19 junho, 2010

POLÍTICA v política

POLÍTICA v política


A Política deve reger-se por princípios e ética. Não se trata de uma visão ingénua ou utópica que pressuponha a santidade dos seus agentes e que ignore que na actividade política são precisos compromissos, exigências e cedências, acordos de bastidores, jogadas tácticas, subtilezas e astúcia, ardis e maquiavelismos. Essa é a política intra-partidária e inter-partidária, na competição por marcar pontos face ao adversário, criar-lhe dificuldades, ganhar lugares, posições ou apoios, afastar adversários.

 

Quando aqui falo de Política, falo de compromissos públicos, eleitorais, princípios divulgados e conhecidos perante os cidadãos, normas constitucionais ou legais, que devem ser escrupulosamente respeitados, por fazerem parte do pacto eleitoral de confiança entre o eleito e os eleitores, entre o representante e os representados.

 

Infelizmente, em Portugal campeia o desrespeito total por esses valores. Três tristes exemplos:

 

Cavaco Silva: Promulgou a lei sobre o casamento homossexual assumidamente contra as suas convicções e princípios, factos conhecidos dos eleitores que o elegeram. O argumento justificativo (??) foi o da crise económica que devia centrar os esforços do Governo e do Parlamento. Por essa ordem de ideias, em situação de crise social poderá promulgar barbaridades no plano económico e se houver uma crise económica, aprovará legislação política ou eleitoral que lhe repugne. É, obviamente, uma desculpa esfarrapada, que o coloca longe do homem determinado e de convicções de outros tempos. Do mesmo modo, o meu voto em Cavaco, que era quase certo, é agora muito duvidoso. Embora admita que Manuel Alegre, um candidato comunista, ou o simpatizante da esquerda radical seriam piores presidentes, confesso que estou pouco inclinado a apoiar males menores.


Teixeira dos Santos: Declarou que o valor legal da norma constitucional impeditiva da retroactividade teria menos valor do que a realidade da crise económica, da qual, aliás, é um dos fautores enquanto subscritor e executor do desmando despesista de 2008/2009. Isto, uns anos depois de ter reagido escandalizado a uma eventual devolução aos cidadãos de IVA indevidamente sobre o Imposto Automóvel vociferando que o dinheiro é “nosso” (leia-se do Governo), uma visão distorcida e intolerável num regime democrático em que, supostamente o povo é soberano. Não tem competência, nem dignidade democrática para deter o alto cargo que exerce há 5 anos.


Passos Coelho: Pediu desculpa aos Portugueses por ter caucionado os aumentos de impostos que tinha abjurado. Passados dois meses, eis que subscreve a norma inconstitucional e extorsionária dos impostos retroactivos. Desta vez já nem pediu desculpa. Talvez já não valha a pena. Em poucos meses e em poucas decisões, demoliu o capital de alguma confiança e credibilidade que vinha angariando junto dos Portugueses de que poderia ser diferente…para melhor. Eu ainda acho que é, mas talvez não chegue, quando se revela tanto à vontade em renegar convicções e em penalizar financeiramente os Portugueses.
Enquanto que não houver respeito por e lealdade para com os eleitores e não se perceber que os eleitos representam os cidadãos e que a eles se devem submeter, a Política continuará a ser mera política ou pior e os cidadãos olharão para os detentores de cargos políticos com crescente desprezo e indiferença.
 

P.S. José Sócrates não é aqui mencionado porque os seus pecadilhos nesta área são tantos e tão graves que teve direito a um post específico: “Sem Desculpa” disponível em

Sem comentários: