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30 maio, 2014

Chicotada Psicológica


CHICOTADA PSICOLÓGICA

 

Mesmo quem não ligue muito ao futebol estará identificado com a expressão chicotada psicológica. O cenário é conhecido: a equipa joga pouco e mal, os resultados não aparecem, ou se aparecem as exibições não convencem, a equipa fica aquém dos objectivos e expectativas, os adeptos dissociam-se da equipa ou vaiam-na, deixam de ir ao estádio. Entalado entre o afastamento ou o protesto dos sócios, a desmoralização dos jogadores e a impotência do treinador, o Presidente despede este. Está consumada a chicotada psicológica.

 

Transpondo a figura da chicotada psicológica para a política e para o PS, temos os adeptos (simpatizantes e eleitores) descontentes e desmotivados, a equipa (militantes) desmoralizados e inquietos e a direcção (a classe dirigente ao nível do partido, dos órgãos de soberania, das autarquias e do aparelho de Estado) entalada perante a realidade de ter um treinador com contrato (o Secretário-Geral) e a probabilidade de ver o Campeonato (as eleições legislativas) fugir-lhes para uma equipa da II Divisão (actual governo) e perder os troféus e os prémios (cargos e poder).

 

Conclusão: António José Seguro está prestes a ser chicoteado, ou melhor, a ser o objecto de uma chicotada psicológica fora dos relvados.

 

Há mais de dois anos (25/04/2012), publiquei em Tempos Interessantes um post dedicado a António José Seguro intitulado o “Idiota Útil” (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/04/o-idiota-util-antonio-jose-seguro-foto.html ): A melhor caracterização de Seguro foi feita pelo “Contra-Informação”: o Jovem Mais Velho de Portugal, isto quando era Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros com António Guterres.

 

O seu desempenho ao longo destes 3 anos, culminado com a famigerada vitória de Pirro na semana passada, faz-nos concluir que o prazo de validade do Idiota Útil chegou ao fim.

 

Seguro nunca convenceu. Desde logo nunca conseguiu transmitir segurança, firmeza e convicção no que fazia e dizia. Ser firme não é falar alto. É difícil um indivíduo mole e amorfo gerar entusiasmo e mobilização.

 

Quando tenta falar com firmeza soa a falso; quando tenta mostrar entusiasmo soa a oco; quando tenta convencer as pessoas é maçador.

 

A sua intervenção na noite eleitoral foi mais uma validação do post supra-referido: foi penoso vê-lo e ouvi-lo na noite de Domingo clamando incessantemente uma vitória estrondosa e arrasadora que não existiu, num esforço desesperado e óbvio de se segurar no lugar.

 

Seguro enquadra-se numa geração de dirigentes políticos nacionais que qualifiquei como “Farinha do Mesmo Saco” em 23 de Julho de 2012: Uma parte significativa da actual geração de líderes políticos está marcada por algumas características comuns, tais como: pertenceram às Juventudes partidárias (vulgo Jotas) e fizeram toda a sua carreira académica (?) e profissional (?) na política, sob a política, ao lado da política, dentro da política.

José Sócrates, Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas e António José Seguro são os expoentes deste modus vivendi, embora haja muitos mais. São todos farinha do mesmo saco. http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/07/farinha-do-mesmo-saco.html
 

A realidade é que Seguro é um apparatchik sem rasgo, sem alma, sem capacidade para mobilizar; sempre foi cinzento e não vai mudar.

 

Como ele não muda, muda o PS. Chicotada psicológica e entra novo treinador. Será António Costa quem irá à caça do Coelho.


E esta é a menor das surpresas se recuperarmos a conclusão de “O Idiota Útil”:

Enquanto continuar com a postura actual, Seguro será um idiota útil, fingindo fazer oposição ao Governo e legitimando com o voto socialista as decisões governamentais. Será também um idiota útil para outros aspirantes à liderança do PS, aos quais não interessará dar a cara nesta fase de conluio com o PSD, o CDS e a Troika.

 
Escusado seria acrescentar que, de Seguro, nada mais se espera. Afinal, trata-se de um indivíduo que veio com bravata anunciar que a posição do PS sobre o Orçamento de Estado de 2012 seria uma “abstenção violenta”. E nesta imbecilidade começa e acaba a coragem e a determinação do ex-Jovem Mais Velho de Portugal.
.

