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04 novembro, 2013

Tehrik-i-Taliban Pakistan e Drones

TEHRIK-i-TALIBAN E DRONES

Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP) é um grupo islâmico radical, formado em 2007 pela junção de uma amálgama de grupos extremistas (estima-se em 13). É juntamente com o Lashkar-i-Taiba, o mais notório grupo terrorista do Paquistão, país que se estima albergar 80 a 100 grupos islâmicos radicais. Tem fortes ligações à Al Qaeda e combate o Estado paquistanês que encara como sendo servil aos Estados Unidos e pretende, a exemplo dos deus confrades afegãos, implementar uma interpretação estrita da Sharia no país.

Hakimullah Mehsud, líder do Tehrik-i-Taliban Pakistan, morto por um drone no dia 01/11/13. Tinha a cabeça a prémio no valor de 5 milhões de Dólares.


Uma das demonstrações mais óbvias das ligações à Al Qaeda foi dada pela série de atentados cometidos em 2011 para “vingar a morte de Bin Laden”: ataques bombistas ao Centro de Treino das Forças de Fronteira e a uma esquadra em Peshawar e um ataque a uma base naval em Karachi. Também lhe são atribuídos o assassinato de Benazir Bhutto em Dezembro de 2007 e a tentativa de homicídio da jovem adolescente que se bate pelo direito das mulheres à educação, Malala Yousafzai em Outubro de 2012.


Não tem sido fácil para os governos do Paquistão combater este flagelo:

1- Os Taliban têm algum apoio popular.

2- O TTP tem apoio nalguns sectores dos serviços secretos paquistaneses (ISI) e mesmo no exército.

3- O exército tem receio de desviar demasiadas tropas e equipamento para as zonas tribais (na fronteira com o Afeganistão), quando a oriente tem de fazer frente à Índia.

4- O Paquistão tem acreditado na possibilidade de integrar os Taliban. Ainda agora o Primeiro-Ministro Nawaz Sharif tenta entabular negociações com o TTP.


Não obstante, quando o governo se sente ameaçado, ou pressionado, opta por realizar ofensivas, como as que foram desencadeadas em 2009, sucessivamente no Vale de Swat para desalojar um grupo Taliban que tinha ocupado a região e imposto a Sharia de forma brutal e no Waziristão do Sul, nas áreas tribais, bastião dos Taliban.


Certo é que nenhuma das abordagens tem resolvido o problema. A via negocial tem invariavelmente resultado em tréguas aproveitadas pelos Taliban para reorganizar e rearmar antes de voltar à luta armada. Desta feita, o TTP nem sequer aceitou a abertura negocial de Sharif, por recusar a imposição de quaisquer condições apriorísticas.


As áreas de influência dos Taliban no Paquistão e no Afeganistão.

in STRATFOR em www.stratfor.com

A via armada tem falhado algumas vezes (como nas duas intervenções no Waziristão do Sul efectuadas antes de 2009) e tem sido bem sucedida noutras (como nas duas supra-referidas de 2009). Porém, quando se revestem de sucesso, tal não tem sido devidamente capitalizado, quer por a operação militar não ser levada às últimas consequências (atacando o Waziristão do Norte depois de controlado o Waziristão do Sul), quer por as operações militares não serem seguidas de uma intervenção civil que trouxesse o Estado às FATA (Federal Administered Tribal Areas): administração, educação, saúde, segurança, transportes e comunicações, enfim um módico de bem-estar, segurança e progresso.


Resta pois, the American way de lidar com o problema taliban no Paquistão: os UAV (Umanned Aerial Vehicles), mais conhecidos por drones. Repudiados pela maioria dos Paquistaneses e tacitamente aceites e publicamente condenados pelos sucessivos governos do Paquistão, os drones têm perseguido implacavelmente as chefias do TTP. No passado dia 1 de Novembro, um míssil lançado de um drone decapitou novamente o TTP: matou o líder, Hakimullah Mehsud e vários Taliban do seu círculo próximo. Há 4 anos fora o seu primo e fundador do Tehrik-i-Taliban Pakistan, Baitullah Mehsud, que explodiu por acção de um drone.

