DIÁLOGOS
E CONSENSOS
Depois das investidas de Cavaco Silva no Verão, a questão da
premência e obrigatoriedade do diálogo e do consenso voltou à baila, desta vez por iniciativa do Governo e das suas extensões: o
CDS e, especialmente, o PSD. A esta renovada pressão, junta-se o clamor dos opinion makers do regime. O alvo é o PS.
A pressão é intensa: Cavaco Silva diz que sem diálogos e
consensos não somos um país europeu normal; Marco António acrescenta que o PS
se tornou um partido radical; outros declaram que o PS não tem alternativa –
TEM que se sentar à mesa das negociações.
Que fundamento e viabilidade têm estes apelos/ameaças?
Recuemos a 2011. Passos Coelho faz tremendos
ataques ao Governo de José Sócrates e promessas de red lines que não pisará. José Sócrates negoceia o PEC IV à sorrelfa, sem dar cavaco a Cavaco nem ao PSD. O PSD, CDS, PCP e
BE chumbam o PEC IV. O Governo demite-se. Vem o Memorando de Entendimento com a
Troika, uma campanha eleitoral agreste e tensa, eleições e um novo governo.
Em retrospectiva, o chumbo do PEC IV pelo PSD e CDS foi
um erro crasso. Bem, na verdade foi uma
manobra de assalto ao poder. Derrubado o governo, Passos Coelho subscreve um
memorando mal negociado por Sócrates e pelo seu incompetente Ministro das Finanças
(Teixeira dos Santos), mais duro do que o PEC IV, renegando uma boa parte das
suas promessas eleitorais (ver “Outro Mentiroso” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/07/outro-mentiroso.html
). As outras seriam repelidas já no governo.
Após estes acontecimentos, entre o PS socrático e o PSD
coelhista só há bad blood. Contudo, com o cadáver
de Sócrates ainda quente, António José Seguro anuncia que é candidato à
liderança do PS, para a qual vem a ser eleito. Numa primeira fase da sua
liderança, Seguro colabora com o Governo, mesmo fazendo umas ameaças ocas pelo
meio (ver “O Idiota Útil” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/04/o-idiota-util-antonio-jose-seguro-foto.html
).
Instalado no poder, com o conforto de uma maioria parlamentar
laranja-azul, Passos Coelho e o PSD desprezam Seguro e o PS. Em bom Português, não lhe passam cartão e recusam qualquer
diálogo com significado. Por muito sonso
que fosse, chegou o ponto em que Seguro se fartou e começou a opor-se
efectivamente ao Governo, votando contra o orçamento de Estado de 2012. Com
a nova postura verificou que evitava grande parte das chatices internas no PS e ainda ganhava popularidade. E à falta de
melhor, endureceu a postura em relação ao PSD.
Sucede que em 2012 o Governo começa a ver o comboio da
governação a andar para trás. De forma mais precisa, a descarrilar. Então fez-se luz no PSD: com o navio a
meter água por todos os buracos orçamentais, há que envolver o PS no processo
de aplicação do Memorando, dar um balde ao Seguro e pô-lo a tirar água do
navio. Este, contudo, satisfeito com os resultados da sua nova postura e com as
renovadas perspectivas de sobrevivência política, disse que não: vocês meteram água, agora tirem-na.
Em 2013, com as eleições autárquicas no horizonte, a
vontade do PS em negociar diminui proporcionalmente ao agravamento da
desagregação do Governo. Para conter a
crise política, o Presidente da República obriga
PSD, PS e CDS a negociar. Já era tarde. Para prevenir qualquer recaída de
Seguro, o PS jurássico emitiu avisos à navegação que torpedearam à nascença a
remota hipótese de consenso.
Seja como for, os maus resultados da governação aliados
aos bons resultados das Autárquicas, puseram Seguro em election mode: só quer eleições e quanto mais cedo melhor, não vá o
balão esvaziar. Tal como Sócrates e Coelho antes dele, Seguro só pensa em ser Primeiro-Ministro.
Espera-se que, se lá chegar, tal não aconteça de forma espúria como o anterior
e o actual.
Por sua vez, PSD e
CDS perderam o timing do diálogo e do consenso por soberba. Agora querem fazê-lo em desespero de causa e por
dois motivos: por um lado, para arrastar
o PS para um acordo que o torne cúmplice e co-responsável por uma
governação desastrosa e extremamente impopular; por outro lado, para aprofundar e perpetuar os desígnios
programáticos do Governo para além da Troika.
A assinatura do memorando de Entendimento foi um
episódio de convergência acidental entre um Sócrates encostado à parede e um
Coelho ávido do poder que estava a um passo de distância. A partir daí, os
partidos divergiram continuamente, crisparam e barricaram-se nas respectivas
trincheiras. Face à magnitude das
divergências e do antagonismo, qualquer acordo assinado agora seria uma
manifestação de hipocrisia ou o resultado de forte coacção, provavelmente
externa.
É grave este afastamento e crispação? É grave a falta de
consenso?
Não e não. Eu sei que a opinião
publicada e transmitida tem vindo num clamor crescente pedindo/exigindo
diálogos, consensos e acordos, mas trata-se de pessoas que em regra pertencem
ao sistema, onde pululam os interesses, as trocas de favores e os acordos
interesseiros, mas a resposta é mesmo “Não”.
Estou convencido que os Portugueses querem e precisam de
alternativas e possibilidades de escolha.
Também estou ciente de que o actual PS está longe de oferecer uma alternativa
de confiança e não contará com o meu voto. Não obstante, penso que será difícil
fazer pior, ou até tão mal como o actual Governo.
Portugal não precisa de acordos suspeitos que visem decidir
pelos Portugueses o que cabe aos Portugueses decidir. Umas eleições entre o
António José Coelho e o Pedro Passos Seguro seria um pesadelo a somar ao que já
vivemos.
1 comentário:
Olá Professor! Boa noite!
Não há a mínima viabilidade de/ou no diálogo. Desde o 25 de Abril que da "caixa de lápis" só saiu o rosa e o laranja. Estão gastos. De facto, nem o sentir-me desnorteada e sem soluções à vista é pior que ter mais do mesmo.
As soluções existem. Para mim passa pelos movimentos de cidadãos compostos por elementos extremamente competentes e igualmente sérios. Mas e a Constituição que não o permite? Ah Diógenes! Como eu precisava da tua lanterna! Ou da do Aladino?
Beijinho
Estella
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