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30 novembro, 2014

Coincidências

COINCIDÊNCIAS
 
Não sou suspeito de nutrir simpatia ou empatia por José Sócrates ou pelos seus governos, especialmente o segundo. Aliás, no que hoje poderia parecer premonitório, publiquei um post em 24 de Outubro de 2010, intitulado “WANTED” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2010_10_01_archive.html ) e ilustrado com esta imagem:
Não obstante, tenho alguma dificuldade em acreditar em certas coincidências. Não que elas não existam. Lembro-me que uma vez encontrei uma colega de universidade na praia… em Nice. Um sítio onde nunca tinha ido e onde nunca regressei.
 
Agora, quando as coincidências deixam de ser eventos inocentes que não afectam ninguém e não são susceptíveis de ser planeados, para serem algo de muito oportuno e conveniente para uns e especialmente danoso para outros e quando aqueles têm poder para provocar ou influenciar a ocorrência da coincidência, aí esvai-se a minha credulidade.
 
Chamem-me céptico, mas acreditar que a prisão de Sócrates na semana em que o Governo se debatia com um escândalo de corrupção nos mais altos níveis da administração pública, no fim-de-semana em que o PS elegia o novo Secretário-Geral, uma semana antes de se realizar o Congresso que entronaria António Costa e o lançaria para o assalto ao Governo, estica demasiado a corda da minha capacidade de acreditar.
 
Como diria o outro, eu não acredito, mas as bruxas existem….
 
 

07 novembro, 2013

Diálogos e Consensos

DIÁLOGOS E CONSENSOS

 
Depois das investidas de Cavaco Silva no Verão, a questão da premência e obrigatoriedade do diálogo e do consenso voltou à baila, desta vez por iniciativa do Governo e das suas extensões: o CDS e, especialmente, o PSD. A esta renovada pressão, junta-se o clamor dos opinion makers do regime. O alvo é o PS.

A pressão é intensa: Cavaco Silva diz que sem diálogos e consensos não somos um país europeu normal; Marco António acrescenta que o PS se tornou um partido radical; outros declaram que o PS não tem alternativa – TEM que se sentar à mesa das negociações.


Que fundamento e viabilidade têm estes apelos/ameaças?


Recuemos a 2011. Passos Coelho faz tremendos ataques ao Governo de José Sócrates e promessas de red lines que não pisará. José Sócrates negoceia o PEC IV à sorrelfa, sem dar cavaco a Cavaco nem ao PSD. O PSD, CDS, PCP e BE chumbam o PEC IV. O Governo demite-se. Vem o Memorando de Entendimento com a Troika, uma campanha eleitoral agreste e tensa, eleições e um novo governo.


Em retrospectiva, o chumbo do PEC IV pelo PSD e CDS foi um erro crasso. Bem, na verdade foi uma manobra de assalto ao poder. Derrubado o governo, Passos Coelho subscreve um memorando mal negociado por Sócrates e pelo seu incompetente Ministro das Finanças (Teixeira dos Santos), mais duro do que o PEC IV, renegando uma boa parte das suas promessas eleitorais (ver “Outro Mentiroso” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/07/outro-mentiroso.html ). As outras seriam repelidas já no governo.


Após estes acontecimentos, entre o PS socrático e o PSD coelhista só há bad blood. Contudo, com o cadáver de Sócrates ainda quente, António José Seguro anuncia que é candidato à liderança do PS, para a qual vem a ser eleito. Numa primeira fase da sua liderança, Seguro colabora com o Governo, mesmo fazendo umas ameaças ocas pelo meio (ver “O Idiota Útil” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/04/o-idiota-util-antonio-jose-seguro-foto.html  ).


Instalado no poder, com o conforto de uma maioria parlamentar laranja-azul, Passos Coelho e o PSD desprezam Seguro e o PS. Em bom Português, não lhe passam cartão e recusam qualquer diálogo com significado. Por muito sonso que fosse, chegou o ponto em que Seguro se fartou e começou a opor-se efectivamente ao Governo, votando contra o orçamento de Estado de 2012. Com a nova postura verificou que evitava grande parte das chatices internas no PS e ainda ganhava popularidade. E à falta de melhor, endureceu a postura em relação ao PSD.


Sucede que em 2012 o Governo começa a ver o comboio da governação a andar para trás. De forma mais precisa, a descarrilar. Então fez-se luz no PSD: com o navio a meter água por todos os buracos orçamentais, há que envolver o PS no processo de aplicação do Memorando, dar um balde ao Seguro e pô-lo a tirar água do navio. Este, contudo, satisfeito com os resultados da sua nova postura e com as renovadas perspectivas de sobrevivência política, disse que não: vocês meteram água, agora tirem-na.