Chefias do TTP liquidadas por drones dos EUA:

Baitullah Mehsud (kíder e fundador)        05/08/09
Wali-ur-Rehman (nº 2 do TTP)                   29/05/13
Hakimullah Mehsud (líder do TTP)             01/11/13

Os ataques dos drones enfraqueceram e desestabilizaram o TTP, mas não lhe põem termo e só lhe reduzem de forma significativa a operacionalidade a curto prazo, a não ser que haja lutas pela liderança, como sucedeu em 2009. Entretanto, o TTP já escolheu o sucessor de Hakimullah Mehsud: é o Mullah Fazlullah. Se ele for capaz e se afirmar de forma inequívoca a sua liderança, o TTP estará back in business já no início de 2014.


Em última análise, terá de ser o Paquistão a resolver o problema da ameaça colocada pelo Tehrik-i-Taliban Pakistan, sob pena de corre o risco de ser por ele submergido.


21 fevereiro, 2008

Vitória Póstuma

VITÓRIA PÓSTUMA


BENAZIR BHUTTO em 1999.
Fotografia retirada do site da BBC News at http://news.bbc.co.uk/

As eleições no Paquistão correram muito bem. Em primeiro lugar, os partidos mais laicos e democráticos venceram. Em segundo lugar, os Islamitas foram derrotados por larga margem, cedendo mesmo nos Territórios do Noroeste. Em terceiro lugar, não houve a eclosão de violência que muitos previam.

A vitória do PPP é, simbolicamente, uma vitória póstuma de Benazir Bhutto. No entanto, o PPP não pode contar com a sua liderança carismática e terá de encontrar alguém com a competência, firmeza e honestidade para levar a cabo a promessa de “mudar o sistema”, ou seja: trazer desenvolvimento económico e social para os Paquistaneses; combater de forma efectiva os radicais islâmicos, mormente os Taliban e a al-Qaeda; combater a corrupção; reduzir o peso político das forças armadas.

Para isto, o ano de 2008 será crucial. Estas eleições depositaram nas mãos dos vencedores um enorme capital de esperança que não pode ser desbaratado. Se a coligação que vier a compor o governo (já foi anunciado um acordo de princípio entre o PPP de Bhuto e o PML-N de Nawaz Sharif), aproveitar o ímpeto eleitoral para desencadear as reformas e as medidas de que o Paquistão carece, dentro de dois anos poderemos ter um Paquistão e um Afeganistão melhores e mais seguros.

Não demorará muito para começarmos a saber se prevalece a tradição caótica e auto-fágica dos partidos paquistaneses, ou se, pelo contrário, a gravidade da situação vai impeli-los para um novo rumo. Se for este o caso, talvez o martírio de Benazir não tenha sido em vão.


Paquistão – Mapa do International Crisis Group

27 dezembro, 2007

Destino Fatal


DESTINO FATAL


BENAZIR BHUTTO (1953-2007)

Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/


Não acredito no destino como uma fatalidade incontornável, mas há situações que se apresentam com contornos próximos daquilo a que designamos por “Destino”. E o destino de Benazir Bhutto era o Paquistão e parecia ser um fim trágico.

Poder-se-á mesmo dizer que era um destino anunciado pelo duplo ataque bombista de que foi alvo em Outubro em Carachi quando regressou ao Paquistão, ou até que é uma marca familiar fatal de glória e morte. Os Bhutto no Paquistão, os Gandhi na Índia.

Apesar da previsibilidade, fiquei chocado. Benazir Bhutto era a melhor esperança do Paquistão a curto-médio prazo. A sua previsível eleição em Janeiro, trazia perspectivas de um novo rumo, alternativo à dicotomia Exército/Islamismo radical. Por outro lado, o seu assassinato poderá conduzir à continuação e agravamento da espiral de violência em que o país vai mergulhando.

Para além das consequências negativas para os Paquistaneses, há que lembrar que o Paquistão é um dos principais formadores de terroristas e a principal fonte de instabilidade no Afeganistão.

Quer gostemos, quer não, o que se passa no Paquistão tem muito a ver com a segurança do Ocidente. Com a segurança de todos nós. Por tudo isso, o que se passou hoje em Rawalpindi também foi muito mau para todos nós.
Benazir Bhutto em 1977.
Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/


Benazir Bhutto e Margaret Thatcher, nos finais da década de 1980.
Fotografia retirada do site da BBC News – http://news.bbc.co.uk/