29 março, 2013

Santa Páscoa

SANTA PÁSCOA

 
Jacob Jordaens – Crucificação (1620) – Colecção Terningh, Antwerpen

 
Vivemos num tempo de penitência forçada, em que carregamos uma pesada cruz terrena. Talvez essas agruras nos reforcem a Fé e nos aproximem de Jesus Cristo.


Desejo a todos os leitores e amigos do “Tempos Interessantes” uma Santa Páscoa.

 

                            Rui Miguel Ribeiro
 

27 março, 2013

Penitência Pascal?

PENITÊNCIA PASCAL?
 
Em 31 de Maio de 2010, a Marinha israelita interceptou um grupo de navios que se dirigia a Gaza, em violação do bloqueio imposto por Israel.

Esses navios provinham da Turquia e contavam com o beneplácito do Governo turco. Os organizadores e participantes na iniciativa sabiam ao que iam: ao encontro de problemas e de confronto com as forças armadas de Israel (IDF). Aliás, esse era o objectivo da sua expedição provocatória: arranjar problemas que comprometessem Israel.

Como se sabia, os Israelitas interceptaram o grupo e abordaram o navio que liderava a expedição, o Mavi Marmara. Terá havido resistência de alguns tripulantes, que terá levado a uma resposta violenta das tropas, que se saldou em 9 mortes. A Turquia reagiu histericamente, em coerência com as ambições que o seu líder então nutria de se tornar um herói da chamada rua árabe. Em nome desse desiderato (que não alcançou nem alcançará), o regime turco rompeu relações com Israel, país com o qual a Turquia mantinha de há muito boas relações no plano político, militar e económico.

Israel examinou as ocorrências e concluiu que as suas forças tinham feito um uso adequado da força tendo em conta a situação em que se encontravam. Consequentemente, Jerusalém recusou-se, ao longo de 3 anos a pedir desculpa a Ankara.

Surpreendentemente, a semana passada, o Governo de Netanyahu apresentou o tal pedido de desculpas. Não é fácil perceber o que terá levado a tal brusca inflexão de atitude.

É indubitável que houve pressão dos EUA, cujo Presidente visitara Israel imediatamente antes, mas não é crível que isso bastasse. Estamos a falar de um primeiro-Ministro Israelita que tem consistentemente batido o pé à Administração norte-americana nos últimos anos.


A Periferia de Israel.

A explicação de fundo deverá residir mais longe: na situação de incerteza e de fluxo que se vive no Médio Oriente desde o início de 2011. Concretizando de forma sintética, referimo-nos:

·         À substituição no Egipto de um regime contemporizador com Israel e oposto ao Hamas por outro que é, em grande medida, o seu contrário.
·         Ao caos da guerra civil na Síria e a provável substituição do regime dos Al Assad por uma incógnita sunita que poderá ser, na melhor das hipóteses, algo parecido com o egípcio e na pior, um estado islâmico radical, ou ainda, o prolongamento da Guerra Civil, com ou sem Bashar Al Assad.
·         À efervescência no Líbano, onde se vão afiando as adagas e limpando as carabinas na expectativa de que haja um dramático spillover do conflito da Síria.
·         Às brisas de instabilidade que vão soprando um pouco por todo o Médio Oriente, em lugares como a Jordânia, o Bahrain e o Iraque.
·         Isto para não mencionar a ameaça iraniana que antecede a agitação de 2011.

É de facto muita agitação, muita mudança, muita incerteza.
Serão Tempos Interessantes, mas para Israel são tempos de incógnita e de algum receio.
Tempos, talvez, de recuperar um amigo, por muito instável que este seja na presente encarnação.
Tempos de Páscoa, especialmente na Terra Santa, convidam à penitência e à contrição em busca da salvação. SHALOM!

25 março, 2013

Obama Caught Red-Handed - Part II

OBAMA CAUGHT RED-HANDED
PART II

 
Obama e Medvedev. in “The Washington Post”
“Conto contigo e com o Vladimir (Putin) para me ajudarem nas eleições!”
 (Texto meu)
Actualização: “Promessa cumprida” (Texto meu)

Para contextualizar este post, recomendo vivamente a leitura da primeira parte, publicada há exactamente um ano esta semana: “Obama Caught Red-Handed” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/03/obama-caught-red-handed.html


Nele, refere-se uma conversa off-record entre Obama e Medvedev, captada por uma televisão russa e divulgada pela ABC. Nessa conversa, Obama pede a Medveded e indirectamente a Putin ajyda e compreensão no tema da defesa anti-míssil. Tal traduzia-se fundamentalmente em não o pressionarem neste tema até às eleições de Novembro passado, prometendo que após as mesmas teria mais rédea livre para fazer cedências a Moscovo.
 
