12 novembro, 2006

Os Elefantes Também se Abatem

OS ELEFANTES TAMBÉM SE ABATEM





















Caricatura de Thomas Nast, publicada na Harper’s Weekly em 1872 e que originou os ícones dos dois grandes partidos dos EUA.

O “worst case scenario” para os Republicanos confirmou-se: a revolução republicana de 1994 deu lugar à reviravolta democrata de 2006 e o GOP perdeu a maioria no Senado e na Câmara dos Representantes. Recorrendo à simbologia dos partidos Norte-Americanos, o Burro venceu o Elefante.

À desvantagem habitual do partido maioritário, ou melhor, do que ocupa a Casa Branca, nas mid-term elections, somaram-se a impopularidade crescente que o atrito do conflito no Iraque vem gerando e os escândalos que abalaram algumas figuras republicanas proeminentes no Congresso.

E agora George W.? Bem, o Presidente dos EUA já enviou uma mensagem pós-eleitoral conciliatória, mesmo para aqueles cujo único lema eleitoral parecia ser “Vote contra o Bush!” Há, no entanto, alguns aspectos que importa não ignorar:

1- George W. Bush teve uma experiência, enquanto Governador do Texas, de governar com uma legislatura de maioria democrata e foi bem sucedida.
2- George W. Bush foi eleito com o slogan de Compassionate Conservative, e mostrou mais disto do que daquilo. Tal traduziu-se na forma determinada (ou obstinada, ou inflexível) como conduziu a sua política nos últimos 5 anos.
3- O ponto anterior, não invalida que o Presidente dos EUA não saiba adaptar-se, mesmo que tacticamente, a novas e menos favoráveis situações: já o fez no plano externo depois de reeleito em 2004.
4- Os Democratas estão inebriados com a vitória, mas não têm os trunfos todos: a sua maioria no Sendo é virtual – o resultado foi de 49-49 e 2 independentes com ligações ao Partido Democrata; no entanto, um deles, o Senador Joseph Lieberman do Connecticut, foi batido nas primárias do partido por um candidato da ala radical dos Democratas que depois foi esmagado nas urnas. E porque é que Lieberman perdeu dentro do partido? Porque apoiava fortemente Bush na questão do Iraque. E poderá haver cismas entre os democratas mais radicais que são visceralmente anti-Bush e os moderados que acreditam que não será com uma plataforma (?) dessas que poderão vencer em 2008.
5- A iniciativa em política externa e de defesa, como em muitas outras num sistema presidencialista, pertence ao Presidente, o que significa que a margem de manobra democrata para inverter o rumo das coisas no Iraque, no Afeganistão, na Palestina, na Coreia do Norte, é muito limitada.
6- Finalmente, exceptuando os radicais irresponsáveis que querem uma rápida retirada do Iraque, como o pateta do Senador John Kerry, os Democratas não têm um real plano B para o Iraque. Estão, tal como os Republicanos, à espera das conclusões de uma comissão bipartidária nomeada para o efeito. Ou seja, fosse qual fosse o resultado a 7 de Novembro, alguma coisa iria mudar na postura dos EUA face ao Iraque.

Posto isto, será obviamente mais difícil para George W. Bush governar nos próximos dois anos. No entanto, algo me diz que a sua popularidade será maior no final de 2008 quando for eleito o seu sucessor do que é actualmente. Para os Elefantes isso seria um bom sinal. Para o mundo também.

19 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei admirado com a votação do eleitorado americano...Será que eles já perceberam mesmo o que se passa no Iraque ?? a loucura de terem um presidente tão básico?? Oxalá que isto seja reflexo de um modo mais crítico de interpretarem a realidade internacional e não apenas da contabilidade das baixas no Iraque...Sinceramente, acho que o que os aflige é apenas a quantidade de de baixas e nunca uma nova e ampla visão do Mundo! Continuo a achar que são totalmente egocêntricos e apenas o que se passa no "seu quintal" interessa!! Só olham para o umbigo, mas o desfecho é evidente....

Toze

Luis Cirilo disse...

