30 dezembro, 2011

Obituário 2011

OBITUÁRIO 2011


 
AS PERDAS



VACLAV HAVEL (1936-2011) – Checoslováquia/Rep. Checa


Vaclav Havel aclamado por 300.000 Checoslovacos na Praça Wenceslas em Praga, em Dezembro de 1989.

Vaclav Havel foi um dramaturgo de estatuto mediano. Porém, foi o drama da sua vida real e a forma como conduziu a sua actividade cívica e política que o catapultou para a consagração interna e a projecção externa. Dentre os opositores dos regimes comunistas do Bloco de Leste, só Lech Walesa da Polónia atingiu fama e prestígio comparáveis.

No seu ensaio “The Power of the Powerless”, Havel considerava que os regimes comunistas assentavam numa farsa que a iconografia, o controle policial e o comportamento submisso e cooperante dos cidadãos viabilizava. A negação desses rituais em troca de uma vida e de uma postura de verdade, teria o impacto de desmascarar e desarmar o regime; um pouco como a história do “Rei Vai Nu”! Viver na verdade era um imperativo ético que teria custos, mas que em última análise contribuiria para o esboroar do regime, tal como o fizeram Lech Walesa na Polónia, Alexander Solzhenitsyn na URSS e João Paulo II com uma maior abrangência.

Em 1989 foi a referência liderante da Revolução de Veludo, que em poucas semanas levou o repressivo regime comunista checoslovaco à implosão. Em Outubro de 1989, Havel foi preso. Dois meses depois era Presidente da Checoslováquia. Mesmo enquanto Presidente, continuou a bater-se pela vivência da verdade e pela importância de se ter e praticar valores éticos.

Num tempo em que a mentira, a hipocrisia e a cobardia prevalecem, os ensinamentos de Vaclav Havel continuam a ser muito actuais e pertinentes.


STEVE JOBS (1955-2011) – Estados Unidos


Steve Jobs com o i Pod em 2005.

Não sendo, longe disso, a pessoa mais habilitada a escrever sobre Steve Jobs, não posso deixar de reconhecer a sua criatividade e o seu sentido empresarial, que o levaram a criar dos mais sofistificados bens de consumo com um design atraente, que fizeram com que um simples computador ou telemóvel, se tornasse um fashion statement.
Não esqueço que aprendi a utilizar um computador com um Macintosh, escapando assim à desdita de trabalhar em MS Dos, nem os momentos de prazer de que desfruto com o meu i Pod.

Desk tops e lap tops lindos, i Pods, i Pads, i Phones, tablets, produtos e conceitos que fazem parte da essência do que foi o final do milénio passado e, especialmente, do que é o mundo de hoje.

Good job, Jobs!!!


AMY WINEHOUSE (1983-2011) – Reino Unido

Amy Winehouse

Também não sou um expert em música, mas gostava muito de Amy Winehouse: voz poderosa, criativa, multifacetada, é das músicas que me dá prazer ouvir. Como muitos outros génios da música, a genialidade vivia lado a lado com as sementes da auto-destruição. Tal como Havel e Jobs, também Amy Winehouse (cruel ironia este nome) viverá para além da sua partida. Deixo aqui a minha música favorita como uma pequena homenagem: Back to Black.

Back in Black 


OS GANHOS


OSAMA BIN LADEN (1957-2011) – Arábia Saudita*

Bin Laden in hell with the devil.

Osama Bin Laden era o principal criminoso à solta no mundo. Em Maio, o mundo ficou um pouco melhor depois de ter sido abatido por uma equipa de Navy Seals (forças especiais) dos Estados Unidos, no seu refúgio em Abbotabad, no Paquistão. Sobre isso publiquei um post intitulado “A Morte da Besta”, cujo link é  http://tempos-interessantes.blogspot.com/2011/05/morte-da-besta.html).

Acabava assim uma longa caça de 9 anos ao homem para quem tudo valia para aniquilar o Ocidente e Israel e impor uma versão troglodita do Islão.

Como já em Maio escrevemos, mais do que decapitar a capacidade organizacional e operacional de uma Al Qaeda visivelmente enfraquecida, liquidou-se um símbolo do jihadismo irredentista e, na medida do possível, acertaram-se as contas do 11 de Setembro. Para muitos, fez-se justiça. A Besta encontrou o seu destino.