Duas curtas citações são elucidativas:

“On all these issues, but particularly missile defense, this, this can be solved, but it’s important for him to give me space,” Obama can be heard telling Medvedev, apparently referring to incoming Russian president — and outgoing prime minister — Vladi­mir Putin.
 
“This is my last election,” Obama interjects. “After my election, I have more flexibility.”

 
Pois esta semana foi anunciado que os Estados Unidos cancelaram a 4ª e última fase (Standard Missile-3 Block IIB) do Programa de Defesa Anti-Míssil na Europa (European Phased Adaptative Approach Missile Defence Plan). Três razões foram aduzidas:

1-   Limitações orçamentais (que existem).

2-   Dificuldades no desenvolvimento tecnológico da plataforma (que já existem há muito tempo e que não detiveram a opção da Administração americana).

3-   A crescente ameaça nuclear norte-coreana à Costa Oeste dos EUA (pretexto hilariante, porque não existe um único indicador que aponte para que essa ameaça seja materializável a curto ou médio prazo).

Off-record, existe duas GRANDES coincidências:


1-    Esta era a fase do plano anti-míssil na Europa que era objecto das maiores objecções da Rússia, que considerava que constituiria uma ameaça à capacidade dissuasora do arsenal nuclear russo.

2-    As eleições americanas já passaram e Obama tomou posse há uns meros dois meses.


Suspeito que a motivação de Obama terá sido a esperança de poder desencadear novas negociações para a redução dos arsenais nucleares com a Rússia. Depois do seu projecto de um mundo livre de armas nucleares anunciado em Praga em 2009, que fruiu um pífio acordo com a Rússia em 2011 (New START Treaty), Obama quer desesperadamente coroar o seu último mandato com algo de histórico.


Pouco importa que o Zero Nuclear seja um sonho inatingível nas próximas décadas, ou que os Aliados tenham sido apanhados desprevenidos com a segunda alteração ao plano de defesa anti-míssil em 4 anos, ambas justificadas pelas tentativas de Obama agradar a Moscovo. O que importa são os sonhos megalómanos de grandeza de Barack Obama. E com ele, já se sabe, ele está primeiro.

Contentes devem estar os líderes da Rússia, que estão entre os primeiros a verem cumprida uma promessa eleitoral feita por Obama.


Ballistic Missile Defence in Europe.

in STRATFOR at www.stratfor.com

21 março, 2013

O Guarda-Livros Ridículo

O GUARDA-LIVROS RIDÍCULO



Se o ridículo matasse, já há muito que nos tínhamos visto livres deste ser desprezível.


Desde o dia 15 de Março, quando Vítor Gaspar divulgou os resultados da 7ª avaliação da Troika, que proliferaram as notícias e comentários qualificando Gaspar de “incompetente”. Finalmente!!!


“Tempos Interessantes” aplicou-lhe o epíteto no dia 24 de Setembro de 2012 (ver “Reputados e Incompetentes” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/09/repitados-e-incompetentes.html).


Esta antecipação nada tem a ver com presciência, nem com uma superior capacidade analítica, mas sim com a constatação das evidências de um programa repetidamente adoptado e repetidamente e previsivelmente falhado. E o rótulo de “incompetente” não foi mais cedo e justamente aplicado a Gaspar, porque ele esteve protegido, junto da opinião publicada, por uma inexplicável e insondável áurea de uma impregnável competência, que resistia à dura realidade que nos mostrava que o homem não acertava uma e que enterrava o país repetindo, dobrando e agravando uma política que falhava. Sempre.


Ao longo deste tempo, Gaspar tem actuado como um mero guarda-livros tentando que os números da contabilidade batam certo. Infelizmente para ele e para nós, um ministro das finanças deve ser um político e não um manga-de-alpaca. Infelizmente para nós, além de ter postura de guarda-livros, tem demonstrado uma extraordinária incompetência no desempenho dessa limitada função.


