O REGRESSO DE PEDRO
Depois de um ano e meio a “andar por aí”, Pedro Santana Lopes regressou. Primeiro, numa intervenção em reunião do Grupo Parlamentar do PSD, depois com a publicação de um livro e uma subsequente entrevista à RTP1.
Naquela, no plano político-partidário esteve bem, equilibrado, apontando de forma clara algumas das deficiências do estilo e substância da oposição que o PSD faz ao Governo e fazendo-o no sítio certo.
O livro não o li, portanto vou reportar-me à entrevista. Santana Lopes expôs uma tese conspirativa, que envolveria Jorge Sampaio, Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, José Sócrates, Marques Mendes, pelo menos, para além de dar um rude golpe no carácter de Durão Barroso. Num tempo em que as teorias da conspiração mais mirabolantes proliferam em livros, na televisão (recordo o pseudo-comentário sobre o 09/11 que a RTP1 inacreditavelmente teve o desplante de apresentar no passado 11 de Setembro) e na Internet, confesso ser um céptico em relação a essas teorias. Por outro lado, também não sou muito propenso a coincidências excessivas, sendo verdade que todos os supra-citados se opuseram de uma forma ou de outra a Santana Lopes e que a maioria deles está hoje melhor do que há dois anos.
Não é fácil tomar uma posição, pelo que talvez seja melhor comprar o livro e fazer uma análise mais cuidada. É, porém, possível, tirar algumas conclusões com os factos que se conhecem e com a própria entrevista.
1- Pedro Santana Lopes fez bem em escrever o livro e dar a entrevista. Ele foi, antes, durante e após a sua passagem pelo Governo, alvo de uma barragem de ataques ad hominem como não haverá paralelo na História recente de Portugal. O tempo em que “andou por aí” foi um período de nojo, mas chegou a altura de contar a sua versão das coisas e demonstrar que, maugrado os seus erros e defeitos, há outros responsáveis pelo que se passou no Verão/Outono de 2004.
2- É evidente que não faltou no PSD quem lhe fizesse oposição para além do razoável e não me refiro ao Conselho Nacional da sucessão, nem ao Congresso de Barcelos.
3- Last, but not least, Jorge Sampaio. Ficou patente na entrevista o que já se percebera na época: Sampaio actuou de má fé, de forma arbitrária e parcial, violando de forma grosseira os deveres de lealdade e imparcialidade do Presidente da República. Toda a sua conduta, desde Julho até Dezembro, aponta para uma premeditação, patente nos condicionalismos que colocou ao novo Governo, nos constantes avisos e ameaças, na espera por uma solução mais credível no PS e, finalmente, na falta de sustentação da decisão de dissolver o Parlamento.
Não sei se o destino de Pedro Santana Lopes continua ou não escrito nas estrelas; sei que este ainda não é o seu tempo. Encerrado este lamentável episódio, Pedro Santana Lopes deverá prosseguir a sua vida, andar por aí se assim entender e resguardar-se. Quanto ao resto, vivemos Tempos Interessantes, nos quais é quase impossível prever como Portugal e o mundo irão ser em 2009, 2010, 2011… e se realmente estiver escrito nas estrelas, o segredo está em saber esperar que a roda da fortuna lhe torne a passar à porta.
Naquela, no plano político-partidário esteve bem, equilibrado, apontando de forma clara algumas das deficiências do estilo e substância da oposição que o PSD faz ao Governo e fazendo-o no sítio certo.
O livro não o li, portanto vou reportar-me à entrevista. Santana Lopes expôs uma tese conspirativa, que envolveria Jorge Sampaio, Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, José Sócrates, Marques Mendes, pelo menos, para além de dar um rude golpe no carácter de Durão Barroso. Num tempo em que as teorias da conspiração mais mirabolantes proliferam em livros, na televisão (recordo o pseudo-comentário sobre o 09/11 que a RTP1 inacreditavelmente teve o desplante de apresentar no passado 11 de Setembro) e na Internet, confesso ser um céptico em relação a essas teorias. Por outro lado, também não sou muito propenso a coincidências excessivas, sendo verdade que todos os supra-citados se opuseram de uma forma ou de outra a Santana Lopes e que a maioria deles está hoje melhor do que há dois anos.
