04 novembro, 2008

The Obama Flop

THE OBAMA FLOP
 

Jeremiah Wright e Barack Obama.
in The Economist

O Senador Barack Hussein Obama entra no dia das eleições dos Estados Unidos à frente na corrida presidencial. É pena.

É pena porque Obama é, na melhor das hipóteses, um grande ponto de interrogação. Na pior, é um dos maiores logros da história política recente.

1- Tem uma atitude arrogante perante o eleitorado hostil e os adversários, sejam eles John McCain, George W. Bush, ou Hillary Clinton. O seu comentário sobre os brancos da Pennsylvania rural que se agarravam à religião e às armas é ilustrativo. Pior, tem o comportamento de virgem ofendida perante as críticas dos adversários, como se fosse possível estar imune a ataques.
2- Proclama-se portador de mudança e de uma forma pós-partidária de fazer política. No entanto, a sua campanha fez inúmeros anúncios e declarações falsas e desonestas sobre os adversários, de que é bem exemplo a insistência de que McCain queria os EUA a combater no Iraque durante 100 anos.
3- Oportunismo e hipocrisia. Cedo na campanha prometeu que aderiria ao sistema público de financiamento de campanhas se o candidato Republicano também o fizesse. McCain fê-lo, mas Obama, ciente de que recolhia muito, muito mais dinheiro permanecendo fora do sistema, esqueceu a promessa.
4- Tem o historial mais liberal, leia-se esquerdista, do Senado dos Estados Unidos.
5- Tem o curriculum mais minúsculo e irrelevante da história recente de candidatos presidenciais: 4 anos no Senado, zero de actividade legislativa de relevo.
6- Irresponsável em política de defesa e externa: retirada a curto prazo do Iraque (pelo seu plano original, já não haveria tropas americanas no Iraque) e negação do sucesso evidente da surge de tropas dos EUA no Iraque. Os seus propósitos negociais com o Irão e outros regimes totalitários são ingénuos, no mínimo.
7- Céptico do liberalismo económico, ameaça pôr em cheque a NAFTA (North American Free Trade Association que reúne EUA, Canadá e México) e apoiou a rejeição do acordo comercial com a Colômbia, um dos mais importantes aliados dos EUA na América do Sul.
8- Change, change é um dos slogans menos originais que se pode imaginar. Quantos políticos pró esse mundo já apregoaram a mudança como um dos seus slogans eleitorais? Pacoviamente, alguns políticos europeus adoptaram-no como se tratasse de uma criativa inovação. Yes we can é básico e reflecte a superficialidade e o cariz socialite da campanha de Obama.
9- Ligações perigosas: Rezco, o corrupto que apoiou Obama na política de Chicago, William Ayers, o terrorista arrependido por não ter matado e destruído mais e Jeremiah Wright, o reverendo racista e anti-americano são três presenças inaceitáveis na vida política e social de Obama. O caso do reverendo é vergonhoso: o homem que veio para cicatrizar as feridas raciais, tinha como guia espiritual durante 20 anos, um sujeito que prega o racismo e que acusa o governo dos EUA de criar o HIV para praticar o genocídio dos negros americanos. Acrescente-se que a não utilização desta ligação por McCain foi talvez o seu erro mais nefasto nesta campanha. Esta omissão jamais teria ocorrido numa situação inversa.
10- Barack Obama é convencido para lá do aceitável: frases como “sou aquele que vocês esperavam”, “gerações olharam para trás e dirão aos filhos que ESTE foi O momento” e este é o momento em que os oceanos começaram a baixar”, mostram um indivíduo pretensioso numa escala delirante.

Por tudo isto, Barack Obama é uma má escolha presidencial. Vai beneficiar de uma conjuntura política e económica altamente favorável aos Democratas, da sua capacidade oratória e da protecção dos mainstream media, que nunca exploraram os seus pontos fracos e contradições. Méritos próprios: notável carisma, grande eloquência, projecção de uma imagem positiva e serena, grande racionalidade e uma ambição sem limites.

Pouco, mas aparentemente suficiente para chegar à Casa Branca.


P.S. Apesar da análise que aqui deixo, penso que Obama vai desiludir muitos dos seus apoiantes nos EUA e, principalmente, no estrangeiro, caso ganhe. O peso do lugar e o seu calculismo político farão com que governe de forma a pensar em 2012 e talvez um pouco longe dos radicalismos da sua plataforma original. É óbvio que os milhares que o aplaudiram em Berlim e lhe tecem loas por essa Europa fora, provavelmente estarão a rogar-lhe pragas daqui a dois anos, mas isso faz parte da ingenuidade das elites esquerdistas bem pensantes, dum e doutro lado do Atlântico. Se, por outro lado, seguir a sua agenda e a dos Democratas que controlam hoje o partido, provavelmente será cilindrado em 2012.

9 comentários:

freitas pereira disse...

O Senhor Rui Miguel escreveu : " Na pior, é um dos maiores logros da história política recente, referindo-se a Obama.