Em 2013, com as eleições autárquicas no horizonte, a vontade do PS em negociar diminui proporcionalmente ao agravamento da desagregação do Governo. Para conter a crise política, o Presidente da República obriga PSD, PS e CDS a negociar. Já era tarde. Para prevenir qualquer recaída de Seguro, o PS jurássico emitiu avisos à navegação que torpedearam à nascença a remota hipótese de consenso.


Seja como for, os maus resultados da governação aliados aos bons resultados das Autárquicas, puseram Seguro em election mode: só quer eleições e quanto mais cedo melhor, não vá o balão esvaziar. Tal como Sócrates e Coelho antes dele, Seguro só pensa em ser Primeiro-Ministro. Espera-se que, se lá chegar, tal não aconteça de forma espúria como o anterior e o actual.


Por sua vez, PSD e CDS perderam o timing do diálogo e do consenso por soberba. Agora querem fazê-lo em desespero de causa e por dois motivos: por um lado, para arrastar o PS para um acordo que o torne cúmplice e co-responsável por uma governação desastrosa e extremamente impopular; por outro lado, para aprofundar e perpetuar os desígnios programáticos do Governo para além da Troika.


A assinatura do memorando de Entendimento foi um episódio de convergência acidental entre um Sócrates encostado à parede e um Coelho ávido do poder que estava a um passo de distância. A partir daí, os partidos divergiram continuamente, crisparam e barricaram-se nas respectivas trincheiras. Face à magnitude das divergências e do antagonismo, qualquer acordo assinado agora seria uma manifestação de hipocrisia ou o resultado de forte coacção, provavelmente externa.

É grave este afastamento e crispação? É grave a falta de consenso?

Não e não. Eu sei que a opinião publicada e transmitida tem vindo num clamor crescente pedindo/exigindo diálogos, consensos e acordos, mas trata-se de pessoas que em regra pertencem ao sistema, onde pululam os interesses, as trocas de favores e os acordos interesseiros, mas a resposta é mesmo “Não”.


Estou convencido que os Portugueses querem e precisam de alternativas e possibilidades de escolha. Também estou ciente de que o actual PS está longe de oferecer uma alternativa de confiança e não contará com o meu voto. Não obstante, penso que será difícil fazer pior, ou até tão mal como o actual Governo.


Portugal não precisa de acordos suspeitos que visem decidir pelos Portugueses o que cabe aos Portugueses decidir. Umas eleições entre o António José Coelho e o Pedro Passos Seguro seria um pesadelo a somar ao que já vivemos.


12 julho, 2013

Cavaco Silva Out of the Box

CAVACO SILVA OUT OF THE BOX

 
Cavaco Silva conseguiu surpreender toda a gente na sua comunicação ao país sobre a crise política em Portugal. Eu, como a maioria das pessoas, pensava que ele iria, mais uma vez, dar luz verde e carta-branca ao Governo, abençoando a segunda proposta apresentada por Passos Coelho, que previa a manutenção de Portas no governo e uma reestruturação da orgânica, dos poderes e dos nomes do governo.

Em vez disso, Cavaco Silva encontrou uma fórmula que não agradou a Gregos nem a Troianos. Aliás não agradou a PSD e CDS porque chumbou a proposta conjunta; não agradou a PS, PCP e BE porque vetou eleições imediatas.

Quais são os prós e contras da iniciativa do Presidente?

PRÓS

1- Cavaco Silva pensou out of the box, qualidade que se pensava já não ter. Não se resignou ao óbvio, não se submeteu à coligação e apresentou um caminho alternativo.
 
2- Cavaco Silva conseguiu de uma assentada entalar os 3 partidos que, de formas, em graus e em tempos diferentes são os responsáveis pelo estado catastrófico a que Portugal chegou.
 
3- Cavaco Silva mostrou um cartão vermelho a prazo ao Governo. Sim, ao colocar um prazo de validade de um ano e apenas por causa da duração do resgaste até essa data, Cavaco colocou um rótulo de desconfiança sobre o Governo. É mais do que merecido. A incompetência irrevogável de Passos Coelho e os malabarismos de Portas não lhe deixaram alternativa. Acredito que o tenha feito contrafeito tendo em conta o apoio incondicional que foi dando ao Governo. Mas até Cavaco se encheu. É obra!

CONTRAS

1- Cavaco Silva menorizou e criticou as eleições como forma de resolução do problema. Não o deve fazer porque, para o melhor e para o pior, é o exercício mais nobre em Democracia.
 