 

 

Post Scriptum: A ânsia com que o Presidente da Concelhia de Lisboa do PSD veio exigir eleições autárquicas antecipadas em Lisboa também mostra bastante do estado a que o PSD chegou: falta de cultura democrática, avidez descontrolada pelo poder e ausência de pudor. Vale tudo.

 

27 maio, 2014

Grande Manguito


GRANDE MANGUITO



A insatisfação com o Governo levou os Portugueses a castigar PSD e CDS com o pior resultado conjunto de sempre.


A desconfiança do PS, levou os Portugueses a conceder-lhe uma pequena vitória com contornos de Pirro.


O desprezo pela classe política e pelas eleições europeias e a desesperança, levou a um record de 66% dos eleitores a não votar.


Os insatisfeitos mais activos foram votar, mas canalizaram o seu protesto para partidos sem responsabilidades governativas presentes ou recentes (PCP), para um conhecido desconhecido (Marinho e Pinto), ou para o voto branco ou nulo.


Com uma votação colectiva na ordem dos 58%, um mínimo histórico, pode dizer-se que PSD, PS e CDS levaram um manguito do povo português. Merecido, acrescentamos nós.


O perene Zé Povinho de Rafael Bordalo Pinheiro fazendo o manguito aos partidos do poder em Portugal.

  
VENCIDOS:


* PSD+CDS: Levaram um banho histórico. Pela primeira vez desde que há eleições democráticas (39 anos), os dois partidos não somaram sequer 30%. Ficaram pelos 27%. A distância para o PS não foi grande, mas foi disfarçada pelo 2 em 1 que representou a coligação. Coelho e Portas tentaram chamar a atenção para a vitória escassa do PS, mas a derrota clamorosa da coligação não é disfarçável e os motivos são bem conhecidos: governação desastrosa, punição impiedosa dos Portugueses, mentiras sucessivas, servilismo ao exterior. Há mais, mas estes bastam. Aliás, os dois líderes mostraram que esperavam perder por 8 ou 10, mas perder por 4 foi fraco consolo.


* PS: Foi o vencedor nominal, mas protagonizou a vitória mais pírrica de que há memória. Vencer com 4% de vantagem sobre os partidos de um governo execrável é como ficar excitado por Portugal vencer San Marino por 1-0. Medíocre, à imagem do líder.


* BE: Em queda livre, resume a situação actual do Bloco de Esquerda, que em 5 anos passou de estrela ascendente do panorama político português a um moribundo candidato a protagonizar a sequela PRD Parte II. Passou o efeito novidade, passou a ilusão de diferença, passou Louçã. Ficou um partido normal, ficou um partido sem rumo e ficaram Catarina & Semedo. Há 9 meses escrevemos que o “O BE virou Bloquinho”. Agora só podemos acrescentar que o Bloco ficou sem folhas.



VENCEDORES:


* PCP: E o PCP ganhou outra vez. Mais um deputado e 2º melhor resultado de sempre em eleições europeias (13%). Parece que a coerência e credibilidade dão resultado, bem como ser trabalhador, organizado, com militância, eleitorado fiel (e fiel ao eleitorado) e presença na rua e no trabalho. Quando os outros são muito maus, a competência ainda mais se salienta.

Abstenção: Por protesto, desprezo, ou preguiça, a mole imensa de 66% dos Portugueses eleitores mandou a política, os políticos e o Parlamento Europeu às urtigas e não compareceu. Não votou. Tiveram a atenção compungida dos políticos na noite eleitoral em mais um exercício recorrente de hipocrisia de quem pouco ou nada se importa com o estado do país e da democracia. Duvido que algum se tenha arrependido de ser abstido.

* Marinho e Pinto: Confesso que fiquei atónito com os resultados do MPT aka Marinho e Pinto. Um sucesso estrondoso na estreia eleitoral. Este sucesso, além de resultar do sedimentado conhecimento púbico do ex-bastonário da Ordem dos Advogados e do seu jeito peculiar mas eficaz de comunicar, é também fruto da falência dos políticos do sistema. Marinho foi um dos veículos que os Portugueses escolheram para gritar o seu protesto.

Aliança Brancos e Nulos: Foram quase ¼ de milhão. É a aliança daqueles que não abdicam do direito de votar e não se revêem na oferta partidária que temos. Eu votei branco pela 3ª vez consecutiva e assim continuarei enquanto não houver uma alternativa séria, honesta, não totalitária e de direita.



