QUEM
TEM MEDO DA POLÍCIA?
Quem tem medo da polícia?
Antes de mais, o Governo.
1- Na manifestação dos polícias em Novembro, o Governo
ficou surpreendido e abalado. E disse que tal (invasão da escadaria do
Parlamento) nunca mais aconteceria. Consequências foram poucas e estranhas: o
Comandante Nacional da PSP foi demitido e colocado num cargo em Paris auferindo
um vencimento 3 vezes superior ao anterior!!! Assim também queria ser
castigado.
2- Recentemente, o
Governo anunciou melhorias nas remunerações dos polícias, concretamente um aumento substancial do subsídio de
fardamento. Não questiono a justiça da medida, mas confrontada com o
tratamento a que continuam a estar sujeitos os restantes funcionários públicos,
interrogo-me se esta medida tão
direccionada não estará relacionada com armas e escadarias.
3- Para a manifestação de ontem foram mobilizados mais de
1000 polícias, cerca do dobro dos utilizados num Benfica-Porto, com enormes
contingentes dos corpos de choque/intervenção da PSP e da GNR. Não obstante, os
cerca de 20.000 manifestantes conseguiram subir metade da escadaria da Assembleia
da República. Um progresso de 50% dirá o
Governo. Um falhanço da tal garantia, digo eu.
Quem tem medo da polícia?
A Polícia.
Vendo a atitude complacente, contemporizadora, até cúmplice, da polícia perante os polícias em ambas as manifestações, poder-se-ia pensar que aquela tem medo daqueles, embora o inverso não pareça ser verdadeiro. Não duvido que deve custar arriar nos colegas e ainda mais nos amigos, mas a realidade é que se anteontem a manifestação fosse dos trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo, do “Que Se Lixe a Troika”, ou de professores, teriam sido todos corridos à bastonada. Duas manifestações ofereceram disso abundante prova.
Quem tem medo da polícia?
Os Cidadãos?
Constatando que o Governo tem medo da polícia e que a polícia
tem medo dos polícias, o que devem sentir os cidadãos portugueses em relação à
polícia? Medo? Pavor? Receio? Indiferença? Respeito? Afecto?
Talvez um certo desconforto… Afinal os
cidadãos constatam, mais uma vez, que o Governo é frágil com alguns e que a
polícia não é severa com todos. George Orwell volta a assombrar-nos: “somos todos iguais, mas uns são mais iguais do que
os outros.”
Seja o que for, ninguém saiu bem na fotografia de
anteontem: Governo desrespeitado,
polícia passiva, polícias infractores, todos eles a fingir que tudo correu bem
e na maior normalidade enquanto os
outros, quase todos nós, continuam sem ter direito às deferências policiais e a
estar sujeitos às sevícias governamentais.
Mísera sorte, estranha
condição….
P.S. Anteontem ouvi dois comentadores na Antena 1, Luís
Delgado e Raúl Vaz a afirmar que os polícias merecem toda a atenção e cuidados,
que as suas reivindicações deviam ser escutadas e que os polícias tinham
progredido muito nos últimos anos: têm mais estudos e formação, são mais educados,
polidos e cordatos e que era preciso ter cautela com os polícias. Para além da
ameaça velada, ficam as perguntas: são só os polícias que progrediram em
formação e educação em relação a um passado recente? Os outros funcionários
públicos não o fizerem também? Não notam grandes diferenças no atendimento nas
repartições públicas? E os restantes Portugueses não progrediram da mesma
forma? Não há muita gente qualificada desempregada ou miseravelmente
remunerada? Os polícias são mais vítimas do que os outros?
Está visto que, com os paninhos quentes com que estas
manifestações e reivindicações estão a ser tratadas, os polícias vão ter
aumentos a breve prazo. Just wait and see….
4 comentários:
Pois é: para o ministro do "isto nunca voltará a repetir-se" foi um semi-fiasco... os polícias manifestantes fizeram ponto de honra de não parar nas barreiras; o polícias em funções fizeram ponto de honra de não deixar subir a escadaria toda. Faz-me lembrar aquele ayatollah que advogava (nos Idus dos anos 1980's) uma semi-renúncia durante um certo semi-sagrado período do ano, em que não se podia meter tudo, mas apenas o primeiro terço, (mais ou menos até ao final do prepúcio) - mais que isso seria pecado.
A coisa só vai mesmo feder quando o exército resolver agir. Como sempre em Portugal nos últimos (?) dois séculos, ou coisa que o valha... desde a Maria da Fonte que não há uma revolução verdadeiramente popular, mas sim golpes de estado militares.
Não deixam de ser curiosos alguns comentários que ouvi relativos ao acontecimento, os quais deixavam transparecer um certo desalento pela contenção dos manifestantes em não terem dado "ao corpo ao manifesto"; que "isto já só lá vai à bomba!", etc. É curioso como os outros podiam e deviam ter feito isto e aquilo. Perguntei a algumas delas: mas então e nós? Fizemos o quê? Porque não nos juntamos às contestações, já que o descontentamento é geral? É tipicamenre português esperar que os outros lutem por nós para depois nos passearmos e associarmos ao resultado, se for positivo; se for negativo, não sei, não conheço, nunca fiz parte. Se uníssemos esforços, se fôssemos solidários, talvez o governo temesse e respeitasse o povo. Acredito que a maior força da democracia está em responsabilizar e depor quem enganou com promessas eleitorais. Com manifestações "espartilhadas" pode o governo. Já a mobilização geral era outra história! Tem razão o Professor Lira ao afirmar que se o exército resolver intervir, a coisa "pia mais fino". E que caladinhos eles andam!
Que continue a procissão!
Sérgio,
Já não há ânimo, nem polícia, nem exército que enfrente esta gentalha. E se houver, convém passá-los a fio de espada, antes que venham os Alemães e outros e os reponham no poleiro.
Tem toda a razão Estella. Quando se deu a mega-manif de 15 de Setembro de 2012, o Governo abanou e cedeu.
O problema é que as manifs cansam e desgastam e o Coelho não se farta. Ele vai manter-se agarrado ao poder até ao limite. Isso ficou bem claro no Verão de 2013.
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