidente. Com a segurança de todos nós. Por tudo isso, o que se passou hoje em Rawalpindi também foi muito mau para todos nós.
Benazir Bhutto em 1977.
Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/


Benazir Bhutto e Margaret Thatcher, nos finais da década de 1980.
Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/

22 dezembro, 2007

Feliz e Santo Natal

FELIZ E SANTO NATAL

RAFAEL – a Sagrada Família – Musée du Louvre, Paris

A todos os amigos, leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes”, votos de um Santo e Feliz Natal, na companhia dos que mais amam.


   Rui Miguel Ribeiro

13 dezembro, 2007

Hipocrisias

HIPOCRISIAS
 

Por Bandeira in “Diário de Notícias”, 8 de Dezembro 2007

Há um ano (19/12/16) publiquei um post intitulado “Europa e África”(http://tempos-interessantes.blogspot.com/2006/12/europa-e-frica.html) em que verberava a hipocrisia europeia em acolher o mesmo Robert Mugabe que a EU baniu de território comunitário por graves e continuadas violações dos direitos humanos. Aí escrevi:

“Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, têm de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.”
Doze meses volvidos e a “coisa” aconteceu. Comme d’habitude, alguns dos piores, como Mugabe ou Khadafi, foram as estrelas da festa e o foco das atenções mediáticas. Os ditadores regressaram a casa com o seu estatuto e prestígio reforçados, os desgraçados continuarão a tentar desgraçadamente sobreviver e os líderes europeus registarão com satisfação mais uma cimeira bem sucedida. O Darfur, o Zimbabwe, a Somália, o Chade podem esperar.


Por Bandeira in “Diário de Notícias”, 10 de Dezembro 2007


Sendo um Realista das Relações Internacionais, entendo que os Estados devem prosseguir os respectivos interesses nacionais da melhor forma possível. Isto não significa que vale tudo, mas que não podemos/devemos aplicar aos Estados nas RI os mesmos critérios morais que aplicamos aos indivíduos.

No entanto, se os Estados-Membros da União Europeia se arvoram em paladinos dos direitos humanos no mundo e fazem dessa causa uma bandeira, exige-se-lhes coerência e honestidade. Eles oferecem-nos hipocrisia. Nothing new!

P.S. Bandeira tem piada como habitualmente, e tem razão duas vezes: os Europeus não tiveram coragem para mandar Mugabe para o espaço (nem para qualquer outro sítio) e de facto havia alguns elementos perigosos em Lisboa no último fim-de-semana.

10 dezembro, 2007

A Recriação do Monstro

A RECRIAÇÃO DO MONSTRO

 
in “The Economist”, 4 Janeiro 2007

Em Janeiro de 2007, já o Economist antecipava a Recriação do Monstro com este delicioso cartoon com Angela Merkel e o Frankenstein. Volvidos 6 meses, o Monstro ressuscitou em grande parte devido ao empenho de Merkel e de Sarkozy.

Por perceber, fica o verdadeiro motivo desta obsessão com o Tratado Reformador/Constitucional.

Por descobrir, fica o famigerado bloqueio institucional que, supostamente, deveria ter paralisado a EU nos últimos 3 anos.

Por aceitar, fica a contumácia das lideranças políticas comunitárias e dos Estados-Membros em impingirem algo que os eleitores não sentem como premente e que muitos vão ao ponto de rejeitar.

Finalmente, e para lamentar, fica a insistência em brincar aos Tratados, quando os verdadeiros problemas que afectam as nações europeias são de outra índole e não se resolvem com tratados e, muito menos, com tratantes.

08 dezembro, 2007

O Regresso do Urso

O REGRESSO DO URSO
 
 
Em 1989 o Urso Soviético recebeu um golpe fatal e em 1991 sofreu o golpe de misericórdia. Mais de uma década volvida, o urso russo está de regresso, e com algum estrondo!

Esse regresso traduz-se numa política externa mais assertiva, frequentemente agressiva, recorrendo ao Power Politics, isto é, centrando essa política nas relações de poder e na utilização do poder próprio nas relações com terceiros.

