22 dezembro, 2010

Feliz e Santo Natal

FELIZ E SANTO NATAL
Pieter Paul RUBENS – The Adoration of the Magi (1624)

Koninklijk Museum voor Schone Kunsten, Antwerpen
Royal Museum of Fine Arts, Antwerpen

Desejo a todos os meus amigos, leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes” um Santo e Feliz Natal, na companhia dos que mais amam, com conforto e na Paz do Senhor.

                              Rui Miguel Ribeiro

21 dezembro, 2010

Pseudo-Estado

PSEUDO-ESTADO

Realizaram-se eleições no Kosovo no passado dia 12/12.

Facto 1: o Partido Democrático do Kosovo (PDK) do Primeiro-Ministro Hashim Thaci ganhou com 33% dos votos.

Facto 2: Os observadores internacionais declararam que tinha havido uma fraude eleitoral generalizada.

Facto 3: O relatório preliminar de uma investigação do Conselho da Europa, acusa o Sr. Thaci de homicídio (de Sérvios), tráfico de drogas e de tráfico de órgãos.

Isto fez-me pesquisar os arquivos de “Tempos Interessantes” e descobrir que em 19 de Fevereiro de 2008 escrevi no post Mitrovica: A Guerra do Kosovo em 1999, se levou ao colapso do regime de Milosevic, também promoveu a reabilitação dos guerrilheiros albaneses do UCK e à sua reconversão em partido político credível, apesar do seu historial de assassínio e perseguição de Sérvios e de outras etnias.

Descobri também que, em 22 de Março de 2008, escrevi no post Vespeiro Balcânico: O que o Ocidente acaba de criar nos Balcãs é mais um estado artificial, inviável, tal como a Bósnia-Herzegovina (BiH), e ainda por cima, ilegal (vide Resolução do Conselho de Segurança da ONU nº 1244/99).

Não há surpresas. Em nome de interesses obscuros e do desmantelamento máximo da Sérvia, o Ocidente criou um narco-Estado, liderado por uma máfia, economicamente e politicamente inviável, dependente da tutela internacional para existir e ser minimamente estável.

O que também não surpreende é que os moralistas que proliferam nas chancelarias ocidentais tolerem que o Kosovo continue a ser governado por um ex-guerrilheiro e mafioso no activo. Como acontece com alguns ratos de igreja, a moral só é pregada quando convém. Parece óbvio que Hashim Thaci está no grupo dos malfeitores úteis!

20 dezembro, 2010

Roma e os Bárbaros


ROMA E OS BÁRBAROS

Bárbaros à solta em Roma.
in “The Economist” em www.economist.com

Mais de 1500 anos depois do Império Romano ter caído às mãos dos bárbaros invasores, Roma tornou a ser invadida pela barbárie. Desta vez, Roma não caiu) o Governo de Itália também não), nem os bárbaros foram sumariamente degolados.

Desta vez, aliás, os bárbaros eram, também eles, Italianos: radicais de esquerda revoltados pelo facto de o Governo de direita de Silvio Berlusconi ter superado uma moção de censura no parlamento.

Os ditos bárbaros, caridosamente apelidados de socialistas radicais, anarquistas, sindicalistas e estudantes, lançaram-se numa onda de violência gratuita, destruição da propriedade pública e privada e agressões à polícia, tentando deixar Roma a ferro e fogo.

Outro aspecto digno de nota, é que este despautério de violência raramente ser protagonizado pela direita contra poderes de esquerda. A inversa é verdadeira. É, aliás, paradigmático, que a esquerda da tolerância, das preocupações sociais e da cultura, demonstre uma intolerável intolerância perante o poder que lhe desagrada, se arvore uma inaceitável impunidade para fazer os desmandos que lhe apetece em nome de uma suposta visão romântica do Maio de 68.

Uma nota final para as insinuações sobre o apoio de alguns deputados da oposição ao Governo de Berlusconi, omitindo questões sobre a deserção de Gianfranco Fini e de 30 deputados que apoiavam o Governo. Mais uma pouco inocente dualidade de critérios.

Coliseu de Roma.


P.S. Estas vagas de violência injustificável só serão travadas quando a polícia tiver instruções operacionais e cobertura política para, em nome da ordem pública, da defesa da propriedade e da integridade das pessoas, prevenir o vandalismo e reprimir os bárbaros com a dose de repressão necessária. Enquanto prevalecer a permissividade vigente, estamos condenados a ser violentados pela barbárie.

14 dezembro, 2010

Empty Chair

EMPTY CHAIR


O retrato de Liu Xiaobo e a cadeira onde se deveria ter sentado.