Desta vez não concordo contigo.Acho que a popularidade de George.W.Bush,salvo qualquer mudança espectacular mas nada previsivel,vai continuar em baixa e arrisca-se a um final de mandato penoso.O que é mau para o mundo porque quanto mais forte e esclarecida for a liderança americana,melhor !
Por mim ,para 2008,ja manifestei a minha preferencia por Hillary Clinton.
Se for candidata espero que ganhe.Mas tambem nao me faz confusao nenhuma se o presidente for republicano.
Nos EUA ambos os partidos tiveram grandes presidentes.
Roosevelt,Eisenhower,Kennedy,Reagan,Clinton sao apenas alguns dos exemplos.
Não resisto a um comentariozinho ao que no blog escreveu um anónimo: é precisamente por os americanos olharem tanto para o umbigo que a Europa não fala toda alemão e a zona do Pacifico japonês !

Gonçalo Capitão disse...

Em todo o caso, nem tu consegues dizer que não foi uma vitória dos democratas.

Sabes mais de RI do que eu, mas a verdade é que Bush é ignorante e não sabe prever para além da estratégia da conforntação, como prova o atoleiro em que se meteu no Iraque.

Por vezes, entendo que defende o rumo certo, mas não bastam boas petições de princípio.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Tozé: Nesse aspecto, os EUA são vítimas do ditado "preso por ter cão e preso por não ter", i.e., se intervêm são imperialistas e militaristas, se se fecham na concha, são irresponsáveis e egoístas. Eu, se fosse Presidente dos EUA, tentaria atingir o ponto de equilíbrio (o que não é fácil como é óbvio): não ao isolacionismo, mas intervir selectivamente.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Luís: É uma previsão de alto risco neste momento, mas é o meu feeling. Penso que não é (só) wishful thinking.
Quanto a 2008, a última coisa que eu queria era ver a Hillary Clinton (outra vez) na Casa Branca.
A minha preferência vai para o Senador John McCain (Republicano do Arizona) e estou curioso por conhecer melhor o posicionamento político de Rudolph Giuliani.

Anónimo disse...

Todos sabemos que o pensamento do actual secretário da Defesa americano e dos membros do Grupo de Estudos do Iraque ( e de sempre da política externa americana) é somente:" Os EUA não têm amigos ou inimigos permanentes,apenas interesses constantes", com base nesta premissa é muito fácil perceber toda a política americana!!!
Quanto ao seu altruismo cego para que hoje não falassemos alemão,penso que tal se deveu mais ao medo de hoje que falassemos russo,pois o Exército Vermelho tenha a frente a Leste mais avançada do que os Aliados e,ao contrario dos ingleses e americanos,o EStaline não se interessava com as baixas, só queria chegar a Berlim em primeiro lugar e ter como troféu o seu antigo parceiro do Pacto Molotov-Ribbentrop...No Pacífico,foi com a bomba atómica,com todos os reflexos e consequências que tal acarretou... O que eu quero dizer é que acho a política externa americana oportunista e hipócrita e que se agrava,de um modo geral nos consulados republicanos!!
Apesar da política americana ser muito curiosa e original,também aposto na Hillary Clinton!!

Toze

Luis Cirilo disse...

Eu,em 2008,definitivamente "voto" no partido democrata.Sou a favôr da alternãncia e penso que tem melhores candidatos,embora Giuliani,se avançar,seja um candidato fortissimo depois da obra feita em Nova Iorque.
Quanto á Hillary,não me importo nada,bem pelo contrário,de a ver de novo na Casa Branca.
Até porque em funçoes naturalmente diferentes.
Quem não quereria ver lá de novo era a Mónica...
Mas há um nome,democrata,cula movimentação sigo com muita curiosidade.
Al Gore.
A ver vamos

Rui Miguel Ribeiro disse...

Gonçalo: É claro que foi uma vitória dos Democratas. A minha grande dúvida é que proveito poderão eles tirar dela. Isto porque o que tem unido o Partido Democrata é ser anti-Bush; agora que têm o poder legislativo terão de ter uma agenda, que é algo em que não se têm entendido.
Quanto ao Bush, não sei se a ignorância dele é muita ou pouca, mas sei que teve boas ideias e iniciativas, assim como teve falhanços. O Iraque do pós-guerra é claramente um deles e aí o problema foi ter demasiada rédea solta ao Donald Rumsfeld.
Permite-me uma última nota de esperança: penso que o Iraque ainda não está perdido.

freitas pereira disse...

