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10 novembro, 2014

Há um Requisito de Imbecilidade para Se Ser Ministro da Economia?



HÁ UM REQUISITO DE IMBECILIDADE PARA SE SER MINISTRO DA ECONOMIA?

Tal como aconteceu certamente com a maioria dos Portugueses, fiquei espantado com a performance do Ministro da Economia, Pires de Lima, na Assembleia da República. Uma longa e agonizante palhaçada, de fazer corar os antigos bobos da corte, tudo com o objectivo de entalar politicamente o líder do Partido Socialista.



Isto de ser engraçado é para quem pode, não para quem quer. Pires de Lima, enxovalhou-se (problema dele), enxovalhou o Governo (se tal ainda é possível) e enxovalhou o Parlamento. Consequentemente, envergonhou os Portugueses com uma cena que, mesmo protagonizada num café por um qualquer cidadão mais ébrio, seria sempre olhada com reprovação.



Se nos lembrarmos de Lima e dos seus dois antecessores na pasta da Economia, poderemos pensar se a imbecilidade, a patetice e o disparate se transformaram em requisito de admissão para o cargo de Ministro da Economia.

Neste plano, ganha destaque o número bovino dos cornos de Manuel Pinho em pleno Parlamento. Mais gráfico, a figura indecente valeu-lhe a guia de marcha para fora do Governo. Continua a fazer/dizer disparates, mas é por sua conta e risco.


Álvaro Pereira é um caso menos óbvio, embora também tenha a sua quota de calinadas. A maior de todas, porém, foi a figura do convencido que veio do estrangeiro (Canadá) para ensinar os pacóvios cá do sítio como as coisas se fazem. Também sairia pela porta do cavalo, não sem antes ter aplicado a sua dose de extorsão aos Portugueses.

Pires de Lima, contudo, não sai. Não se demite e não é demitido. Passos Coelho não demite ninguém. Mesmo o inenarrável Relvas quase precisou de uma reforma constitucional para poder ir embora. Senão vejamos:

A Ministra da Justiça preside ao maior colapso do sistema judiciário de que há memória e Coelho não a demite.

O Ministro da Educação, Nuno Crato, protagoniza o mais caótico e absurdo início de ano escolar em décadas com prejuízos imensos para professores e alunos e Coelho não o demite.

O Ministro da Economia, Pires de Lima, limitou-se a fazer e dizer umas imbecilidades no Parlamento, porque havia Coelho de o demitir?

Uma nota final para o conteúdo (?) político da momice de Lima. Que Ministro é este que confessa que teve de resistir à tremenda tentação de aumentar impostos? É isso que ele gosta de fazer? É um vício como comer chocolates? E que moral tem um ministro de um governo que aumenta impostos há 4 anos consecutivos, protagonizando no somatório um AUMENTO DE IMPOSTOS DE PROPORÇÕES ÉPICAS, para se gabar de não ter aumentado umas taxas, como se nos tivesse a fazer um favor, e para instar outros (os autarcas) a não o fazer?

Não tem um pingo de vergonha. E, na melhor das hipóteses, comportou-se como um imbecil. Na pior, é mesmo um imbecil.

09 março, 2014

Quem Tem Medo da Polícia?

QUEM TEM MEDO DA POLÍCIA?


Manifestação dos polícias junto ao Parlamento.
in “O António Maria” em o-antonio-maria.blogspot.com


Quem tem medo da polícia?

Antes de mais, o Governo.

1- Na manifestação dos polícias em Novembro, o Governo ficou surpreendido e abalado. E disse que tal (invasão da escadaria do Parlamento) nunca mais aconteceria. Consequências foram poucas e estranhas: o Comandante Nacional da PSP foi demitido e colocado num cargo em Paris auferindo um vencimento 3 vezes superior ao anterior!!! Assim também queria ser castigado.

2- Recentemente, o Governo anunciou melhorias nas remunerações dos polícias, concretamente um aumento substancial do subsídio de fardamento. Não questiono a justiça da medida, mas confrontada com o tratamento a que continuam a estar sujeitos os restantes funcionários públicos, interrogo-me se esta medida tão direccionada não estará relacionada com armas e escadarias.

3- Para a manifestação de ontem foram mobilizados mais de 1000 polícias, cerca do dobro dos utilizados num Benfica-Porto, com enormes contingentes dos corpos de choque/intervenção da PSP e da GNR. Não obstante, os cerca de 20.000 manifestantes conseguiram subir metade da escadaria da Assembleia da República. Um progresso de 50% dirá o Governo. Um falhanço da tal garantia, digo eu.