2- Cavaco Silva sobrevalorizou as reacções dos mercados e ainda por cima o seu discurso provocou um impacto semelhante nos juros da dívida soberana ao da demissão de Paulo Portas. Aqui não há volta a dar. Cavaco Silva enferma do mesmo mal que Sócrates, Coelho e Portas: tem terror da Troika, é incapaz de assumir uma atitude de firmeza perante ela e tem uma visão ajoelhada do interesse nacional.
 
3- O horror ao confronto político. Cavaco, talvez ainda estacionado nas suas mega-maiorias de 1987 e 1991, não aceita que o confronto, a divergência e a diferença são ingredientes incontornáveis da Democracia. A sua insistência num consenso à volta de políticas que provocam revolta na maioria da população é uma aberração. Mesmo apreciada por muitos comentadores do establishment, não deixa de ser isso mesmo: uma aberração.
 
4- A proposta/exigência de um entendimento macro-político entre PSD, PS e CDS para o período 2013-2017 é um atentado à Democracia. A Democracia requer alternativas (que é diferente de alternância). Se a intenção de Cavaco vingar, teremos em Julho de 2014 os 3 maiores partidos a concorrerem com uma plataforma comum, reduzindo os eleitores descontentes com ela a optarem entre o PCP, o BE, o MRPP, o PPM, alguns grupúsculos, ou o voto branco ou nulo. Muito mau.
 
5- Se a proposta de Cavaco vingar, teremos estrada livre para a ascensão de projectos de índole totalitária em 2014 e mais além. O descontentamento generalizado não vai desaparecer por obra e graça do Mega Bloco Central e o PS deixará de canalizar parte desse descontentamento. Restam o alheamento (abstenção), o protesto (brancos e nulos) e a extrema-esquerda (PCP e BE), que será a grande vencedora.

Resumindo, a proposta de Cavaco não foi tão má quanto pensei, mas mesmo assim é má. Os contras superam largamente os benefícios e não me refiro à quantidade (5-3), mas sim à bondade destes versus a gravidade daqueles. Resta ainda saber a resposta à million Dollar question: qual é o Plano B de Cavaco Silva?

Talvez nunca venhamos saber. Certo, certo é que estamos nas mãos de Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas e António José Seguro. Isso é, só por si, muito deprimente.

14 junho, 2013

E o Palhaço é Ele?


E O PALHAÇO É ELE?

As últimas semanas têm conhecido uma polémica gerada por Sousa Tavares ter apelidado o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva de “Palhaço”.

Na verdade, o mesmo Cavaco e ainda o Tribunal Constitucional, o Coelho, o Seguro e ainda o líder parlamentar do CDS levaram com o mesmo epíteto em Tempos Interessantes no post “O Circo da Semana” publicado em 6 de Julho de 2012 (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/07/o-circo-dasemana-uma-boa-parte-da-vida.html ). Recordo que nesse post fui bastante mais elaborado e abrangente do que MST caracterizando 5 tipologias de palhaços: o Interesseiro, o Prepotente, o Pobre, o Palhacito e o Ausente.

Palácio de Belém, ou Circo de Belém, eis a questão das últimas semanas.

Aliás, a temática do palhaço ressurgiu em Tempos Interessantes já em 2013, com uma dimensão internacional, recriando e adaptando a velha rábula do palhaço rico e do palhaço pobre à Itália actual. Foi em 26 de Fevereiro: “Grillo & Monti (ou o Palahço Pobre e o Palhaço Rico)” (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/02/grillo-monti-palhaco-pobre-e-palhaco.html). Tanto quanto sei, a analogia não causou furor em Itália.

Feliz ou infelizmente para mim, não tenho o tempo de antena nem o impacto público de Sousa Tavares e por isso escapei incólume ao coro de virgens ofendidas com a indignidade que foi atirada ao PR. Talvez esse mesmo relativo anonimato me tenha permitido escapar de uma valente multa, restando saber se “palhaço” é ou mais ou menos gravoso que “malandro” e avaliar se o incentivo para o dito malandro ir trabalhar constitui factor de agravamento ou suavização da pena.

A propósito de palhaçadas e de malandragens, devo dizer três coisas:

1-      As instituições e quem as representa, especialmente se forem altas figuras representativas do Estado, merecem respeito e consideração.

2-      Não obstante, como se costuma dizer, para se ser respeitado tem de se dar ao respeito. O que, como se sabe, não tem sido o caso da maioria dos altos representantes e figurantes do Estado Português neste ainda curto século XXI.