Essa política tem sido sustentada, no plano externo, num tripé:

1- Antes de tudo, o poderio energético (gás natural e petróleo) da Rússia, potenciado pelos elevados preços atingidos pelos hidrocarbonetos nos mercados mundiais nos últimos 4 anos.
2- O poderio militar russo (o real e o inflacionado) que tem sido usado sob a forma de ameaças mais ou menos veladas contra vizinhos ocidentais (Polónia, Rep. Checa, Estónia) e sob a forma de guarnições residentes nos vizinhos mais vulneráveis, como a Geórgia e a Moldova.
3- No estatuto internacional de grande potência de que goza a Rússia, que decorre dos poderes supra-mencionados, do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU e da própria História da Rússia/URSS.

Tanto ou mais importante, é a base interna que suporta a nova postura da Rússia nas Relações Internacionais. Neste plano, o factor decisivo é o regresso do poder central forte, avassalador mesmo, que está presente em toda a História da Rússia/União Soviética, excepto precisamente no final da Guerra Fria e na década subsequente.

Esse poder autoritário com legitimidade eleitoral que Vladimir Putin exerce hoje na Rússia, funda-se num aparelho policial, distante do KGB mas suficientemente omnipresente e persuasivo para dissuadir ou abafar as principais dissidências, no controle dos media e do sistema judicial e ainda dos pilares do poder económico russo e, finalmente, numa indiscutível popularidade de Putin, que deve tanto aos condicionamentos referidos, quanto às frustrações da orfandade imperial e ao caos sócio-económico da década de Yeltsin.

É com o regresso deste urso que o resto do mundo tem de lidar e, para tal, tentar compreender as respectivas motivações e objectivos.

06 dezembro, 2007

I am Back

I AM BACK

Volvidos 6 meses, eis-me de regresso à blogosfera. Uma arreliadora avaria no meu computador despoletou o meu “desaparecimento”. Quando voltei a ter o computador em pleno ao fim de 3 meses, outras ocupações parecem ter-se instalado no espaço do Blog. A inércia, o Verão, o nascimento da Sofia, o frenesim da rentrée, adiaram o regresso de forma que já parecia definitiva.

Mas não. Afinal de contas, os Tempos continuam Interessantes e o Blog ainda tem razão de ser, se a máquina ou a preguiça não me atraiçoarem, se a inspiração e o público aguentarem, volto para ficar.


P.S. Uma palavra de agradecimento para vários antigos alunos (Maria, Sandra Patrícia, João Pulido, Fernando Daniel, João Carlos) cujas reclamações sobre o pousio do “Tempos Interessantes” me incentivaram a regressar. Também os companheiros bloguistas, Luís Cirilo e Paulo Vila Maior tiveram a amabilidade de me perguntar pelo paradeiro do Blog: agradeço o cuidado e a atenção. Last but not least, a minha família (Isabel, Afonso Duarte, os meus Pais e o Ricardo Pedro), não me deixou esquecer que havia/há Tempos Interessantes.

A todos: Bem Hajam!

31 maio, 2007

A Ota e os Camelos

A OTA E OS CAMELOS
Cartoon do Público.

“Quanto mais se fala, ouve, escreve, lê e conhece sobre o dossier do Aeroporto da Ota, mais cheira a esturro.” Escrevi isto a abrir o post “A Ota e os Otários”, publicado neste Blog em 22 de Março de 2007. Confesso que não imaginava regressar a este tema tão cedo. Contudo, não controlo a agenda política e muito menos a incontinência verbal de um significativo número de membros do executivo de José Sócrates, começando no Ministro da Economia, passando pelo Ministro da Saúde e desbocando, perdão desembocando, no Ministro da Obras Públicas.

Este último tem feito um forcing notável para superar os seus pares, conduzindo a cruzada da Ota com o zelo de um Taliban e a prudência de um rinoceronte a visitar uma loja da Vista Alegre.

O que escrevi no supra-referido post: “sendo que o argumentário que lhe costumo ouvir é do tipo: é na Ota porque tem que ser e assim está decidido.”, já não parece ser suficiente perante a barragem de críticas consistentes e sustentadas que vão sendo debitadas por pessoas qualificadas a um ritmo impressionante.