KIM JONG IL (1941-2011) – Coreia do Norte

 Kim Jong Il notabilizou-se pelos testes nucleares e de mísseis balísticos realizados pela Coreia do Norte.

Kim Jong Il começou por ser o herdeiro inseguro do todo poderoso Kim Il Sung, fundador da Coreia do Norte. Após 17 anos de liderança, tornou-se no homem que conduziu a Coreia do Norte à condição de 9ª potência nuclear do mundo.

O seu aspecto, somado às suas atitudes e políticas, valeram-lhe a reputação de ditador lunático, errático e irracional. Na realidade, de irracional tinha pouco: contemporizou quando precisou de auxílio económico, energético e alimentar, ameaçou quando queria chamar a atenção das grandes potências, fez dois testes nucleares, testou inúmeros mísseis balísticos, fez ataques contra tropas da Coreia do Sul para obrigar as potências a levá-lo a sério e a ceder às suas pretensões.

Tudo isto não invalida que a Coreia do Norte seja hoje uma aberração, um verdadeiro fóssil da Guerra Fria, onde se conjuga o mais extremado totalitarismo, coma pobreza e até a fome de milhões de Norte-Coreanos.

Nota final: que outro país pobre do mundo, com apenas 24 milhões de habitantes, consegue reunir em negociações com os EUA, a Rússia, o Japão, a China e a Coreia do Sul?


MUAMMAR KADHAFI (1942-2011) – Líbia

 Muammar Kadhafi: Terminated.
E o Coronel Kadhafi foi abatido. Mais um velho ditador (42 anos de domínio absoluto sobre a Líbia) com a reputação de doido varrido. Na realidade era extravagante nas atitudes, nas vestimentas, nas escoltas de amazonas, na insistência em montar a tenda (ou armar barraca) onde quer que fosse, nos discursos e declarações. No entanto, nenhum doido consegue perpetuar-se no poder durante 42 anos. É preciso determinação, inteligência, astúcia e, é claro, ausência de escrúpulos e brutalidade quanto baste.

A sua política externa foi errática, mas foi acompanhando os tempos: porta-voz do pan-arabismo, mediador e interventor nos conflitos de África, aliado da União Soviética, apoiante e praticante do terrorismo árabe anti-ocidental. Mais tarde, aproximou-se gradualmente do Ocidente, nomeadamente da antiga potência colonial, a Itália, com quem tinha grandes negócios na área dos hidrocarbonetos e até com o Reino Unido e os Estados Unidos, após ter entregue os autores do atentado de Lockerbie. Finalmente, em 2003, depois de ter visto a invasão do Iraque e o derrube de Saddam Hussein, aceitou desmantelar os seus programas e arsenais de WMD (Weapons of Mass Destruction) e entrou no mainstream internacional. O aproveitamento interno e, especialmente, externo da dita Primavera Árabe, ditou o seu fim. Tardio.

29 dezembro, 2011

Man of the Year 2011: Mohammed Bouazizi

MAN OF THE YEAR 2011:

MOHAMMED BOAUZIZI


 
Mohammed Bouazizi (Março 1984/Janeiro 2011)
Tempos Interessantes’ Man of the Year 2011

Mohammed Bouazizi não é propriamente um nome muito conhecido. Podia mesmo considerar-se um ilustre desconhecido e dificilmente seria o meu tipo de escolha para personagem do ano.

Então quem é (foi) Mohammed Bouazizi? E porque é que foi ele o escolhido?


Mohammed Bouazizi (1984-2011) era um vendedor de fruta na pequena cidade de Sidi Bouzid, no interior da Tunísia. Morreu em Janeiro deste ano com 26 anos. Imolou-se pelo fogo a 17 de Dezembro de 2010 e morreu no hospital 3 semanas depois. Tinha 26 anos.

