12 janeiro, 2007

Iraq: Make or Break





IRAQ: MAKE OR BREAK?



in “The Economist”, 13 de Janeiro 2007






MAKE:

1-   O reforço do contingente militar norte-americano no Iraque apresenta-se como um factor sine qua non para tentar conter e inverter a escalada de violência que se abateu sobre o Iraque desde Fevereiro de 2006. A insuficiência desse contingente é o pecado original da intervenção Anglo-Saxónica. O seu reforço traz alguma esperança de que, à capacidade para limpar uma zona de grupos armados, se soma a capacidade de manter essas zonas violence-free. O factor segurança é primordial. Sem ele não há estabilidade política, nem desenvolvimento económico.


2-   O compromisso de Bagdad em atacar de frente as fontes de violência, sejam elas sunitas ou xiitas. Sem a participação activa das forças armadas e de segurança do Iraque, não há segurança à la longue, dado que a Coligação não pode lá ficar eternamente.


3-   O compromisso de Bagdad de tentar resolver de forma efectiva as graves fracturas políticas que dilaceram o país, mormente criando condições para que os Sunitas sintam ter uma boa oportunidade de participação na governação do Iraque e na gestão dos respectivos recursos (petróleo).


4-   Ausência de prazo e exigência de resultados. O Presidente Bush não estabeleceu um deadline para a retirada. Fez muito bem. Tal opção condicionaria as operações militares e constituiria um incentivo aos terroristas e às milícias. O Presidente Bush exigiu que o governo do Iraque produzisse resultados nas frentes política, económica e da segurança. Fez muito bem. Sem um compromisso eficaz do Governo Iraquiano não há vitória possível. Os EUA, Reino Unido e outros países podem ajudar, mas se os Iraquianos não se quiserem salvar, então pouco haverá a fazer.


5-   Nem Irão, nem Síria. O Irão e a Síria são parte do problema e não parte da solução. Como tal deve-se combater a sua influência nefasta e não ser arrastado para mais umas negociações intermináveis em que as outras partes apostam no tempo e no desgaste para fazer prevalecer os seus objectivos.


6-   O reforço e a diversificação da ajuda económica é vital para escapar do ciclo da morte. Uma vez “libertada” uma área, é crucial apostar no desenvolvimento sócio-económico dos seus residentes para neutralizar a apetência pela violência.


BREAK:

1-   Too little? Tenho dúvidas que 21.500 soldados sejam suficientes para atingir os objectivos propostos. Não sei se seria possível enviar um reforço mais substancial, mas dado que este será possivelmente o último que realisticamente Washington poderá enviar, teria sido melhor subir mais a parada para maximizar as possibilidades de sucesso.


2-   Too late? Penso que não, mas é óbvio que estas medidas vêm tarde. Tomadas meio ano antes (para não dizer mais), teriam tido mais possibilidades de inverter a situação no terreno e até poderiam ter amenizado a derrota eleitoral dos Republicanos em Novembro.


3-   A vertigem Democrata pela retirada é um dos obstáculos para o sucesso deste ou de qualquer outro plano com alguma possibilidade de sucesso. A irresponsabilidade desta postura consegue ultrapassar quase todos os erros cometidos pela Administração Republicana no pós-Guerra do Iraque: é a receita para a catástrofe final.



 


05 janeiro, 2007

2007 Wish List

2007 WISH LIST

Ao começo de um Novo Ano costuma responder um enunciar de novos planos/intenções/comportamentos. Dado que estes estão no plano pessoal e serão de pouca importância para quem aterrar no “Tempos Interessantes”, optei por vos deixar uma Wish List. A ordem dos factores é arbitrária e a probabilidade de concretização vai do possível ao utópico, do sério ao light. Anyway, it is MY 2007 Wish List.

1-   Afeganistão: NATO controla o país; Taliban erradicados; Bin Laden capturado; produção de ópio erradicada; senhores da guerra e do crime presos.

2-   Iraque: terroristas estrangeiros ligados à Al-Qaeda capturados, presos, ou abatidos; milícias sectárias desmanteladas; retoma económica; governo central com controlo efectivo do país a todos os níveis; redução drástica das tropas da Coligação por já não serem necessárias.

3-   União Europeia: o Conselho Europeu deixa de perder tempo com o Tratado Constitucional e concentra-se na competitividade económica da UE; 23 dossiers da adesão da Turquia são acelerados, 14 suspensos, 7 deleted, 2 transfigurados e 4 têm pena suspensa.