Quem tem medo da polícia?

A Polícia.

Vendo a atitude complacente, contemporizadora, até cúmplice, da polícia perante os polícias em ambas as manifestações, poder-se-ia pensar que aquela tem medo daqueles, embora o inverso não pareça ser verdadeiro. Não duvido que deve custar arriar nos colegas e ainda mais nos amigos, mas a realidade é que se anteontem a manifestação fosse dos trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo, do “Que Se Lixe a Troika”, ou de professores, teriam sido todos corridos à bastonada. Duas manifestações ofereceram disso abundante prova.


Quem tem medo da polícia?

Os Cidadãos?

Constatando que o Governo tem medo da polícia e que a polícia tem medo dos polícias, o que devem sentir os cidadãos portugueses em relação à polícia? Medo? Pavor? Receio? Indiferença? Respeito? Afecto? Talvez um certo desconforto… Afinal os cidadãos constatam, mais uma vez, que o Governo é frágil com alguns e que a polícia não é severa com todos. George Orwell volta a assombrar-nos: “somos todos iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.”


Seja o que for, ninguém saiu bem na fotografia de anteontem: Governo desrespeitado, polícia passiva, polícias infractores, todos eles a fingir que tudo correu bem e na maior normalidade enquanto os outros, quase todos nós, continuam sem ter direito às deferências policiais e a estar sujeitos às sevícias governamentais.

Mísera sorte, estranha condição….



P.S. Anteontem ouvi dois comentadores na Antena 1, Luís Delgado e Raúl Vaz a afirmar que os polícias merecem toda a atenção e cuidados, que as suas reivindicações deviam ser escutadas e que os polícias tinham progredido muito nos últimos anos: têm mais estudos e formação, são mais educados, polidos e cordatos e que era preciso ter cautela com os polícias. Para além da ameaça velada, ficam as perguntas: são só os polícias que progrediram em formação e educação em relação a um passado recente? Os outros funcionários públicos não o fizerem também? Não notam grandes diferenças no atendimento nas repartições públicas? E os restantes Portugueses não progrediram da mesma forma? Não há muita gente qualificada desempregada ou miseravelmente remunerada? Os polícias são mais vítimas do que os outros?


Está visto que, com os paninhos quentes com que estas manifestações e reivindicações estão a ser tratadas, os polícias vão ter aumentos a breve prazo. Just wait and see….

26 novembro, 2013

Soares, a Violência e o Direito

SOARES, A VIOLÊNCIA E O DIREITO

 
Aqueles que me conhecem sabem que não gosto de Mário Soares. Nunca gostei. Foi um mau Primeiro-Ministro, foi um Presidente da República sectário (partidariamente falando), é vaidoso, é vingativo e politicamente é pouco fiável: socialista, esquerdista, foi dos primeiros a “meter o socialismo na gaveta”. Com a mesma destreza com o que meteu na gaveta, foi lá buscá-lo já neste século, quando a saída dos cargos e o soprar dos ventos lho aconselharam. Se se pode aceitar que, como Soares disse auto-justificando-se, que “só os burros é que não mudam”, não é menos verdade que só os chico-espertos e oportunistas é que mudam ao sabor das circunstâncias e conveniências.


Posto isto, considerar a intervenção de Soares na Aula Magna como um incentivo e um apelo à violência fica algures entre o ridículo e a imbecilidade. Dizer isso é mais um exercício daquela política pequenina e mesquinha em que os actores se agarram como náufragos a uma frase, a uma expressão do opositor e lhe atribuem os mais nefandos desígnios a partir das interpretações mais convenientes, tentando derrotar ou ridicularizar o opositor.


Um colega e amigo meu, o Sérgio Lira, há dois anos que diz e escreve que as políticas cegas e injustas do Governo empurram largos segmentos da população para situações de desespero e necessidade que as levarão (ou poderão levar) à revolta violenta. Eu sou mais céptico, mas não excluo a possibilidade. Contudo, nem eu, nem o Sérgio, nem outro que conheço andamos a distribuir panfletos pela vizinhança a organizar o saque de edifícios públicos, ou a planear o espancamento de alguns dos facínoras que tomaram o poder no país.