Mohammed Bouazizi foi escolhido como figura de 2011 por dois motivos:

1-   O seu auto-sacrifício, como reacção de desespero perante a opressão, o livre arbítrio e a corrupção sem limites, despoletou as manifestações de rua na Tunísia, que depois alastraram ao Egipto, à Líbia, ao Iémen, ao Bahrain e à Síria. O seu grito de revolta ecoou em boa parte do mundo árabe e despoletou um efeito dominó de movimentos de protesto e manifestações que ficaria conhecido pela Primavera Árabe. Embora ainda seja prematuro aferir o real impacto destes movimentos de revolta na região (há uma tendência para os romanticizar e embelezar), a verdade é que o Médio Oriente de hoje é bem diferente do de há um ano atrás. Também se poderá argumentar que estes países eram barris de pólvora à espera de serem ateados: Porém, mesmo que assim fosse, a verdade é que foi Bouazizi quem (literalmente) ateou o fogo.

2-   A denúncia pública exponenciada pela publicidade e efeitos do seu acto do carácter totalitário, arbitrário, corrupto e cruel da maioria dos regimes do Médio Oriente. O relato do que aconteceu a Bouazizi no dia 17 de Dezembro de 2010 choca pelo forma fácil e gratuita como simples agentes de polícia roubam, achincalham, espancam e humilham um cidadão trabalhador, na via pública à vista de toda a gente. É a prepotência torpe dos pequenos poderes que reflectem, em pequena escala, os mesmos princípios e práticas dos grandes poderes à escala nacional, aliada à convicção da total impunidade, confirmada pelas retaliações que se seguiram à primeira queixa e pela recusa liminar da segunda.

Depois de um começo periclitante, a Tunísia parece ser dentre os países da “Primavera Árabe”, o que parece melhor encaminhado para um regime democrático. Talvez o sacrifício de Bouazizi não tenha sido em vão….

O relato que se segue, é um excerto de um texto mais longo, publicado no dia 26 de Março 2011 no Washington Post, escrito por Marc Fisher. Nele podemos compreender um pouco do desespero de não ter liberdade e de não ter a protecção de viver num estado de direito. Dado que cada vez temos menos de uma coisa e de outra, este exemplo cruel talvez mereça uma reflexão extra. Finalmente, após muita hesitação, decidi publicar no final do post, uma fotografia de Mohammed Bouazizi em chamas. Embora não seja muito nítida, a foto não deixa de ser chocante e impressionante, pelo que optei por a colocar no fim do post e deixar este aviso para que ninguém a veja sem estar prevenido. A razão da publicação foi para transmitir de forma gráfica o desespero terminal a que o regime político e securitário na Tunísia levou este homem.

In Tunisia, act of one fruit vendor unleashes wave of revolution through Arab world

