07 março, 2007

O Regresso de Paulo Portas

O REGRESSO DE PAULO

Sem querer dar uma componente bíblica ao Blog e, muito menos, à política em Portugal, o certo é que, uns meses depois de aqui publicar o post “O Regresso de Pedro”, avanço hoje para “O Regresso de Paulo”. Se aquele era Santana, este é Portas.

Paulo Portas deixou “correr” a primeira metade de uma longa legislatura, politicamente desertificada por uma total ausência de eleições entre Janeiro de 2006 e Outubro de 2009 e pela existência de uma maioria absoluta mono-color no Parlamento.

Verificou há muito que as oposições, especialmente a Laranja e a Azul, têm lideranças e estilos pouco carismáticos (diria mesmo anti-carismáticos), pouco combativos, pouco propositivos, incapazes de arrebatarem ou mobilizarem os fiéis e, muito menos, os neutros.

Como diz o anúncio, “Uns têm, outros não!” e Paulo Portas tem todos estes ingredientes: capacidade de liderança, carisma, combatividade, criatividade, capacidade para detectar temas/propostas que tocam o eleitorado, é mobilizador e gera lealdades que resistem ao desgaste do tempo e das agruras de uma longa caminhada política.

Paulo Portas vê Ribeiro e Castro e Marques Mendes perdidos no deserto e percebe que tem uma oportunidade de ouro de chegar ao oásis sem concorrência no lado direito do eleitorado, maximizando as virtudes próprias e as carências alheias. Por isso tem pressa. As janelas de oportunidade não costumam estar abertas muito tempo. Afastando os obstáculo internos até à Páscoa e apostando que o PSD continuará na “apagada e vil tristeza” até meados de 2008, Portas tem 12 a 18 meses para fazer um solo de oposição, mostrando ao acabrunhado Portugal uma cena política-parlamentar-mediática protagonizada por Sócrates e ele próprio.

Para um CDS que teve 7% em 2005, este cenário pode ser um bónus eleitoral sem precedentes recentes. Para o PSD, que teve 28% em 2005 e daí não parece conseguir sair, isto pode anunciar o prolongamento da letargia que o conduz de forma lentamente para a irrelevância a médio prazo.

Tudo isto não significa que Portas esteja prestes a iniciar uma marcha triunfal: o caminho que tem pela frente é duro e difícil, desde logo porque parte com o handicap da (pequena) dimensão do CDS a que se soma o da infinita capacidade de perdão do eleitorado português e a atracção fatal do voto útil.

Agora que o timing do regresso de Paulo Portas parece asado e criteriosamente escolhido, isso parece. Finalmente, está provado que é um erro subestimar o animal político que é Paulo Portas. Quem o fizer, arrisca-se a ter uma má surpresa.
 

14 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

Tambem creio que não podemos subestimar Portas, e Marques Mendes, seguramente, não deve ir por aí...

Concorde-se ou não com as bandeiras, é dos mais brilhantes políticos portugueses, na actualidade.

Tomara eu que muitos dos cinzentões que se perpetuam nos lugares em listas do PSD aprendessem qualquer coisinha...

Luis Cirilo disse...

Amen Rui e Gonçalo !
Estamos todos de acordo quanto ao perigo que Portas pode representar para o PSD.
E se digo pode é porque o regresso encerra alguns riscos:
desde logo o ter-se enredado num "...ou directas ou nada.." correndo o risco de ser nada mesmo.
no psd já houve quem,em tempos,quisesse ir por aí e depois teve de recuar.em segundo lugar não sei como o cds profundo vai reagir a um regresso apos relativamente pouco tempo de ausencia.
Convém nao esquecer que o congresso do CDS tem tantos delegados e inerencias que as vezes desconfio que vão...todos !
em terceiro lugar não sei até que ponto a vitimização que ribeiro e castro ja esta a ensaiar pode vir a dar resultado.afinal portas saiu da liderança,depois de uma derrota,apenas e só porque quis.
e ribeiro e castro é que teve de ficar com a criancinha nos braços.
finalmente,e nao discutindo sequer a questão de que em termos parlamentares portas vai bipolarizar com sócrates,não sei como o país vai reagir a este regresso.
afinal que tem portas de novo para propôr a Portugal ?

João Pulido disse...

É preciso uma oposição forte a este governo… não é preciso oposição à oposição!

Não quero com isto dizer que o “regresso” de Paulo Portas não é de saudar, pretendo apenas salientar que há maneiras de o fazer!

Na minha opinião, o espectro político português estava circunscrito ao Eng. (Técnico) Pinto de Sousa, leia-se José Sócrates, e a Francisco Louçã. Poderíamos, de quando em vez, incluir também Jerónimo de Sousa…

À direita dos socialistas encontramos “partidos”, leia-se “quebrados”, sem constituírem alternativa credível e viável, nem sequer com lideranças fortes!

A ideia de Paulo Portas (re)assumir um lugar de destaque no quotidiano político será de louvar para quem (como eu) pretenda que haja quem faça frente a José Sócrates e seus “súbditos”. No entanto, tenho que dizer que não concordo com a maneira como a “oposição interna” se posicionou… incluindo Paulo Portas!

