25 janeiro, 2011

200.000 Brancos

200.000 BRANCOS

 
Confesso que excedeu as minhas expectativas. Cerca de 200.000 votos brancos, que correspondem a 4.3% dos votantes é um número muito significativo.
 
Eu entendo que o voto branco não é algo de inócuo e inconsequente. Numas eleições há 4 vias que o leitor pode seguir: votar numa dos partidos ou candidatos; abster-se; votar nulo; ou votar branco.
 

A primeira opção corresponde (ou devia corresponder) a uma adesão a um projecto e/ou a uma figura. A abstenção pode significar rejeição (estrutural ou conjuntural) do acto eleitoral, ou simplesmente falta de responsabilidade cívica motivada por inércia, preguiça, passeio, etc.
 
Já os votos nulos e brancos são manifestações de eleitores que disseram presente, que têm empenho em se deslocar à mesa de voto e fazem questão de votar, mas que não se revêem em nenhuma das opções que se perfilam perante o eleitorado.
 
O descontentamento activo é mais difícil de fazer e envia um sinal mais forte à classe política. É uma manifestação inequívoca.

Eu prefiro o voto branco, porque há uma franja de votos nulos que decorrem da ignorância ou da estupidez. O voto branco não deixa margem para dúvidas. Estou convicto, porém, que a grande maioria dos votos nulos têm o mesmíssimo significado dos brancos, só que as pessoas temem que alguém possa macular o branco com uma cruz batoteira.
 
Se somarmos os votos brancos e nulos, temos 278.00 votos, correspondendo a 6.2%, ou seja mais do que os dois candidatos menos votados e quase tanto como o 4º. E estamos a falar de 278.000 decisões individuais, i.e., não se integrando em nenhum movimento de incentivo a este tipo de voto, como o que se organizou em Itália há uns anos atrás.

Eis um sinal que, somado aos 53% de abstencionistas, deveria fazer soar todas as campainhas de alarme no establishment político: há uma parcela maioritária e crescente da população que se alheia do fenómeno político ou que rejeita as alternativas existentes! No entanto, nada disto vai acontecer, porque o mais importante já sucedeu: quem tinha que ser eleito já o foi, as próximas eleições serão daqui a meses ou anos e até lá, enquanto o pau vai e vem folgam as costas.

Só haverá três formas de algo de substantivo acontecer: aparecimento de um projecto de real renovação corporizada por uma liderança com coragem para estilhaçar o statu quo; uma alteração constitucional que exija, tal como nos referendos, uma % mínima de participação para as eleições serem válidas (voto obrigatório não vale); um abalo telúrico eleitoral que derrote quem defende a manutenção do pântano. Nenhuma das três se afigura como provável, pelo que continuaremos vivendo no pântano até que o regime se afunde pelo seu próprio peso e inépcia.




NOTAS FINAIS:

O escalonamento final dos candidatos correspondeu exactamente ao que eu esperava, embora pensasse que Cavaco Silva (53%) ficasse acima dos 55%, que Manuel Alegre (20%) tivesse perto de 25% e que Nobre (14%) e Coelho (4.5%), tivessem significativamente menos. Francisco Lopes e Defensor Moura tiveram resultados dentro do que esperaria.

Embora pense que TODOS os candidatos tiveram mais do que mereciam, Cavaco e Lopes fizeram o serviço mínimo, Alegre foi destroçado e Nobre e Lopes tiveram boas mas inconsequentes votações que não merecerão uma nota de rodapé na história política do (final?) da III República.




E daqui para a frente: honestamente, acho que vai ser como o velho dito – Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes!

22 janeiro, 2011

Hu em Washington

HU EM WASHINGTON
 

A visita de Hu Jintao, Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, a Washington correu bem. Não que tenha havido grandes avanços em temas importantes das Relações Internacionais globais ou nos diferendos bilaterais, mas simplesmente porque nada correu mal.

Refere-se que na anterior visita, em 2005 com George W. Bush na Casa Branca, a visita foi considerada oficial e não de estado, nem teve banquete de gala (só um almoço) e que houve umas gaffes. Como desta vez a visita foi considerada como sendo “de estado”, como houve banquete, como as gaffes não surgiram e as duas partes emitiram mensagens de cordialidade, aí está o sucesso!

Not so fast. Nestes dias ouviram-se e leram-se muitas críticas dirigidas àqueles que prevêem um futuro pouco harmonioso nas relações sino-americanas. Vozes tão distintas como as de Henry Kissinger, que na sua velhice amoleceu muito em relação aquilo que era, defendia e fazia há 30/40 anos atrás, acusaram quem defende essa evolução como apóstolos de uma nova Guerra Fria entre os EUA e a China.

