MIL PERDÕES
Na sequência da “História de Veneza”, prometi que voltaria à temática dos pedidos de desculpas que tem estado em voga estadistas (quase sempre ocidentais) pedirem a outros povos/países por acções cometidas pelos respectivos antepassados.
Por princípio, considero esta prática uma aberração sem sentido, que resulta da era politicamente correcta (condicionada por complexos e hipocrisia) em que vivemos e do sentimento de culpa que alguns grupos conseguem inculcar nas lideranças políticas.
1- Estes pedidos de desculpas são unilaterais: são sempre os mesmos a pedir desculpa e os mesmos a recebê-las, como se uns fossem uns pecadores impenitentes ao longo dos séculos e os outros fossem uns mártires sem mácula. Não posso subscrever esta visão unilateral e redutora da História.
Por princípio, considero esta prática uma aberração sem sentido, que resulta da era politicamente correcta (condicionada por complexos e hipocrisia) em que vivemos e do sentimento de culpa que alguns grupos conseguem inculcar nas lideranças políticas.
1- Estes pedidos de desculpas são unilaterais: são sempre os mesmos a pedir desculpa e os mesmos a recebê-las, como se uns fossem uns pecadores impenitentes ao longo dos séculos e os outros fossem uns mártires sem mácula. Não posso subscrever esta visão unilateral e redutora da História.
2- Estes pedidos de desculpa ignoram a natural evolução das coisas e a relatividade dos valores ao longo da História. Até há meio século atrás, a conquista era um acto normal nas Relações Internacionais, que só não era praticado por quem não tinha poder para isso. Há 500 anos, a escravatura era normal, como o era há 2000 anos; e foram muitos os povos que a praticaram e as culturas que a aceitaram. Há 600 anos atrás era comum passar a fio de espada os vencidos; já Júlio César exclamava “vae victis” (ai dos vencidos).
3- Se TODOS, os povos e países pedissem desculpa pelas “malfeitorias” que ao longo de 500, 800, 2000, 3500 anos de História os seus antepassados foram fazendo a outros, a diplomacia mundial resumir-se-ia a um corropio de troca de desculpas. Os Árabes pediriam desculpa a todos, desde a Índia até à Península Ibérica, passando por todo o Norte de África, para não falar nos escravos que capturavam na África negra; os Italianos, herdeiros do Império Romano, teriam de o fazer ao mundo Euro-Mediterrânico; os Franceses e os Alemães fá-lo-iam a quase toda a Europa, a que acresce, no caso da França, a inúmeras colónias; Portugal, por exemplo, teria de se desculpar perante os nativos do Brasil, Guiné, Angola, Moçambique, Timor, etc, mas receberia desculpas da Espanha, França, da Liga Árabe e da Itália.
Há, naturalmente, que fazer uma distinção entre factos remotos e acontecimentos contemporâneos. Uma coisa é a Alemanha assumir as suas responsabilidades pelo Holocausto e dele pedir desculpa, outra bem diferente seria a Grã-Bretanha pedir desculpa à França pela ocupação territorial e pelos massacres cometidos durante a Guerra dos Cem Anos. Não obstante, isto não significa que a Alemanha tenha de viver vergada pelo sentimento de culpa ou coagida na sua acção política pelo Holocausto. O capítulo encerra-se e segue-se em frente. Isto não significa esquecer a barbárie, ou ignorar a dor das vítimas e dos seus descendentes, mas apenas a ordem natural das coisas: life goes on.
Esta prática – a reivindicação de desculpas e a subsequente das ditas – resulta na manutenção do Ocidente como refém moral do resto do mundo, como se lhe fossem assacáveis os males do mundo, ignorando todas as benfeitorias e como se povos, nações, estados, que são independentes há 30, 50, 100 anos, tivessem vivido todo este tempo num estado de inimputabilidade absoluta e fossem alheios ao estado miserável em que muitos deles estão.
Eu não sinto nem necessidade, nem dever, nem vontade, nem obrigação de pedir desculpa a povo algum por aquilo que os nossos antepassados fizeram. Estamos no III Milénio e os países têm de seguir o seu caminho e assumir a responsabilidade pelo seu presente e pelo seu futuro, sem estarem permanentemente a recriminar D. Afonso de Albuquerque, Cristóvão Colombo, Elizabeth I, George Washington, ou Pedro o Grande, ou quaisquer outros, pelas suas desditas actuais.