27 dezembro, 2007

Destino Fatal


DESTINO FATAL


BENAZIR BHUTTO (1953-2007)

Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/


Não acredito no destino como uma fatalidade incontornável, mas há situações que se apresentam com contornos próximos daquilo a que designamos por “Destino”. E o destino de Benazir Bhutto era o Paquistão e parecia ser um fim trágico.

Poder-se-á mesmo dizer que era um destino anunciado pelo duplo ataque bombista de que foi alvo em Outubro em Carachi quando regressou ao Paquistão, ou até que é uma marca familiar fatal de glória e morte. Os Bhutto no Paquistão, os Gandhi na Índia.

Apesar da previsibilidade, fiquei chocado. Benazir Bhutto era a melhor esperança do Paquistão a curto-médio prazo. A sua previsível eleição em Janeiro, trazia perspectivas de um novo rumo, alternativo à dicotomia Exército/Islamismo radical. Por outro lado, o seu assassinato poderá conduzir à continuação e agravamento da espiral de violência em que o país vai mergulhando.

Para além das consequências negativas para os Paquistaneses, há que lembrar que o Paquistão é um dos principais formadores de terroristas e a principal fonte de instabilidade no Afeganistão.

Quer gostemos, quer não, o que se passa no Paquistão tem muito a ver com a segurança do Ocidente. Com a segurança de todos nós. Por tudo isso, o que se passou hoje em Rawalpindi também foi muito mau para todos nós.
Benazir Bhutto em 1977.
Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/


Benazir Bhutto e Margaret Thatcher, nos finais da década de 1980.
Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/

22 dezembro, 2007

Feliz e Santo Natal

FELIZ E SANTO NATAL

RAFAEL – a Sagrada Família – Musée du Louvre, Paris

A todos os amigos, leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes”, votos de um Santo e Feliz Natal, na companhia dos que mais amam.


   Rui Miguel Ribeiro

13 dezembro, 2007

Hipocrisias

HIPOCRISIAS
 

Por Bandeira in “Diário de Notícias”, 8 de Dezembro 2007

Há um ano (19/12/16) publiquei um post intitulado “Europa e África”(http://tempos-interessantes.blogspot.com/2006/12/europa-e-frica.html) em que verberava a hipocrisia europeia em acolher o mesmo Robert Mugabe que a EU baniu de território comunitário por graves e continuadas violações dos direitos humanos. Aí escrevi:

“Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, têm de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.”
Doze meses volvidos e a “coisa” aconteceu. Comme d’habitude, alguns dos piores, como Mugabe ou Khadafi, foram as estrelas da festa e o foco das atenções mediáticas. Os ditadores regressaram a casa com o seu estatuto e prestígio reforçados, os desgraçados continuarão a tentar desgraçadamente sobreviver e os líderes europeus registarão com satisfação mais uma cimeira bem sucedida. O Darfur, o Zimbabwe, a Somália, o Chade podem esperar.


Por Bandeira in “Diário de Notícias”, 10 de Dezembro 2007


Sendo um Realista das Relações Internacionais, entendo que os Estados devem prosseguir os respectivos interesses nacionais da melhor forma possível. Isto não significa que vale tudo, mas que não podemos/devemos aplicar aos Estados nas RI os mesmos critérios morais que aplicamos aos indivíduos.

No entanto, se os Estados-Membros da União Europeia se arvoram em paladinos dos direitos humanos no mundo e fazem dessa causa uma bandeira, exige-se-lhes coerência e honestidade. Eles oferecem-nos hipocrisia. Nothing new!

P.S. Bandeira tem piada como habitualmente, e tem razão duas vezes: os Europeus não tiveram coragem para mandar Mugabe para o espaço (nem para qualquer outro sítio) e de facto havia alguns elementos perigosos em Lisboa no último fim-de-semana.

10 dezembro, 2007

A Recriação do Monstro

A RECRIAÇÃO DO MONSTRO

 
in “The Economist”, 4 Janeiro 2007

Em Janeiro de 2007, já o Economist antecipava a Recriação do Monstro com este delicioso cartoon com Angela Merkel e o Frankenstein. Volvidos 6 meses, o Monstro ressuscitou em grande parte devido ao empenho de Merkel e de Sarkozy.

