28 maio, 2007

Allez-y Sarkozy!

ALLEZ Y SARKOZY!

Nicolas Sarkozy e Tony Blair em 10 Downing Street. Um sinal de mudança?

Como se esperava e como eu desejava, Nicolas Sarkozy ganhou as duas voltas das Eleições Presidenciais Francesas e sucedeu a Jacques Chirac no Elysée.

São boas notícias.

Em primeiro lugar, significou o (penoso) fim da linha para Jacques Chirac, um embaraço e um contra-peso económico, social e político para a França que crescia a cada mês que passava.

Em segundo lugar, foi a derrota da extrema direita de Jean-Marie Le Pen que não percebeu que o êxito de 2002 era o timing para a reforma política em alta; assim, sai pela direita baixa. Foi a derrota do centrismo oportunista de Bayrou que tentou captar os votantes que não suportavam Sarkozy e que não eram capazes de votar no PSF; a primeira volta deu-lhe uma vitória pírrica – teve 18% dos votos que a segunda volta provou que “não eram dele”, mas sim do bloco político da direita UMP(RPR)/UDF, cujo representante era Sarkozy.

Foi, finalmente, a derrota da esquerda elegante, bem apresentada, visualmente atraente, mas vazia de ideias, projecto e coerência. Acredito que a boa aparência de Ségolène Royal tenha conseguido alcançar um resultado superior ao que os seus estafados adversários no PSF conseguiriam, mas a vacuidade e o anti-Sarkozismo primário têm um limite e este fica abaixo dos 50% (47%). Infelizmente, Ségolène nem a elegância conseguiu manter quando a derrota se avizinhava, optando por um discurso agressivo e até mal educado no debate televisivo com Sarkozy. Podia ter-nos deixado um sorriso simpático, mesmo que fosse de plástico, optou por deixar um azedume de vinegrette fora de prazo.
Em terceiro lugar, last but not least, os Franceses elegeram o único candidato que dava uma esperança de ser diferente para melhor que os seus três antecessores: tem um projecto reformador, porque percebeu que a França está, em muitas áreas, desfazada da realidade sócio-económica do século XXI, que o peso económico da França é cada vez menor, que a sua influência e peso políticos na Europa e no mundo é uma fracção do que era há 30 anos, que o seu PIB p/c foi ultrapassado, entre outros, pelo Reino Unido e pela Irlanda. Sarkozy percebeu também que este estado de coisas não se ultrapassa com paninhos quentes e contemporizações e muito menos com um poder refém das ruas, do Maio de 68, da CGT congelada em 1970, dos bloqueios rodoviários dos agricultores com os seus tractores e dos motoristas com os seus camiões, dos estudantes que confundem idealismo com violência e das banlieues e da sua “escumalha” incendiária.

Menor carga fiscal, mais liberalismo económico, maior flexibilidade laboral e menor peso estatal são alguns dos objectivos de Sarkozy e requisitos para que possa ter sucesso.

Na política externa, uma maior abertura ao Reino Unido e uma diminuição drástica dos tiques anti-americanos, a concretizarem-se, só farão bem à França e ao Ocidente. Um sinal positivo nesta área seria um envolvimento mais sério e empenhado de Paris com a NATO no Afeganistão.

Allez-y Sarkozy! Tira a França do torpor e trá-la para o século XXI.
 
P.S. Como não há bela sem senão, as visitas imediatas a Berlim e a Bruxelas e o empenho em fazer um mini-Tratado Europeu e subtrai-lo ao julgamento de novo referendo poderá representar uma traição à vontade do eleitorado e ter um preço pouco simpático. No entanto, se for bem sucedido na Renaissance de la France, não sedrá isso que travará em 2012.

3 comentários:

PVM disse...

Este período de reflexão trouxe-te para os braços da direita conservadora, género CDS-PP!
Só uma correcção: durante a campanha eleitoral, Sarkozy prometeu que um mini-tratado constitucional não seria submetido a referendo. Por conseguinte, não há nenhuma traição à sua base eleitoral de apoio.
PVM

freitas pereira disse...

Senhor Rui Miguel Ribeiro, os meus cumprimentos.

Estou em total desacordo com a sua postagem. De certeza que não fica surpreendido.
1°- A vitoria de Nicolas Sarkozy (NS):
A França continua dividida em dois. A vitoria de NS é limitada e isto é importante para o futuro e explicará as convulsões inevitáveis dos próximos 5 anos. Senão vejamos:

Dos 35.774 019 eleitores que “escolheram” um candidato, 18.983408 escolheram NS e 16.790611 escolheram S.Royal, isto é 50,8% para NS e 49,2% para SR. Em relação aos votantes e eliminando os votos brancos e nulos, que não exprimem em si uma escolha de um ou outro candidato.

2°- A repartição sociológica é dramática: Assim, votaram por NS : as classes ricas, 90%, liberais,52%, agricultores 70% (os que recebem muito de Bruxelas e incendeiam os camiões Espanhóis, não pagam impostos e utilizam carburante sem taxas, antigos “clientes” de J.Chirac), comerciantes e artesãos, 80%, os reformados e inactivos, 65%. ( que tremem pelas reformas deles) e uma parte dos jovens de 24 a 35 anos.
um parte dos jovens de 24 a 35 anos.
Em contrapartida, votaram por SR uma larga maioria dos 34-59 anos e os desfavorizados. Não lhe escapa que esta constitui a parte mais importante da França produtiva, sobre a qual repousa a recuperação futura deste pais.
Assim as fronteiras tradicionais encontram-se na analise do voto. A vitoria mais expressiva de NS foi no eleitorado racista, xenófobo e anti -semita de Le Pen, apesar de Sarkozy ser ele mesmo de origem semita. Esta clientela foi sempre da direita e portanto não é nada de admirar que ela tenha votado NS.