NOTAS SOLTAS:


* Eurocepticismo. À falta de melhor para dizer, Coelho resolveu manifestar a enorme preocupação com o eurocepticismo que põe em causa o ideal (?) europeu. Porquê? Não se pode ser contra? É crime não gostar? Já pensou que são incompetentes e desonestos como ele próprio que são a maior ameaça ao tal projecto europeu?


* Ridículo. Estivemos à espera de resultados até às 22.00 porque….os Italianos ainda estavam a votar. Sim, porque se em Itália soubessem os nossos resultados, tal informação teria um efeito telúrico nos resultados eleitorais italianos. Se o ridículo matasse….


* Novo. Marinho Pinto é o novo hype da política portuguesa. Já se fala de legislativas, de presidenciais e o que mais haja, É preciso prudência para verificar se não se trata de fogo fátuo. De qualquer modo, as legislativas seriam uma má aposta: implicam uma estrutura com Abrangência nacional, centenas de candidatos, listas, ou seja, é demasiado complicado para marinho. As Presidenciais sim, adequam-se ao seu estilo one man band e com uma ou duas aparições por dia, com o interesse dos media que desta vez não teve e possivelmente enfrentando candidatos desgastados perante o eleitorado, pode fazer estragos.


* Semi-Novo. Rui Tavares é recente mas já não é novo na política. Aliás ainda é deputado no PE, apesar de ter abandonado o partido (BE) pelo qual foi eleito. Já se sabia que Tavares e o Livre iam atrair a atenção de alguns media e intelectuais saturados do BE e ansiosos por uma novidade; também era previsível que fora das zonas mais urbanas do Sul a sua votação fosse inexpressiva. Em 2015 ele voltará à carga como cabeça de lista do livre por Lisboa; se for eleito o Livre continuará mais uns anos, se falhar, definhará irreversivelmente. A melhor aposta para um indivíduo como Tavares é apanhar uma boleia do PS à procura de novos mercados e com vocação para albergue espanhol.

07 novembro, 2013

Diálogos e Consensos

DIÁLOGOS E CONSENSOS

 
Depois das investidas de Cavaco Silva no Verão, a questão da premência e obrigatoriedade do diálogo e do consenso voltou à baila, desta vez por iniciativa do Governo e das suas extensões: o CDS e, especialmente, o PSD. A esta renovada pressão, junta-se o clamor dos opinion makers do regime. O alvo é o PS.

A pressão é intensa: Cavaco Silva diz que sem diálogos e consensos não somos um país europeu normal; Marco António acrescenta que o PS se tornou um partido radical; outros declaram que o PS não tem alternativa – TEM que se sentar à mesa das negociações.


Que fundamento e viabilidade têm estes apelos/ameaças?


Recuemos a 2011. Passos Coelho faz tremendos ataques ao Governo de José Sócrates e promessas de red lines que não pisará. José Sócrates negoceia o PEC IV à sorrelfa, sem dar cavaco a Cavaco nem ao PSD. O PSD, CDS, PCP e BE chumbam o PEC IV. O Governo demite-se. Vem o Memorando de Entendimento com a Troika, uma campanha eleitoral agreste e tensa, eleições e um novo governo.


Em retrospectiva, o chumbo do PEC IV pelo PSD e CDS foi um erro crasso. Bem, na verdade foi uma manobra de assalto ao poder. Derrubado o governo, Passos Coelho subscreve um memorando mal negociado por Sócrates e pelo seu incompetente Ministro das Finanças (Teixeira dos Santos), mais duro do que o PEC IV, renegando uma boa parte das suas promessas eleitorais (ver “Outro Mentiroso” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/07/outro-mentiroso.html ). As outras seriam repelidas já no governo.


Após estes acontecimentos, entre o PS socrático e o PSD coelhista só há bad blood. Contudo, com o cadáver de Sócrates ainda quente, António José Seguro anuncia que é candidato à liderança do PS, para a qual vem a ser eleito. Numa primeira fase da sua liderança, Seguro colabora com o Governo, mesmo fazendo umas ameaças ocas pelo meio (ver “O Idiota Útil” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/04/o-idiota-util-antonio-jose-seguro-foto.html  ).


