27 novembro, 2008

O Socialismo de Sócrates

O SOCIALISMO DE SÓCRATES


José Sócrates tem a fama (e algum proveito) de não ser um verdadeiro socialista. No entanto, para quem tinha dúvidas, a recente crise económica revelou que ater pode não ser, mas os tiques continuam lá. Senão vejamos:

Quando a crise eclodiu, José Sócrates proclamou, com indisfarçável satisfação, que a era do Liberalismo tinha acabado e que ao Estado estava reservado um renovado e imprescindível intervencionismo na economia.

Depois, disse que a única forma de superar o clima recessivo, era pôr o Estado a investir desenfreadamente, presumivelmente mandando às urtigas os resultados orçamentais que esmifrou dos Portugueses nos últimos três anos. Para dar consistência teórica ao argumento, bramou “Keynes! Keynes! Keynes!” em pleno Parlamento. A mim soou mais a “Mitterrand! Mitterrand!!”

Finalmente ontem, confrontado com o plano de combate à crise da Comissão Europeia, Sócrates rejeita a possibilidade de descida de impostos. Sim, porque ele até já desceu o IVA uns estonteantes…1%! E lá voltou o refrão dos investimentos do Estado que nos vão tirar da crise com pé enxuto. Até deu para sublinhar os sinais de optimismo: parece que até estamos a decrescer (economicamente) menos do que os outros. Morrer sim, mas devagar.

O pior disto tudo, é o tal tique socializante e estatista. Havendo falta de liquidez, reduzida capacidade para investir, diminutas possibilidades para consumir, sérias dificuldades para cumprir obrigações contratuais, mandaria o bom senso disponibilizar mais liquidez à sociedade, ou seja, aos cidadãos. Tal seria feito, nomeadamente, diminuindo o IRS, assim fazendo com que os Portugueses tivessem mensalmente mais dinheiro vivo disponível e, consequentemente, mais capacidade para pagar, mais disponibilidade para consumir, mais vontade de investir.

Mas não. O governo encara a riqueza produzida pelos Portugueses como propriedade do Estado da qual, com maior ou menor magnanimidade, deixa os cidadãos reterem uma parte. O que se compreende, porque o Estado é um bom gestor, é um bom pagador, não gasta mais do que recebe, não deve nada a ninguém e sabe melhor do que os indigentes mentais que povoam o país quais são os seus (nossos) superiores interesses e, é claro, como gastar o seu (nosso) dinheiro.

E assim se vai realizando a velha prática socialista de igualizar por baixo, preservando o império estatal e os privilégios daqueles que à sua volta gravitam.
 
 

24 novembro, 2008

Sabedoria Infantil

SABEDORIA INFANTIL E
A CRISE ECONÓMICA
A crise económica mundial continua a preocupar milhões de cidadãos e a desafiar políticos, economistas, banqueiros e empresários.

Há uns dias atrás, o Afonso Duarte (o meu filho de 9 anos), perguntou-me o que era isso da “crise económica mundial”. Tentei explicar da melhor forma possível e referi a componente psicológica das crises económicas, nomeadamente a convicção generalizada de que há crise tende a agravar os seus sintomas.

Responde o Afonso:

“Papá, se não dissessem a ninguém que havia crise, as pessoas já não se preocupavam porque não sabiam e a crise talvez desaparecesse!”

Case closed.

13 novembro, 2008

Os Ovos e a Educação

OS OVOS E A EDUCAÇÃO

 
Não sei se foram os 1000 alunos e a chuva de ovos que levou em Fafe, ou se foi a mega-manifestação de 120.000 professores que levaram a Ministra da Educação a fazer um arremedo de acto de contrição no Parlamento. Seja o que for, a Ministra esteve, outra vez, mal.

Maria de Lurdes Rodrigues pede desculpa por estar a desmotivar, frustrar e zangar a classe docente, mas acrescenta que tal é necessário porque é para o bem dos alunos e da educação. É extraordinário. A Ministra sacrifica os professores no altar do valor supremo da educação, como se esta pudesse existir sem aqueles. Depois de banir as reprovações, só faltava instituir o ensino sem os professores.

Vendo bem, os alunos de Fafe desperdiçaram os seus ovos numa senhora que, afinal, já faz omeletes sem eles (os ovos).

10 novembro, 2008

US Elections Live at UFP

US ELECTIONS LIVE AT UFP

Na noite eleitoral americana, a Universidade Fernando Pessoa, por iniciativa do seu curso de Ciência Política e Relações Internacionais, levou a cabo uma iniciativa inédita em Portugal: o acompanhamento em directo das eleições nos Estados Unidos, desde as 22.00h do dia 4 de Novembro até às 03.00 do dia 5.

Igualmente inédito, foi o facto de o evento ter sido transmitido em directo pela estação televisiva Porto Canal ao longo de 3 horas, a partir do Auditório da UFP e perante uma plateia de mais de uma centena de pessoas, maioritariamente composta por alunos.