.

8:33 AM
freitaspereira said...
1)

Leio por vezes neste blog e noutros blogs amigos, um argumento que tende a demonstrar que sem os EUA nos falaríamos hoje Alemão na Europa e Japonês na cintura do Pacifico.

'First of all', ninguém pode esquecer a ajuda tremenda dos EUA no combate ao nazismo. Visitei Coleville s/ Mer, , na Normandia, e perante os milhares de boys alinhados nesse cemitério à beira mar, não se pode evitar as lagrimas. Lagrimas de tristeza e lagrimas de raiva pela loucura dos homens.

Como , ninguém que se interessa à Historia, não pode esquecer o sacrifício imenso do Povo Soviético- 30 milhões de mortos- sem o qual as divisões 'Das Reich' dizimadas em Stalingrad, Kharkof, Orel, Smolensk, Leningrad, estariam na Normândia para acolher as tropas aliadas.

Sabe-se que se o tal General Alemão, que não ousou acordar o Fuhrer em Berlim, para obter a autorização de deslocar para a Normandia, as Divisões "Panzer" , que estavam estacionadas em Calais (onde eles esperavam a invasão), tivesse realmente tomado a iniciativa sem ordem do Hitler, a invasão abortava e a nossa liberdade não sei onde estaria! Falaríamos Alemão ? Não creio.

Estes são os factos.

Mas também não se deve pensar que a ajuda dos EUA obedeceu exclusivamente à generosidade para com os Europeus.

Os Americanos há muito tempo que esqueceram Yorktown, Pittsburg, Gettysburg e todas as outras batalhas que os opuseram aos Britânicos. Eles sentem-se da mesma família e nunca aceitariam de os deixar cair na orbita nazi.
Os Britânicos nunca esquecem também esta proximidade, que os levou a dizer " Entre a Europa e os EUA nos escolheremos sempre o largo oceano (Churchill). Este mesmo sentimento levou Thatcher a torpedear o Euro, já que não pôde torpedear a adesão à Europa, feita contra vontade.

E os Americanos nunca aceitariam de deixar cair o continente europeu na mão dos nazis, e de se privarem assim do mercado que este constitui.
A longo prazo , se a Alemanha nazi triunfasse, os EUA estariam em perigo eles mesmos.

Em conclusão, sobre este ponto, Os EUA agiram de acordo com imperativos sentimentais, de geoestrategia económica e militar, e, sem duvida, de defesa de nações com quem partilhavam os mesmos valores civilisacionais. Os Americanos são antigos Europeus, after all!


2)

Quanto à guerra do Pacifico, quando os Japoneses se encontraram a algumas centenas de km de Darwin, na Austrália, e às portas do Ganges, e , pior ainda, quando os atolls de Midway caíram nas mãos deles, os Americanos não tardariam a entrar no conflito, porque os interesses vitais da América estavam ameaçados. A fronteira da América começa no Vietname, como eles assim demonstraram anos mais tarde.

Pearl Harbour foi o golpe decisivo.

E a América reagiu; mas reagiu em função dos seus interesses vitais.

3)

Hoje, a mudança de maioria no Congresso dos EUA não significa grande coisa para a política exterior. O Comandante em Chefe e o Chefe da política exterior continua no seu posto. E , a meu ver, sempre convencido que tem razão na sua política. Obstinado. Mas procurará a ajuda dos inimigos de ontem para resolver o problema de fundo, o único que conta e sem a resolução do qual nada avançará : o problema Israel-Palestina . No médio oriente tudo está ligado. E a América não sairá deste desastre sem a ajuda de todos.

No aspecto interior, espero só que os democratas vão agir ao menos nos problemas interiores importantes :- sistema de saúde ( Hillary , após uma visita a França, queria copiar o sistema Francês mas os republicanos torpedearam isso, porque custava caro!), poupança da energia , poluição do planeta, e talvez a revisão de certos pontos do Patriotic Act que eliminou um certo numero de direitos básicos aos Americanos).

Mas não creio que os democratas irão até ao ponto de cortarem o nervo da guerra a G. Bush, isto é , as finanças para a guerra, porque o patriotismo passa antes.