Instalado no poder, com o conforto de uma maioria parlamentar laranja-azul, Passos Coelho e o PSD desprezam Seguro e o PS. Em bom Português, não lhe passam cartão e recusam qualquer diálogo com significado. Por muito sonso que fosse, chegou o ponto em que Seguro se fartou e começou a opor-se efectivamente ao Governo, votando contra o orçamento de Estado de 2012. Com a nova postura verificou que evitava grande parte das chatices internas no PS e ainda ganhava popularidade. E à falta de melhor, endureceu a postura em relação ao PSD.


Sucede que em 2012 o Governo começa a ver o comboio da governação a andar para trás. De forma mais precisa, a descarrilar. Então fez-se luz no PSD: com o navio a meter água por todos os buracos orçamentais, há que envolver o PS no processo de aplicação do Memorando, dar um balde ao Seguro e pô-lo a tirar água do navio. Este, contudo, satisfeito com os resultados da sua nova postura e com as renovadas perspectivas de sobrevivência política, disse que não: vocês meteram água, agora tirem-na.


Em 2013, com as eleições autárquicas no horizonte, a vontade do PS em negociar diminui proporcionalmente ao agravamento da desagregação do Governo. Para conter a crise política, o Presidente da República obriga PSD, PS e CDS a negociar. Já era tarde. Para prevenir qualquer recaída de Seguro, o PS jurássico emitiu avisos à navegação que torpedearam à nascença a remota hipótese de consenso.


Seja como for, os maus resultados da governação aliados aos bons resultados das Autárquicas, puseram Seguro em election mode: só quer eleições e quanto mais cedo melhor, não vá o balão esvaziar. Tal como Sócrates e Coelho antes dele, Seguro só pensa em ser Primeiro-Ministro. Espera-se que, se lá chegar, tal não aconteça de forma espúria como o anterior e o actual.


Por sua vez, PSD e CDS perderam o timing do diálogo e do consenso por soberba. Agora querem fazê-lo em desespero de causa e por dois motivos: por um lado, para arrastar o PS para um acordo que o torne cúmplice e co-responsável por uma governação desastrosa e extremamente impopular; por outro lado, para aprofundar e perpetuar os desígnios programáticos do Governo para além da Troika.


A assinatura do memorando de Entendimento foi um episódio de convergência acidental entre um Sócrates encostado à parede e um Coelho ávido do poder que estava a um passo de distância. A partir daí, os partidos divergiram continuamente, crisparam e barricaram-se nas respectivas trincheiras. Face à magnitude das divergências e do antagonismo, qualquer acordo assinado agora seria uma manifestação de hipocrisia ou o resultado de forte coacção, provavelmente externa.

É grave este afastamento e crispação? É grave a falta de consenso?

Não e não. Eu sei que a opinião publicada e transmitida tem vindo num clamor crescente pedindo/exigindo diálogos, consensos e acordos, mas trata-se de pessoas que em regra pertencem ao sistema, onde pululam os interesses, as trocas de favores e os acordos interesseiros, mas a resposta é mesmo “Não”.


Estou convencido que os Portugueses querem e precisam de alternativas e possibilidades de escolha. Também estou ciente de que o actual PS está longe de oferecer uma alternativa de confiança e não contará com o meu voto. Não obstante, penso que será difícil fazer pior, ou até tão mal como o actual Governo.


Portugal não precisa de acordos suspeitos que visem decidir pelos Portugueses o que cabe aos Portugueses decidir. Umas eleições entre o António José Coelho e o Pedro Passos Seguro seria um pesadelo a somar ao que já vivemos.


02 outubro, 2013

Vencedores, Vencidos e Outras Cenas

VENCEDORES, VENCIDOS E OUTRAS CENAS

 
Algumas notas sobre as eleições autárquicas: vencedores, vencidos e outras cenas.

VENCEDORES:


* PS. Foi o vencedor. Teve mais votos, venceu em mais concelhos, obteve o maior número de presidências de câmara da sua história (150), conquistou câmaras importantes, como Coimbra, Sintra, Gaia e Funchal e ficou com  44 câmaras municipais de vantagem sobre o PSD. Negativo foi a perda de autarquias relevantes para o PCP (Évora, Beja, Loures) e PSD (Braga e Guarda) e para um ex-PS (Matosinhos). Os media insistem que a vitória retumbante de António Costa em Lisboa lhe dá carta de alforria para desafiar Seguro, mas creio que é pouco provável, a não ser que as europeias corram mal, dado que Seguro liderou uma vitória inequívoca no país quase todo.