Então Mário Lino ataca com um argumento arrasador: um aeroporto tem de estar numa envolvência que inclua uma população numerosa, hospitais, escolas, hotéis, lojas comerciais, etc. Pensei para comigo: então ele já quer o Aeroporto em Lisboa. Ingenuidade minha. Esta metrópole de gente, infra-estruturas e serviços encontra-se na Ota!!! Antes que recupere o fôlego, Lino desfere o coup de grâce: ao contrário da Ota, a margem sul do Tejo é um deserto!!! Fiquei arrasado! E eu convencido que lá moravam 800.000 pessoas, havia cidades, indústrias, a principal base naval da Armada Portuguesa, explorações agro-pecuárias, os Centros de Estágio do Benfica e do Sporting e, afinal, aquilo é um mar de areia, com uns cactos, uns quantos camelos e meia dúzia de beduínos.

Lino despertou para a realidade e descobriu que estava a pensar no Mali ou na Mauritânia, quando os representantes dos tais 800.000 cidadãos (que não camelos) fizeram ouvir o seu veemente protesto pela ofensa a que o otismo excessivo do Ministro o havia levado.

Para pôr a cereja no topo do bolo, quiçá desperto pelo tropel de milhares de camelos, o Presidente do PS, Almeida Santos desvendou, com juvenil ingenuidade, o verdadeiro segredo da Ota: a Al-Qaeda estava a fazer lobby para que o novo aeroporto de Lisboa fosse na margem sul do Tejo porque já tinha guardado um stock de dinamite nas imensas dunas da Península de Setúbal para diligentemente colocar nos pilares da futura ponte, isolando a capital do seu nóvel aeroporto. Presume-se que o Presidente do PS terá acesso a informação classificada que lhe permite saber que os referidos explosivos seriam inócuos se utilizados nas pontes Vasco da Gama ou 25 de Abril!

Em Março escrevia que o Governo queria fazer os Portugueses passar por otários. Agora tivemos um downgrade para camelos. Entretanto, vamos sendo vítimas de um otismo trágico-delirante, que seria hilariante, senão fosse pago por nós para servir o interesse de outrém.

28 maio, 2007

Allez-y Sarkozy!

ALLEZ Y SARKOZY!

Nicolas Sarkozy e Tony Blair em 10 Downing Street. Um sinal de mudança?

Como se esperava e como eu desejava, Nicolas Sarkozy ganhou as duas voltas das Eleições Presidenciais Francesas e sucedeu a Jacques Chirac no Elysée.

São boas notícias.

Em primeiro lugar, significou o (penoso) fim da linha para Jacques Chirac, um embaraço e um contra-peso económico, social e político para a França que crescia a cada mês que passava.

Em segundo lugar, foi a derrota da extrema direita de Jean-Marie Le Pen que não percebeu que o êxito de 2002 era o timing para a reforma política em alta; assim, sai pela direita baixa. Foi a derrota do centrismo oportunista de Bayrou que tentou captar os votantes que não suportavam Sarkozy e que não eram capazes de votar no PSF; a primeira volta deu-lhe uma vitória pírrica – teve 18% dos votos que a segunda volta provou que “não eram dele”, mas sim do bloco político da direita UMP(RPR)/UDF, cujo representante era Sarkozy.

Foi, finalmente, a derrota da esquerda elegante, bem apresentada, visualmente atraente, mas vazia de ideias, projecto e coerência. Acredito que a boa aparência de Ségolène Royal tenha conseguido alcançar um resultado superior ao que os seus estafados adversários no PSF conseguiriam, mas a vacuidade e o anti-Sarkozismo primário têm um limite e este fica abaixo dos 50% (47%). Infelizmente, Ségolène nem a elegância conseguiu manter quando a derrota se avizinhava, optando por um discurso agressivo e até mal educado no debate televisivo com Sarkozy. Podia ter-nos deixado um sorriso simpático, mesmo que fosse de plástico, optou por deixar um azedume de vinegrette fora de prazo.
Em terceiro lugar, last but not least, os Franceses elegeram o único candidato que dava uma esperança de ser diferente para melhor que os seus três antecessores: tem um projecto reformador, porque percebeu que a França está, em muitas áreas, desfazada da realidade sócio-económica do século XXI, que o peso económico da França é cada vez menor, que a sua influência e peso políticos na Europa e no mundo é uma fracção do que era há 30 anos, que o seu PIB p/c foi ultrapassado, entre outros, pelo Reino Unido e pela Irlanda. Sarkozy percebeu também que este estado de coisas não se ultrapassa com paninhos quentes e contemporizações e muito menos com um poder refém das ruas, do Maio de 68, da CGT congelada em 1970, dos bloqueios rodoviários dos agricultores com os seus tractores e dos motoristas com os seus camiões, dos estudantes que confundem idealismo com violência e das banlieues e da sua “escumalha” incendiária.

