29 novembro, 2006

O Comboio dos Duros

O COMBOIO DOS DUROS
 

Já tive oportunidade de referir por duas vezes neste Blog que o Afeganistão é uma frente fundamental no combate ao terrorismo internacional (maxime Al-Qaeda), à produção e tráfico de droga (ópio/heroína) e ao islamismo mais radical (Talibans).


Neste cenário de 3 em 1, está tanto em jogo que dezenas de países investiram tropas, técnicos e dinheiro para apoiar a reconstrução do país e a erradicação das ameaças.


Como é evidente, o desiderato estruturante de repor o Afeganistão a funcionar nos planos político, económico e social, é necessário, antes da ajuda técnica e financeira, criar condições de segurança e estabilidade. Tal tem-se mostrado crescentemente complicado em 2006, quando se assiste a um ressurgimento dos Taliban.


Ora, a única maneira (ou pelo menos a principal) de resolver este problema é através da força armada aplicada com a contundência necessária para tentar o extermínio das forças Taliban/Al-Qaeda, ou pelo menos, feri-las severamente de forma a colocá-las fora de combate.

No entanto, conforme já escrevi no post
“Portugal e o Afeganistão” de 09/09/06, Até agora, para além dos EUA, só o Reino Unido, a Holanda e o Canadá, tiveram a coragem política de reforçar os seus contingentes no Afeganistão e de movimentar tropas do relativo conforto de Cabul e outras cidades, para desenvolver uma acirrada caça aos terroristas na zona meridional do país, nomeadamente nas províncias de Helmand e Kandahar.

Já passaram quase 3 meses e a situação mantém-se quase idêntica, havendo a acrescentar a Austrália e a Dinamarca aos países que têm a coragem e a firmeza para enviar as suas forças para desempenhar a missão primordial para a qual existem: combater! A estes podemos acrescentar pequenos países, como Portugal e a Estónia, hoje referenciados positivamente pelo Presidente George W. Bush têm rules of engagement suficientemente latas para poderem ser empregues em missões de combate efectivo.


A NATO tem 26 Estados-Membros. Destes, 6 (EUA, Reino Unido, Holanda, Canadá, Austrália e Dinamarca) combatem pelo interesse comum num ambiente agreste, hostil e perigoso. Há mais uns poucos que estão a postos para colaborar.


Usando linguagem cinematográfica, é com este “Comboio dos Duros” que podemos contar para este combate vital. Bem hajam!

 

 
Distribuição dos principais contingentes da NATO no Afeganistão.

11 comentários:

Rui Miguel Ribeiro disse...

Luís: Não há muito a dizer em relação ao "Comboio dos Duros" estamos de acordo. Há conflitos, inimigos e ameaças com quem só se pode usar a força. Objectivamente e por muitas voltas que se dê ao texto, os que lutam hoje no Afeganistão fazem-no por todos nós. Quanto aos outros, só nos confirmam que não se pode contar com eles. Period.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira: Estes posts reportavam-se apenas ao Afeganistão e não ao Iraque. Como sabe, após o 9/11 foi o Afeganistão que foi invadido; o Iraque foi-o em 2003. É verdade que se os EUA não estivessem no Iraque podiam colocar mais tropas no Afeganistão, mas este é um problema de segurança colectiva e como tal reconhecido pela NATO e pela ONU e a realidade é que uns dão o corpo ao manifesto e outros fogem.
O Bin Laden não liderou a resistência à URSS: ele chegou ao Afeganistão numa fase adiantada do conflito. Os EUA não financiaram os Taliban que surgiram depois da retirada soviética e são uma criação paquistanesa.

P.S. O apoio ao Iraque a partir de certa altura da Guerra Irão-Iraque foi uma questão táctica: ajudar o mal menor contra a ameaça maior. No entanto, os grandes sustentáculos externos do Iraque de Saddam fora do mundo árabe foram a URSS e a França.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr Freitas Pereira: Não vou, obviamente, comentar as suas respeitáveis afinidades emocionais e familiares com a França, que me merecem todo o respeito.
No que ao resto diz respeito, duas ou três notas:
1- Os conflitos da Guerra Fria, por muito questionáveis que pudessem ser a outros níveis, eram parte de um conflito global pela liberdade contra o imperialismo totalitário soviético. Isso levou os EUA a lutar na Coreia e no Vietname; isso levou o Ocidente a apoiar o Zaire de Mobutu, as Filipinas de Marcos, o Chile de Pinochet, a Indonésia de Suharto, a Pérsia de Rheza Palevi, entre muitos outros exemplos. Pode não ser bonito, mas a isto se chama Real Politik. Posso não gostar, mas quando "valores mais altos se alevantam...".
2- O papel da França na vitória aliada na II Guerra Mundial é pouco mais que residual. Os Norte-Americanos, Britânicos e Canadianos libertam a França com apoio da resistência e não o contrário. Os Franceses tiveram um autêntico bónus (assim como os Chineses) ao serem considerados como vencedores e receberam algums dos privilégios a eles reservados.
3- Os EUA no tempo de Reagan invadiram Grenada, não os Barbados.

freitas pereira disse...

Sr. Rui Miguel Ribeiro

O meu sistema de alarme do computador não detectou o seu comentário acima; o meu chega com um pouco de atraso.

1)

Grenada e não Barbados: Tem muita razão : confundi estas ilhas que são vizinhas, ambas membros do Commonwealth se não me engano.


Com todo o respeito, este da liberdade e da Real Politik será sempre o nosso escolho!

Que os USA e o resto da comunidade do mundo livre defenderam na Coreia os nossos valores estou de acordo. A China era talvez a ameaça real e não a URSS. Mas O.k..