Apesar da admiração que o sucesso económico chinês vai suscitando em diversos quadrantes, o Governo da China vai-se esforçando por nos lembrar que a sua natureza é intrinsecamente má: totalitária, agressiva, expansionista e repressiva.

Esta semana, pela primeira vez desde a atribuição do Prémio Nobel da Paz ao pacifista Alemão Carl Von Ossietzky em 1936, nem o galardoado, nem um familiar próximo estiveram presentes na cerimónia de entrega do galardão. O regime que em 1936 tomou essa atitude foi o III Reich de Adolf Hitler.
 
Da atitude de Pequim relativamente ao Prémio Nobel da Paz 2010, retiram-se duas ilações, nenhuma delas nova:

1- A repressão interna a quem pensa de forma diferente, mesmo que usando exclusivamente métodos pacíficos é implacável e não vai mudar. Os Jogos Olímpicos de 2008 foram disso uma boa demonstração para quem pensava que eles iriam induzir a abertura política da China.

2- A intolerância externa é total quando os interesses do partido Comunista Chinês estão em causa. As retaliações comerciais contra a Noruega e a chantagem feita a múltiplos estados para não estarem representados na Cerimónia de Oslo, é exemplificativo daquilo em que a China se tornou no século XXI: um bully à escala global.

Termino com uma pequena citação de Liu Xiaobo, datada de Dezembro 2009:

"I have once again been shoved into the dock by the enemy mentality of the regime," Liu said on Dec. 23, 2009. "But I still want to say to this regime, which is depriving me of my freedom, that I stand by [my] convictions. ... I have no enemies, and no hatred."

Hatred, Liu continued , "can rot away at a person's intelligence and conscience. Enemy mentality will poison the spirit of a nation, incite cruel mortal struggles, destroy a society's tolerance and humanity, and hinder a nation's progress toward freedom and democracy."

inThe Washington Post” de 10 de Dezembro 2010 at

03 dezembro, 2010

New START or No START?

NEW START OR NO START?

 
O New START (Strategic Arms Reduction Treaty) foi assinado com pompa e circunstância pelos Presidentes da Rússia (Medvedev) e dos Estados Unidos (Obama) no passado mês de Abril. Passados 8 meses, o Tratado não foi ainda votado em sessão plenária do Senado dos EUA, o que terá de acontecer com o voto de 2/3 dos senadores (67) para que o mesmo seja ratificado e possa entrar em vigor (a Duma Russa aguarda que tal aconteça para fazer o mesmo).
 Lançamento de um SS-18 russo: um colosso capaz de transportar 10 ogivas nucleares independentes. (in www.missilethreat.com )

Entretanto, após as eleições, a vantagem dos Democratas sobre os Republicanos diminuiu de 59-41 para 53-47, mas o novo Senado só entra em funções em Janeiro. Preocupado com a possibilidade de ter de angariar 14 votos republicanos em vez dos actuais 8, Obama elegeu a ratificação do New START como a principal prioridade legislativa para os últimos dias do actual Senado.

Numa altura em que os EUA se debatem com um deficit orçamental galopante, com uma dívida pública colossal, com o desemprego em ascensão e com uma recuperação económica incipiente, o critério de prioridade causará alguma surpresa. Perguntar-se-á: quão importante e decisivo é o New START?

 Um Minuteman III dos EUA na fase final do vôo. (in http://www.defenseindustrydaily.com/ )

O New START insere-se numa linhagem de tratados de redução de armamento nuclear estratégico (ogivas e vectores) que data da presidência de Ronald Reagan que inaugurou o conceito como contraponto aos anteriores tratados que visavam a limitação desse armamento (SALT). O último da série foi o SORT (Moscow Treaty), assinado por George W. Bush e Vladimir Putin em 2004, que cessa em 2012. O New START vem substituir o START I que cessou em Dezembro de 2009.


O New START prevê uma limitação das ogivas nucleares estratégicas (o componente explosivo) a 1550 para cada uma das potências e um máximo de 700 vectores (mísseis, submarinos, bombardeiros estratégicos). O plafond estabelecido para as ogivas no SORT é um intervalo entre 1700 e 2200.


Portanto, estamos perante uma redução máxima de 30% (será menor se partirmos de um ponto inferior do intervalo), o que é significativo, mas são 500 ogivas que não representam muito se considerarmos que os arsenais estratégicos activos dos EUA e da Rússia somavam mais de 20.000 ogivas no final da Guerra Fria. A outra questão relevante que está em jogo, é o sistema de verificação e controle mútuo, que permite que cada uma das partes faça um número significativo de inspecções (as visitas surpresa são 18) às instalações nucleares da outra, contribuindo para um melhor conhecimento mútuo, para obviar o desrespeito pelo Tratado e melhorar os índices de confiança e transparência.