As últimas previsões relativas aos principais indicadores económicos de Portugal (as terceiras em 4 meses) demolem de tal modo as anteriores num tão curto espaço de tempo, que o Sr. Gaspar já ultrapassou o patamar de incompetência para alcançar o do ridículo.


Vendo aquele homenzinho monocórdico no tom, mas arrogante na sua exposição, a mais do que duplicar a recessão, a acrescentar centenas de milhares de pessoas ao exército do desemprego, a bater os déficites de 2012 e 2013, a reconhecer um novo adiamento da quimérica recuperação, a anunciar que os 3 anos de ajustamento serão 30, a acusar o desenho do programa de ajustamento que elogiara há 5 meses atrás e a elogiar o percurso feito que é o único caminho possível, facilmente se conclui que incompetente é pouco. O homenzinho fez uma figura patética. O guarda-livros-mor, além de incompetente é ridículo.


Vou mais longe. A indiferença que Gaspar demonstra perante as consequências que os seus desastres acarretam para a vida das pessoas fazem dele uma pessoa desprezível.

Ridículo e desprezível. Deve ser difícil descer mais. Mesmo para o Sr. Gaspar.

19 março, 2013

Euro Insane

EURO INSANE

 

É esticar até rebentar!

in “The Economist”

O Euro Grupo anunciou no passado fim de semana um acordo de resgate de Chipre. Não se trata de uma novidade visto que o acordo vinha sendo negociado há 9 meses e que Chipre já tinha recebido um empréstimo de emergência da Rússia em 2011 no valor de 3.2 biliões de euros.


A grande novidade foi o cerne do acordo: uma taxa, imposto, confisco, roubo sobre todos os depósitos bancários no valor de 10% para aqueles que excedam os 100.000 euros e de perto de 7% para os que estejam abaixo daquela fasquia.


Este acordo significa duas coisas: que o governo de Chipre está de joelhos e que o Euro Grupo atingiu um novo limiar de insanidade.


Só um estado de insanidade pode justificar que um grupo de pessoas com grandes responsabilidades políticas e, supostamente, grandes conhecimentos de economia e finanças, subscreva um assalto às contas bancárias no valor de 6 biliões de euros sem ter noção (ou não se importando) de duas coisas:

1-   Da crueldade e injustiça que isso representa para os aforradores, cipriotas ou não, que têm depósitos no sistema bancário cipriota.

2-   Do golpe na confiança que tal medida provoca em todos os depositantes bancários da zona euro.


Em relação ao primeiro ponto, as declarações de Jeroen Dijsselbloem, presidente dos Euro Insane e Ministro das Finanças da Holanda são esclarecedoras: Enquanto contribuição paea a estabilidade financeira do Chipre, é justo pedir uma contribuição de todos os depositantes. Fica claro que, independentemente do autor da proposta, ela era inteiramente subscrita pelos malucos fanáticos do Euro Grupo que a acharam não só boa, como justa. O que eu mais gostava era ver os senhores Dijsselbloem e Schauble a levar esta ideia aos depositantes holandeses e alemães.


Como é óbvio, as bolsas entraram em queda e os aforradores estão nervosos. Eu estou. E o facto de políticos e banqueiros portugueses e de outros países da EU virem dizer que é um caso único e irrepetível tem em mim um efeito nulo, porque se trata de garantias vindas de mentirosos contumazes e impenitentes, que valem o mesmo que a promessa de um heroinómano de que não voltará a consumir: ZERO!


O Euro Insane quebrou uma nova barreira na insanidade que tomou conta das principais lideranças da EU (Alemanha, Comissão, BCE). É hoje claro que vale tudo, mas mesmo tudo, para impor a cartilha germânica na Europa, ou pelo menos na zona euro: austeridade cega e carga fiscal insuportável, assalto generalizado aos contribuintes, em nome dos amanhãs que cantam.


Talvez a declaração mais letal sobre esta decisão foi a do Primeiro-Ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, ao comparar este confisco com os realizados na extinta União Soviética: "This practice, unfortunately, was very well known and is familiar to many Russians from the Soviet period, when money was exchanged with coefficients and never returned. - said the prime minister. - But Cyprus is a country with market economy, a member of the European Union. […] the move looks just like confiscation of people' money." (in Pravda at http://english.pravda.ru/news/russia/18-03-2013/124095-cyprus_russia-0/ Ao que chegou a UE, a pôr-se a jeito para ouvir repreensões destas de Moscovo.