As “guerras” de uns e de outros, Ribeiro e Castro VS. Bancada Parlamentar, em NADA contribuíram para chamar a atenção do que estava mal… e não foram assim tão poucas as coisas por “onde pegar”…

Olhando para traz, o que nos lembramos do CDS/PP nestes 2 últimos anos foram “tricas” internas… ou, quando muito, na Câmara de Lisboa “contra” o PSD!!! Ele era o Nuno Melo, o Pires de Lima, o João Almeida, o Telmo Correia, o Nuno Magalhães… o Paulo Portas… a “fazerem a folha” ao líder partidário. E quando há um congresso o que acontece… só o João Almeida “dá a cara”! os outros não estão para “se queimar”… mas continuam com as quezílias!!!

Agora, at last, há alguém que pretende disputar a liderança… mas não era o timing estatutário! Será que esta pressão para voltar, e sem ter o Partido de “mão beijada” (pois Ribeiro e Castro vai vender cara a derrota) é boa para recolocar o CDS nos “trilhos”? …a ver vamos!!!

Gostava ainda de salientar que o CDS/PP sempre viveu “à custa” do seu líder! Apenas com um líder forte, com um discurso forte e atraente conseguiu ter expressão! O CDS é um partido peculiar, não tem “as bases” dos outros, não tem sempre aquela votação mínima… vai variando dependendo do líder que tem, correndo até a risco de desaparecer se o discurso “não passar”!

Duas últimas palavras, em jeito de perguntas retóricas (ou de resposta neste blog):

1- As sondagens que proliferam pelos media, será que são encomendadas pelas mesmas pessoas e com os mesmos fins que aquela, dias antes das presidenciais, que dava Mário Soares na 2ª volta, “anos luz” à frente de Manuel Alegre?
2- Será que o PSD vai “ a reboque” do CDS e muda também de líder?


P.S. – desculpem tantas aspas, já tenho tendência para as usar, mas quando acabei de escrever este post… achei que eram demais, mas já estava!!!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Gonçalo: Concordo plenamente contigo e poderia acrescentar que foi um excelente Ministro da Defesa Nacional.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Luís: Em relação a Ribeiro e Castro ter ficado "com a criança nos braços", não será bem assim. Portas estabeleceu 2 objectivos eleitorais bem claros e falhou ambos; assumiu as responsabilidades e demitiu-se. Não foi uma fuga guterrista.
Quanto aos Congressos do CDS, não sei como funcionam, mas no de 2005, Telmo Correia entrou como vencedor e foi batido por uma extraordinária prestação de Ribeiro e Castro que, infelizmente, não conseguiu repetir essa performance no exercício da presidência do CDS. Ou seja, o Congresso foi sensível à prestação de RC, tal como tem acontecido em Congressos do PSD.
À última questão, obviamente não te sei responder.

Rui Miguel Ribeiro disse...

João: Tal como tu, também anseio por ver uma oposição real e eficaz ao desastre rosa que assola Portugal e acredito que Paulo Portas a protagonize melhor do que outros, mesmo tendo uma ponto de apoio mais fraco que o líder do PSD.
Também acho que a postura do GP do CDS, pelo menos a imagem que passava para o exterior, foi frequentemente incorrecta, roçando a traição. Não sei se não terá havuido matéria para processos disciplinares internos. Mas isso ultrapassa-me e sei que o exercício da política está longe de ser um coisa bonita.
Posto isto, penso que o CDS vai saltar para a ribalta da oposição e que Sócrates vai ter de suar no Parlamento e não apenas quando faz jogging pelo mundo fora.

João Pulido disse...

Triste espectáculo que estamos a assistir!!!

Ninguém ganha com isto, nem a actual direcção do CDS, nem Paulo Portas e seus apoiantes (não lhes vou chamar “cães-de-fila”), muito menos a DEMOCRACIA…

Rui Miguel Ribeiro disse...

E eu que pensava que o PSD estava mal, descubro que o CDS está a saque. Simplesmente lamentável!

Anónimo disse...

Não gosto particularmente do Paulo Portas, assim como não gosto do Santana Lopes, eu na posição deles, depois de tudo o que se passou, não saia do «ninho», dava lugar a outros, quanto ao CDS trata-se de um partido a prazo, qualquer dia acaba de vez e acreditem que nem vamos sentir a sua falta.

Anónimo disse...

Parece-me que o "Regresso de Paulo" já está hipotecado pela balbúrdia em que se transformou o CDS.
Cristina

Rui Miguel Ribeiro disse...

Tiago: Talvez tenhas razão no que concerne o Paulo Porta e o Pedro Santana Lopes; afinal, não insubstituíveis. Quanto ao CDS, tenho as minhas dúvidas: o seu eventual desaparecimento, mesmo representando 5% a 10% do eleitorado, deixaria um vazio político ideológico que teria de ser preenchido de algum modo (não sabemos como), sob o risco de alienar um número significativo de eleitores.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cristina: Receio que isso possa ser verdade e, apesar de o meu partido ser o PSD, não acho que isso seja bom. Lamento bastante a saída (precipitada) de Maria José Nogueira Pinto, que considero uma mais valia do CDS.

Anónimo disse...

Gostando ou não de Paulo Portas e da sua postura, neste momento parece-me a única pessoa com alguma capacidade para enfrentar Sócrates.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Maria: Estou de acordo contigo.