3°- As primeira reformas vão já beneficiar as grandes fortunas e não só a Johnny Halliday, amigo do Presidente e expoente máximo da cultura Francesa (?)!.. O limite máximo de 60% de impostos vai passar já para 50%. O Senhor está longe e não viu de certeza a tal Senhora que há alguns dias foi buscar um primeiro cheque de trinta milhões de euros de impostos pagos a mais, segundo a nova lei, pela venda dos Armazéns Printemps e que se prepara a ir buscar mais um outro cheque idêntico correspondente ao limite dos 50%!: O seu património é de 950 milhões de euros. ..
NS pensa que as grandes fortunas que saíram para o estrangeiro e aquelas que pretendem sair virão investir na economia Francesa, quando esta deslocalisa em massa para os países de leste e para a Asia“because” liberalismo , salàrios baixos e globalização!
A isenção de taxas das sucessões patrimoniais é outra grande reforma que vai favorecer as grandes fortunas, porque os pobres não têm sucessões a declarar.
Estas reformas são lógicas quando se é o amigo intimo dos grandes deste país: Lagardère (hoje em tribunal para ser julgado sobre a venda apressada das acções de Airbus antes de informar o publico do atraso previsível na entrega de 27 aviões A 380, que dinamitou o valor na bolsa. Mas ele, ele sabia!), Bolloré , industrial criminoso que destrui as floresta Africanas para fabricar papel, Dassault, o grande negociante de armas de guerra, Bouygues, ( proprietário da cadeia dominante de televisão, que ajudou muito a elegê-lo, e que acaba de nomear Director Geral da cadeia, o director de campanha eleitoral de NS. Estes Senhores dominam 85% dos média escrito e televisivo Francês.A França não difere em nada da Itália de Berlusconi.

4°- Algumas das outras reformas em vista – serviço mínimo em caso de greve dos serviços de transporte (que eu apoio) taxa especial nos serviços de saúde (franquia) ( atenção à medicina a duas velocidades) flexibilidade laboral (que eu apoio), encontram os primeiros escolhos. Eu ouso esperar que seja negociado para evitar tumultos. Embora me pareça ilógico que se favorize as horas suplementares de trabalho, quando há tantos desempregados.

5° A política estrangeira será dominada pelos imperativos das RI e não vejo como NS poderá impor o que quer que seja. A UE não quer o mini tratado, com razão, se os outros já assinaram o tratado inicial que os Franceses e os Holandeses recusaram.
O Pacto do Mediterrâneo ( eu não sabia que Portugal era banhado pelo Mar Mediterrâneo!), ao qual se convidaria a Turquia, como prémio de consolação, não irá longe.

Enfim, há um aspecto na sua postagem com o qual estou de acordo: NS vai tentar alinhar a França sobre a política dos USA, ou não fosse ele conhecido como “Sarko, o Americano” ! Mas que ninguém sonhe que os Franceses vão permitir ao Presidente de arrastar a França no sendeiro da guerra com quem quer que seja, se esta é irresponsável e injustificada. Os Americanos estão a pagar muito caro no Iraque o facto de terem desprezado os conselhos da França.
E se Blair se reformou de Downing Street não foi com os loureiros da gloria, por isso mesmo.

6° Quanto à elegância de SR, desculpe, mas é um argumento sem valia alguma. Madame Thatcher era uma Senhora muito elegante e nunca ninguém levantou esse argumento para justificar o que quer que seja. E que SR, nessa noite, tivesse sido agressiva, depois de ter descoberto horas antes o livro de dois jornalistas do jornal “Le Monde”sobre as dificuldades do casal Hollande-Ségolène, é compreensível, sobretudo quando algumas horas, antes um associado de Sarkozy discute na radio sobre esse livro. E que toda a gente sabe que se poderia escrever o mesmo livro sobre o casal Sarkozy e muito mais apimentado. Mas tudo isso é nauseabundo.Eu talvez fosse mais severo no facto que esta Senhora nao tivesse votado na segunda volta, o que foi uma falta de civismo sem precedente.
Mas estou de acordo com o Senhor sobre a falta de preparaçao da candidata, o amadorismo em frente dum NS conhecendo perfeitamente os “dossiers”, não fosse ele advogado, e sobretudo a desordem no PSF, com os elefantes da esquerda caviar a ruminar cada um no seu campo, enquanto NS teve todo o tempo de organizar e disciplinar -5 anos -, o seu partido para o grande combate. E de o preparar.

7° Finalmente, Nicolas Sarkozy considero-o como um homem inteligente, que soube tirar partido da decomposição do regime na qual J.Chirac deixou a França, decomposição à qual ele participou durante muitos anos.Mas ainda não compreendi como é que um maioria de Franceses acreditou no discurso desse homem, que esteve no poder estes últimos doze anos, que formou um governo com os mesmos elementos dos governos precedentes –Juppé, Borloo, Fillon, Bertrand, Alliot Marie, - nos postos chave, e que pretende fazer agora o que eles não conseguiram ou não quiseram fazer durante os dois mandatos de J.Chirac.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Paulo: E eu a pensar que este post (post scriptum exclusive) te ia agradar...! A não ser que fosse um link inconsciente com a proximidade que amiudadas vezes te fazem com o CDS.
Não há traição nesse aspecto, mesmo assim não acho honesto referendar um assunto e depois de receber um "Non" do eleitorado, fazer um make-up ao objecto do referendo para evitar colocar de novo a questão aos eleitores.
Este real défice de espírito democrático ainda vai levar a UE ao abismo.