By Marc Fisher, Published: March 27, 2011

SIDI BOUZID, TUNISIA — On the evening before Mohammed Bouazizi lit a fire that would burn across the Arab world, the young fruit vendor told his mother that the oranges, dates and apples he had to sell were the best he’d ever seen. “With this fruit,” he said, “I can buy some gifts for you. Tomorrow will be a good day.”
For years, Bouazizi had told his mother stories of corruption at the fruit market, where vendors gathered under a cluster of ficus trees on the main street of this scruffy town, not far from Tunisia’s Mediterranean beaches. Arrogant police officers treated the market as their personal picnic grounds, taking bagfuls of fruit without so much as a nod toward payment. The cops took visible pleasure in subjecting the vendors to one indignity after another — fining them, confiscating their scales, even ordering them to carry their stolen fruit to the cops’ cars.
Before dawn on Friday, Dec. 17, as Bouazizi pulled his cart along the narrow, rutted stone road toward the market, two police officers blocked his path and tried to take his fruit. Bouazizi’s uncle rushed to help his 26-year-old nephew, persuading the officers to let the rugged-looking young man complete his one-mile trek.
The uncle visited the chief of police and asked him for help. The chief called in a policewoman who had stopped Bouazizi, Fedya Hamdi, and told her to let the boy work.
Hamdi, outraged by the appeal to her boss, returned to the market. She took a basket of Bouazizi’s apples and put it in her car. Then she started loading a second basket. This time, according to Alladin Badri, who worked the next cart over, Bouazizi tried to block the officer.
“She pushed Mohammed and hit him with her baton,” Badri said.
Hamdi reached for Bouazizi’s scale, and again he tried to stop her.
Hamdi and two other officers pushed Bouazizi to the ground and grabbed the scale. Then she slapped Bouazizi in the face in front of about 50 witnesses.
Bouazizi wept with shame.
“Why are you doing this to me?” he cried, according to vendors and customers who were there. “I’m a simple person, and I just want to work.”
Revolutions are explosions of frustration and rage that build over time, sometimes over decades. Although their political roots are deep, it is often a single spark that ignites them — an assassination, perhaps, or one selfless act of defiance.
In Tunisia, an unusually cosmopolitan Arab country with a high rate of college attendance, residents watched for 23 years as Zine el-Abidine Ben Ali’s dictatorship became a grating daily insult. From Tunis — the whitewashed, low-rise capital with a tropical, colonial feel — to the endless stretches of olive and date trees in the sparsely populated countryside, the complaints were uniform: It had gotten so you couldn’t get a job without some connection to Ben Ali’s family or party. The secret police kept close tabs on ordinary Tunisians. And the uniformed police took to demanding graft with brazen abandon.
Still, the popular rebellion that started here and spread like a virus to Egypt, Libya and the Persian Gulf states, and now to Yemen and Syria, was anything but preordained. The contagion, carried by ordinary people rather than politicians or armies, hits each country in a different and uncontrollable way, but with common characteristics — Friday demonstrations, Facebook connections, and alliances across religious, class and tribal lines. This wave of change happened because aging dictators grew cocky and distant from the people they once courted, because the new social media that the secret police didn’t quite understand reached a critical mass of people, and because, in a rural town where respect is more valued than money, Mohammed Bouazizi was humiliated in front of his friends.
After the slap, Bouazizi went to city hall and demanded to see an official. No, a clerk replied. Go home. Forget about it.
Bouazizi returned to the market and told his fellow vendors he would let the world know how unfairly they were being treated, how corrupt the system was.
He would set himself ablaze.
“We thought he was just talking,” said Hassan Tili, another vendor.
A short while later, the vendors heard shouts from a couple of blocks away. Without another word to anyone, Bouazizi had positioned himself in front of the municipal building, poured paint thinner over his body and lit himself aflame.
The fire burned and burned. People ran inside and grabbed a fire extinguisher, but it was empty. They called for police, but no one came. Only an hour and a half after Bouazizi lit the match did an ambulance arrive.
Manoubya Bouazizi said her son’s decision “was spontaneous, from the humiliation.” Her clear blue eyes welled as her husband placed at her feet a small clay pot filled with a few white-hot pieces of charcoal, their only defense against a cold, raw, rain-swept day. The Bouazizi family has no money, no car, no electricity, but it was not poverty that made her son sacrifice himself, she said. It was his quest for dignity.









  


24 dezembro, 2011

Feliz e Santo Natal

FELIZ E SANTO NATAL


PETER BRUGEL, THE ELDER – The Adoration of the Magi (1564) – National Gallery, London

A todos os meus amigos e leitores do “Tempos Interessantes”, votos de um Santo e Feliz Natal, na companhia dos vossos entes queridos.

Merry Christmas to all my friends and readers of “Tempos Interessantes”

                            Rui Miguel Ribeiro

09 dezembro, 2011

FOR MUM AND DAD (In Loving Memory)



FOR MUM AND DAD
(IN LOVING MEMORY)


 Today, 9th December 2011, would have been my Parents’ 48th anniversary.

This post is a public testimony of my enduring love for them, of how much I owe them and the way I keep on missing them.
 
I chose a superb song by the American group Alter Bridge. After picking the song, I found out that it was written by their guitar player, Mark Tremonti, in memory of his mother… I include a studio version and live one, performed in Amsterdam in which this reference is made.
Thanks for all you've done
I've missed you for so long

I can't believe you're gone
You still live in me
I feel you in the wind
You guide me constantly

I've never knew what it was to be alone, no
Cause you were always there for me
You were always there waiting
And ill come home and I miss your face so
Smiling down on me
I close my eyes to see


And I know, you're a part of me
And it's your song that sets me free
I sing it while I feel I can't hold on
I sing tonight cause it comforts me

I carry the things that remind me of you
In loving memory of
The one that was so true
Your were as kind as you could be
And even though you're gone
You still mean the world to me

I've never knew what it was to be alone, no
Cause you were always there for me
You were always there waiting
But now I come home and it's not the same, no
It feels empty and alone
I can't believe you're gone

And I know, you're a part of me
And it's your song that sets me free
I sing it while I feel I can't hold on
I sing tonight cause it comforts me

I'm glad he set you free from sorrow
I'll still love you more tomorrow
And you will be here with me still



And what you did you did with feeling
And You always found the meaning
And you always will
And you always will
And you always will


LOVE YOU DAD!
LOVE YOU MUM!
 

