31 outubro, 2016

Sschauble




SSCHAUBLE

 
Sschauble
in “Political Cartoons” em http://www.politicalcartoons.com/

Wolfgang Schauble tem um histórico pouco lisonjeiro no seu relacionamento com os países do sul da Europa. Para ele, Grécia, Portugal, Espanha, Chipre, talvez mesmo a Itália, são as marcas meridionais do IV Reich habitadas por uns bárbaros que urge disciplinar à boa maneira prussiana, com mão de ferro.

À falta de uma mão armada para subjugar a barbárie, Schauble recorre à pressão, à ameaça, à chantagem, à ofensa, nem sequer hesitando em proferir falsidades que têm como objectivo (e porventura efeito) prejudicar economicamente e financeiramente os visados.

Portugal foi recentemente alvo de pelo menos dois desses ataques. Isto porque, para Schauble, há dois tipos de pessoas na Europa meridional: os que acatam servilmente os éditos do IV Reich e os que se lhes opões; por outras palavras mais carregadas, aqueles são os colaboracionistas e estes são os resistentes.

Ter na marca sudoeste do Reich um governo que ele detesta, incomoda visivelmente o velho patife e manifesta-se na encarnação SSCHAUBLE. Pelo menos essa irritação permanente em que parece viver proporciona uma certa satisfação. Contudo, enquanto que os países acossados não mostrarem firmeza e coragem, Schauble e acólitos continuarão a semear miséria por essa Europa.


29 outubro, 2016

Brexit Posturing



BREXIT POSTURING

 Whilst we wait for the real (or the formal) Brexit negotiations to begin, we can watch some chest thumping, listen to some threatening declarations, tempered by some more contemporising ones and complemented by some warning shots.

 
The road to Brexit.
in “THE ECONOMIST” at www.economist.com

This issue popped as a theme for a post after some wild statements by Robert Fico, Slovakia’s Prime Minister. Probably infatuated for holding the (increasingly irrelevant) EU’s 6-month presidency, Mr. Fico threatened that the Visegrad countries (Hungary, Poland, the Czech Republic and Slovakia) could veto the Brexit deal over immigration issues: “No room for compromise”, he crowed from the top of his smallness. Earlier, he had told the “Financial Times” that the EU is going to make the Brexit very painful as a lesson for the United Kingdom and as a warning to other prospective leavers.

I really do not know who Mr. Fico thinks he is, but he is clearly over his head and seemingly unaware of Slovakia’s political weight, or lack thereof, within the European Union. On one side of the table is the 5th largest economy in the world and on the other side there will be a Frenchman representing the EU, seconded by a German. So, as expected, it will be up to Europe’s three heavyweights to hammer out the major contours of the Brexit deal. Of course, the other 25 nations will also play a role, especially the likes of Italy, The Netherlands, Poland, Spain, or Sweden (no, Slovakia will not be on this short list) and others will try to promote specific agendas of their own, but the key lies in London, Berlin and Paris.

Meanwhile, this October, the British started conveying their own messages, also aiming at conditioning the negotiations. Of these, I found most striking the enunciation of London’s supposed four red lines. Accordingly, the UK wants to:

            * Stop making contributions to the EU budget.

            * Regain full legislative sovereignty to Westminster.

            * Break free from the jurisdiction of the European Court of Justice.

            * Have an independent immigration policy.

This is not an official stand, so it should be viewed as part posturing and not necessarily how things will play out, but it nevertheless sheds some light on London’s probable stance on some of Brexit’s major issues.

Finally, going back to where we started, the biggest irony of all is watching Mr. Fico, a staunch opponent of immigration to Slovakia, emerging as the leading crusader of Slovakian emigration to the UK! Poor, incoherent Mr. Fico.

22 outubro, 2016

Prémio Nobel da Paz ou da Esperança Fútil?



PRÉMIO NOBEL DA PAZ 
OU DA ESPERANÇA FÚTIL?


