26 junho, 2011

Guerra e Eleitoralismo

GUERRA E ELEITORALISMO


Depois de muita especulação (como é habitual), Barack Obama deu a conhecer o como e o quando do fim do surge – o aumento de 33.000 tropas dos EUA no Afeganistão que decidiu fazer em Dezembro de 2009.

Como se sabe, já nessa altura Obama anunciou que em Julho de 2011 começaria a retirar os reforços que então começava a enviar. Tal era uma péssima ideia como tive ocasião de referir na altura em “It’s 3 A.M. and the Red Phone Rings” ( http://tempos-interessantes.blogspot.com/2009_12_01_archive.html ) :

Francamente negativo foi o anúncio de um deadline de 18 meses para iniciar a retirada. Supostamente, para pressionar o governo afegão a arrepiar caminho e para dar tempo ao novel exército afegão para assumir o grosso da luta contra os Taliban. Na realidade, o factor principal foi a vontade que Obama tem de fugir a sete pés do Afeganistão e a necessidade de dar um rebuçado à ala pacifista maioritária no Partido Democrata, à qual pertence. Falta a Obama o fighting spirit e a consciência geopolítica de que o poder e a disponibilidade para o usar ainda são factores incontornáveis nas Relações Internacionais.
 
Dentro de 18 meses, o exército afegão ainda não terá a dimensão e a capacidade para arcar autonomamente com o esforço de guerra. Pior do que isso, é que os Taliban e a Al-Qaeda também vêem e lêem as notícias e sabem que lhes basta resistir durante 18 meses e esperar que o inimigo comece a fazer as malas. Então sim, o espírito de Saigão poderá voltar para assombrar a Casa Branca, poderá não haver margem para gastar mais uns meses a deliberar e a escolha poderá ser apenas entre a derrota total e o reforço maciço de tropas. Por outras palavras, um beco sem saída. É evidente que os 18 meses não são inocentes: para além de placar o Partido Democrata, em Julho de 2011 estar-se-á a 16 meses das eleições presidenciais norte-americanas e Obama quer retirar as tropas do Afeganistão a tempo de o Afeganistão sair da mente e da memória do eleitorado, ou seja, a prioridade é vencer em 2012; a guerra está em segundo plano.

Dito e feito. 10.000 soldados retiram até ao final deste ano e os restantes 23.000 deixam o Afeganistão até Setembro de 2012. De pouco serviu que as chefias militares solicitassem que o grosso dos 33.000 ficassem até ao final de 2012, permitindo que estivessem mais dois ciclos de guerra (Primavera-Outono) no terreno, consolidando os progressos obtidos até agora.

Aliás, já há meses que conselheiros civis do Presidente (leia-se assessores de campanha) que era impensável que estas tropas permanecessem no teatro de guerra até ao final de 2012. Como já era previsível há 18 meses atrás, o importante era ter as tropas nos Estados Unidos antes das eleições. Já se sabe, também, que para Obama a prioridade é “Me first!”. Longe vão os tempos em que o Afeganistão era a guerra que valia a pena combater e ganhar. Essa era a altura de angariar votos. A guerra é a mesma, a necessidade de angariar votos também, só mudou a estratégia eleitoral para os obter.
 
A morte de Osama Bin Laden tem sido apontada off the record como uma das motivações para acelerar a retirada do Afeganistão. É o conto do vigário. A eliminação de Bin Laden foi muito importante pelo carácter simbólico de que se revestiu:
 
… a morte de Bin Laden é uma grande vitória pelo valor simbólico que tem. No Ocidente, o alívio e alegria pelo desaparecimento do rosto da maligna organização, que na mente de muitos se confundia com a própria organização. Para os islamitas radicais é o oposto: desaparece o líder, a referência, o fundador, a figura reverencial e consensual. (in “A Morte da Besta” at
http://tempos-interessantes.blogspot.com/2011/05/morte-da-besta.html
No entanto, a sua relevância operacional era muito reduzida. Ou seja, a sua liquidação não altera no curto prazo a realidade no teatro de guerra afegão. Fazer o link entre a morte de Osama e a conclusão da Guerra no Afeganistão é demagogia grosseira.
Enquanto a condução de uma guerra for fluindo ao sabor dos interesses eleitorais conjunturais de um Presidente, é óbvio que os superiores interesses políticos e geoestratégicos dos Estados Unidos são relegados para segundo plano, seja no Afeganistão, no Médio Oriente ou na Europa. Com este Presidente, assim será.

