MUITO ALÉM DA TROIKA
Houve quem ficasse
chocado ou surpreendido por Passos Coelho ter declarado na semana passada no
Parlamento que havia cortes nos salários e nas pensões que eram definitivos. Eu
não fiquei. Era óbvio para mim, à medida que os cortes eram prolongados e
agravados, que Passos Coelho nunca teve qualquer intenção de reverter os
cortes, ou pelo menos a maioria deles.
Lembram-se de Passos
Coelho dizer, nos idos de 2011, que iria muito além da Troika? Não era uma
bravata, ou uma injecção de moral. Na verdade ele quis dizer o que disse. E
fê-lo. Para Coelho, os seus mentores e os seus sequazes, a crise financeira do
Estado português, o Memorando de Entendimento, a Troika foram uma bênção. Ele não pode
dizê-lo, mas mostra-o com regularidade. Quando ele disse que a crise
representava uma oportunidade, era a isto que se referia.
As finanças públicas
são um objectivo, mas são, principalmente um meio, ou pretexto, para atingir
outros objectivos. De forma resumida:
* Desvalorizar de
forma brutal o factor trabalho e, consequentemente, as pessoas.
* Colocar as
empresas e a banca, em vez das pessoas como referência da actividade
governativa.
A substituição das
pessoas pelas empresas, como o factor nuclear da política governativa, marca
uma mudança de paradigma e está a encaminhar-nos rapidamente para um Portugal
diferente. Os sinais são
sintomáticos.
O IRS atinge níveis
estratosféricos, os funcionários públicos são espremidos até ao tutano, as
contribuições para os sistemas de saúde aumentam exponencialmente, os horários
de trabalho aumentam, as férias e feriados diminuem e os despedimentos em breve
serão tão fáceis como tirar um café ou uma imperial. Mesmo o discurso oficial,
especialmente o de Coelho, manifesta indiferença pelo empobrecimento quase
generalizado.
Do outro lado da
balança, desce o IRC, crescem as facilidades para despedir, mantém-se os
privilégios de empresas, bancos, seguradoras, escritórios de advogados e
consultorias, nomeadamente nas áreas da energia, das rodovias e da água. As
empresas estão à frente de tudo e de todos, excepto dos credores estrangeiros,
é claro.
Quando Coelho terminar
o trabalhinho muito além da Troika, o
que será Portugal?
Será um país povoado
de reformados e pensionistas indigentes, espoliados do retorno legítimo dos descontos de décadas.
Será um país de
funcionários públicos empobrecidos e achincalhados, autênticos bombos de festa
da crise, tratados como se
fossem sanguessugas e parasitas a viver à custa do Estado.
Será um país com
menos jovens e menos gente qualificada, expulsa por governantes que não os
merecem.
Será um país com um
mar de desempregados, muitos deles sem
remissão.
Será um país com
menos qualidade na educação e na saúde, logo um país com menos futuro.
Será, enfim, um país
com menos futuro e com um futuro pior, coutada de alguns e purgatório da
maioria. O Portugal muito além da Troika de Passos Coelho, será uma reminiscência
do tempo da Revolução Industrial: capitalismo sem freio, alimentado por uma
mão-de-obra barata, explorada, sacrificada e pobre.
2 comentários:
NÃO!!! não, se nós não deixarmos. Como dizia Pacheco Pereira há dias, esse projecto não se faz em 4 anos (embora já tenham feito demais, ainda é reversível em muitos aspectos; embora haja já pessoas irremediavelmente sofridas, ainda há resgate possível da sua dignidade) esse projecto faz-se (como quer o PR) em 20 nos. Mas 20 anos são incompatíveis com a democracia - seriam precisos 10 anos de reorganização e 10 anos de engrandecimento (cito Salazar de memória, em 1936) só que o plano destes crápulas só inclui o "ajustezinho" não inclui engrandecimento (a não ser de alguns bolsos, de alguns canalhas); 20 anos implicam uma ditadura, e uma ditadura feroz.
Poderá ser tentada sob um forma encapotada (a ditadura da dívida, contra a qual se insurgem 70, ou 70.000....... ou a ditadura do desemprego, ou outras formas soezes de domínio das pessoas) mas pode também ser tentada sob a forma explícita de supressão da democracia: votações são luxos a que não nos podemos dar, não há dinheiro para isso.
Num caso, como no outro, há bons remédios: desde pegar nestes crápulas pelos fundilhos das calças e correr com eles em eleições democráticas, até corre-los a pontapé físico no traseiro, ou, se a esse extermo chegarmos e se a via democrática nos for sonegada, a tiro na testa, à foicinha nos cornos, à paulada. Uma coisa, para mim pelo menos, é certa - Portugal, a Nação portuguesa, não suportará 20 anos desta gentalha a sugar-lhe a Vida; a Nação é maior, mais longa e mais profunda que esta récua de escroques.
Deus te ouça Sérgio, mas não está fácil. O dano é muito e a revolta parece ir dando lugar à resignação. Eles usam e vão usar a dívida pública e as responsabilidades com o exterior como canga para submeter as gentes e contam com a maioria das ditas élites para vender esta pulhice como uma inevitabilidade. O quadro está negro...
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