Não é fácil tomar uma posição, pelo que talvez seja melhor comprar o livro e fazer uma análise mais cuidada. É, porém, possível, tirar algumas conclusões com os factos que se conhecem e com a própria entrevista.
1- Pedro Santana Lopes fez bem em escrever o livro e dar a entrevista. Ele foi, antes, durante e após a sua passagem pelo Governo, alvo de uma barragem de ataques ad hominem como não haverá paralelo na História recente de Portugal. O tempo em que “andou por aí” foi um período de nojo, mas chegou a altura de contar a sua versão das coisas e demonstrar que, maugrado os seus erros e defeitos, há outros responsáveis pelo que se passou no Verão/Outono de 2004.
2- É evidente que não faltou no PSD quem lhe fizesse oposição para além do razoável e não me refiro ao Conselho Nacional da sucessão, nem ao Congresso de Barcelos.
3- Last, but not least, Jorge Sampaio. Ficou patente na entrevista o que já se percebera na época: Sampaio actuou de má fé, de forma arbitrária e parcial, violando de forma grosseira os deveres de lealdade e imparcialidade do Presidente da República. Toda a sua conduta, desde Julho até Dezembro, aponta para uma premeditação, patente nos condicionalismos que colocou ao novo Governo, nos constantes avisos e ameaças, na espera por uma solução mais credível no PS e, finalmente, na falta de sustentação da decisão de dissolver o Parlamento.
Não sei se o destino de Pedro Santana Lopes continua ou não escrito nas estrelas; sei que este ainda não é o seu tempo. Encerrado este lamentável episódio, Pedro Santana Lopes deverá prosseguir a sua vida, andar por aí se assim entender e resguardar-se. Quanto ao resto, vivemos Tempos Interessantes, nos quais é quase impossível prever como Portugal e o mundo irão ser em 2009, 2010, 2011… e se realmente estiver escrito nas estrelas, o segredo está em saber esperar que a roda da fortuna lhe torne a passar à porta.
Pedro Santana Lopes
in BBC News at http://www.newsimg.bbc.co.uk/media/images/
in BBC News at http://www.newsimg.bbc.co.uk/media/images/
16 comentários:
Só ainda não percebi se o "menino guerreiro" é um cadáver político que anseia pela ressucitação, ou apenas um comediante que nos desenfastia nas suas aparições.
PVM
Caro Rui Miguel,
Dissolução da AR sem sustentação? E a maioria absoluta do PS não pode/deve ser contabilizada? Pois, podes dizer que isso foi depois. Mas não esqueçamos as muitas trapalhadas de governação. Acho que era notório que ninguém se entendia no Governo.
Bruno Rodrigues
PSL é,e será sempre,uma personalidade controversa.
Capaz do melhor (Figueira Foz e Lisboa) e do pior (ansiedade pela ribalta).
Concordo contigo quando fals da violencia dos ataques de que foi alvo.Herdou uma maioria,constituiu á pressa um governo,sobre a continua ameaça da dissolução.
Acho ainda hoje que Sampaio fez muito mal.Existia uma maioria estavel que funcionava bem.o governo de PSL era em alguns aspectos melhor que o de Durao Barroso.e sejamos francos,demirir um governo ao fim de cinco meses de governação ?
Nao lembrao ao diabo lembrou a Sampaio.
E quanto as trapalhadas:olhe-se para o governo de socrates e elas tambem estao la.