Menor carga fiscal, mais liberalismo económico, maior flexibilidade laboral e menor peso estatal são alguns dos objectivos de Sarkozy e requisitos para que possa ter sucesso.

Na política externa, uma maior abertura ao Reino Unido e uma diminuição drástica dos tiques anti-americanos, a concretizarem-se, só farão bem à França e ao Ocidente. Um sinal positivo nesta área seria um envolvimento mais sério e empenhado de Paris com a NATO no Afeganistão.

Allez-y Sarkozy! Tira a França do torpor e trá-la para o século XXI.
 
P.S. Como não há bela sem senão, as visitas imediatas a Berlim e a Bruxelas e o empenho em fazer um mini-Tratado Europeu e subtrai-lo ao julgamento de novo referendo poderá representar uma traição à vontade do eleitorado e ter um preço pouco simpático. No entanto, se for bem sucedido na Renaissance de la France, não sedrá isso que travará em 2012.

22 abril, 2007

Os Padrinhos e os Afilhados III

PROLIFERAÇÃO NUCLEAR
OS PADRINHOS E OS AFILHADOS III

O PADRINHO.

Esta nova situação de “Padrinhos e Afilhados” na proliferação nuclear tem uma característica significativa diferente das duas anteriormente relatadas. Em primeiro lugar, a Índia já é uma potência nuclear consumada e assumida há quase uma década, já descontando o seu teste atómico isolado realizado em 1974. Em segundo lugar, os Estados Unidos em nada contribuíram, pelo menos directa e deliberadamente, para que a Índia atingisse tal estatuto.
 
Embora não sejam signatários do NPT (Nuclear Non-Proliferation Treaty), a Índia e o Paquistão foram excluídos do comércio e cooperação oficiais ao nível da energia nuclear. Tal não impediu nenhum das duas potências da Ásia do Sul de desenvolver os respectivos programas nucleares e de acumularem dezenas de ogivas nucleares, mas travou o seu crescimento quantitativo e qualitativo.

Eis que, em 2006, os EUA decidem avançar para um acordo bilateral com a Índia (que ainda não está terminado e não está em vigor), que prevê o reconhecimento do status nuclear de New Delhi e permite a cooperação técnica e comercial entre os dois países na indústria nuclear civil.

É sabido que há várias diferenças entre a Índia e a Coreia do Norte e o Irão: é um país democrático, sem historial de proliferação nuclear para terceiros e é um estado organizado e estável que dará mais garantias de um (não) uso responsável de armas de destruição maciça (WMD).

Por outro lado, não é menos verdade que a Índia se tornou uma potência nuclear à revelia das normas internacionais, que desvirtuou apoio nuclear para fins civis fornecido pelo Canadá e que foi o primeiro país a desferir um rude golpe no NPT.

Os EUA, avançam para este acordo com 3 fitos: desenvolver as parcerias comerciais com o gigantesco mercado indiano (1.1 biliões de pessoas); fazer uma aproximação geopolítica com a Índia na expectativa que esta sirva de contraponto à China, tal como esta o fez no anos 70 em relação à URSS; permitir a expansão da produção de energia a partir do nuclear por parte da Índia, reduzindo a prazo a crescente pressão sobre os hidrocarbonetos.

Não obstante todos os considerandos, a realidade é que o “Padrinho” está a facilitar a integração do Afilhado prevaricador sem exigir duras contrapartidas em troca e pondo em cheque todo o edifício de não-proliferação.