4-   China: o Governo chinês vai retirar do Tibete e reconhecer a soberania do território; Taiwan vai proclamar a independência e Pequim vai ser a 3ª capital a reconhecê-la, a seguir a Tashkent (Uzbequistão) e a Montevideu (Uruguai).

5-   Irão: os Iranianos irão reduzir os Ayatollahs à actividade espiritual, irão construir Theme Parks em Natanz, Bushehr, Isfahan e demais sites nucleares e irão mandar Ahmadinejad fazer trabalho comunitário para a Faixa de Gaza (sem acesso aos mísseis do Hamas).

6-   Japão: Tóquio vai alterar a sua Constituição de molde a poder usar as suas forças armadas em acções no estrangeiro e de apoio aos seus aliados.

7-   Alemanha: Berlim vai inverter a política nuclear alemã e autorizar a construção de modernas centrais nucleares (para fins pacíficos e não para substituir a função das iranianas).


8-   Reino Unido: os Trabalhistas vão eleger John Reid para substituir Tony Blair em detrimento do favorito Gordon Brown; vai faltar menos um ano para que o Príncipe de Gales se torne em Charles IV.

9-   EUA: O Presidente George W. Bush vai deixar os devaneios dos neo-conservadores e seguir uma política externa realista; o Congresso vai aprovar a reforma da Segurança Social proposta pela White House.

10-              Itália: o Coliseu de Roma reabre para Prodi e Berlusconi; os Italianos escolhem o primeiro Chefe de Governo decente desde o Império Romano.

11-              Rússia: Vladimir Putin anuncia que terá de continuar no Kremlin depois de 2008 porque os potenciais sucessores não estão em condições de disputar as eleições porque a) foram destacados para a Chechénia; b) foram seleccionados para construir gasodutos na Sibéria; c) enganaram-se nos ingredientes do vodka com laranja; d) desistiram espontânea e entusiasticamente em favor do próprio Putin; e) viajaram em companhias aéreas ucranianas; f) foram desta para melhor por causas desconhecidas esclarecidas com total transparência.

12-              França: Jacques Chirac vai mesmo e definitivamente embora.

13-              Espanha: Zapatero conclui a sua obra de desmantelamento do país, tornando-se Primeiro-Ministro de Castela-Leão.

14-              Coreia do Norte: Kim Jong Il aceita mais US$ 15 biliões de ajuda energética, alimentar e financeira, acrescida de US$ 5 biliões para ajudas de custo e representação, da Coreia do Sul, em troca do compromisso de não realizar mais de 4 testes nucleares e 23 lançamentos de mísseis de médio e longo alcance em 2007.

15-              Cuba: Fidel Castro morre; os Cubanos que estão na Florida regressam à ilha e são todos felizes para sempre.

16-              Terra Santa: os Israelitas ficam na sua; os Palestinos ficam na deles; nós, finalmente, ficamos na nossa.

17-              Líbano: os guerrilheiros do Hezbollah, com Nasrallah à cabeça devoram os excedentes mundiais de polónio 210; os restantes grupos políticos libaneses formam um pacífico governo de unidade nacional.

18-              Petróleo: o preço do barril desce para os US$ 25; o Governo Português NÃO aproveita a situação para aumentar o ISP em 200%.
19-              Portugal: o PIB per capita dos Portugueses enlouquece e ultrapassa em 12 meses metade dos países que se encontram à nossa frente na Europa; perante os factos, Irlandeses, Finlandeses, Holandeses e Espanhóis entregam os pontos; apesar da proeza, o preço do café desce para uns mais decentes 30 cents; é abolido o limite de velocidade nas auto-estradas e os radares nas estradas são declarados inconstitucionais; Sócrates altera o conceito de SCUT – em vez das portagens virtuais, passamos a ter as auto-estradas virtuais (não têm custos, dão receita e abatem ao deficit).

20-              Bélgica: os Flamengos integram-se na Holanda, os Valões na França e o país é extinto; a Comissão Europeia é instalada na Transilvânia e o PE reúne em Rovaniemi (Finlândia) nos meses de 30 dias e em Palermo (Sicília) nos meses de 31 dias; as reuniões de Fevereiro serão decididas anualmente por maioria de 7/8 dos países, representando 5/6 da população e 4/5 da dimensão.

