Mostrar mensagens com a etiqueta Napoleão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Napoleão. Mostrar todas as mensagens

23 outubro, 2006

Uma História de Veneza

UMA HISTÓRIA DE VENEZA



Em 2001 participei numa conferência sobre Segurança e Defesa em Veneza com o Instituto de Defesa Nacional e os seus congéneres de Itália, França e Espanha.

A parte social do programa incluía as inevitáveis e inesquecíveis visitas à Piazza San Marco à Basílica San Marco e ao Palácio dos Doges. A dado momento da visita, a guia veneziana mencionou que determinada pintura não se encontrava no local, porque tinha sido levada pelo Exército Napoleónico; mais adiante, esclareceu que certa escultura era uma cópia, pois o original se encontrava em França. À terceira referência (feita de forma casual) às pilhagens francesas, alguém perguntou à guia – “Porque é que a Itália (ou Veneza) não exige a devolução das suas obras de arte à França?” Após uma breve pausa, a guia respondeu: -“ Porque se pedíssemos para nos devolverem o que outros nos levaram e eles nos solicitassem a entrega do que nós tirámos, não sei se não ficaríamos a perder.”

Game, Set and Match! Foi uma das mais breves, lúcidas e inteligentes análises que já ouvi e que resume a impossibilidade, a inutilidade, a impertinência, a petulância e a hipocrisia de tentar corrigir o que de mal aconteceu ao longo de séculos de História.

Pior ainda, é que o ónus das correcções e desculpas pela História fica sempre nos mesmos: os ditos países desenvolvidos, o Ocidente. Como se cada um de nós (Ocidentais), carregasse sobre os ombros o peso de séculos de guerras, opressões, miséria e injustiça, uma espécie de portadores do pecado original, sem os quais os demais povos viveriam felizes, prósperos e contentes. Será que não podemos aprender alguma coisa com aquela guia de Veneza?