Por outro lado, o “Afilhado”, prepara-se para receber um “prémio” por décadas de incumprimento com as normas internacionais sobre o armamento nuclear, por concessões escassas para continuar a desenvolver o seu arsenal nuclear e de ter acabado de testar um míssil com capacidade para carregar uma ogiva nuclear e de alcançar Pequim.

Tudo isto, resulta num incentivo para que países como o Paquistão e o Irão, procurem os respectivos “Padrinhos” e que potências nucleares com a Rússia ou a China possam considerar a possibilidade de acolherem debaixo da sua protecção novos “Afilhados” nucleares.


O AFILHADO.

15 abril, 2007

Quem é que Cavaco Teme?

QUEM É QUE CAVACO TEME?

O Presidente da República, Cavaco Silva, pronunciou-se em Riga, Letónia, contra a realização de um referendo nacional sobre um novo tratado europeu, prometido por TODOS os partidos parlamentares.

“Às vezes avança-se para essas coisas sem pensar bem nas consequências e, depois, discute-se como corrigir.” Corrigir? Corrigir o quê? O voto dos cidadãos? O voto dos mesmos que deram 4 vitórias a Cavaco Silva enquanto Presidente do PSD e candidato a PR?

Senhor Presidente: não há correcções à votação popular. O povo é soberano. Ou será que, se V. Excelência vetar ou impedir um referendo a um tratado europeu, eu também posso corrigir o voto que lhe entreguei nas eleições do ano passado?

O que é que o move? O complexo do “bom aluno europeu”? A excessiva cooperação institucional com um Governo que vem dando sinais de fazer marcha-atrás em mais uma promessa? Porque é que “convida” 5 partidos a fazerem tábua rasa de uma promessa eleitoral ao arrepio da lealdade para com os eleitores e da transparência da política?

Ou deverei antes perguntar, de que é que tem medo? Quem é que o Senhor Presidente da República teme? É o eleitorado soberano. O povo que serviu para o eleger, mas que não “serve” para se pronunciar em referendos.

08 abril, 2007

Santa Páscoa

SANTA PÁSCOA



RUBENS – Christ: Descent From the Cross – Antwerp’s Cathedral

Numa época em que o sacrifício de Jesus Cristo é seguido de renovada fé e esperança, desejo a todos os leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes” uma Santa Páscoa.

Rui Miguel Ribeiro

04 abril, 2007

Brincando com o Fogo

BRINCANDO COM O FOGO

Brincar com o fogo é algo que, para muitos de nós, se torna irresistível nalguma altura das nossas vidas. Não sendo normalmente aconselhável, o próprio verbo brincar denota o carácter relativamente inócuo de muitas dessas brincadeiras, não deixando de sublinhar o seu carácter ambíguo, ou seja, a brincadeira pode correr e/ou acabar mal.

Bem mais grave se torna a brincadeira quando os protagonistas não são crianças ou jovens inconscientes, mas adultos bem crescidos, detentores de poder e responsabilidade significativos que, por excesso de ambição, inconsciência, imprudência, loucura, ou qualquer outra razão, resolvem brincar com o fogo. Neste campo, a actual liderança do Irão mostra um empenho e expertise que, actualmente, só encontra rival na Coreia do Norte.

Esta imagem captada pelo Hubble mostra gás expelido sob a forma de bolas de fogo à velocidade de 160.000 km/h, da estrela WR124 da constelação Sagitário. Uma das curiosidades deste tipo de estrelas (Wolf Rayet) é a de viverem rapidamente e morrerem novas após um período violento marcado pela explosão de massas de fogo.

O sequestro, por parte do Irão, de 15 marinheiros da Royal Navy na semana passada sob o falso pretexto de que se encontravam em águas territoriais iranianas, a sua transferência para Teerão, o seu isolamento e a recusa injustificada em libertá-los, constitui a última acha lançada pelos radicais iranianos para a fogueira do Médio Oriente.