Em conclusão: Democratas e Republicanos são realmente iguais? Tenho tendência a crer que ambos visam a hegemonia dos EUA no mundo, no melhor interesse da América. Qualquer que seja o preço a pagar. Se a acção deles nos convém, that's good! Senão, sorry!

O Presidente dos EUA falará sempre em nome duma nação que, a sua economia, o seu poder militar e a sua tecnologia colocam acima das outras nações. E que terá tendência a impor a Pax Americana ao mundo, que isso agrade ou não.

Mas no fundo acho que o que é mais perigoso não é o poder americano, mas a nossa própria fraqueza, porque não somos capazes de criar um contra peso eficaz.

freitas pereira disse...

A técnica do "copiar-colar" levou-me a publicar aqui o post precedente, enquanto este tinha sido enviado ao Blog "Depois Falamos". Peço pois muita desculpa .

Eu queria só comentar a comparação que se faz frequentemente entre os democratas e os republicanos, dizendo que uns são vistos como correspondendo à "direita" e os outros à "esquerda", divisão clássica na Europa.

Se tivesse de procurar a diferença entre os dois partidos, eu diria que a "direita" ,(os republicanos) ,são considerados como sendo mais estritos, severos, na aplicação da pena de morte, por ex., mais conservadores na gestão das finanças e nas leis sociais, (redução dos impostos para os ricos , enquanto a classe média e os pobres perderam poder de compra).

Neste ultimo aspecto, G.Bush foi mesmo até ao ponto de considerar que a redução dos impostos dos ricos foi necessária para relançar a economia. Isto quer dizer que para ele, as outras classes sociais só custam dinheiro, e que investir no social não é remunerador! Por isso os republicanos torpedearam o estudo dum sistema de segurança social (sistema de saúde) proposto por Hillary Clinton!

O problema ecológico, economia de energia e protecção da natureza em todos os seus aspectos, é descurado pela "direita" (ir procurar petróleo no Alasca! e porque não em Yellowstone ou Yosemite ?).

Quanto aos democratas, eles aparecem sob aspectos mais sociais, mais aptos à solidariedade, mais conscientes dos problemas de protecção da natureza, exactamente ao contrario dos republicanos, mais sensíveis à perda de certos direitos fundamentais (Patriotic Act) e certamente menos severos na aplicação da pena de morte. E certamente mais sensíveis à reputação dos EUA no mundo.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira: Agradeço o comment que aqui colocou, mesmo que por engano, dado o seu interesse. Não me vou alargar sobre as considerações que fez sobre a II Guerra Mundial, mas vou dizer duas coisas: era, naturalmente, no interesse dos EUA entrar na Guerra, embora muitos Americanos que não o queriam, mas o esforço e o sacríficio dos Estados Unidos na Guerra foi para além dos limites do mero interesse nacional; o Exército Vermelho teve um papel importante na vitória dos Aliados, mas convém lembrar que a URSS foi cúmplice do III Reich em 1939/40 e causadora indirecta da Guerra e que, não fora a massiva assistência fornecida pelos EUA, provavelmente o dito Exército teria sido obliterado pela Wehrmacht.
P.S. Desculpar-me-á esta nota, mas as Batalhas que mencionou pertencem a 3 "filmes" diferentes: Yorktown (1781) opôs, efectivamente, Britânicos aos colonos Americanos (e aos Franceses) com vitória destes; Pittsburgh (1758), foi mais uma vitória da Grã-Bretanha sobre a França na América do Norte; Gettysburg (1863) foi um marco da Guerra Civil Americana e importante vitória do Norte sobre a Confederação.

freitas pereira disse...

Sr. Rui Miguel Ribeiro: "Errare humanum est". Ok para Gettysburg!

Quanto ao acordo Germano-Soviético foi na realidade um erro que os Soviéticos pagaram caro. Estou de acordo.

A contribuição do Povo Soviético foi entretanto muito importante, senão fundamental. E a ajuda em material dos EUA, via Murmansk, capital.

Quanto ao esforço de guerra americano, eu também frisei que ele obedeceu a vários critérios entre os quais o interesse nacional. E na guerra do Pacifico nem se discute.

Anónimo disse...