3-      Não aceito que o Presidente da República seja uma espécie de vaca sagrada do sistema político português. Ele apresenta uma plataforma eleitoral e é sufragado pelos Portugueses e, consequentemente, deve ser responsabilizado perante o povo. Como tal, está tão sujeito à crítica como qualquer ministro ou deputado. Não estamos a falar do Rei da Holanda ou da Rainha de Inglaterra.

Posto isto, a realidade é que os Presidentes da III República têm sido genericamente lamentáveis. In a nutshell:

Ramalho Eanes trabalhou para criar o seu próprio partido enquanto era PR.

Mário Soares era raivosamente anti-cavaquista e moveu céu e terra para escavacar o Cavaco no 2º mandato.

Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República como meio de derrubar de forma definitiva o Governo de Santana Lopes com o propósito de colocar a sua família política no poder. Batoteiro.

Cavaco Silva tirou (bem) o tapete a Sócrates e agora anda a aparar o jogo de um governo catastrófico que arruína o país em nome de interesses alheios aos Portugueses.


Não escrevo isto por ser monárquico, mas não me venham dizer que é tudo uma horrível coincidência.


Por não ser coincidência, é caso para perguntar, glosando Scolari: E o palhaço é ele? Se calhar somos nós, que em 8 (oito) eleições presidenciais entre 1976 e 2011, elegemos e reelegemos quatro personagens que fizeram tudo o que estava ao seu alcance para prosseguirem uma agenda própria, espúria e alheia aos interesses de Portugal.

31 julho, 2012

Indiferença

INDIFERENÇA


Wolfgang Scrooge (aka Schauble) frequentemente tem atitudes ou declarações em que ameaça, pressiona, apouca, ou humilha os Gregos. Pode não ser bonito, mas a realidade é que Wolfgang Scrooge não foi eleito pelos Gregos, não os representa e, aparentemente está-se nas tintas para eles. Ou seja, os Gregos são-lhe indiferentes.

Indiferença. A governação em muitos países da Europa (e não só) tem-se pautado por muita incompetência, opacidade, corrupção, falta de sentido estratégico, oportunismo político, ausência de sentido de estado, ignorância do que é o serviço público. Não obstante este extenso e grave rol de defeitos, há um que é pouco mencionado, mas que sobressai: a Indiferença.

Não sou adepto do Estado paternalista que acorre a tudo e a todos, reduzindo os cidadãos a criaturas incapazes e inimputáveis. No entanto, é suposto os governantes importarem-se com os governados; é de esperar que tenham em conta os seus anseios e preocupações; é normal que o Estado actue no sentido de minimizar a dor e de maximizar o conforto, especialmente quando aquela ocorre em circunstâncias para além da vontade e do controle das pessoas. Tudo isto é ainda mais expectável, quando o sofrimento decorre de acções ou omissões do Estado e dos governantes. Que estes comportamentos sejam substituídos pela frieza da Indiferença é cruel e inaceitável.
Lamentavelmente, tal tem sido prática corrente em Portugal:

·         A recusa de Sócrates em pedir desculpa aos Portugueses porque não tinha nada que pedir desculpa, isto depois de ter dado um contributo decisivo para levar Portugal à ruína e muitos milhares de Portugueses ao desespero.

·         O desplante de Passos Coelho ao afirmar que o Governo não tem exigido demais aos Portugueses.

·         A insistência de ambos que o caminho para o abismo é a única solução, mesmo quando confrontados com os números do desemprego, das falências de empresas, da ruína de famílias, da insolvência de indivíduos, do confisco de rendimentos, da entrega de casas aos bancos, da queda abrupta do consumo.

·         Reconhecer os sacrifícios que os Portugueses fazem com o ar de enfado de quem está a fazer um frete ou a marcar o ponto.



Tudo isto configura uma altiva Indiferença, brutal e desumana, perante uma população que em muitos casos come o pão que o diabo amassou, enquanto que aqueles que simultaneamente governam e são co-responsáveis pelo desastre não fazem o que deviam: mover céus e terra para apoiar e compreender, já para não falar em resolver e superar a crise.

Esta arrogância somada à Indiferença não é exclusiva de Portugal. Em Espanha, na Grécia, em Itália, assistimos a fenómenos semelhantes, sendo o caso grego particularmente gritante dada a brutalidade da austeridade aí implementada. Em Espanha, por exemplo, Rajoy está mais empenhado em ostentar a bravata de toureiro perante o exterior (nós não precisamos de ajuda) do que em resolver os problemas dos Espanhóis.

Esta Indiferença vai alienando ainda mais os representados dos seus pseudo-representantes. Frequentemente, a resposta daqueles é retribuir a Indiferença: não votam; desligam-se da política e desprezam os políticos.


