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10 maio, 2008

Carta Aberta a Luís Filipe Menezes

CARTA ABERTA A
LUÍS FILIPE MENEZES

Caro Dr. Luís Filipe Menezes

Admito que esta missiva venha fora de tempo. Confesso que, para além dos afazeres profissionais e familiares, tinha alguma esperança de encontrar uma razão concreta, válida e entendível para a sua retirada. Tentei e não consegui encontrar. É pena.

Dei de barato os primeiros 3 meses da sua liderança, pela necessidade de adaptação ao cargo e pelo estranho costume português de dar tréguas ao Governo durante a Presidência comunitária.

Mais recentemente, parecia que queria finalmente ignorar a crítica interna capciosa, encapotada, mal-intencionada ou interesseira e dar corpo às expectativas que trouxe consigo em Setembro passado.

Em vez disso demitiu-se. Bateu com a porta e foi-se embora. Poucos dias depois, deu uma entrevista à SIC Notícias em que esteve ao nível a que me habituara antes de ser eleito. Pensei “Ele assim não pode renunciar.” Mesmo assim, foi-se embora.

Apoiei a sua candidatura à presidência do Partido Social Democrata e votei em si. Achei (e acho) que era a lufada de ar fresco de que o PSD precisava: novas ideias, novas pessoas, novos comportamentos, novo estilo.

Não fui um apoiante de ocasião: ouvi-o e li-o inúmeras vezes, até tive oportunidade de o convidar para proferir uma palestra na Universidade Fernando Pessoa. Não concordei com tudo, mas subscrevi a maior parte. Convenceu-me.

Francamente, não tinha o direito de ir embora. 21.000 militantes votaram em si. Muitos empenharam-se na sua candidatura. Mais grave, deu esperança a muita gente. A sua demissão traiu essa esperança legítima.

Posso estar a ser injusto, mas a escassez de explicações não deixa margem para outros juízos. Não é ingénuo, nem chegou à política ontem: sabia que ia sofrer ataques dos velhos inimigos e daqueles cujo modo de vida a sua liderança ameaçava; também estava ciente de que a imprensa enfeudada a preconceitos sobre o perfil de liderança para o PSD, não lhe daria tréguas.

O seu projecto prometia um novo rumo para o PSD. A sua demissão ameaça fazer regressar o PSD ao pantanal do Centrão & interesses associados.

Foi uma oportunidade perdida e um tempo perdido. Foi pena. O PSD e os seus militantes mereciam mais.

Com os melhores cumprimentos.

                                     Rui Miguel Ribeiro

11 dezembro, 2006

"Portugal Merece Melhor"

“PORTUGAL MERECE MELHOR”

Portugal padece de um mal comum a muitas democracias: uma ausência de reais políticas alternativas. Os principais partidos têm uma vincada diferença histórica e programática, mas o dito pragmatismo e a luta desenfreada pelo centro político, fazem com que não tenham muito mais do que nuances de direita ou de esquerda.

Conquistado o poder, frequentemente as grandes linhas de acção conhecem vários pontos em comum, havendo casos, como no Reino Unido com o Labour de Tony Blair e em Portugal com o PS de José Sócrates, em que os partidos vencedores se apropriam de algumas bandeiras características dos seus adversários, assim retirando-lhes uma parte da respectiva base de apoio.

Neste tipo de cenários, o papel da oposição alternativa ao governo torna-se mais complicado do que o normal, pois a gradual confluência da praxis política estreita o espaço para a crítica, retira credibilidade aos ataques à acção governativa e, à falta de uma real e completa alternativa, confina o exercício da oposição ao trivial, ao acessório, ao fait-divers. Por outras palavras, aniquila-a.

Daí, alguns terem concluído que o poder não se ganha, mas sim que se perde. Não deixando de ser, por vezes, verdade, esta convicção conduz à prostração e passividade políticas, tornando-se o líder de oposição bem sucedido aquele que, pelo timing em que exerce o cargo, ou pela tenacidade com que a ele se agarra, se encontra nessa posição quando o poder efectiva e eventualmente, cai de podre.

Foi por recusar este estado de resignação, foi por ter alergia a este síndroma do politicamente correcto que assola as democracias europeias do nosso tempo e que conduz a uma crescente igualdade de políticas, foi por ter consciência que a democracia definha à falta de reais e credíveis alternativas, que no simbólico dia 1 de Dezembro, fui a Gaia participar no almoço realizado sob o lema “Portugal Merece Melhor”.

O slogan foi bem achado e é difícil não concordar com ele. Eu também apreciei a extraordinária mobilização (perto de 3000 pessoas) num período amorfo de militância político-partidária, o profissionalismo com que o evento foi organizado que o assemelhou à apresentação de um candidato a Primeiro-Ministro e, principalmente, o conteúdo das intervenções, nas quais foi feita uma real e implacável oposição ao governo do PS e se adiantaram algumas alternativas substantivas e não meramente retóricas ou cosméticas.

Luís Filipe Menezes está de parabéns. Contudo, como médico, saberá melhor do que eu que a última coisa que um doente em situação difícil precisa é de falsas esperanças; o fatal regresso à realidade coloca-o num estado de desespero e desesperança superior ao anterior. A sua responsabilidade é demonstrar ao paciente, até 2009 e nos quatro anos seguintes (se for caso disso), que tem efectivamente receitas e remédios diferentes e mais eficazes para Portugal do que aqueles que nos têm sido apresentados. Para bem de todos, desejo-lhe muito boa sorte, engenho e arte.