Neste momento em Teerão e em Qom brinca-se com o fogo. O fogo do nuclear, o fogo do petróleo, o fogo do Iraque, o fogo do conflito militar no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz, o fogo do Xiismo contra o Sunismo, o fogo dos jogos internos de poder, o fogo do afrontamento com os EUA e o Reino Unido. Em suma, brinca-se com o fogo da guerra. A ver vamos quem se vai queimar. Talvez o final da legenda da fotografia que ilustra o post possa dar umas pistas…

26 março, 2007

Empresários Desregulados


EMPRESÁRIOS DESREGULADOS

Na falta de problemas graves que assolem a economia portuguesa, as confederações empresariais (com a honrosa excepção da do Turismo), entretiveram-se a escrever uma carta ao Primeiro-Ministro solicitando-lhe a gentileza de mudar a hora de Portugal, acertando-a com a da “Europa”.

Embora o ridículo possa matar, isso por vezes não acontece em Portugal e por isso deixo algumas considerações sobre esta iniciativa estruturante para a nossa economia.

1- Será que os problemas de (falta) de competitividade da economia portuguesa passam primordialmente, lateralmente, perifericamente, ou mesmo remotamente por uma questão de fusos horários?
2- O que é que se quer dizer com “acertar a nossa hora com a da Europa”, sabendo-se que a Europa tem 4 fusos horários diferentes?
3- Será que o facto de meia dúzia de empresários terem (será que têm?) de dormir ocasionalmente uma noite em Munique, Milão, ou Barcelona, é motivo para alterar a vida de 10 milhões de Portugueses.
4- Como se vai indemnizar as empresas que negoceiam primordialmente com o Reino Unido ou a Irlanda?
5- Como é que os Estados Unidos conseguem ser a maior potência económica mundial tendo 4 fusos horários entre o Atlântico e o Pacífico e 6 se incluirmos o Alaska e o Hawaii?
6- Se os EUA, o Japão, ou a China se tornarem os nossos principais parceiros comerciais, que fuso horário devemos adoptar? Sorteamos ou fazemos uma rotatividade anual?
7- Como é possível, numa economia globalizada, que em muitas áreas funciona 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana), haver quem pense que uma volta a mais ou a menos no relógio vai mudar as nossas fortunas?
8- Como se pode ter esta visão mesquinha ao arrepio do interesse das pessoas e do seu equilíbrio natural? Sim, porque os fusos horários não são um arbítrio ou uma aberração. São uma necessária adaptação das horas ao relógio solar e, consequentemente, ao relógio biológico.

Rentabilizem as empresas, promovam a competitividade e motivem os funcionários, procurem oportunidade de negócio e novos mercados, criem marcas de sucesso, invistam em R&D, criem riqueza e deixem-se de jogos florentinos e de procurar desculpas de mau pagador.

O H4 criado pelo Britânico John Harrison em 1755 foi o primeiro relógio de precisão.
Está exposto no Greenwich Royal Observatory, referência para o primeiro Meridiano e para o fuso horário de Portugal: Greenwich Mean Time (GMT).

22 março, 2007

A Ota e os Otários

A OTA E OS OTÁRIOS


Quanto mais se fala, ouve, escreve, lê e conhece sobre o dossier do Aeroporto da Ota, mais cheira a esturro.

1- A Ota fica demasiado longe de Lisboa (50km).
2- A Ota aproxima o aeroporto de Lisboa do do Porto, "inutilizando" os voos Porto-Lisboa e desmobilizando a utilização do Aeroporto Sá Carneiro onde se tem investido (e bem) centenas de milhões de euros.
3- A Ota deveria durar 50 anos. Os últimos estudos conhecidos apontam para uma vida útil que varia entre os 20 e os 13 (!!!) anos!
4- A construção da Ota envolve dificuldades naturais e técnicas (lençóis de água, orografia difícil, quantidade colossal de remoção de terras) que se evitariam noutros sítios.
5- O Ministro das Obras Públicas e Transportes, Mário Lino, com o apoio do Primeiro-Ministro, demonstra um inusitado zelo em arrancar com as obras da Ota com a maior celeridade possível, sendo que o argumentário que lhe costumo ouvir é do tipo: é na Ota porque tem que ser e assim está decidido.
6- Ainda não estou convencido de que o Aeroporto da Ota vá custar 3 biliões de euros e que o Estado Português só “desembolse” cerca de 300 milhões. Quais são as contra-partidas e as garantias que os privados que investirem 2,7 biliões de euros vão receber de Portugal?
7- Alguém acredita que o custo se vai ficar pelos ditos 3 biliões?