Que diabo, a situação catastrófica actual dos EUA a quem é que ela se deve ? A Obama? A maior crise financeira da historia do mundo, a qual eu chama "vigarice", é um feito de Obama ?

As centenas de milhares de mortos e o resultado final da guerra do Iraque, que será sem duvida a retirada, assim como do Afeganistão vão ser debitadas a Obama ?

Como explicar que Obama obteve cinco milhões de votos mais que Mc Cain e uma maioria de delegados nunca vista desde 1889 ?

Os Americanos seriam assim tão estúpidos que iam perdoar o balanço mais trágico dum mandato presidencial da historia dos EUA , como foi o de Bush ? Quem ignora hoje todas as mentiras dos neo-conservadores para invadir o Iraque ?


A votação maciça dos Americanos em favor de Obama só pode ser compreendida à luz do que precede.

freitas pereira disse...

Se me permite, Caro Sr. Rui Miguel Ribeiro, gostaria de acrescentar alguns aspectos da eleição de Obama que revestem uma certa importância.
O grande suspiro transcontinental que varreu o planeta depois da vitoria nítida de Obama deve-se também ao facto que se sabe hoje que Sarah Palin não terá nunca o direito de apoiar sobre o botão vermelho que permite de lançar as ogivas nucleares contra os inimigos da América.
Ela, que segundo Fox News, pôs medo aos próprios colaboradores de McCain, quando procurando ensinar-lhe como reagir durante a campanha, verificaram que ela não sabia que a África era um continente. E que não conhecia os países signatários do acordo NEFTA ! Que se tinha admirado de ver tantos estrangeiros na ONU ! Desculpe, isto não é nada pouco mas ainda há mais.
O facto é que a historia moderna não nos ensinou que os Bons podem ganhar lá onde é primordial. Desde a bomba atómica de Hiroshima, os leaders das grandes potências parecem ter sempre tomado a má decisão : a do afrontamento, da guerra, do terror, da dominação, da mentira e da carnagem.
O sentimento de euforia que se espalhou, mesmo em antecipação, a propósito da vitoria de Obama é que o conservador de Wall Street a qualificou de ‘esperança’ : a esperança de ver a humanidade fazer, contra toda expectativa, um passo na boa direcção.
O significado real da vitoria de Obama, da sua mensagem, da sua vitoria e da revolução tranquila que ela permite de esperar, não se encontra tanto nas promessas que ele fez ou dos compromissos tomados durante a campanha de dois anos .
A mudança que ele incarna é contida no seu nome tanto como na cor da sua pele. O novo Presidente dos EUA não se chama William, Richard ou Ronald mas Barack. E ele não é oriundo da velha elite anglo saxao da Nova Inglaterra. Ontem o poder mudou de mão. E de direcção.
O governo de G.Bush roeu seriamente os direitos e as liberdades dos indivíduos. Estive neste verão uma semana em Austin, Texas e discuti com amigos meus. Eles não perdoaram que ele tivesse lançado a América na guerra contra “o eixo do mal” sob falsos pretextos, e habituado os Americanos a tolerar uma presença policial oprimente em nome da segurança colectiva. Um governo autoritário, no qual o poder escorregava de cima para baixo.
Obama conseguiu inspirar, motivar e chamar à coisa publica segmentos inteiros da população que se tinham afastado, confundidos por um regime que os representava mal, eles e os seus direitos.
Poder que não se assemelhava a eles.
A eleição duma tal personagem suscita a esperança e só isso já faz bem. Mas não é um Messias.
Ele não poderá eliminar a guerra, a divida, a crise económica em poucos meses. E ele sabe que ele tem inimigos pessoais na América, que o seu pais tem inimigos no mundo.
Mas Obama falou de democracia, de compromisso e de esperança.
E uma maioria disse-lhe sim, a ele, um homem negro, filho de uma branca e de um negro, casado com uma Senhora que tem nas veias o sangue dos escravos e dos mestres brancos. Para mim é comovente.

freitas pereira disse...

Creio que se escreve 'anglo-saxonica' . Desculpem por favor.

Anónimo disse...