17 novembro, 2011

Tragédia Grega

TRAGÉDIA GREGA


Papandreou, o Pacto de Estabilidade da EU e a forca dos Gregos.

Temos passado o último ano a acompanhar a tragédia grega. Tragédia financeira, política, económica e social. Agora que a atenção se desviou para Itália, antes de eventualmente rumar para a Espanha ou a Bélgica, vamos fazer um retrato dos papéis que os principais protagonistas desempenharam nos últimos meses.

O Extorsionário: Andreas Papandreou.
Passou o último ano a impor planos de austeridade sucessivos que falharam sucessivamente nos objectivos a que se propunham. Além disso, conseguiu pôr de rastos o que restava da economia da Gr+écia e lançar o conflito social e a instabilidade.

O Palhaço: Andreas Papandreou.
Cansado de fazer o que lhe era imposto por Berlim, Bruxelas e Paris, resolveu convocar um referendo sobre o enésimo plano de austeridade. Num segundo momento, o referendo passou a ser sobre a permanência na zona euro. Depois de ter lançado o caos nos mercados bolsistas mundiais, desistiu do referendo. Terminou apresentando uma moção de confiança fazendo depender da respectiva aprovação a sua….demissão (!?!!?).

Os Chantagistas: Angela Merkel e Nicolas Sarkozy.
Incapazes de assegurar uma gestão coerente, racional e equilibrada da crise, pusilanimamente convencidos que o seu enésimo plano resultaria, sentiram-se afrontados pelo referendo grego. Aliás, desde o lamentável processo do Tratado de Lisboa que se sabe que este par abomina o instituto do referendo, quiçá por ser demasiado democrático. Vai daí a chantagear Papandreou, a Grécia e os Gregos, foi um pequeno passo. A chantagem surtiu efeito e o par assimétrico teve mais uma vitória pírrica.

 O Traidor: Evangelos Venizelos.
Teve uma “coisa” quando Papandreou anunciou o referendo e foi hospitalizado. Mas saiu correndo do hospital para ir à Cimeira dos G20 (oportunidade única a que só a condição de super-falido lhe deu acesso). E logo aí tratou de começar a tirar o tapete ao seu chefe e a preparar-se para lhe suceder. Não foi agora, mas em Fevereiro aí estará ele, com o cinismo e o descaramento dos traidores a concorrer pelo desgraçado PASOK à chefia do Governo da Grécia. Aí veremos se Atenas, tal com o Roma, não paga a traidores.

O Oportunista: Antonis Samaras.
Líder Nova Democracia, o 2º maior partido grego, Samaras era contra os planos de austeridade, era contra o referendo, era contra o governo e era a favor de …. eleições antecipadas. O seu objectivo era (é), pois, ganhar essas eleições e tornar-se Primeiro-Ministro da Grécia. Contudo, depois de ser prensado pela dupla de chantagistas, lá teve de engolir o plano de austeridade e um governo interino e aguardar por 2012 para disputar o lugar. Infelizmente para ele, a Nova Democracia foi coagida a apoiar o e participar no novo governo. Pelo que, quando chegar o dia das eleições, a Nova Democracia será conivente na imposição da reforçada e brutal austeridade que se vai abater sobre os Gregos.

O Coro: o Povo Grego.
Na Tragédia original de Ésquilo, Aristóteles, ou Euclides, o Coro narrava e comentava os acontecimentos. Na actual, o Coro sofre os efeitos diectos e mais destrutivos da peripécia. Assim, os Gregos passam pelo Pathos (sofrimento progressivo) que decorre do destino e que termina na Catástrofe, culminando em tragédia todo o sofrimento. E é este o calvário (em terminologia cristã) que os Gregos percorrem inexoravelmente. Após a Catástrofe, viria a Catarse que corresponde à purificação e recuperação. No caso vertente, a catarse parece vir a ser substituída pela submissão ou pela revolta. Será, porventura, a escolha dos Gregos.