O Governo é rosa, mas para o caso podia ser laranja, azul, vermelho ou verde: a realidade é que estou convencido que a opção pela Ota e já não serve o interesse nacional. Parece-me também óbvio que serve alguns interesses (não necessariamente ilegítimos), mas o Governo tem de pôr os interesses da nação acima dos restantes. É, aliás, isso que Sócrates apregoa quando arremete contra os interesses “corporativos” de professores, funcionários públicos, polícias, militares, povoações que perdem serviços públicos, especialmente no domínio da saúde, etc, etc.

No entanto, este fervor parece diluir-se quando se fala na Ota e não consigo afastar a desagradável sensação de que a Ota vai ser feita à custa dos otários do costume, ou seja, da generalidade dos Portugueses.



14 março, 2007

O Pós-Referendo

O PÓS-REFERENDO

A Assembleia da República está a ultimar a nova legislação sobre o aborto, consagrando a liberalização do aborto até às 10 semanas, consoante o resultado do Referendo do dia 11 de Fevereiro.

Previsivelmente, o assunto foi assumido por uma frente de esquerda constituída por PS, PCP e BE, que legislaram em conjunto e em exclusivo.

Igualmente de forma previsível, estes partidos rejeitaram quaisquer medidas que pudessem constituir um elemento dissuasor da prática do aborto.

Até aqui, tudo normal, dado que foram os partidos que lutaram pelo Sim no Referendo e há muito tinham feito da liberalização do aborto um cavalo de batalha.

Surpreendentemente, Deputados do PSD que votaram Sim e por ele fizeram campanha, manifestaram-se chocados por não terem sido convidados a participar ma formulação da lei e pela recusa da frente de esquerda em introduzir o aconselhamento obrigatório de cariz dissuasor à grávida.

Sem pôr em causa a opção de voto de cada um, as pessoas do PSD que integraram movimentos sócio-políticos a favor do Sim, eram uma espécie de corpos estranhos que serviam de showcase da abrangência do Sim, e cuja utilidade terminou no dia do Referendo. A partir daí, era óbvio que a frente de esquerda iria tomar as rédeas do processo e não teria nenhum interesse em partilhar os louros da liberalização. Aqueles que hoje estão chocados, ou foram ingénuos, ou procuraram um protagonismo que, naturalmente, não lhes foi dado. Que sirva de lição.

Não obstante, 21 dos 75 Deputados do PSD votaram a favor da nova lei. Custa a compreender que, depois de terem considerado o projecto radical, ainda tenham votado a favor. Apesar da questão de consciência que aqui está presente, não deixa de ser relevante o facto de 28% do Grupo Parlamentar do PSD ter votado ao arrepio do sentido de voto da grande maioria da sua base social de apoio. Que sirva de tema de reflexão.

P.S. O tema do Referendo foi abordado anteriormente neste Blog no dia 08/02/07: “Referendo”



07 março, 2007

O Regresso de Paulo Portas

O REGRESSO DE PAULO

Sem querer dar uma componente bíblica ao Blog e, muito menos, à política em Portugal, o certo é que, uns meses depois de aqui publicar o post “O Regresso de Pedro”, avanço hoje para “O Regresso de Paulo”. Se aquele era Santana, este é Portas.

Paulo Portas deixou “correr” a primeira metade de uma longa legislatura, politicamente desertificada por uma total ausência de eleições entre Janeiro de 2006 e Outubro de 2009 e pela existência de uma maioria absoluta mono-color no Parlamento.

Verificou há muito que as oposições, especialmente a Laranja e a Azul, têm lideranças e estilos pouco carismáticos (diria mesmo anti-carismáticos), pouco combativos, pouco propositivos, incapazes de arrebatarem ou mobilizarem os fiéis e, muito menos, os neutros.

Como diz o anúncio, “Uns têm, outros não!” e Paulo Portas tem todos estes ingredientes: capacidade de liderança, carisma, combatividade, criatividade, capacidade para detectar temas/propostas que tocam o eleitorado, é mobilizador e gera lealdades que resistem ao desgaste do tempo e das agruras de uma longa caminhada política.