Post Scriptum: A postura de Obama nas questões do Médio Oriente tem sido diferente, mas disso trataremos noutro post.

22 junho, 2011

São Tomé

SÃO TOMÉ

Tomou posse o XIX Governo Constitucional, resultante de um acordo entre o PSD e o CDS e suportado por uma confortável maioria parlamentar

Todos sabemos que enfrenta tempos difíceis, resultado de muitos anos de desleixo e, especialmente, da gestão danosa de que Portugal foi vítima nos últimos 6 anos. Contudo, se a situação contextualiza a actuação do novo Governo, ela não desculpabiliza eventuais maus desempenhos, até porque todos os membros do Governo são-no de livre vontade e com conhecimento da situação.
 
Além da superação do estado de falência, espera-se que o Governo seja capaz de diminuir o peso e custo do Estado e de todas as suas estruturas periféricas e aliviar o jugo fiscal colocado sobre os cidadãos para financiar a incontinência orçamental socialista. Não esqueço que Pedro Passos Coelho se arrogou o direito de fazer ajustamentos ao Memorando da Troika, atacando mais a despesa do que a receita e mantendo o cumprimento dos objectivos nele inscritos.

A coligação PSD-CDS é o melhor cenário governativo que se podia esperar das eleições de 5 de Junho. Infelizmente, anteriores intenções de reduzir o Estado e de devolver dinheiro aos cidadãos saíram goradas. Assim, é com o espírito de São Tomé que olho para este Governo: ver para crer!


Post Scriptum: Acho um desperdício a colocação de Paulo Portas nos Negócios Estrangeiros. No Ministério da Administração Interna teria influência e poderia fazer a diferença; no MNE, não.

21 junho, 2011

KO ao 2º Assalto

KO AO 2º ASSALTO


 
Dois rápidos assaltos foi quanto durou a candidatura efectiva de Fernando Nobre ao cargo de Presidente da Assembleia da República (PAR).

Fernando Nobre, a mais desastrada indicação de um cidadão para PAR em 36 anos, foi abatido pela conjugação da coerência do CDS com a revanche da esquerda, que não lhe perdoou o seu oportunista e interesseiro volte-face político-ideológico.
Finalmente, o coup de grace foi desferido por 3 incógnitos deputados do PSD que recuperaram a máxima milenar de que “Roma não paga a traidores”!

P.S. A obcessão pela novidade não é boa conselheira. Pedro Passos Coelho fez questão fechada de colocar um independente (?) como PAR, como se tal fosse uma prioridade nacional, ou tivesse mesmo alguma relevância política. Como alternativa, fez eleger a primeira mulher a ocupar o cargo de PAR. Nada contra o facto, apenas me desagrada a sensação de se querer fazer diferente, simplesmente por isso, por ser a primeira vez. Ainda bem que não há marcianos no Grupo Parlamentar do PSD…

07 junho, 2011

Desejos Satisfeitos

DESEJOS SATISFEITOS

 
Os resultados das Eleições Legislativas estiveram dentro daquilo que previa e do que desejava (ver Desejos para Hoje – 05/06/2011 em http://tempos-interessantes.blogspot.com/2011/06/desejos-para-hoje-05062011.html ). Posso mesmo dizer, que foram desejos satisfeitos praticamente na íntegra. Foram também o reflexo da situação política, económica e social que Portugal tem vivido nos últimos tempos.