É merecido e compreensível, mas não ataca a raiz do problema. A solução passa pela remoção implacável e duradoura de quem despreza os cidadãos e é alheio aos seus problemas. A Indiferença num governante é um pecado sem perdão e assim devia ser encarada e tratada.

23 julho, 2012

Farinha do Mesmo Saco



FARINHA DO MESMO SACO






Uma parte significativa da actual geração de líderes políticos está marcada por algumas características comuns, tais como: pertenceram às Juventudes partidárias (vulgo Jotas) e fizeram toda a sua carreira académica (?) e profissional (?) na política, sob a política, ao lado da política, dentro da política.


José Sócrates, Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas e António José Seguro são os expoentes deste modus vivendi, embora haja muitos mais. São todos farinha do mesmo saco.

Estes indivíduos fizeram carreira nas Jotas, frequentemente alcandorando-se a lugares nas associações estudantis e académicas, que potenciam a carreira na Jota e vice-versa. Este círculo virtuoso (para eles), se for bem conduzido e apadrinhado poderá levá-los às direcções nacionais das Jotas. Uma vez lá, o caminho está aberto para serem deputados, assessores e adjuntos de membros do Governo e membros de órgãos nacionais do partido. Entretanto, já terão há muito aderido à facção conjunturalmente dominante no partido, ou à sua mais forte alternativa. Ponto importante no processo é garantir um padrinho, seja ele uma figura importante no aparelho do partido, ou uma facção do mesmo.


A partir deste ponto, a criatura está devidamente entrincheirada no circuito político-partidário e criadas as condições para que a sua presença nele se eternize.


É evidente que as coisas podem correr mal. O caso mais clássico é a aposta no cavalo errado, que pode levar a uma morte súbita. No entanto, estes jovens apparatchiks são mestres na arte do “Morreu o Rei, Viva o Rei”, ou mais coloquialmente no vira-casaquismo, que praticam despudoradamente.


Nesta altura, alguns descobrem que o canudo, o Dr., o Eng. dão muito jeito. Ir a uma conferência partidária com o Dr. Fulano, o Arquitecto Beltrano e o simples Sr. Sicrano, fica muito mal perante as bases, os media e o público. Como o jeito, a vocação, a pachorra e, possivelmente, a capacidade não abundam e como não há a mais remota intenção de utilizar os conhecimentos supostamente adquiridos nos estudos, vale tudo para se deitar a mão ao dito diploma. Daí as trapalhadas em que os pequenos se envolvem quando são descobertos.


Finalmente, como nada mais fizeram na vida senão política (essencialmente) partidária são frequentemente incapazes de exercer qualquer outra actividade na vida. Por isso, quando há cargos em disputa, ou quando estão na iminência de ficar sem cargo (por exemplo, aquando da feitura das listas de deputados), as criaturas, como quaisquer outras, lutam pela sobrevivência e são capazes de vender pai e mãe para garantir o salvífico lugarzito.


Desenganem-se quando algum dentre eles é visto a ocupar funções doutra natureza. O mais certo é o lugar em causa ter sido arranjado pelo padrinho ou de outras conexões partidárias, para que o apparatchik se afaste dos holofotes por uns tempos, aconchegue a conta pessoal, ou fique a marinar à espera de melhor oportunidade.


O pior de tudo, é que esta falange de políticos não tem especiais qualificações para o exercício da Política e do serviço público. Pelo contrário, tais são conceitos que lhes passam ao lado. Isto porque, o seu treino e formação é na política subterrânea, nos conluios, nas conspirações, nas trocas de favores, na feitura opaca de listas, na troca de informações e coscuvilhices, na promiscuidade com os media, nas negociatas, na vanitas vanitatum.


Não têm visão estratégica, não têm convicções, são desprovidos de princípios, falta-lhes sentido de estado e não têm espírito de serviço público. Em resumo, são parasitas do aparelho de estado à custa do qual vivem, do qual dependem em absoluto e ao qual nada de útil dão em troca.


Se pensarmos no que nos custa o proveito destas criaturas, se pensarmos no mal que fizeram, fazem e farão a Portugal e aos Portugueses em troca do seu benefício e vaidade pessoal, facilmente concluiremos que não passam de uns vermes. Bem sucedidos, mas mesmo assim vermes.


NOTA: Este texto visa retratar uma realidade da política partidária portuguesa. Tal não significa, contudo, que não haja excepções. Infelizmente são poucas e cada vez menos significativas.

APÊNDICE:

A Farinha é do mesmo saco e é a mesma farinha. As caras, essas variam:

Relvas




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sócrates

 Seguro


Coelho