Fazer uma previsão, ou uma educated guess, não significa de todo um incitamento à violência. Se assim fosse, algumas das minhas análises e previsões no âmbito da Geopolítica já me tinham levado a Haia, ao Tribunal Internacional de Justiça.


O que move Soares não é a agitação das massas no sentido da violência. O que o move é:


* A ideologia socialista que ele desengavetou.

* Uma genuína repulsa pelas políticas que vêm sendo implementadas (naturalmente já se olvidou do que fez entre 1983 e 1985).

* A oportunidade de protagonismo e liderança que as circunstâncias lhe proporcionam.

* O seu ódio pessoal e político por Cavaco Silva, que o derrotou/esmagou duas vezes nas urnas (1985 e 2006) e outras duas ao PS sem Soares (1987 e 1991).

* Retocar a sua imagem e o seu lugar na história. Afinal, as últimas imagens são frequentemente as que ficam….


O que Soares disse na Aula Magna foi uma mera previsão em jeito de aviso, como vários outros fizeram antes e nem sequer é algo disparatado ou destituído de sentido. Dizer que ele apelou à violência é o mesmo que afirmar que ao exigir a demissão do Presidente da República e do Governo estava a apelar à realização de um golpe de estado. O que mais se diga são contorcionismos de apparatchiks, demasiados ocupados com a violência, essa sim real e dolorosa, que exercem sobre os Portugueses.

 
 

P.S. Os protestos de virgens ofendidas que alguns políticos e governantes fizeram a propósito do protótipo de invasão da Assembleia da República por polícias manifestantes e a ameaça gravíssima que tal constituiria para o Estado de Direito, é risível. Há muito tempo que só com muita boa vontade e uma valente dose de ingenuidade é que se pode designar o Estado Português, que atropela os direitos, estilhaça as legítimas expectativas e extorque os cidadãos, como sendo de direito. Vindo o clamor quem elevou o atropelo, o desrespeito e o confisco dos Portugueses ao nível de prioridade governativa, dá mesmo vontade de ser violento!

 
 

Post relacionado »»» Violência e Violência, publicado em 15/11/2012 em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/11/violencia-e-violencia.html

21 junho, 2011

KO ao 2º Assalto

KO AO 2º ASSALTO


 
Dois rápidos assaltos foi quanto durou a candidatura efectiva de Fernando Nobre ao cargo de Presidente da Assembleia da República (PAR).

Fernando Nobre, a mais desastrada indicação de um cidadão para PAR em 36 anos, foi abatido pela conjugação da coerência do CDS com a revanche da esquerda, que não lhe perdoou o seu oportunista e interesseiro volte-face político-ideológico.
Finalmente, o coup de grace foi desferido por 3 incógnitos deputados do PSD que recuperaram a máxima milenar de que “Roma não paga a traidores”!

P.S. A obcessão pela novidade não é boa conselheira. Pedro Passos Coelho fez questão fechada de colocar um independente (?) como PAR, como se tal fosse uma prioridade nacional, ou tivesse mesmo alguma relevância política. Como alternativa, fez eleger a primeira mulher a ocupar o cargo de PAR. Nada contra o facto, apenas me desagrada a sensação de se querer fazer diferente, simplesmente por isso, por ser a primeira vez. Ainda bem que não há marcianos no Grupo Parlamentar do PSD…

16 março, 2010

A Rolha Laranja e o Oportunismo Rosa

A ROLHA LARANJA E
O OPORTUNISMO ROSA

Na IX Legislatura debateu-se na Assembleia da República legislação que, de forma simplificada, visava impedir o PCP de realizar votações de braço no ar, com o pretexto de que tal violava a liberdade dos militantes porque, obviamente, condiciona na hora de votar. Tive oportunidade de me manifestar contra essa proposta em sede do Grupo Parlamentar do PSD por entender que não se trata de um condicionamento indevido porque não era uma prática ilegal, mas principalmente, porque a adesão ao PCP é voluntária e os militantes que discordem das regras internas podem sair do partido a todo o momento.

Agora debate-se a dita Lei da Rolha no PSD, aprovada no Congresso de Mafra e destinada a conter a manifestação pública de dissensões internas em períodos eleitorais. Discordo desta proposta porque a unidade partidária e a comunhão de interesses e propósitos não se decreta. Ou se tem, ou não se tem. Além disso, mergulhou a questão da liberdade de expressão no PSD (questão ridícula pois é um partido onde toda a gente diz o que bem quer e lhe apetece e muitos ainda têm palco para o dizer) na agenda mediático-política, deixando para segundo plano a questão da eleição interna e da crise económica do país.