So que goza de outra tolerancia por parte de dois presidentes da republica e da mesma imprensa que começou por idolatrar PSL e depois ajudou a derruba-lo
Alexandra: A tua observação está muito bem feita, mas realmente aqui trata-se mais do exercício de legítima defesa do que um relato abrangente e desapaixonado dos eventos históricos. É óbvio que houve responsabilidade própria e penso que ele não a enjeita 8pelo menos em parte). No entanto, as responsabilidades de Pedro foram apontadas, glosadas, gozadas e aumentadas de forma exaustiva. parece-me natural, neste cenário, que ele focasse as responsabilidades exógenas.
Paulo: Cadáveres políticos deve haver muito poucos. Quando menos se espera, they come back to life. nem na Bíblia deve haver tanta gente a ressuscitar como na política. A outra hipótese é redutora...
Bruno: Benvindo ao "Tempos Interessantes". A maioria absoluta do PS nada tem a ver com a dissolução. Por esse prisma, não havia governo que completasse o mandato, porque (quase) todos eles passam por períodos de desvantagem nas sondagens. Não se pode aferir o saldo de um governo de 4 anos ao fim de 6 meses!
Luís: Estamos, novamente, em sintonia.
Creio que, entre nós, temos uma tend~endia para a desculpabilização fácil.
Deveriamos ser mais anglo-saxónicos e cultivar uma postura cívica que nos levasse a assumir as nossas responsabilidades, sem buscar culpados a todo o custo.
Fui dos que contestou (inclusive, na televisão) a decisão do dr. Sampaio, mas vejo que parte do PSD, seja sinceramente, seja por oposição gratuita ao dr. Mendes (e eu sou insuspeito, já que, quando os lideres da oposição interna, foram mais pelas três tabelas, eu falei directamente), desculpa com facilidade erros inegáveis do consulado do dr. Santana Lopes.
Mais não digo, sob pena de acharem que escrevo com ressentimento, mas estamos em desalinho, caros Rui Miguel e Luís, meus amigos.
By the way. há certas maneiras de ler a história interna que me impedem de abraçar outros rumos, no PSD...
Caro Gonçalo:deixa-me dizer-te que prefiro divergir de um amigo do que convergir com um inimigo !
Por razões obvias.
Quanto ao tempo de PSL no governo eu,que nunca fui santanista e ajudei em nome de D.B. a combater o santanismo,acho que não se trata de desculpabilizar os erros nem de fazer criticas as três tabelas.
Não acho é necessário esquecer o passado recente(nisso o dr mendes é eximio),esquecer a solidariedade devida a quem governou em nome e por mandato do nosso partido ealinhar num coro de criticas fáceis e demagógicas que fazem de PSL um autentico saco de pancada para o jornalismo politicamente correcto.
Penso que quelquer lider a sério tem a obrigação de ser solidário com os seus antecessores e ainda mais quando eles exerceram altos cargos da Nação.
O comportamento do partido e do dr Mendes,como sabes,foi a antitese disso.
Mais que ñão fosse(e foi,se foi...)por omissão nunca Mendes disse uma palavra de defesa dos governos do PSD e de um deles,se bem me recordo,até fez parte.
Pior,Mendes que nunca ganhou uma Câmara na vida (foi á boleia de Isaltino quando dava jeito)impediu,miseravelmente,PSL de se recandidatar a Lisboa,camara cuja conquista,como sabes,se deveu essencialmente ao carisma de Santana.
Não defendo o regresso de PSL á liderança do PSD,mas também não alinho na sua destruição na praça pública.
Porque a solidariedade é um valor essencial da social emocracia e eu sou social democrata.
Gonçalo: É curiosa essa tua observação porque muita gente, mormente em Guimarães, me considera muito Anglo-Saxónico, "British" para ser mais exacto. E, se há coisa que me aflige na política portuguesa é o permanente alijar de responsabilidades, começando nas promessas não cumpridas de muitos políticos e acabando fa fraca capacidade de cobrança dessas promessas por parte do eleitorado.