Contudo, a realidade não desapareceu nem se transfigurou com os brindes de Obama e de Hu. As divergências sobre a abordagem aos problemas colocados pela Coreia do Norte mantêm-se. O posicionamento em relação aos programas nucleares do Paquistão e do Irão é diferente, para não falar dos problemas na frente económica, nomeadamente a questão cambial.

Mais importante do que estes temas é a ascensão político-militar da Pequim que, mais cedo ou mais tarde, a colocará em rota de colisão com Washington. Os Estados Unidos são a potência militar no Extremo Oriente, poder esse sustentado na forte presença naval, nas bases espalhadas por toda a região e no estacionamento de tropas no Japão, na Coreia do Sul e em Guam.

A China, na sequência do seu sucesso económico, vem assumindo uma política externa crescentemente agressiva, nomeadamente face aos seus vizinhos, enquanto, paralelamente, lançou um forte programa de modernização militar que, a médio prazo, poderá pôr em cheque a supremacia norte-americana no Pacífico Ocidental.

Se tal vier a acontecer, nenhuma das duas potências poderá recuar sob pena de entregar os pontos estratégicos e as vitais rotas marítimas vitais, desde Malaca até à Península da Coreia, ao controlo do adversário (sim, nesta altura serão abertamente adversários).
 
O Mar do Sul da China (South China Sea), zona de atrito da China com os seus vizinhos e com os EUA.
 
É evidente que as coisas não têm que ser assim, mas os países da região (Japão, Singapura, Vietname) já se aperceberam que o trend é este e não é uma cimeira simpática que vai alterar as tendências estruturantes. Simplesmente não é provável que uma grande potência em ascensão se satisfaça permanentemente com a segunda posição, nem que uma potência dominante aceite de bom grado partilhar a sua hegemonia e muito menos a sua substituição.

18 janeiro, 2011

Voto Branco

VOTO BRANCO

Se há 10, 15, 20 anos atrás me dissessem que não iria votar em Cavaco Silva (individualmente ou enquanto líder do PSD), eu escarneceria dessa possibilidade. Na verdade, numa ou noutra condição, já votei em Cavaco Silva 6 vezes ao longo de 21 anos, entre 1985 e 2006. No more.
 
Quase meia vida a votar em Cavaco Silva, o que me leva a arrepiar caminho? Mais a mais porque ele é, indubitavelmente o melhor candidato, aliás, o único credível. Mais espero que ganhe e estou convicto que o fará à 1ª volta. Contudo, estou numa fase da vida em que não estou disponível para votar em males menores ou no menos mau. Ou voto com convicção porque acho que se trata de um bom candidato ou um bom projecto político, ou não voto só porque um é Suficiente e os restantes são Medíocres ou Maus. Por outras palavras, não engulo sapos para além daqueles que sou absolutamente obrigado a engolir.

Para perceber a minha decisão, bastará recuar no “Tempos Interessantes” e ler os 3 posts escritos sobre Cavaco Silva:

“CAVACO SILVA”, 09/03/2006



http://tempos-interessantes.blogspot.com/2006/03/cavaco-silva.html

[…..] De Cavaco Silva espero qualidades que já demonstrou: seriedade, competência, determinação e lealdade perante os Portugueses. Espero que denuncie o que está mal e que apoie o que está bem. Espero um discurso directo, acutilante e inteligível. Espero que não prescinda de responsabilizar o poder. Espero solidariedade institucional sem favoritismos partidários, mas sem renunciar ao seu ideário político.
Em suma, espero que seja melhor.

Estas eram as minhas expectativas relativamente ao mandato de Cavaco Silva na altura da sua posse. Infelizmente, não correspondeu.

“QUEM É QUE CAVACO TEME?, 15/04/2007


O Presidente da República, Cavaco Silva, pronunciou-se em Riga, Letónia, contra a realização de um referendo nacional sobre um novo tratado europeu, prometido por TODOS os partidos parlamentares.

“Às vezes avança-se para essas coisas sem pensar bem nas consequências e, depois, discute-se como corrigir.” Corrigir? Corrigir o quê? O voto dos cidadãos? O voto dos mesmos que deram 4 vitórias a Cavaco Silva enquanto Presidente do PSD e candidato a PR?