Este episódio abriu a porta para algumas alarvidades do PS. Primeiro foi Vitalino Canas, cujo tema político favorito é a vida interna do PSD, a falar em stalinismo no PSD (se a estupidez pagasse imposto….). Depois foi Francisco Assis a proclamar que ia levar a questão a plenário da AR e ao Tribunal Constitucional (e talvez ao Conselho de Segurança). O oportunismo é evidente: com a economia portuguesa comatosa e o PS ao leme, qualquer coisa serve para desviar as atenções. Agora, tentar credibilizar o ridículo elevando-o à (suposta) nobreza do debate parlamentar ultrapassa os limites da decência política e institucional e revela um estado de desespero no PS maior do que se supunha. Depois ficam surpreendidos com o descrédito em que mergulhou o Parlamento.


P.S. Uma nota final para Pedro Passos Coelho: absteve-se na votação desta norma no Congresso. Agora é o seu principal detractor. Fica-lhe mal. Quem tenta sempre cavalgar a espuma mediática pode acabar enrolado na areia.

14 junho, 2006

Insulto Gratuito

INSULTO GRATUITO

As generalizações podem ser perigosas e injustas. Esta é, além do mais, grosseira pelo conteúdo e surpreendente pela origem.
 
Em entrevista ao Diário de Notícias de 07/06/06, Maria Filomena Mónica declara que “Os Deputados são preguiçosos, incultos e eleitos de forma errada.”
 
Curiosamente, compara os actuais deputados e sistema eleitoral com os do século XIX, preferindo estes. Não sou um expert como Maria Filomena Mónica (MFM), mas sei que muita da actividade parlamentar oitocentista se pautava por uma retórica gongórica inconsequente e que muitos dos círculos uninominais eram controlados por caciques locais.
 
Quanto às acusações aos Deputados actuais, revelam ignorância, má fé, má educação e arrogância. Fui Deputado durante 3 anos, mas em relação à qualidade dos Deputados, limitei-me a confirmar o que já pensava: como em todos os meios sócio-profissionais, há os bons, os médios e os medíocres. Há Deputados cultos, competentes, empenhados e esforçados e que fazem o melhor que o sistema político-partidário lhes permite. É lamentável que uma investigadora e universitária, alinhe no coro populista e demagógico que desqualifica a praxis política e os seus agentes, como se estes fossem uma selecção dos piores.
 
No que respeita o sistema eleitoral, parece partilhar da ingenuidade de acreditar na panaceia dos círculos uninominais. Como se tal impedisse a escolha dos candidatos pelas máquinas partidárias (ou pelos caciques locais) e como se esses deputados, com os poderes que, individualmente, detêm, pudessem decidir, fazer, ou executar promessas eleitorais referentes ao seu círculo eleitoral.
 
O sistema precisa de alterações e melhorias, mas as ideias sobre as quais se possa fazer uma boa reforma não irão, concerteza, surgir da ignorância, da arrogância, ou do insulto gratuito.

04 maio, 2006

A Assembleia da República e os Deputados

A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E OS DEPUTADOS

 
A problemática da Assembleia da República e da falta de quórum para as votações da semana de Páscoa foi o grande tema político das últimas semanas.

Como é habitual nestas situações, os media fizeram uma abordagem massacrante e enviesada do problema e as lideranças parlamentares encetaram a típica fuga para a frente. Os primeiros porque lhes cheirou a sangue e porque gostam de se apresentar como os moralistas da sociedade e os segundos porque são reféns dos primeiros e lhes falta coragem política para assumir o que deve ser feito em vez de reagir às pressões dos mass media.

Como diria o outro, eu sei do que estou a falar: Been there, done that. Vamos por pontos.

