30 setembro, 2011

NINE/ELEVEN

NINE/ELEVEN

 
O mundo mudou no dia 11 de Setembro de 2001.

De tantas vezes repetida, esta afirmação quase se tornou um cliché. Como nem tudo mudou, importa indagar o que realmente mudou. Eis algumas propostas:

RELAÇÕES INTERNACIONAIS
As Relações internacionais mudaram. A declaração de “War on Terror” de George W. Bush subverteu as prioridades internacionais. Passou-se da gestão algo indolente do pós-Guerra Fria para o frenesim da(s) guerra(s). E elas multiplicaram-se: Afeganistão, Iraque, Iémen, mas também EUA, Reino Unido, Espanha, Indonésia, Turquia, Arábia Saudita, Paquistão… As alianças também mudaram: a Rússia e a China apoiaram o ataque ao Afeganistão, enquanto que a Alemanha e a França se opuseram à invasão do Iraque.

Sucessivamente, o mundo unipolar atingiu o seu apogeu e começou o declínio. Este gerou o delírio dos “GG”. Ao G7 original, somou-se o G8, depois o G20 e já houve quem divisasse um G2. À revelia dos “GG”, a proliferação de WMD alastrou e a Coreia do Norte tornou-se a 9ª potência nuclear e o Irão aspira a ser a 10ª.

O refluxo das guerras, levou à sublimação da diplomacia, elevada de ferramenta a um fim em si mesma. Assiste-se a negociações que são agregados de monólogos, que prosseguem porque uns participantes não conseguem enfrentar as consequências do falhanço e outros beneficiam do arrastar destes exercícios fúteis.

GUERRA
Também ela mudou. Com a excepção da 1ª fase das Guerras do Afeganistão e do Iraque, os conflitos inter-estaduais deram lugar aos conflitos assimétricos, entre Estados e organizações sub-estaduais. Os carros de combate perderam protagonismo para os Humvees, os drones tornaram-se uma arma de eleição, as forças especiais “roubaram” espaço às grandes unidades de infantaria. Proteger/salvaguardar os inimigos civis tornou-se tão importante como destruir os inimigos armados. Constrói-se, investe-se, desenvolve-se ao mesmo tempo que se mata, bombardeia e destrói. Já não se conquista o país, tenta-se conquistar as boas graças dos habitantes (antigos conquistados). As agências que promovem a reconstrução são o braço civil das forças armadas e os militares são diplomatas cultivadores de boas vontades.

Ah! As guerras (quase) deixaram de ter vencedores e vencidos: “Os EUA não podem vencer os Taliban e estes não conseguem derrotar aqueles!” Já não há victory parades, declarações de guerra nem rendições. Até há guerras que não o são. Para Obama, por exemplo, os bombardeamentos americanos na Líbia não constituem actos de guerra!!!

Não obstante, na guerra original proclamada em 2001, the War on Terror, os avanços são significativos. Os serviços secretos e de inteligência dos principais países desenvolveram armas e competências para descobrir conspirações e meios para capturar ou liquidar os terroristas que não existiam de todo antes do 11 de Setembro. O resultado é o decapitamento quase completo da Al-Qaeda nuclear original, culminando com a morte do próprio Bin Laden.

INSEGURANÇA
Todos ficamos mais inseguros. Os alvos da Al-Qaeda em New York, Londres, ou Bali não eram políticos, militares, polícias, ou edifícios do Estado. Eram lugares públicos (edifícios de escritórios, metropolitanos, discotecas, aviões) e visavam cidadãos comuns na sua rotina diária. To da a gente se tornou um alvo potencial. Não por ser o Senhor X, mas por estar no local Y à hora H.

SEGURANÇA
Esse estado de insegurança motivado pela generalização dos alvos e pelo desconhecimento dos atacantes, conduziu inevitavelmente ao drástico incremento da segurança. Os controlos nos aeroportos tornaram-se intrusivos, os poderes das polícias aumentaram, as câmaras de vigilância tornaram-se omnipresentes, as escutas telefónicas e o controlo da Internet e dos e.mails multiplicaram-se. E, de facto, ficamos mais seguros. Há 6 anos que não acontece um atentado de grande dimensão no Ocidente. E não foi por falta de vontade e de tentativas.