31 outubro, 2011

Projecto Europeu (?)

PROJECTO EUROPEU (?)




 O naufrágio do euro?
in “The Economist”, 29 de Outubro 2011

Andámos anos a ouvir louvar o chamado projecto europeu, a sua colegialidade e altruísmo, a forma como permitia que os pequenos tivessem a mesma voz que os grandes, etc, etc.

Quem destoava deste cenário idílico eram os maus dos Britânicos, ou de quando em vez uns Escandinavos mais assertivos, que pareciam sempre querer sabotar o tal projecto.

Nunca subscrevi esse cenário róseo, mas sempre me encontrei em (larga) minoria. Talvez por isso, não consigo deixar de sorrir com os gritos das virgens ofendidas quando há uns anos os líderes do Reino Unido, França, Alemanha e Itália combinaram uma cimeira a quatro à revelia dos parceiros menores. O mesmo acontece agora com a crise da zona euro (quase com 2 anos), com cimeiras a serem marcadas, desmarcadas e remarcadas ao sabor de Angela Merkel, e Nicolas Sarkozy enquanto os outros 15 papalvos fazem a figura do desesperado com dores de dentes, horas na sala de espera do dentista. Sim, porque as medidas supostamente tomadas para combater a crise são como nos arrancar os dentes.

A mim não me choca a manifestação de poder por parte de quem o tem (o que não quer dizer que me agrade). É a ordem natural das coisas, nomeadamente nas Relações Internacionais.

O que me aborrece é a cantiga da falsa fraternidade. Por que é que não assumem que cada Estado-Membro está na EU para defender e promover os seus interesses, mesmo que tal tenha custos para os parceiros?

Ainda pior são os Estados que não conseguem defender capazmente esses interesses e acham que vergando a cerviz aos poderosos é a melhor maneira de sair do buraco em que se meteram (cf. “O Eixo” em http://tempos-interessantes.blogspot.com/2011/08/o-eixo.html ).

Finalmente, ainda pior do que exercer o poder que se tem (Alemanha e França) é exercê-lo de forma incompetente, hesitante, ineficaz.

Isso traduz-se em incontáveis cimeiras inconsequentes, em fundos de resgate insuficientes para tranquilizar os mercados e acudir aos fogos presentes e aos previsíveis desta crise, na negação irracional do inevitável default grego (cf. “Falidos” em  http://tempos-interessantes.blogspot.com/2011/08/o-eixo.html escrito em 10 de Abril), mesmo que disfarçado de haircut voluntário, na aposta cega e unidireccional no combate aos deficits (sem negar a prioridade) apostando em aumentos da carga fiscal que afundam as economias e criam uma espiral negativa.

Em suma, estamos reféns. Reféns de uma dívida e de um déficite escandalosa e inadmissivelmente altos, fruto de incompetência criminosa própria. Estamos reféns de um Governo com palas que está determinado a resolver os seus problemas com o dinheiro e o sacrifício sem nexo dos cidadãos e das empresas. Finalmente, estamos reféns dos poderosos Alemães e dos influentes Franceses, que rivalizam na incompetência e na falta de visão e de capacidade de decisão.

Entretanto, o Projecto Europeu que na realidade era um Projecto Franco-Alemão e agora é um projecto Germano-Francês vai navegando à vista até ao iceberg final!

21 outubro, 2011

O Carrasco e o Coveiro

O CARRASCO E O COVEIRO


 
 O CARRASCO


E O COVEIRO


Um amigo meu, o Paulo, dizia há mais de um ano, que José Sócrates e Pedro Passos Coelho eram parecidos. Escusado acrescentar que ele não gostava nem de um, nem do outro.

Eu continuo a achar que Passos não é tão mau como Sócrates, mas o caminho que escolheu percorrer vai levá-lo a concluir o trabalho de Sócrates: um deu cabo do país; o outro, no afã (inepto) de o salvar, vai enterrá-lo…