A brutalidade não é a mesma e os regimes não são comparáveis, mas o princípio da autoridade cega do poder e o desrespeito total pelas pessoas já estão presentes no Euro Insane.

16 março, 2013

Falklands 99.8 UK


FALKLANDS 99.8 UK


Falklanders celebrating their landslide victory in Port Stanley..

As we stated last year, (“Falklands 30 Years Later” at http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/06/falklands-20-years-later.html ) the inhabitants of the Falkland Islands are staunchly British. So they confirmed overwhelmingly in a referendum last weekend. 92% of the electorate voted, of which no less than 99.8% voted to remain part of the United Kingdom.


Regardless of the renewed pressure placed on them by Argentina’s government, the Falklanders freely and democratically expressed their will. Britain’s Prime-Minister David Cameron congratulated the islanders, expressed his hope that the democratic act would settle the international quarrel over the archipelago and stated his determination to defend the Falklands from any hostile action by a foreign power.


Predictably, the Argentinian government, faithful to the recent strategy of stirring up the conflict to force London’s hand, denounced the democratic referendum as a charade and characterized the Falklands inhabitants as an “implanted population”, or a “foreign population living illegally in Argentina”.


This is hilarious and ridiculous. The Falklands, a deserted and unoccupied archipelago were found in the 16 Century by England, which claimed and named the islands a century later. Needless to say that by this time, Argentina did not even exist as an independent country. Great Britain started populating the islands in 1833, exactly 180 years ago.


Actually, if the people living in the Falklands are implanted, what can we say about the President of Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, an offspring of a Spanish father and a German mother? Is she implanted as well? And her deceased husband and former President, Nestor Kirchner, son of a Chilean of Croatian descent and of a woman of Swiss-German descent, is yet another implanted person?


The truth is that today’s Argentinian government, like the Military Junta headed by General Leopoldo Galtieri in 1982, is using the Falklands issue as a decoy to distract the people  from the dire straits that Argentina is traversing. Although today’s government does not suffer from a lack of democratic legitimacy and does not resort to permanent and ruthless brutality to shore up its power, it is notorious for its corruption, acute cronyism, statistics manipulation and media harassment. Again like the Juntas of the 1970’s and 1980’s, the purpose is the maintenance of uncontested power.


And this, of course, is yet another reason for the Falkland Islanders to fiercely want to continue to be British!

British flags share the spotlight with the Falklands flag. Depending on the people, the two flags will continue to march on together.

06 março, 2013

"A Riddle Wrapped in a Mistery Inside an Enigma"

“A RIDDLE WRAPPED IN A MISTERY
INSIDE AN ENIGMA”

“It is a riddle wrapped in a mystery inside an enigma.” Assim se referiu Winston Churchill à União Soviética numa alocução na BBC a 1 de Outubro de 1939. A II Guerra Mundial começara há exactamente um mês. A URSS havia invadido a Polónia duas semanas antes, a 17 de Setembro.
 
Uma charada, embrulhada num mistério dentro de um enigma.
 
Salvaguardando as distâncias devidas à gravidade da situação e ao poder do objecto da sagacidade de Churchill, talvez pudéssemos aplicar esta análise à Coreia do Norte.

A ameaça que faz tremer o mundo, mas que não é tão temível como parece.

O regime stalinista da Coreia do Norte é dos menos compreendidos do tabuleiro geopolítico mundial no dealbar do século XXI. A opinião generalizada é que os dirigentes norte-coreanos são irracionais, irascíveis, fanáticos, perigosos e imprevisíveis. Condensando, são um bando de doidos furiosos.

É uma análise simplista que até serve os propósitos de Pyongyang. Sim, acredito que a liderança da Coreia do Norte tem propósitos e como tal as suas acções são maioritariamente racionais, em função dos meios disponíveis. Aliás, a frase seguinte do breve discurso de Churchill ajuda-nos a encontrar o caminho no labiríntico enigma norte-coreano: ”but perhaps there is a key. That key is Russian national interest.”

Aí está. A minha convicção é a de que a Coreia do Norte e os sucessivos Kims que a governam, prosseguem a sua visão de interesse nacional. Qual é ele então?

Sendo a Coreia do Norte liderada, no topo de pirâmide, por uma dinastia familiar, sustentada por uma clique político-militar, também ela com um forte cunho hereditário, não será difícil apontar a manutenção do statu quo como o objectivo vital do regime. O conceito-chave é mesmo MANUTENÇÃO.