Paulo Portas vê Ribeiro e Castro e Marques Mendes perdidos no deserto e percebe que tem uma oportunidade de ouro de chegar ao oásis sem concorrência no lado direito do eleitorado, maximizando as virtudes próprias e as carências alheias. Por isso tem pressa. As janelas de oportunidade não costumam estar abertas muito tempo. Afastando os obstáculo internos até à Páscoa e apostando que o PSD continuará na “apagada e vil tristeza” até meados de 2008, Portas tem 12 a 18 meses para fazer um solo de oposição, mostrando ao acabrunhado Portugal uma cena política-parlamentar-mediática protagonizada por Sócrates e ele próprio.

Para um CDS que teve 7% em 2005, este cenário pode ser um bónus eleitoral sem precedentes recentes. Para o PSD, que teve 28% em 2005 e daí não parece conseguir sair, isto pode anunciar o prolongamento da letargia que o conduz de forma lentamente para a irrelevância a médio prazo.

Tudo isto não significa que Portas esteja prestes a iniciar uma marcha triunfal: o caminho que tem pela frente é duro e difícil, desde logo porque parte com o handicap da (pequena) dimensão do CDS a que se soma o da infinita capacidade de perdão do eleitorado português e a atracção fatal do voto útil.

Agora que o timing do regresso de Paulo Portas parece asado e criteriosamente escolhido, isso parece. Finalmente, está provado que é um erro subestimar o animal político que é Paulo Portas. Quem o fizer, arrisca-se a ter uma má surpresa.
 

02 março, 2007

Bento


BENTO




Bento: figura mítica do Benfica. Realizou 465 jogos oficiais de Águia ao peito, que o coloca como 6º jogador e 1º guarda-redes com mais jogos feitos pelo Benfica.
  in http://www.diariodobarreiro.pt/Primeira%20Pagina/xartigo4.asp?idd=706

Um dia de Setembro nos anos 70, estava a brincar em casa na companhia da Avó Laura enquanto ouvíamos o relato do Torpedo Moscovo – Benfica para a Taça dos Campeões Europeus. Na Luz o resultado fora de 0-0, o que na altura não era muito promissor.

O certo é que o Benfica resistiu aos “Torpedos” e aguentou o 0-0 até ao final do prolongamento. Nos penalties, Torpedo, 1 – Benfica, 4. Manuel Bento, que havia feito uma exibição portentosa durante os 120 minutos, defendeu 2 penalties e marcou o 4º e decisivo golo. No dia seguinte, o “Primeiro de Janeiro” titulava: “S. Bento da Porta Fechada que nem os Penalties Conseguiram Abrir!”


Bento troca galhardetes com o capitão da Sampdoria em jogo da Taça das Taças de 1985/86 no Estádio da Luz, que o Benfica venceu 2-0 (golos de Diamantino e Rui Águas). in http://www.maisfutebol.iol.pt/

Começou nesse dia a construir-se, para mim, uma lenda do Benfica e do futebol. Durante a década seguinte, foram incontáveis as vezes em que vi Bento a “salvar” o Benfica e a Selecção Nacional com defesas “impossíveis”, reflexos fantásticos, agilidade e muita coragem.

O famigerado Mundial 1986 praticamente pôs um ponto final numa carreira brilhante, recheada de títulos colectivos e individuais.


Bento foi 63 vezes internacional por Portugal.
  in http://www.maisfutebol.iol.pt/

Hoje terminou a vida de Bento. Para mim e para muitos, fica a memória de um guarda-redes de excepção, o melhor Português que eu vi jogar na baliza. Termino esta pequena homenagem com a imagem que guardo de Bento: a de um Campeão.


Bento, Capitão do Benfica, ergue no Jamor uma das 6 Taças de Portugal que conquistou. Final da edição de 1984/85: Benfica, 3 - Porto, 1 (golos de Nunes e Michael Manniche-2)
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P.S. Há um par de anos atrás, também nos deixou precocemente outro extraordinário guarda-redes português: Vítor Damas. Sendo um ícone do Sporting, era um keeper de valor superior e com um estilo elegante, que também admirei. Damas, que também vi jogar pelo Vitória de Guimarães, é outro jogador que deixou saudades.