Por perceber, fica o verdadeiro motivo desta obsessão com o Tratado Reformador/Constitucional.

Por descobrir, fica o famigerado bloqueio institucional que, supostamente, deveria ter paralisado a EU nos últimos 3 anos.

Por aceitar, fica a contumácia das lideranças políticas comunitárias e dos Estados-Membros em impingirem algo que os eleitores não sentem como premente e que muitos vão ao ponto de rejeitar.

Finalmente, e para lamentar, fica a insistência em brincar aos Tratados, quando os verdadeiros problemas que afectam as nações europeias são de outra índole e não se resolvem com tratados e, muito menos, com tratantes.

08 dezembro, 2007

O Regresso do Urso

O REGRESSO DO URSO
 
 
Em 1989 o Urso Soviético recebeu um golpe fatal e em 1991 sofreu o golpe de misericórdia. Mais de uma década volvida, o urso russo está de regresso, e com algum estrondo!

Esse regresso traduz-se numa política externa mais assertiva, frequentemente agressiva, recorrendo ao Power Politics, isto é, centrando essa política nas relações de poder e na utilização do poder próprio nas relações com terceiros.

Essa política tem sido sustentada, no plano externo, num tripé:

1- Antes de tudo, o poderio energético (gás natural e petróleo) da Rússia, potenciado pelos elevados preços atingidos pelos hidrocarbonetos nos mercados mundiais nos últimos 4 anos.
2- O poderio militar russo (o real e o inflacionado) que tem sido usado sob a forma de ameaças mais ou menos veladas contra vizinhos ocidentais (Polónia, Rep. Checa, Estónia) e sob a forma de guarnições residentes nos vizinhos mais vulneráveis, como a Geórgia e a Moldova.
3- No estatuto internacional de grande potência de que goza a Rússia, que decorre dos poderes supra-mencionados, do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU e da própria História da Rússia/URSS.

Tanto ou mais importante, é a base interna que suporta a nova postura da Rússia nas Relações Internacionais. Neste plano, o factor decisivo é o regresso do poder central forte, avassalador mesmo, que está presente em toda a História da Rússia/União Soviética, excepto precisamente no final da Guerra Fria e na década subsequente.

Esse poder autoritário com legitimidade eleitoral que Vladimir Putin exerce hoje na Rússia, funda-se num aparelho policial, distante do KGB mas suficientemente omnipresente e persuasivo para dissuadir ou abafar as principais dissidências, no controle dos media e do sistema judicial e ainda dos pilares do poder económico russo e, finalmente, numa indiscutível popularidade de Putin, que deve tanto aos condicionamentos referidos, quanto às frustrações da orfandade imperial e ao caos sócio-económico da década de Yeltsin.

É com o regresso deste urso que o resto do mundo tem de lidar e, para tal, tentar compreender as respectivas motivações e objectivos.

06 dezembro, 2007

I am Back

I AM BACK

Volvidos 6 meses, eis-me de regresso à blogosfera. Uma arreliadora avaria no meu computador despoletou o meu “desaparecimento”. Quando voltei a ter o computador em pleno ao fim de 3 meses, outras ocupações parecem ter-se instalado no espaço do Blog. A inércia, o Verão, o nascimento da Sofia, o frenesim da rentrée, adiaram o regresso de forma que já parecia definitiva.

Mas não. Afinal de contas, os Tempos continuam Interessantes e o Blog ainda tem razão de ser, se a máquina ou a preguiça não me atraiçoarem, se a inspiração e o público aguentarem, volto para ficar.


P.S. Uma palavra de agradecimento para vários antigos alunos (Maria, Sandra Patrícia, João Pulido, Fernando Daniel, João Carlos) cujas reclamações sobre o pousio do “Tempos Interessantes” me incentivaram a regressar. Também os companheiros bloguistas, Luís Cirilo e Paulo Vila Maior tiveram a amabilidade de me perguntar pelo paradeiro do Blog: agradeço o cuidado e a atenção. Last but not least, a minha família (Isabel, Afonso Duarte, os meus Pais e o Ricardo Pedro), não me deixou esquecer que havia/há Tempos Interessantes.

A todos: Bem Hajam!