1- Os Deputados são eleitos pelos Portugueses e são responsáveis perante eles. Têm a dignidade de pertencerem a um órgão de soberania, respondem perante os eleitores e não são funcionários que tenham de picar o ponto e trabalhar das 9.00 às 17.00h. Têm autonomia política e funcional, garantida pela Constituição e pelo Regimento da AR.
2- Não obstante, os Deputados têm deveres estatutários, que passam, fundamentalmente, pelo cumprimento das funções para que foram eleitos. Isso pode ser realizado de várias maneiras, mas implica a presença/participação nos momentos nobres da vida parlamentar, maxime, as votações. A estes acrescem deveres funcionais, que decorrem do facto de os Deputados serem eleitos em listas partidárias que implicam um conjunto de compromissos perante o grupo parlamentar a que pertencem.
3- Posto isto, importa clarificar alguns aspectos: o Parlamento funciona mal e o problema não é o excesso de deputados (que não existe), nem as tradições parlamentares, muitas das quais são inócuas e não ferem o bom desempenho das funções de Deputado. Sem ser exaustivo, aponto quatro aspectos.
4- A desvalorização do Parlamento: de certa forma inevitável dada a complexidade técnica de muita actividade legislativa, o que ajudou a transpor grande parte desta responsabilidade para o Governo, poderia/deveria ser atenuada se: o Parlamento se munisse das assessorias técnicas necessárias (em quantidade e qualidade) que permitissem aos deputados fazer um acompanhamento qualificado da maioria dos assuntos; se os Deputados/Grupos Parlamentares tivessem a capacidade e coragem para recuperar alguma autonomia funcional, deixando de ser uma simples correia de transmissão das lideranças partidárias.
5- A dignificação dos Deputados: o Deputado não é reconhecido publicamente com a importância política e protocolar que o Protocolo de Estado lhe atribui. Dizer-se que o protocolo é irrelevante é falso. O protocolo tem regras e reflecte um estatuto e uma importância. Ninguém aceitaria que o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro fossem a uma cerimónia pública e, lá chegados, lhes arranjassem uma cadeira na terceira fila com um pouco de favor. No entanto, toda a gente acha normal que os Deputados sejam preteridos por Governadores Civis havendo membros do Governo presentes, ou por directores-gerais e directores de institutos públicos. Enquanto que o Parlamento não fizer valer o estatuto dos Deputados, a nação dificilmente lhes terá respeito.
6- A disfuncionalidade do Parlamento: o acento tónico em plenários intermináveis e maçadores sobre temas que poucos entendem e a menos interessam são factores de desvalorização do espaço nobre que devia ser a sessão plenária e de desmobilização do deputado que sente que a sua presença é uma inutilidade. A intensificação do trabalho das Comissões e uma maior selectividade dos assuntos e da duração dos plenários, prestigiaria todos e evitaria o cenário confrangedor das bancadas vazias; mesmo que muitos estejam a ser mais úteis trabalhando no recato dos seus gabinetes, a imagem pública da sala das sessões semi-desertas é devastadora.
7- A dependência dos media: a maioria dos media e dos jornalistas, adopta perante a política e os políticos uma postura de superioridade moral que é sublinhada pelos “sermões” e “correctivos” que gostam de aplicar a quem exerce a actividade política em muito ultrapassando a mera função de informar. Esta atitude condiciona irreversivelmente a opinião pública e lança sobre o conjunto dos Deputados um manto de suspeição que poderá ser bem aplicado a alguns, mas não o é a todos. A culpa disto é repartida: de um lado temos muitos Deputados que vivem da proximidade (quase promiscuidade) com os jornalistas e que subordinam tudo o que pensam, fazem e dizem ao efeito positivo que pensam que tal poderá ter junto dos media; do outro, temos muitos jornalistas que percorrem os corredores à procura da intriga, da maledicência, da fofoca, que lhes valha uma primeira página no dia seguinte. Esta é uma actividade que interessa às duas partes e, como sempre, quer entre os Deputados, quer entre os jornalistas, pagam os justos pelos pecadores. A actividade política não pode prescindir dos media, mas deles depender é um dos factores geradores do politicamente correcto e do pensamento único, castrador da inovação, da criatividade, da alternativa, da coragem.

A mudança (no sentido positivo) da imagem que os Portugueses têm do Parlamento e dos Deputados é uma tarefa ciclópica, mas não impossível. Não acredito que seja realizável por quem lá está há muitos anos e que já se acomodou ao sistema, ou pior, que vive dele.

Sendo um adepto convicto do parlamentarismo que, combinado com a participação directa, é a forma mais perfeita de Democracia, estou convicto de que a regeneração do sistema político português terá de passar necessariamente pela Assembleia da República e pelos Senhores Deputados, legítimos representantes eleitos do Povo Português. No entanto, na actual conjuntura político-partidária, tal não passa de uma quimera.