O establishment norte-americano é furiosamente pró-New START. Ainda esta semana, 5 Secretários de Estado (Henry Kissinger, George Shultz, James Baker, Lawrence Eagleburger, Colin Powell) dos últimos 5 Presidentes Republicanos (Richard Nixon, Gerald Ford, Ronald Reagan, George H. Bush e George W. Bush) publicaram um artigo no Washington Post pedindo que o Partido Republicano viabilize o Tratado. Na semana anterior foram os actuais Secretários de Estado e da Defesa (Hillary Clinton e Robert Gates a fazerem o mesmo.
 
Contudo, o GOP no Senado não está entusiasmado com o Tratado. Teme que venha a prejudicar os esforços para criar um sistema de defesa anti-míssil, que prejudique a instalação do Global Strike System (um míssil estratégico com carga convencional) e que o complexo nuclear dos EUA e o respectivo armamento não conheçam a modernização e o investimento necessários para que a capacidade dissuasora dos EUA se mantenha intacta.
A Administração tem se esforçado por anunciar mais e mais investimentos e produzir garantias políticas que satisfaçam os Republicanos, mas estes, principalmente o seu líder em questões de segurança, Jon Kyl do Arizona, não parecem totalmente convencidos. Menos convencidos estão ainda que, dado o quadro económico e financeiro dos EUA, a ratificação seja um assunto urgente. E assim, parecem dispostos a deixar o assunto para 2011.

A terminar, gostava de dizer que seria bom que o New START fosse ratificado. Não sendo nada de assombroso, tem aspectos positivos que negativos. Dito isto, classificá-lo como vital para a segurança nacional dos Estados Unidos, é quase absurdo. Eis porquê:
1- O risco de confronto nuclear entre os EUA e a Rússia que foi sempre reduzido, excepto nalgumas situações específicas, é hoje residual. E não é maior com 2000 ogivas do que com 1550.


2- O principal risco de proliferação na Rússia não são as armas estratégicas (em menor número e com maior segurança), mas sim as tácticas que não são abrangidas por este Tratado.


3- A Rússia, devido às dificuldade económicas, tem grande interesse em reduzir as suas armas nucleares para conter custos e é muito provável que diminuísse o seu arsenal com ou sem tratado.


4- A falta de inspecção é apresentada como particularmente grave pelos apoiantes do Tratado. Saliente-se que tal é bilateral: os Russos também não inspeccionam e não parecem aflitos por causa disso. A realidade é que, no actual contexto, nenhuma das partes tem particular interesse em aproveitar este hiato para implementar mudanças significativas.


5- O argumento que o New START desincentivará proliferadores como a Coreia do Norte ou o Irão a desenvolver ou incrementar os respectivos programas nucleares é risível. Nem Pyongyang, nem Teerão, nem qualquer outro proliferador conhecido é motivado pela dimensão dos arsenais nucleares de Washington ou de Moscovo, nem tal seria razoável dada a décalage entre estes e todos os outros. Que a Rússia ou os EUA tenham 1000, 2000, ou 10.000 ogivas é-lhes absolutamente indiferente.


6- A realidade, é que há muitas ameaças mais prementes para a segurança nacional dos EUA do que o arsenal russo. Até o pequeno arsenal da Coreia do Norte e o projecto de arsenal atómico do Irão representam hoje ameaças mais prementes dos que o SS-18 russos.

Então porque é que Obama tem pressa? Bem, porque está com dificuldades políticas internas e um êxito no âmbito internacional dar-lhe-ia jeito. Porque a entrada em vigor do New START daria novo alento à áurea messiânica que julga ter. Porque o falhanço do New START esvaziaria o conteúdo do seu discurso em Praga (Abril/2009). E porque tem medo que o novo Senado chumbe o Tratado ou o remeta para as calendas gregas. Et voilà!

01 dezembro, 2010

Restauração

RESTAURAÇÃO – 370 ANOS
1640-2010
Bandeira Real de D. João IV

Faz hoje 370 anos que 40 nobres conspiradores lideraram o movimento que levou à Restauração da independência. Em 2010, mesmo sem Filipes, precisamos de um movimento que restaure a dignidade, a probidade e a competência na gestão da coisa pública, em nome da sobrevivência (e solvência) nacional.



D. João IV é aclamado Rei de Portugal