Assim, a vitória do PSD era, num quadro que excluísse a insanidade colectiva, uma inevitabilidade. Apesar das hesitações e dos percalços, a liderança do PSD manteve, durante a campanha, um índice de tranquilidade e de determinação que foram suficientes para aligeirar alguns receios de que o PSD não estivesse preparado para assumir o poder. Essa será a prova dos nove de Pedro Passos Coelho: cumprir as metas de redução do deficit e de devolver competitividade à economia, colocando o ónus principal do ajustamento na fonte dos problemas (Estado e sector público) e não nas vítimas (os cidadãos).

A derrocada do PS, só ultrapassada pela hecatombe de 1985, foi um tardio ajuste de contas do eleitorado português com José Sócrates. A oportunista e ruinosa política de expansão descontrolada da despesa pública em 2008/09, a total incapacidade de a controlar, conter e reduzir em 2010 e a contínua extorsão fiscal dos cidadãos, levou à ruptura financeira de Portugal, ao prolongamento e agravamento do estado recessivo da economia, ao empobrecimento da classe média e à miséria económica e social de muitos Portugueses. 28% é uma punição duríssima do PS se olharmos ao seu histórico eleitoral. 28% é um resultado fantástico se olharmos à gestão danosa da coisa pública realizada pelo PS de José Sócrates.

O crescimento eleitoral do CDS é notável porque, pela primeira vez, foi feita em conjunto com a subida do PSD. Embora tenha sabido a pouco em face das sondagens e da performance do partido e de Paulo Portas, este resultado coroa a viragem à direita que os Portugueses operaram em 2011. Espera-se que o CDS assegure que os valores de direita são defendidos e promovidos no novo governo e que coarcte alguns tiques negativos dos partidos dominantes do sistema político português.

A muralha de aço do PCP resistiu mais uma vez e até conseguiu crescer. O legado de coerência a roçar a obstinação deixado por Álvaro Cunhal continua a dar frutos: enquanto que os PC’s reconvertidos por essa Europa já foram extintos ou reduzidos a forças residuais, assim, com 16 deputados, se vê a força do PC…P.

O Bloco de Esquerda teve o seu momento PRDiano (a criação eanista dos anos 80 que teve 45 deputados nas primeiras eleições a que concorreu em 1985, teve 7 nas segundas em 1987 e 0 –zero- nas subsequentes). Reduzida a metade dos votos e dos deputados, a salada soviética de trotskistas, stalinistas e maoistas que é o BE, teve o seu pogrom eleitoral. Nem foi preciso o Gulag ou a Revolução Cultural: foram dizimados nas urnas pelo eleitorado, certamente saturado da arrogância, intolerância e radicalismo do BE, quiçá enjoado de tanto caviar de esquerda. Vamos aguardar pelo pogrom interno…

E agora vamos verrar os dentes para arrostar o temporal!!!

05 junho, 2011

Desejos para Hoje (05/06/2011)

DESEJOS PARA HOJE

(05/06/2011)

As eleições legislativas em Portugal começam dentro de algumas horas. Eis os meus desejos para esse acto eleitoral:

1- Que o PSD ganhe com clareza mas sem maioria absoluta. Um resultado na ordem do que lhe têm atribuído as sondagens, entre os 35% e os 38%, estaria bem.

2- Que o PS tenha um resultado remotamente em linha com os resultados da sua governação. Digo remotamente, porque a legislação eleitoral portuguesa não contempla a possibilidade de ter uma votação negativa, tipo -25%. Tendo em conta a realidade social e política de Portugal, desejo que o PS fique abaixo dos 30%.

3- Que o CDS tenha um bom resultado, cerca dos 12%, preferivelmente perto dos 15%, para poder ter uma influência e responsabilidade fortes no próximo governo.

4- Que o PCP tenha um resultado apreciável (cerca de 10%), que aumenta as perdas do PS e lhe permita regressar ao posto de 4º partido nacional.

5- Que o BE seja relegado para o 5º lugar, com não mais de 8%, assim penalizando as suas arrogância, intolerância e radicalismo.

6- Que todos os Portugueses que queiram votar o possam fazer sem problemas nem entraves, penalizadores do livre exercício do acto mais nobre da democracia e que mancharam de forma vergonhosa as últimas eleições presidenciais.

E que Deus nos ajude (e os Portugueses também!)!