O Comité Nobel Norueguês parece ter perdido o juízo. Depois de em 2009 ter atribuído, de forma surreal, o Prémio Nobel da Paz a Barack Obama pelo encantamento que a sua retórica bonita e oca provocou em muitos Europeus (e Americanos), quando nada da sua acção o tornava sequer remotamente merecedor dessa distinção.

 

Agora, em 2016, o Comité atribuiu o Prémio Nobel da Paz ao Presente da Colômbia, Juan Manuel Santos, por um processo de paz (com a guerrilha das FARC)….FALHADO. Sim, o Prémio foi-lhe atribuído poucos dias após os Colombianos terem rejeitado em referendo a proposta de acordo que lhes foi apresentada.

A Presidente do Comité, Kaci Kullman Five, admitiu o risco do recomeço das hostilidades, mas “We hope it will encourage all good initiatives and all the parties who could make a difference in this process in Colombia.” Good luck with that!

Em 2016, como em 2009, o Comité Nobel da Paz atribuiu o Nobel da Paz baseado não em resultados, mas em esperanças. Infelizmente, como sabemos, boas intenções e esperanças abundam, o resto é que é mais difícil.

O Prémio atribuído a Obama é um bom mau exemplo disso mesmo. Volvidos 8 na os na Casa Branca, não um momento, uma acção, algo de duradouro que justifiques o Prémio a posteriori. E não, o Acordo Nuclear Nuclear P5+1-Irão não vale  porque efectivamente não contribuiu para a paz: conseguiu um time-out para o Irão se livrar das sanções e Obama poder brandir o troféu, mas as condições estruturais para a nuclearização do Irão e para o conflito estão lá todas. Mais a mais, neste momento os Estados Unidos desencadeiam acções bélicas regulares em 7 países de dois continentes.

Se é para continuar neste registo, talvez fosse melhor mudar o nome do galardão para Prémio Nobel da Esperança. Ou melhor ainda, Prémio da Esperança Fútil.




14 outubro, 2016

Porque é que Assad Ainda Lidera a Síria?



PORQUE É QUE ASSAD AINDA LIDERA A SÍRIA?



A intervenção de actores externos com a sua própria agenda na Guerra da Síria complexificou e agravou a dimensão do conflito.
 in “THE WASHINGTON POST” em www.washingtonpost.com



Não se trata propriamente da “million dollar question”, mas a resposta não é unívoca nem linear, existindo um conjunto de factores pessoais, de regime, militares, internos (sírios) e externos que fazem com que Bashar Al Assad continue a ser o Senhor de Damasco após mais de 5 anos e meio de guerra.

1- Ao contrário de outros governantes acossados por revoltas, Bashar Al Assad não desistiu, não se rendeu, não fugiu. O seu lema tem sido resistir, ser mais resiliente que todos os outros e nunca ceder mais do que o estritamente necessário, mesmo quando a situação é crítica. Parte será característica pessoal, provavelmente herdada do pai, o implacável Hafez Al Assad.

Depois, há os exemplos que Assad foi colhendo de colegas seus: Abdullah Saleh, Presidente do Iémen, quase foi morto por uma bomba e aceitou resignar ao cargo sob pressão saudita; Hosni Mubarak, Presidente do Egipto, resignou sob pressão popular e militar, foi julgado e preso; Muammar Kadhafi, Presidente da Líbia, foi morto como um cão por um grupo de rebeldes, perto de Sirte. Eis um conjunto de incentivos à rejeição da reforma antecipada, especialmente se for compulsiva.

2- Com a queda de Assad, cairia o regime e todo o segmento da população que serve de pilar do regime e que por ele é protegido e beneficiado correria sérios riscos. À frente de todos, os Alawitas (aos quais pertencem os Assad), mas também outras minorias que receiam a revanche sunita e, muito importante, uma parte da população sunita, fundamentalmente urbana, mercantil e endinheirada que lucrou com a colaboração com os Assad e que fazem parte do regime, na economia e nas forças armadas.