LIBERDADE
O que se ganhou em segurança, ter-se-á perdido em liberdade e direitos. O conflito é antigo (já Hobbes considerava que a segurança acarretava um custo elevado em liberdade. É um trade-off inevitável em tempos de ameaças de elevado risco. O busílis reside no doseamento: calibrar os custos em liberdade com os riscos e os custos da ameaça. Compreende-se e aceita-se melhor câmaras de vigilância em Piccadilly Circus ou Times Square, do que no Largo da Oliveira, ou na Avenida dos Aliados. O risco é generalizado, mas não é repartido uniformemente.

À medida que a memória do Nine/Eleven se vai afastando, todas estas mudanças são interiorizadas e assimiladas e entram na normalidade. A mudança tem um prazo de validade muito curto: ao ser, já era.

O grande triunfo do post-NINE/ELEVEN é mesmo esse: ao contrário do que a Al-Qaeda almejava, life goes on. Os Britânicos mostraram-no de forma exemplar imediatamente a seguir ao atentados de Londres de 2005: adaptando-se aos novos constrangimentos, a vida prossegue. A memória do terror não desaparece, mas fica arrumada num canto…

11 setembro, 2011

Twin Towers

TWIN TOWERS

 New York City skyline, com as Twin Towers do World Trade Center em destaque.

As Twin Towers do World Trade Center em New York desapareceram do skyline de Manhattan há precisamente 10 anos, mas permanecerão sempre na memória e no imaginário de quem lá esteve, de quem as viu, mesmo que, como eu, apenas na televisão ou no cinema. Por isso as coloco aqui no Tempos Interessantes intactas. Como sempre as recordarei.
 

06 setembro, 2011

Atento, Venerador e Obrigado

ATENTO, VENERADOR E OBRIGADO


Pedro Passos Coelho, presentemente Primeiro-Ministro de Portugal, fez um périplo pela Europa Ocidental, sendo que a paragem que mereceu maior destaque foi a que fez em Berlim.

Ouvi-lo falar ao lado da Chanceler Angela Merkel, fez-me lembrar um episódio dos primórdios da nossa História: a deslocação de Egas Moniz e família à corte de D. Afonso VII de Leão, com a corda ao pescoço, por não ter sido capaz de honrar a palavra dada (que na realidade dependeria da vontade de D. Afonso Henriques e não da sua).
 
Egas Moniz em Toledo perante D. Afonso VII.
Painel de azulejos da Estação de S. Bento, no Porto.
 
Contudo, há duas grandes diferenças na atitude de Egas Moniz e de Passos Coelho:

1- Egas Moniz foi lavar a sua honra que tinha sido manchada. Passos Coelho foi colocar-se a ele e ao país que representa numa posição  servil de forma gratuita.

2- Egas Moniz ofereceu um sacrifício pessoal. Passos Coelho oferece os nossos sacrifícios para placar a fúria do Bundestag e dos Alemães.

Basicamente, Coelho agradeceu a Merkel o grande favor (???) que fez a Portugal, prometeu-lhe que ia fazer tudo o que ela quisesse, ao ponto de se empenhar em alterar a nossa (???) Constituição para lhe agradar.

Em troca, Merkel deixou cair alguns elogios e disse que queria que os Portugueses (e os outros) tivessem as mesmas regras que os Alemães (reformas, férias, impostos). A seguir devem vir os mesmos feriados e, quiçá, a mesma bandeira e a mesma língua!!!

Eu sei que também estamos com a corda ao pescoço, mas gostaria de ver um Primeiro-Ministro de Portugal digno e de cabeça levantada, em vez de um político atento, venerador e obrigado perante um poder maior.
 
P.S. Em Castelo de Vide, Passos Coelho fez duas declarações lamentáveis:

1- Que era de somenos que no final do mandato lhe agradecessem muito ou pouco. E que tal se não agradecêssemos nada? Ou julgará ele que temos de ser atentos, veneradores e obrigados com ele? Por acaso está a fazer algum jeito ou frete aos Portugueses?

2- Fez um aviso soturno de que não permitiria que se queimasse bens ou se praticasse vandalismo em nome do descontentamento. Ficou-lhe mal a ameaça. Primeiro, não precisa de anunciar que não tolerará vandalismo, pois é a sua obrigação; em segundo lugar, tresanda a manobra intimidatória prévia de quem receia constestação social que, diga-se, seria bem merecida para quem, ainda ontem, tratou de abrir caminho a novos assaltos fiscais aos Portugueses.