Quanto ao caso em apreço, eu não enfio a carapuça. Não sou nem fui Santanista como tu, nem sou nem fui Barrosista como o Luís. Isto não tem nenhum sentido crítico: é normal as pessoas fazerem as suas opções ao longo da sua vida política, que podem levar à integração em sub-grupos dentro do grupo que é o PSD e à sua continuidade neles, ou ao desencanto e à retirada.
Todos fazemos parte do numeroso grupo dos dissolvidos, apesar das diferenças de alinhamentos ou da falta deles e portanto também não tenho nenhuma dívida de gratidão a pagar. Do mesmo modo, nada devo a quem veio a seguir, ou a quem poderá querer suceder-lhe.
O que escrevi neste post, resulta apenas da minha análise dos factos e daquilo que eu considero uma questão de justiça. Embora não refira no Blog, Pedro Santana Lopes não está isento de culpas nos acontecimentos de 2004; no mínimo, pôs-se demasiadas vezes "a jeito", de tal forma que até um atirador desajeitado como Sampaio "lhe acertou o passo".
Isto não invalida que ele tenha sido crucificado ainda antes de iniciar a sua via sacra e isso não é admissível. Se o Presidente o empossa e o PSD o apoia, é porque consideraram que as vantagens superavam as dúvidas e se assim era, PSL merecia uma oportunidade, coisa que realmente nunca teve.
Finalmente, isto não é um libelo contra Marques Mendes. Se fosse, não viria encapotado. Inclusive, Mendes cabe no lote dos que se manifestaram no Conselho Nacional e no Congresso. Isso não o livra da acusação, que o Luís justamente lhe faz, de fazer o papel do Pedro bíblico contra o Pedro do PSD.
P.S. A alusão à história do PSD e ao teu rumo, confesso que não percebi (também não sei se era para EU perceber).
Luís
Com a categoria que te é usual, defendeste o teu ponto de vista.
Vejamos se nos entendemos: quanto ao dr. Mendes, creio que estamos conversados.
Quanto ao Dr. Santana: fui Santanista e, nas mesmíssimas circunstâncias, voltaria a ser...
O problema dos media é que, depois de um percurso aliado a esse contra-poder, uma vez chegado ao poder, eles conheciam tudo e mais umas botas.
Rui Miguel
Estranho coisas como "enfiar a carapuça" e "EU" em maiúscula, que julguei que não eram para nós... Talvez uma pausa nos (meus) comentários...
Gonçalo: Lamento que tenhas levado a mal o que escrevi, porque não havia nenhum acinte dirigido a ti.
O "não enfiar a carapuça" foi uma forma, talvez não a mais feliz, ou sem grande categoria, de explicar que eu não entrava nos jogos de elogiar/defender uns (neste caso Santana Lopes) para atacar outros (no caso o Marques Mendes). E essa refrência no teu comment é pertinente porque no PSD há muita gente que glorifica o líder do presente e crucifica o anterior, que antes aclamava, e assim sucessivamente.
Quanto ao "EU", também não era uma forma de expressar despeito ou rejeição, antes a humilde admissão de que os meus conhecimentos do interior e do passado do PSD nem sempre me habilitam a compreender linguagem mais cifrada. E digo isto SEM ironia.
Quanto à conclusão, a opção é, obviamente tua. Contudo, preferia que continuasses a visitar o Blog e a deixar a tua marca porque gosto de te ler e é uma mais valia ter pessoa informadas, inteligentes e com convicções com quem "conversar"...
Ok. Nada como a amizade para esclarecermos tudo. Sabes que o problema da Net é que não veicula emoções...
Um abraço
Não reagi logo porque me pareceu supérfluo, but on second thoughts, e para que não haja dúvidas, fico contente que tudo esteja esclarecido e que possa continuar a contar contigo no "Tempos Interessantes".
O Santana é-me indiferente, mas parece-me evidente que, com algumas culpas próprias, ele foi massacrado e injustiçado. É claro que tem direito a defender-se e a prosseguir a carreira política que entender.
José Manuel
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