A grande maioria destas pessoas cerrou fileiras à volta do regime e do seu símbolo, Bashar Al Assad. Mesmo em 2012/13, quando muitos previam o iminente colapso do regime e deserções em massa, tal não aconteceu, o hard core manteve-se e Assad e o regime, mais uma vez, resistiram.

3- Assad beneficiou daquilo que podemos rotular de “balbúrdia rebelde”. Os rebeldes nunca foram, 1, ou 2, sequer 3 facções, foram sempre muitas. Mesmo quando se juntaram ou aliaram, nunca foram todas e foi quase sempre de forma conjuntural por interesses comuns circunstanciais. Aliás, os rebeldes devem ter combatido entre si mais vezes do que aquelas em que se aliaram. Esta realidade foi agravada pela entrada em cena do Estado Islâmico (IS) e do Jabhat Al Nusra (ligado à Al Qaeda). Estes grupos, que são anátema para as potências ocidentais, para a Rússia e para a maioria das potências regionais, especialmente o IS, atacavam outros rebeldes e permitiram a Al Assad reclamar para o seu governo o papel patriótico/heróico de defender a Síria de perigosos jihadistas.

Tudo isto contribuiu para que os rebeldes nunca conseguissem dar sequência aos períodos vitoriosos que alcançaram ao longo de 5 anos de guerra, contribuiu também para recuos e hesitações de alguns reais ou potenciais patronos externos e a sua desunião e rivalidade foram um bónus para o Exército Árabe Sírio.

4- Bashar Al Assad e o regime Ba’ath são implacáveis e não olham a meios para atingir os fins, na senda daquilo que tem sido o regime sírio desde a sua implantação em 1963. Dado que está em jogo a manutenção do poder e a sobrevivência política, económica e física, os meios praticamente não conhecem limites. Diga-se que o regime não está sozinho na violência desenfreada e outros há que se contêm porque têm patronos mais exigentes.

5- Finalmente, Assad beneficiou de aliados mais sólidos, empenhados e fiáveis do que os rebeldes. Estes, fruto da dispersão e das grandes diferenças políticas, religiosas e étnicas, debateram-se com aliados, principalmente os Estados Unidos, temerosos dos destinatários reais do equipamento que forneciam e dos resultados do seu apoio e sofreram com os desentendimentos entre os apoiantes, principalmente os EUA, a Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar.

Já Assad, contou sempre com o apoio político, militar e económico do Irão, que também mobilizou milícias no Líbano, no Iraque e no Afeganistão, para reforçar as desgastadas hostes sírias. A Síria também contou com o apoio da Rússia no plano diplomático (Moscovo, com o apoio da China, vetou cinco propostas de resolução no Conselho de Segurança da ONU desfavoráveis a Assad), político e militar (equipamento e munições). No último ano, contou com o apoio directo, activo e decisivo da Rússia, especialmente da Força Aérea Russa.

 
Sempre foi claro, excepto para os mais crédulos, que Al Assad não sairia fácil e rapidamente.

in “THE WASHINGTON POST” em www.washingtonpost.com


Assad beneficiou, portanto, de aliados mais determinados, mais imbuídos do espírito da Real Politik, fundamental para prevalecer no ambiente agreste e impiedoso do Médio Oriente.

Bashar Al Assad pode ser um líder cruel e implacável, mas só dessa maneira conseguiu manter o poder ao longo de mais de 5 anos de guerra contra múltiplos inimigos, muito deles igualmente cruéis e implacáveis. Ele sabe que se cair ou sair, o seu destino poderá ser ignominioso e com ele arrastará família, amigos e estratos inteiros da população. Para quem tem um apurado sentido de sobrevivência, estes são fortes incentivos para resistir e continuar.