* PCP. Ganhou muito. Já dediquei um post ao PCP (“Assim Se Vê a Força do PC” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/10/assim-se-ve-forca-do-pc.html ), pois o PCP venceu em toda a linha: aumentou as câmaras (de 28 para 34), as câmaras emblemáticas, os votos, a percentagem de votação, obteve a hegemonia no Alentejo e Península de Setúbal e o melhor resultado desde 1997 (41 câmaras). Pedia-se um Jerónimo de Sousa com um ar mais jovial e distendido na conferência de imprensa da noite eleitoral. Estamos em crise, mas uma vitória não é para encarar de forma carrancuda.


* CDS. Desde 2001 que o CDS estava reduzido a uma Câmara Municipal: Ponte de Lima. Este Domingo subiu o total para 5 (três conquistadas ao PSD e uma ao PS), com participação numa 6ª, dado que foi o único partido a apoiar a e a participar na candidatura vencedora no Porto. Cinco câmaras não é excepcional, mas representa uma viragem. Tal como o PCP, o CDS obteve o melhor resultado desde 1997 (8 câmaras). Para Paulo Portas foi um balão de oxigénio no momento oportuno, depois da trapalhada da irreversibilidade há 4 meses atrás. Aliás, ao contrário de Jerónimo de Sousa, Portas estava eufórico, com um sorriso rasgado e quase aos pulos quando anunciava os cinco triunfos. Pudera, ganhou novo fôlego no Partido e ainda conseguiu demarcar-se da hecatombe eleitoral da coligação que governa o país.


* Voto de protesto (Brancos & Nulos). Os votos brancos e nulos, forma de protesto mais eficaz e inequívoca do que a abstenção, mais do que duplicou para 340.000, atingindo um score equiparável aos independentes. Este voto crescente demonstra que o descontentamento de muitas pessoas não se cinge ao partido A, B, ou C, mas é transversal a todos eles. Houve 324.000 eleitores (7% do total) que se deram ao trabalho de se deslocar à assembleia de voto para dizer que não se revêem nas candidaturas apresentadas. Esta é a principal mensagem que o sistema partidário devia ouvir. Infelizmente, nem esta nem outras serão captadas e digeridas pelos partidos.


* Independentes. Também ganharam. Nada menos do que 13 câmaras. Contudo, não partilho o entusiasmo desenfreado que grassa na opinião publicada sobre os independentes. Não acredito que sejam uma solução salvífica para os problemas do sistema político. Tal como acontece com os candidatos partidários, haverá os bons, os medianos e os maus. A minha experiência passada e a minha observação presente, também me leva a concluir que a maioria dos independentes, não o é verdadeiramente. A maioria foi preterida pelo seu partido e, não acatando essa decisão, concorre à revelia do partido, mas levando com ele a maioria da estrutura e candidatos, do partido, que com ele já haviam concorrido. Tal foi o caso de Guilherme Pinto em Matosinhos e de Adelaide Teixeira em Portalegre, como já havia sido o caso de Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Fátima Felgueiras. Mesmo Rui Moreira, que não tinha lastro partidário, contou com o apoio do CDS e de parte substancial do PSD-Porto; para todos os efeitos, teve a máquina eleitoral do CDS de forma aberta e de algum PSD de forma encapotada. Não obstante, o certo é que obtiveram resultados muito positivos e a vitória no Porto não deixa de ser um feito assinalável. É óbvio que Rui Moreira criou expectativas dentro e fora do Porto e se o seu mandato for um sucesso poderá constituir um incentivo para o independentismo. Se for uma mera extensão de Rio, o balão esvaziará.

 
 
VENCIDOS:

* PSD. Foi o perdedor. Perdeu câmaras, votos, percentagem e ânimo. Teve, aliás, o pior resultado de sempre: 106 câmaras (em 1989 teve 113). Na coluna das perdas amontoam-se o Porto, Coimbra, Sintra, Vila Real, Gaia, Funchal, enquanto os únicos ganhos relevantes foram Braga e Guarda. Passos Coelho surgiu na noite eleitoral para fazer a “leitura nacional dos resultados” e reconheceu a estrondosa derrota. Dito isto, deixou de saber ler e declarou que não retirava qualquer consequência da pesada derrota. Não esperava outra coisa. Fica a imagem de um líder tristonho e sozinho que continua a ter uns assomos de sobranceria. Contudo, quando em Maio de 2014 somar uma provável nova derrota, o isolamento será maior, como maior será o número de cortesãos a afiar as adagas nos bastidores. Um exercício interessante será o de tentar perceber quem será o “Bruto” que avança e crava primeiro.