Senhor Presidente: não há correcções à votação popular. O povo é soberano. Ou será que, se V. Excelência vetar ou impedir um referendo a um tratado europeu, eu também posso corrigir o voto que lhe entreguei nas eleições do ano passado?
[…]
Ou deverei antes perguntar, de que é que tem medo? Quem é que o Senhor Presidente da República teme? É o eleitorado soberano. O povo que serviu para o eleger, mas que não “serve” para se pronunciar em referendos.

A oposição ao referendo e o apoio ao rompimento de promessas eleitorais formais e taxativas foi um pecado maior de Cavaco. Diga-se que a sua oposição aos referendos vem de longe, mas não devia ter pactuado com a escapadela oportunista a compromissos eleitorais. O medo do e o desrespeito pelo eleitorado são inaceitáveis.

 
“Política v política”, 19/06/2010


Cavaco Silva: Promulgou a lei sobre o casamento homossexual assumidamente contra as suas convicções e princípios, factos conhecidos dos eleitores que o elegeram. O argumento justificativo (??) foi o da crise económica que devia centrar os esforços do Governo e do Parlamento. Por essa ordem de ideias, em situação de crise social poderá promulgar barbaridades no plano económico e se houver uma crise económica, aprovará legislação política ou eleitoral que lhe repugne. É, obviamente, uma desculpa esfarrapada, que o coloca longe do homem determinado e de convicções de outros tempos. Do mesmo modo, o meu voto em Cavaco, que era quase certo, é agora muito duvidoso. Embora admita que Manuel Alegre, um candidato comunista, ou o simpatizante da esquerda radical seriam piores presidentes, confesso que estou pouco inclinado a apoiar males menores.

Aqui tivemos Cavaco a vergar a espinha para agradar à esquerda, especialmente a radical. O calculismo eleitoral é claro, dando por adquirido o voto da direita e tentando pescar na esquerda. Comigo não resultou: o meu voto não é um dado adquirido e só a mim pertence.

Uma última nota, já da campanha eleitoral. Cavaco Silva reclamou cortes salariais no sector privado para que estes não fossem beneficiados em relação aos funcionários públicos cujos ordenados foram reduzidos. Isso significa que Cavaco Silva, não contente com a imoralidade de cortar os salários dos funcionários públicos, quer estender a imoralidade aos restantes Portugueses. Quando se tratou de sacrificar os Portugueses em nome de um pseudo-salvamento do sistema financeiro português e em benefício dos accionistas do BPN, já não houve igualdade de sacrifícios. Quando se vê o Governo a avançar com o TGV contra tudo e a favor de alguns, a moralidade fica na gaveta. O Estado e a clique que nele usufrui de uma golden share engordam à custa de impostos agiotários e não há proclamações inflamadas. Longe vão os tempos gloriosos de “Menos Estado e Melhor Estado”!

 
Não ponho em causa o valor e a bondade de muitas intervenções de Cavaco Silva durante o seu mandato, nem que foi bem melhor do que o seu antecessor (pior fora!). No entanto, não vou abdicar dos princípios e convicções. O saldo final não vale o meu voto. Pela segunda vez desde que voto, VOTO EM BRANCO!


13 janeiro, 2011

Tempos Interessantes 2010

TEMPOS INTERESSANTES 2010

O “Tempos Interessantes” ressurgiu em Julho de 2010, após 6 meses de ausência. Nesse intervalo, o Blogspot introduziu algumas inovações, incluindo o fornecimento de estatísticas das visitas ao blog.

Apesar do longo desaparecimento, apraz-me registar que durante o 2º semestre de 2010, o “Tempos Interessantes” registou mais de 3000 visitas, sempre em crescendo mensal, excepto durante o período de férias.

Julho - 597
Agosto - 433
Setembro - 394
Outubro – 501
Novembro - 623
Dezembro - 671
TOTAL - 3219

O que realmente me deixou perplexo foi verificar que mais de 1000 visitas (cerca de 1/3) eram provenientes do estrangeiro. Listo o Top Tem de visitas, mas as proveniências foram as mais variadas e inesperadas: Re. Checa, Suécia, Dinamarca, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Índia, Austrália, Argentina, México, Colômbia, Angola, Senegal, Egipto…

Portugal - 2020
Brasil - 575
EUA - 175
Holanda - 59
Alemanha – 55
Rússia – 39
França – 34
Reino Unido – 24
Croácia – 21
Suíça - 13

Resta-me agradecer o privilégio da vossa atenção e a promessa que continuarei a navegar no(s) Tempos Interessantes em 2011, se possível, convosco.
Bem hajam!