Caro Rui, não poderia estar em maior discordância com as tuas palavras.
Em 1.º lugar, "yes, we can" e "change that we can believe in", acho que são slogans poderosíssimos e transparentes! Demonstram o verdadeiro objectivo e a razão de ser da candidatura do Sr. Obama (Sr., porque o encaro como O ser humano mais cativante, sincero e genuíno à face da Terra): romper com o "nonsense", o ridículo, o "deixar de brincar com as armas" e com as pessoas, com a política arrogante de "nós somos o Comandante Supremo do mundo" e, por isso, nós decidimos quem merece o nosso apoio e quem não merece, quem é nosso amigo e quem não é.
Que palavras terias para justificar aos milhares de pais/mães dos soldados mortos e dos que ainda lá estão, a razão de ser da Guerra no Iraque e no Afeganistão? Que estão a combater pela paz? Por aqueles povos? Combater pela paz, é apoiar os programas da FAO, da ONU, da UNICEF, da AMI, é combater a pobreza extrema em África, o trabalho infantil na India e na China, é não apoiar com armas governos corruptos, etc. Poderia continuar com mais exemplos, mas penso que não vale a pena.
Por isso, eu digo: "Yes, we can", acreditar que o Sr. Obama irá fazer a diferença, irá romper com a arrogância, a prepotência e o nepotismo. Basta ver o que, apesar das suas palavras: "Tem o curriculum mais minúsculo e irrelevante da história recente de candidatos presidenciais: 4 anos no Senado, zero de actividade legislativa de relevo.", este Homem conseguiu fazer - unir um país tão grande em torno da sua mensagem e do seu projecto, captar a atenção e a concordância do "resto do mundo".
Por isso eu digo, "change that we can believe in", porque quando vejo e ouço o Sr. Obama a discursar, vejo nele uma força interior enorme, uma vontade de fazer algo concreto e em proveito do próximo, uma capacidade de contagiar e cativar todas as pessoas para o seguirem.
Por tudo isto, e já vai longo (as minhas desculpas), viva para o Sr. Obama e viva para as pessoas que acreditaram e acreditam nele (não importa o local onde estejam).
Termino com uma frase maravilhosa do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa: "
Lisboa, 06 Nov (Lusa) - explicou quarta-feira à noite que Barack Obama, além de presidente da América é também presidente do mundo "porque o mundo acha que votou nele".

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Senhor Freitas Pereira:
Lamento, mas não consigo partilhar da sua esperança e emoção. É óbvio que Obama não é responsável por nada de bom ou de mau que aconteceu no mundo nos últimos anos, mas as suas palavras, os seus actos e as suas promessas não me suscitam esperança, mas sim desconfiança e no seu trajecto vejo menos o visionário e mais o oportunista habilidoso. mas tiomara que me engane e que o Senhor esteja certo: era melhor para todos.

P.S.O nome e a cor da pele não deviam ser critérios de voto.
P.P.S. Falando de memória, Ronald Reagan em 1980 e 1984, Nixon em 1972 e George H. Bush em 1988 obtiveram resultados bem mais expressivos no Colégio Eleitoral.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cara Patrícia,
Obrigado por ter deixado o seu comentário no "Tempos Interessantes".
Não concordando com tudo aquilo que escreveu (por exemplo, sobre as Guerras no Afeganistão e no Iraque), cfreio que aquilo que fundamentalmente nos separa é a forma como encaramos Obama: onde eu tenho um grande cepticismo em relação a ele, você tem uma fé imensa e estes são atitudes que não podemos discutir, apenas partilhar. Como é óbvio, preferia que a Patrícia estivesse certa.

Ricardo Lima disse...

Vejo-me obrigado a concordar consigo.

Obama promete uma mudança e certamente representa-a, mas será esta uma mudança para melhor ? Pouco no discurso do candidato tem apontado que sim. O facto de ter recebido o voto em massa da
população americana não legitima as suas propostas, Hitler foi democraticamente eleito. No caso Iraque discordo com as opiniões de alguns dos comentários aqui feitos.É interessante o argumento fulcral anti-americano contra o apoio dos EUA a ditaduras corruptas e violentas. Versões mais extremistas destes ditos até se escandalizam por não existir uma intervenção Norte-americana nesses países. Ora como é que quando um ditador corrupto, genocida e beligerante é deposto os mesmos argumentos se invertem ? Pessoalmente discordo com a invasão. Arrumou do plano de jogo a potência regional que o Iraque do Baas representava, particularmente como contraponto à ascensão do Irão. Destabilizou a região, legitimou os argumentos dos fundamentalistas, desde os radicais islâmicos à pseudo-esquerda europeia e forneceu as condições para um boom de homenzinhos de kalashinikov nas mãos e a pedir um califado. No plano das relações parece brando demais. A via do diálogo é excelente, mas na boca de Obama mais parece vinda de um pacifista cabeludo da geração Flower Power que de um diplomata como Kissinger. Além disso podemos ver no seu gabinete nomes como Hillary Clinton, a quem se atribuem afirmações como “se eu for Presidente, atacaremos o Irão”. No panorama económico tende não só a por em cheque a NAFTA, como também a UE , já que se prevê uma aposta no proteccionismo.
Sem um passado político relevante, a sua atitude “messiânica” e as suas utopias, prevejo que a Casa Branca vai mudar e para bem pior.

Esta é daquelas vezes em que gostaria que os Obamaniacos e não nós, tivessem razão.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Ricardo
Benvindo ao Tempos Interessantes! Este post está a trazer "caras novas" a este Blog :-)
Você concorda comigo e eu concordo consigo. Apenas na invasão do Iraque não estamos em sintonia: o que provocou os side-effects que refere foi a desastrada gestão do pós-guerra.

Anónimo disse...

Caro Rui,

Apesar de tudo creio que será um melhor presidente do que Bush. Só isso, para mim, é já um alívio.

Um abraço.
Bruno Rodrigues