Mostrar mensagens com a etiqueta Eleições. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Eleições. Mostrar todas as mensagens

30 dezembro, 2017

Viurem Lliures O Morirem



VIUREM LLIURES O MORIREM*

 
Viurem Lliures o Morirem (vivemos Livres ou Morremos) era o mote e a bandeira dos Catalães na fase final da Guerra da Sucessão de Espanha, quando combatiam os exércitos de Espanha e França.


Os Catalães lá voltaram a votar e, mais uma vez, a corrente independentista saiu vencedora com maioria absoluta dos mandatos e maioria relativa dos votos. Isto apesar de toda a pressão e chantagem feitas.

As eleições na Catalunha validaram as forças políticas que estavam no poder, realizaram o referendo e proclamaram a independência. Por outro lado, infligiram uma pesada derrota a Mariano Rajoy. Quando este pensava que tinha posto as grilhetas e a mordaça nos Catalães, eis que estes votaram em quem ele não queria e reduziram o seu partido a uma expressão residual (7º lugar com 4% dos votos e 3 deputados).


Não obstante os resultados, estou muito pessimista quanto às perspectivas futuras da saga independentista catalã. Os líderes políticos da Catalunha demonstraram determinação e contenção no seu propósito, mas para enfrentar a besta castelhana é necessário também ter coragem física e capacidade de sacrifício para lhe fazer frente e resistir. Ninguém é obrigado a tê-la, mas perante a ameaça, tal é um ingrediente indispensável, especialmente na ausência de apoios externos.

É relativamente fácil dizer e é muito difícil fazer, mas há casos em que o grito "Liberdade ou Morte" é ingente.


* VIVEMOS LIVRES OU MORREMOS

22 novembro, 2017

O Princípio do Fim





O PRINCÍPIO DO FIM
 

O Bundestag eleito em 2017 tem o maior número de deputados de sempre (709) e, também, o maior número de grupos parlamentares – 6.


Nos últimos anos temos assistido ao endeusamento da Chanceler alemã Angela Merkel. As razões são várias: é a líder de uma grande potência ocidental há mais tempo em funções, lidera um país que prospera cada vez mais e que é uma implacável máquina exportadora, tem uma postura normalmente calma, ponderada e equilibrada; também tomou algumas opções políticas populares para um nicho político, social e mediático com grande exposição pública, tais como, a abrupta antecipação do fim da indústria nuclear na Alemanha (2011) e a abertura das fronteiras germânicas a uma avalanche de refugiados e imigrantes (2015; finalmente, como se sabe, o establishment político-mediático entrou em órbita com o Brexit, com a eleição de Donald Trump e com a contínua ascensão de partidos nacionalista e, no desespero, convenceu-se que Angela Merkel seria um farol da liberdade e putativa líder do Ocidente, i.e., baluarte do statu quo.

No entanto, a realidade era e é diferente. Se é verdade que Merkel lidera um país que é um sucesso económico, já a sua ponderação e equilíbrio são mais questionáveis. Um exemplo disso foi a repentina e injustificável antecipação do fim do nuclear da Alemanha, reacção intempestiva e sem fundamento ao desastre de Fukushima no Japão, desde logo porque a Alemanha não se encontra numa zona de actividade sísmica e não é, obviamente, ameaçada por tsunamis, já para não referir os enormes cistos económicos da decisão. Outro exemplo foi a epifania de Merkel em 2015: a abertura total das portas da Alemanha a refugiados e imigrantes deu-lhe uma enorme popularidade instantânea, mas como era previsível, valeu-lhe uma crescente oposição, mesmo dentro do seu partido, quando a poeira assentou e a realidade de uma decisão emotiva e precipitada se tornou mais clara: o excesso de refugiados/imigrantes, os atentados terroristas, a tentativa de impingir os custos da generosidade alemã a outros países europeus, desgastaram-lhe a imagem e o apoio, que foi sendo transferido para outros partidos. E não podemos olvidar os enormes custos económicos, sociais e pessoais que a brutal política scroogiana, exigida por Berlim, impôs à Europa meridional.

Mesmo assim, Merkel chegou a 2017 e às suas 4ª eleições na condição de líder da CDU com a confiança das vitórias anteriores e da auréola de invencibilidade. A previsível (e consumada) débacle do SPD que tem servido de parceiro menor à CDU/CSU, acentuava a confiança numa grande vitória.

Porém, o desgaste inexorável do tempo e a cobrança eleitoral das más decisões, a saturação com o establishment central cada vez mais uniforme, desabaram sobre o SPD, a CDU e a CSU. Se, no caso do primeiro, os resultados foram devastadores (os piores do pós-II Guerra Mundial), a CDU e a CSU caíram o suficiente para ficarem muito longe da maioria absoluta.

 
Este gráfico mostra claramente a dimensão das perdas da CDU/CSU e do SDP, que equivalem aos enormes ganhos do AFD e do FDP, cerca de 14%.


Dois meses volvidos , ainda não há governo. O FDP (Liberal) abandonou as negociações com a CDU, CSU e os Verdes, o que parece indiciar que Merkel se terá aproximado mais dos Verdes do que dos Liberais o que, a ser verdade, é espantoso e incompreensível. O azedume da CDU após a ruptura mostra também a frustração e o desespero de Merkel. Igualmente significativo é o facto de os focos principais de divergência entre os 4 partidos terem sido precisamente aqueles onde Merkel falhou: imigração/refugiados, ambiente e fiscalidade.

Neste momento, após o SPD ter reiterado que não vai voltar a ser o trampolim de Merkel, restam 3 opções: recomeço das negociações entre CDU, CSU, FDP e Grunen; governo minoritário; dissolução do Bundestag e novas eleições. A Chanceler parece querer a última, o Presidente Frank Walter Steinmeier prefere uma solução governativa no actual quadro parlamentar. Eos “vencedores” das últimas eleições, a AFD (direita) e o Die Linke (esquerda), vão assistindo de palanque à desorientação vigente.

A CDU de Angela Merkel até pode vencer de forma mais expressiva umas eventuais novas eleições, ou conseguir liderar um governo sem elas, mas o que é claro é que Merkel entrou no princípio do fim do seu percurso na liderança da Alemanha e da EU.

04 maio, 2017

Une Petite Curiosité?



UNE PETITE CURIOSITÉ?

Marine Le Pen. Ou Angela Merkel?


No dia 25 de Abril publiquei um post intitulado “Eleições Francesas: Ganha a Merkel?” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2017/04/eleicoes-francesas-ganha-merkel.html ) O título, sendo algo provocatório, era baseado na provável vitória de Macron, no seu programa que segue boa parte da agenda alemã e nos recentes precedentes de submissão de Paris a Berlim.

Trago isto à baila, porque no debate televisivo de ontem, o grande sound bite da noite pertenceu a Marine Le Pen: A França vai acabar por ser liderada por uma mulher. Se não for eu, será Merkel”.

Não creio que a Senhora Le Pen tenha visitado o Tempos Interessantes, mas que eu o disse antes, disse. A grande questão, porém, é a de saber como os Franceses vão digerir o momento da noite: como um golpe bem desferido, mas sem consequências; ou, se vão interiorizar a realidade da crescente hegemonia germânica e de menorização da França e se tal desperta um pouco do orgulho gaulês, o suficiente para remar e votar contra a maré dominante.

Se assim for, terá sido um dos maiores game changers da História recente. Caso contrário, terá sido une petite curiosité.