* Bloco de Esquerda. O BE virou Bloquinho. Não o digo com carinho, que não tenho, mas porque foi aquilo a que o BE ficou reduzido. Perdeu a câmara que herdara e ficou à porta das vereações de Lisboa e Porto. Foi deprimente ver João Semedo vestido do mesmo azul que o background do palco (parecia que estava atrás de um daqueles bonecos de feira onde se coloca a cabeça para tirar uma foto), vergado ao peso da derrota, a vociferar contra a Direita e Alberto João Jardim apontando a sua (deles) colossal derrota tentando omitir a sua (dele próprio) derrota colossal. Será que o BE bicéfalo está a ficar acéfalo?


OUTRAS CENAS:

* Oeiras foi o palco do surrealismo. O candidato vencedor, Paulo Vistas, clamava louvores a um presidiário chamado Isaltino Morais, com o mesmo fervor fanático dos pregadores de certas seitas. Os apaniguados do vencedor foram comemorar para o exterior da prisão para partilhar o triunfo com o referido presidiário. Este foi um dos tais independentes que ganhou, apesar de ser doentiamente dependente. Do presidiário, claro está. A este ritmo, poderemos vir a ter os irmãos Dalton a liderar o concelho.


* O Porto foi o palco da falta de fair-play. Manuel Pizarro protagonizou a mais miserável intervenção da noite. Ele perdeu as eleições, mas bajulou o vencedor (ai a vereação, que vontade!) e regozijou-se de forma larvar e raivosa com a derrota de Luís Filipe Menezes, atirando aleivosias como quem atira perdigotos. Lamentável. O vencedor Rui Moreira, cumprimentou o rival do PS e ignora o concorrente do PSD, que algum tempo antes o havia felicitado e feito um apelo à colaboração com o vencedor. Muita prosápia acerca de ser diferente, mas a mesma falta de chá de muitos outros. Menezes pode ter muitos defeitos, mas foi dos três o que teve uma postura mais digna na noite eleitoral.


* Acerto de Contas. Rui Rio e Luís Filipe Menezes há muitos anos que nutrem um ódio de estimação mútuo. Quis o destino que gerissem duas câmaras em simultâneo nas duas margens do trecho final do Douro. Mais do que o poderoso rio (o Douro), separava-os o estilo, o feitio e o modelo de governação; nem o partido comum (PSD) os unia. Só o ódio. O destino maroto obrigou-os a deixar os respectivos cargos na mesma altura. Menezes arriscou atravessar o Douro. Rio (o Rui) optou por ficar em casa e, de pés enxutos, minou e armadilhou o trilho de Menezes da Ribeira à Avenida dos Aliados. Menezes soçobrou e Rio ganhou sem ir a jogo. Não creio que tenha sido o combate final.


* Blá, Blá, Blá. Porque será que nas noites eleitorais, os porta-vozes dos perdedores, derrotados e esmagados gastam a sua intervenção inicial com platitudes? Dizem, por exemplo: “Quero felicitar os Portugueses, blá, blá, blá, pelo enorme civismo e maturidade democrática, blá, blá, pela forma ordeira e sem incidentes como decorreu o acto eleitoral, blá, blá, blá…”, enquanto pensam: “Que grande banhada que levámos! Quem me dera estar longe daqui… Será que o gajo (o líder) se demite ainda hoje? A quem me devo colar? Tenho de me pôr a mexer!” Este papel no Domingo coube a Marco António (o do PSD).

22 julho, 2013

Os Irrevogáveis

OS IRREVOGÁVEIS

 
A Gália de Goscinny e Uderzo tinha os Irredutíveis Gauleses que se alimentavam a poção mágica e javali e cujos expoentes máximos eram Astérix e Obélix. Com eles, Roma nunca conseguiu dominar toda a Gália.


Portugal de 2013 tem os Irrevogáveis, que não têm poção mágica, não caçam javalis, nem parecem fazer nada de útil. Com eles, Berlim domina completamente a Lusitânia.