Sendo uma iniciativa que valorizou e divulgou as Relações Internacionais e na qual estive envolvido, não podia deixar de a referir num Blog que é, principalmente, dedicado às RI.

04 novembro, 2008

The Obama Flop

THE OBAMA FLOP
 

Jeremiah Wright e Barack Obama.
in The Economist

O Senador Barack Hussein Obama entra no dia das eleições dos Estados Unidos à frente na corrida presidencial. É pena.

É pena porque Obama é, na melhor das hipóteses, um grande ponto de interrogação. Na pior, é um dos maiores logros da história política recente.

1- Tem uma atitude arrogante perante o eleitorado hostil e os adversários, sejam eles John McCain, George W. Bush, ou Hillary Clinton. O seu comentário sobre os brancos da Pennsylvania rural que se agarravam à religião e às armas é ilustrativo. Pior, tem o comportamento de virgem ofendida perante as críticas dos adversários, como se fosse possível estar imune a ataques.
2- Proclama-se portador de mudança e de uma forma pós-partidária de fazer política. No entanto, a sua campanha fez inúmeros anúncios e declarações falsas e desonestas sobre os adversários, de que é bem exemplo a insistência de que McCain queria os EUA a combater no Iraque durante 100 anos.
3- Oportunismo e hipocrisia. Cedo na campanha prometeu que aderiria ao sistema público de financiamento de campanhas se o candidato Republicano também o fizesse. McCain fê-lo, mas Obama, ciente de que recolhia muito, muito mais dinheiro permanecendo fora do sistema, esqueceu a promessa.
4- Tem o historial mais liberal, leia-se esquerdista, do Senado dos Estados Unidos.
5- Tem o curriculum mais minúsculo e irrelevante da história recente de candidatos presidenciais: 4 anos no Senado, zero de actividade legislativa de relevo.
6- Irresponsável em política de defesa e externa: retirada a curto prazo do Iraque (pelo seu plano original, já não haveria tropas americanas no Iraque) e negação do sucesso evidente da surge de tropas dos EUA no Iraque. Os seus propósitos negociais com o Irão e outros regimes totalitários são ingénuos, no mínimo.
7- Céptico do liberalismo económico, ameaça pôr em cheque a NAFTA (North American Free Trade Association que reúne EUA, Canadá e México) e apoiou a rejeição do acordo comercial com a Colômbia, um dos mais importantes aliados dos EUA na América do Sul.
8- Change, change é um dos slogans menos originais que se pode imaginar. Quantos políticos pró esse mundo já apregoaram a mudança como um dos seus slogans eleitorais? Pacoviamente, alguns políticos europeus adoptaram-no como se tratasse de uma criativa inovação. Yes we can é básico e reflecte a superficialidade e o cariz socialite da campanha de Obama.
9- Ligações perigosas: Rezco, o corrupto que apoiou Obama na política de Chicago, William Ayers, o terrorista arrependido por não ter matado e destruído mais e Jeremiah Wright, o reverendo racista e anti-americano são três presenças inaceitáveis na vida política e social de Obama. O caso do reverendo é vergonhoso: o homem que veio para cicatrizar as feridas raciais, tinha como guia espiritual durante 20 anos, um sujeito que prega o racismo e que acusa o governo dos EUA de criar o HIV para praticar o genocídio dos negros americanos. Acrescente-se que a não utilização desta ligação por McCain foi talvez o seu erro mais nefasto nesta campanha. Esta omissão jamais teria ocorrido numa situação inversa.
10- Barack Obama é convencido para lá do aceitável: frases como “sou aquele que vocês esperavam”, “gerações olharam para trás e dirão aos filhos que ESTE foi O momento” e este é o momento em que os oceanos começaram a baixar”, mostram um indivíduo pretensioso numa escala delirante.

Por tudo isto, Barack Obama é uma má escolha presidencial. Vai beneficiar de uma conjuntura política e económica altamente favorável aos Democratas, da sua capacidade oratória e da protecção dos mainstream media, que nunca exploraram os seus pontos fracos e contradições. Méritos próprios: notável carisma, grande eloquência, projecção de uma imagem positiva e serena, grande racionalidade e uma ambição sem limites.

Pouco, mas aparentemente suficiente para chegar à Casa Branca.


P.S. Apesar da análise que aqui deixo, penso que Obama vai desiludir muitos dos seus apoiantes nos EUA e, principalmente, no estrangeiro, caso ganhe. O peso do lugar e o seu calculismo político farão com que governe de forma a pensar em 2012 e talvez um pouco longe dos radicalismos da sua plataforma original. É óbvio que os milhares que o aplaudiram em Berlim e lhe tecem loas por essa Europa fora, provavelmente estarão a rogar-lhe pragas daqui a dois anos, mas isso faz parte da ingenuidade das elites esquerdistas bem pensantes, dum e doutro lado do Atlântico. Se, por outro lado, seguir a sua agenda e a dos Democratas que controlam hoje o partido, provavelmente será cilindrado em 2012.