·         A manutenção da independência do país.
·        Consequentemente, a manutenção da divisão da Península da Coreia,
·        A manutenção do poder total e exclusivo nas mãos da clique dirigente, do Partido e das Forças Armadas.
·        Como corolário, a manutenção de todos os privilégios de que a nomenklatura goza.

Eis o interesse nacional da Coreia do Norte: a Nomenklatura dirigente.

 
Sendo a Coreia do Norte um país relativamente pequeno (120.000 km2 e 25 milhões de habitantes) e muito pobre (PIB de 40 biliões de Dólares e PIB p/c de US$ 1800, 197º do mundo), o poderio militar foi a fórmula encontrada para infundir respeito e salvaguardar a segurança do país.

Essa estratégia assenta em 3 vectores: a colocação de dezenas de milhares de peças de artilharia ao longo do paralelo 38 que divide as duas Coreias e que têm a capacidade (pelo menos teórica) de provocar tremenda destruição em Seoul; o desenvolvimento de mísseis balísticos de médio e longo alcance com os quais pode ameaçar os países vizinhos e até outros mais distantes; o programa nuclear que, somado ao dos mísseis, poderão conferir a Pyongyang uma capacidade de dissuasão face a rivais muito mais poderosos.

Para sobreviver, mesmo mantendo grande parte da população no limiar da sobrevivência, a Coreia do Norte precisa de recursos. Então, os seus programas bélicos servem como forma de pressão e de blackmail sobre os Estados Unidos, a Coreia do Sul, o Japão, a China e a Rússia para obter fornecimentos de energia e alimentos e para dissuadir eventuais ataques.

Quando as cedências prometidas pelos Kim não se materializam e as sanções, ameaças, ou recriminações internacionais apertam, a Coreia do Norte realiza um novo teste balístico ou nuclear, acompanhado por um trovejar de ameaças cataclísmicas que deixam aterrado o mais pacato cidadão.

A credibilidade destas ameaças é conferida pela capacidade que os repetidos testes vão confirmando (descontando os vários falhanços) e pela reputação da liderança norte-coreana ser suficientemente tresloucada para levar a cabo as ameaças que profere.

Sounds crazy? Maybe, but it works. A insignificante Coreia do Norte senta-se à mesa das negociações com as 3 maiores economias do mundo, com as 2 maiores potências nucleares do planeta, com 5 países do G-20 e faz capas de jornais e destaques em noticiários. Not bad.

Churchill sabia do que falava. Tal como Stalin, Kim Il Sung, Kim Jong Il e Kim Jong Un tratam de defender o interesse nacional da Coreia do Norte. Fazem-no com uma estratégia e com os meios ao seu alcance. A sua concepção de interesse nacional é mais interesseira do que nacional e a metodologia é heteredoxa, mas no mundo da Real Politik os resultados é que interessam.

Estas ameaças não serão bluff? Sim, são bluff. No momento em que a Coreia do Norte desencadeie um ataque sério, seja contra a Coreia do Sul, o Japão, ou qualquer outro, o regime será liquidado. Se o ataque for nuclear, provavelmente será obliterado. Tal significa que, dado que o objectivo do regime é sobreviver, só desencadeará um ataque dessa natureza em desespero de causa, numa situação limite. Os ataques convencionais limitados no escopo e no tempo apenas servem para reforçar a credibilidade da periculosidade da Coreia do Norte.

E enquanto as potências mundiais acreditarem na loucura e determinação de Kim & Co., enquanto prevalecer a convicção de que é demasiado perigoso contrariar um louco, enquanto essas potências (ou uma delas) não tiver um superior interesse em eliminar o statu quo em Pyongyang, o mais provável é que os Kim e o seu modelo sui generis de stalinismo perdurem.
 
 
P.S. Já depois de ter escrito este post, foi divulgada nova ameaça da Coreia do Norte: após serem conhecidas negociações entre os EUA, a China e a Rússia para novas sanções contra Pyongyang, os Norte-Coreanos ameaçaram romper o Acordo de Armistício que vigora há 60 e que pôs fim à Guerra da Coreia. A consumar-se a ameaça, em termos práticos, a Península da Coreia voltaria a estar em estado de guerra. Note-se que o armistício apenas suspende a guerra e que o seu terminus efectivo só acontece com a assinatura de um acordo de paz.