OS IRREVOGÁVEIS:


Cavaco Silva assumiu-se como um irrevogável anti-democrata. O inefável Presidente quer que os 3 maiores partidos atinjam consensos, voluntariamente ou por imposição. Reitero que, para Cavaco a assunção de projectos diferentes e de soluções alternativas é um anátema (ver os pontos 3 e 4 dos Contras em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/cavaco-silva-out-of-box.html). Para ele e para a legião de comentadores do establishment, os eleitores deviam escolher entre três partidos que apresentam o mesmo programa. Não tarda, defenderão um partido único. A irrevogável intolerância também se fez sentir nas Selvagens, de onde Cavaco disparou contra aqueles que se opunham a um acordo e que trabalhariam para o evitar, como se tal fosse uma ignomínia. Pois então ousavam contrariar o PR? Finalmente, teve o dislate de dizer que o facto de os partidos terem participado em negociações prova que concordam com a solução que propôs, quando na realidade todos entraram contrariados no processo negocial e só a ele aderiram porque foram praticamente obrigados. Cavaco Silva fez too little too late e agora fica irrevogavelmente amarrado a um Governo que amparou para além do razoável durante dois anos e no qual já não confia.


Passos Coelho é um irrevogável agarrado ao poder. O homem preside a um governo que falha metas e projecções a um ritmo e dimensão alucinantes, demonstra uma total indiferença para com os seus concidadãos, somada a um servilismo perante a Alemanha, é odiado e desprezado por milhões de Portugueses, é desrespeitado por dois sucessivos nº 2 do Governo, mas recusa demitir-se. Abespinha-se perante a possibilidade de lhe roubarem um ano de poder. E mantém a desfaçatez de garantir em pleno Parlamento que tudo corre bem. Coelho é, como político, como governante e como pessoa, uma nódoa. Daquelas que não saem. É irrevogável.


Paulo Portas é o pai da irrevogabilidade. A sua demissão “irrevogável” vai ficar nos anais como o “Nem que Cristo desça à Terra!” de Marcelo Rebelo de Sousa. Como já foi defendido no Tempos Interessantes, (ver http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/01/a-encruzilhadaalhada-do-cds.html e também http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/portas-da-passos-para-sair-passos-leva.html) Portas viu uma janela de oportunidade para saltar do Governo, ver-se livre da inépcia petulante de Coelho e começar a preparar 2015 correndo por fora. Na ânsia de sair, Portas sobrestimou o carneirismo do seu rebanho. Para além das pressões externas que terá recebido, foi na resistência à demissão no próprio CDS que a irrevogabilidade começou a ser revogada. O obstinado apego ao poder de Coelho e as manobras de Cavaco fizeram o resto. Além dos custos da governação desastrosa e da crise, Portas terá de lidar com o desgaste causado por este flip-flop. O poder acrescido que terá no Governo será a oportunidade de tentar recuperar imagem e credibilidade. Porém, da forma que as coisas estão, mesmo sendo o membro do Governo politicamente mais talentoso, o mais provável é que Portas se afunde com o Titanic. Irrevogavelmente.


António José Seguro é o anti-Irrevogáveis. É contra a irrevogabilidade do Governo, contra a irrevogabilidade homogeneizadora de Cavaco, e contra a irrevogabilidade da austeridade de Passos Coelho. Também percebemos que está irrevogavelmente condicionado pelos dinossauros do PS com Soares à cabeça. Seguro saiu da crise mais seguro do que estava no plano interno, mas ontem ficou a saber que Cavaco vai voltar à carga com os consensos e compromissos e não é líquido que o instinto de sobrevivência que teve desta feita o salve do suicídio político na próxima. Embora tenha afastado no último ano a imagem inicial de tibieza, o país ainda não encara Seguro com a confiança de quem olha para uma alternativa válida. Esse é o drama de Seguro: entre as pressões da Troika, as dramatizações do Governo, os consensos do Presidente, algum condicionamento dentro do PS e as desconfianças de um eleitorado saturado de trapaceiros, é um inseguro irrevogável.


Continuaremos a nossa marcha colectiva nominalmente sob a liderança destes 4 Irrevogáveis. Irrevogavelmente certos das respectivas bondades políticas por entre as florestas de erros crassos que vão cometendo, não surpreende que para muitos Portugueses estejamos condenados a um irrevogável declínio.