Os europeus (em especial os ocidentais, com excepção dos britânicos) olham vezes demais para o que se passa nos EUA, sem qualquer capacidade de reacção ou intervenção. Esta incapacidade traduz-se na "alegria" geral que sentem quando os democratas ganham, dado associarem a estes alguns "tiques" europeus; ou seja, os republicanos no poder acentuam a inércia europeia e as suas incapacidades para resolver os seus próprios problemas, em especial nos casos de Presidentes Republicanos mais afirmativos (ex. Reagan ou George W. Bush).

Nas situações em que "os sinos tocam a rebate" (ex.: I e II G.M.; crise da ex-Jugoslávia) lá tem de vir o "papá" americano ajudar a resolver o assunto (obviamente com interesses próprios, mas não estou a ver os europeus a intervir na América, por hipótese académica, numa eventual necessidade mesmo que pudesse haver algum interesse "global"). Assim, apenas reconheceria força moral às críticas dos europeus se fossem capazes de se autonomizar e de criar condições de segurança próprias (ex. exército europeu)... no entanto, gostam mais de discutir "o sexo dos anjos" como por exemplo a adopção por homossexuais!

Finalmente, lanço uma idéia: não seria um primeiro passo, harmonizar as datas das eleições nacionais europeias, de forma a evitar a inacção provocada pelas sucessivas incertezas nas lideranças dos países europeus (... estamos à espera do resultado das eleições francesas ... depois das alemãs ... depois ... depois...)?

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira: É bem verdade que a divisão direita-esquerda europeia não é aplicável nos EUA, mas a sua breve caracterização de Republicanos e Democratas foi, convirá, bastante parcial. Embora as alas moderadas dos dois partidos quase se sobreponham, os Republicanos são socialmente mais conservadores e mais liberais na economia, enquanto que com os Democratas acontece o inverso; estes, por exemplo, são mais internacionalistas no plano político, mas mais proteccionistas ao nível económico. No entanto, o facto de os Democratas serem mais soft em política externa e de defesa, tal não os impediu de terem envolvido os EUA na I e II Guerra Mundiais e nas Guerras da coreia e do Vietname. Ao contrário do que é voz corrente, os imposto com George W. Bush não baixaram apenas para os ricos, mas também para a classe média e a realidade é que o saldo económico da Presidência de george W. tem sido francamente positivo, mesmo num cenário de petróleo caro, Europa e Japão anémicos e instabilidade e conflitos em algumas zonas vitais do planeta.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Eduardo: Concordo com a quase totalidade do teu comment. Duas excepções:
1- O Exército Europeu é algo que roça a utopia - não existe real vontade, não existe coincidência suficiente de interesses e de políticas e não existe vontade em investir o necessário para o tornar realidade.
2- Eleições simultâneas? Para quê? Eu acho que já temos demasiadas harmonizações. Além de que seria impraticável, desde logo Portugal não o possibilitaria como Guterres e sampaio se encarregaram de provar recentemente.

freitas pereira disse...

Sr. Rui Miguel Ribeiro: Permita que deixe aqui as minhas felicitações pelos 1.000 internautas que aqui deixaram os seus comentários. 'Tempos Interessantes' é uma porta aberta para o exterior, onde os temas são realmente sempre de actualidade.

Nos 'posts' precedentes verifica-se mais uma vez que a falta duma Europa política com o corolário duma força armada forte , digna duma entidade de 350 milhões de Europeus, é sentida como um ponto fraco indesmentivel da nossa construção europeia.

Tudo o que escreveu sobre esta anomalia é justo. Mas qual é a sua opinião sobre a probabilidade que esta anomalia desapareça um dia?

Sabendo que a G.Bretanha se opõe fortemente, como será possível ultrapassar este obstáculo sem destruir o pouco de Europa que subsiste?

Como sei que " 10 , Downing Street", de M. Thatcher , faz talvez parte das suas leituras imediatas (eu tenho este livro, mas também a biografia de Benjamin Disraeli, para comparar!), deve certamente recordar-se do discurso de Maggy à Bruges, em 1988:

"- Que a Europa seja uma família de Nações, que se compreendam mutuamente, que apreciem as identidades nacionais respectivas. Tenhamos uma Europa que ocupe o seu lugar no mundo, que olhe para o exterior e não para o interior, e que preserve esta 'Comunidade Atlântica - esta Europa dos dois lados do Atlântico - que é a nossa herança mais nobre e a nossa maior força".