Mas não vejo em quê o regime democraticamente eleito de Salvador Allende no Chile ameaçava a liberdade do mundo, para que os EUA organizem o golpe de estado de Pinochet.

Imaginemos que esta Real Politick se aplicasse hoje no resto da América Latina ! Onde, só o México (de poucos votos) e a Colômbia, escaparam à onda progressista anti-americana.

Quanto ao Vietname , se a política retrograda da França do após guerra levou o antigo estudante de Paris, l'oncle Ho, a fazer a guerra para recuperar o sul, os EUA fizeram a guerra não para levar a liberdade, o resultado é visível hoje, mas para manter uma fronteira de segurança a mais longe possível das costas da Califórnia.
As Filipinas é a mesma coisa. A Pérsia do Shah in Shah foi o petróleo. E o Zaire, se lá não houvesse o Katanga com todos as suas minas valiosas, e que não valesse mais que o outro lado do rio , i.e. o Congo Brazzaville, ninguém se teria incomodado da presença de Lumumba, substituído por Tshombé, que Mobutu às ordens do ocidente não tardou a eliminar. Tudo entrou na ordem, depois. A ordem que impõe a Real Politik!

Se isto são os tais " mais altos valores que se alevantam " Ok. Mas não são os meus.

A Real Politik levará um dia o mundo a outros confrontos, que comparados aos de ontem serão muito mais destruidores.

2) Sem duvida que a resistência Francesa não se pode comparar à força Americana , Canadiana e Britânica. O Reino Unido não foi invadido, por conseguinte o seu Exército estava intacto.O Exército Francês tinha deixado de existir. A Resistência Francesa foi um dos elementos da vitoria e não o contrário; é evidente.

Quanto ao bónus da França, foi graças a Churchill que ela o obteve. Nas suas Memórias ele explicou bem que foi a França que foi agredida, invadida, e não o contrario. Que ela se encontre no fim da guerra do lado dos vencedores é normal.

Quanto à China, rectifique-me por favor, mas quando se pagou a factura da guerra contra os Japoneses com mais de 2 milhões de mortos , penso que o direito de estar presente no Conselho de Segurança foi bem pago. Talvez hoje, ou amanha, os EUA e o mundo estarão gratos à China de manter a Coreia do Norte em respeito.

Rui Miguel Ribeiro disse...

O Chile só por si não ameaçava a liberdade do mundo (da parte que a tinha), mas como sabe, a Guerra Fria degenerou numa compita à escala global por esferas de influência, controle de regiões estratégicas e outras de valor económico e até militar. Isto levou a que cada país fosse uma trincheira onde se combatia o adversário ou os seus representantes locais. Não obstante, o Chile, com a sua extenssíssima costa e os seus recursos naturais (maior produtor mundial de cobre) não seria um trunfo despiciendo para uma URSS cujo único aliado na América era Cuba.
A Real Politik não é uma escolha minha. É a constatação da realidade: a histórica e a actual, embora com contornos diferentes.
A sua análise da América do Sul é demasiado radical: o Chile, o Uruguai e mesmo o Brasil, não estão com a Venezuela e Cuba contra os EUA. E esse grupo de revolucionários socializantes/populistas requentados, também já não tem a mesma importância geoestratégica para os EUA, dado que já não existe a URSS. Pode vir a China no futuro, mas para já, o incómodo causado é quase residual.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Ah! Quanto ao Conselho de Segurança. Eu não me referia aos custos humanos da Guerra (também elevadíssimos na Alemanha, Japão e Itália). O que eu dizia, é que o facto de os inimigos da França e da China terem sido derrotados pelos Aliados, não os transforma automaticamente em vencedores.
Quanto à China, só lhe digo que, se não fosse a sua teimosa protecção à Coreia do Norte, com o apoio da Coreia do Sul e da Rússia, não teria havido o teste nuclear de 09/10/06!

Anónimo disse...

Estou de acordo consigo sobre o facto dos países reforçarem os seus contingentes, mas não para atacar o terrorismo. A violência não se ataca com violência. Porque essa mesma violência, vai criar ainda mais violência. Mas o mal está feito e, hoje, aquilo que os países presentes em território afegão, devem fazer, é colocar o país a funcionar, não deixá-lo à deriva.

Já agora, talvez fosse bom fazer o mesmo no Iraque, que foi outro erro de casting do Sr. Bush.

Rui Miguel Ribeiro disse...

João: A tarefa de reconstruir o Afeganistão do ponto de vista sócio-económico e das infra-estruturas é vital e só assim se criarão as bases para que os Afegãos abandonem o ópio e os extremistas.
No entanto, numa altura em que o país sofre ataques dos Taliban que ameaçam controlar partes do território, têm de ser exterminados ou neutralizados para que a resconstrução se faça. Criar um clima de segurança é crucial para se poder fazer o resto. Aliás, esse é também um problema no Iraque.

Anónimo disse...

É fantástico haver países que estão dispostos a sacrifício deste calibre pela liberdade de todos nós. Bem hajam.

José Manuel

Rui Miguel Ribeiro disse...

João Carlos: A reconstrução do Afeganistão no plano social, económico e das infra-estruturas é essencial, mas sem segurança nada se conseguirá e os Taliban só se vencem pela força porque é o único argumento que compreendem e aceitam.
A situação no Iraque é mais complexa, mas a receita genérica é a mesma: recuperar o país e liquidar os "irrecuperáveis".

Rui Miguel Ribeiro disse...

José Manuel: Apetece dizer Amen. Na realidade, desde o século XX que vai sendo assim: uns poucos têm de lutar e dar a vida pela liberdade e segurança de muitos. Esperemos que não se saturem de velar pelos outros...