Estas palavras deixam pouca esperança para o futuro da Europa política.

Mas não só. Para a Europa Social também, tema da cimeira de Madrid, entre outros.

"Quando M.Thatcher foi à cimeira de Madrid, levou com ela um documento enumerando todas as vantagens sociais de que beneficiavam os seus compatriotas:- serviço de saúde, medicina e segurança no trabalho, reformas e prestações sociais para os handicapados, formação, etc.

Só que, milhares de Ingleses atravessam o canal todos os dias para ir ao dentista ou para serem operados nos hospitais da Normândia e da Bélgica. Tenho amigos que por lá passaram, senão teriam de esperar um ano ou dois para serem operados.

Quanto às condições de trabalho e aos salários só há poucos meses que Blair instituiu o salário mínimo que é abaixo do que se pratica no resto da Europa mais desenvolvida.

Em suma, M.Thatcher opôs-se absolutamente à Carta Social Europeia. Reacção típica dos conservadores que, como nos EUA , consideram que melhorar a vida das classes desfavorecidas não é rentável. (Hillary Clinton conheceu o problema.)

Há uma testemunha em Portugal, desta reacção anti-europeia e retrograda, na pessoa do nosso actual Presidente da Republica, Sr. Cavaco Silva, que sentado ao lado de M.Thatcher , que ela considerou como um homem sensato, e a quem disse, que seria ainda mais sensato se o seu pais, Portugal, não fosse assim tão pobre e a Alemanha tão rica!

"Mas entao não vê que a Carta Social Europeia que a Alemanha propõe, se destina a impedir Portugal de atrair os investimentos alemães graças aos baixos salários praticados em Portugal ?" E uma espécie de proteccionismo alemão !


Fazer a Europa com uns parceiros destes, não é coisa fácil!

PS) Quando penso que Disraeli se aliou à Rainha e aos pobres para combater os "wighs" conservadores no parlamento! Mais tarde, também foi um deles, claro...

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira: Muito obrigado pelas amáveis felicitações que me dirigiu àcerca das 1000 visitas, mas o mérito também é seu e de outros que têm a gentileza de aqui vir e de deixarem os comentários que entendem e nesse aspecto o Senhor é inexcedível.
Em relação àquilo que reputa de "anomalia" que é a não existência de um exército europeu, a minha resposta honesta é: provavelmente nunca. Nunca, i.e., nem a médio, nem a longo prazo. A muito longo prazo é impossível fazer grandes previsões. Este rema merecia um post próprio, mas adianto dois ou três aspectos:
1- Os interesses, os receios, os alinhamentos preferenciais, dos Estados-Membros diferem. A Guerra do Iraque constituiu disso um bom exemplo.
2- O Reino Unido é o país militarmente mais capaz da Europa; sem ele, não há exército europeu com um mínimo de credibilidade e, como bem diz, os Britânicos não mostram um mínimo de interesse num projecto desses.
3- Os Europeus (os governantes) gostam de fazer discursos grandiloquentes sobre a Europa como potência mundial, mas não se vê ninguém, excepto Londres, Paris, Ankara e Atenas, a dispender uma razoável % do PIB com a defesa e hoje, mais do que nunca, sem $$$, não há forças armadas modernas, capazes de intervir em cenários diversificados.

P.S. Sobre a Grã-Bretanha e a senhora Thatcher, permita-me que lhe sugira ver a capa da edição da revista "Economist" de 28/10/06. É soberba!

freitas pereira disse...

Sr. Rui Miguel Ribeiro


Estamos de acordo sobre estes pontos acima. Mesmo lamentando que assim seja.

Muito obrigado pela informação sobre o "Economist".

Permita-me que lhe indique também algo que, mesmo se não estou de acordo com tudo o que ele disse , merece talvez a sua leitura. Sobretudo a sua dissertação sobre a "Verdade". Trata-se do discurso de Harold Pinder, Prémio Nobel de Literatura 2005, na Fundação Nobel de Estocolmo, aquando da recepção do Prémio.

O 'link' "Nobel Prize" leva-o lá facilmente.

Anónimo disse...

Passaram 5 meses e o Presidente e o Congresso parecem em rota de colisão. O que irá acontecer? O "Elefante" está mesmo abatido?

José Manuel