21-              Balcãs: admitindo que “aquilo” está tudo muito mal organizado desde 1830, a ONU decide baralhar e dar de novo – todos ficam felizes porque os “outros” não tiveram o que queriam.

22-              Benfica: o Benfica sagra-se Campeão Nacional, vence a Taça UEFA e conquista a Taça de Portugal. YES!!!

23-              Futebol: termina o processo “Apito Dourado” com a condenação exemplar dos principais arguidos.

24-              Economia: a SONAE é comprada pelos Supermercados Bolama (Guimarães) numa OPA belicosa, quando se preparava para fazer uma OPA agressiva sobre a British Telecom; a Autoridade da Concorrência autoriza a OPA, desde que o Bolama desça em 40% o preço do azeite, do arroz, do leite e dos yogurts e abdique vender batatas fritas e legumes congelados.

25-              Alterações Climáticas: Portugal continua atrasado na introdução das alterações climáticas, pelo que vamos continuar a ter seca e incêndios florestais no Verão e chuva e inundações no Inverno; para quem, como eu, dreams of a White Christmas, o melhor é passar o Natal na Noruega.

Um Feliz Ano Novo para todos, com saúde, família e amigos, algum $$$ e muito sentido de humor, são os votos do Vosso amigo,

Rui Miguel Ribeiro.

31 dezembro, 2006

2006: The Best and the Worst

2006: THE BEST AND THE WORST

Acabando o 2006 a recuperar de uma arreliadora gripe, não tenho tempo, nem capacidade para elencar de forma exaustiva “The Best and the Worst of 2006”. Também tenho dúvidas de que essa seja a melhor forma de abordar este assunto num Blog que se quer legível, no sentido de readable. Deixo então uma short list para os meus amigos apreciarem (ou não).
 
THE BEST


MI5






















 
O MI5, Serviços Secretos do Reino Unido figuram em 1º lugar nesta lista por dois motivos:

* Porque conseguiram, no Verão deste ano, evitar em tempo útil o que poderia ter sido a maior série de atentados terroristas da História – a explosão de vários aviões de passageiros sobre o Atlântico em ligações entre o Reino Unido e os EUA, presumivelmente salvando milhares de vidas inocentes. Sabe-se que muitas outras conspirações foram abortadas graças aos Serviços chefiados por
Dame Eliza Manningham-Buller.
* Por simbolizarem um heróico e invisível trabalho desenvolvido pelos principais serviços de segurança e contra-espionagem ocidentais e que contribuíram para que a Al-Qaeda chegue ao final de 2006 “a seco” no que respeita a grandes acções terroristas no Ocidente. Bem hajam por isso.

ITÁLIA – SQUADRA AZZURRA



 Del Piero faz o 2-0 contra a Alemanha nas meias finais.

Italianos celebram o Tetra em frente ao Il Duomo de Milano.

A Itália venceu de forma justa e inequívoca o Campeonato do Mundo de Futebol Alemanha/2006, a segunda maior competição desportiva mundial (a maior de uma só modalidade). Lippi, Pirlo, Cannavaro, Del Piero, Buffon, Matterazzi, Zambrotta, Luca Toni, Gattuso, Gilardino, Grosso. Totti, De Rossi, Iaquinta, Inzhaghi e todos os Tiffosi merecem figurar aqui.




























 

Os Gladiadores do século XXI festejam la più bella victoria!

 
CAVACO SILVA
 
Cavaco Silva na primeira visita à Armada na qualidade de Presidente da República.

Pela primeira vez desde 1976, os Portugueses elegeram um Presidente da República um candidato oriundo de um dos partidos (PSD) à direita no espectro político português e com o apoio exclusivo do PSD e do CDS.

Já autor da 1ª (e da 2ª) maioria absoluta monocolor em Portugal, Aníbal Cavaco Silva confirmou-se como um animal político talhado para grandes vitórias eleitorais, desertificando à direita para a monopolizar e conquistando ao centro esquerda para alcançar a maioria absoluta.


Com um primeiro ano de mandato dominado pelas preocupações de estabilidade política e solidariedade institucional e sem surpresas, figura aqui apenas pelo significado da sua vitória eleitoral frente a 4 (quatro) candidatos de esquerda. Mais à frente se verá se aqui volta por outras razões.

THE WORST
NPT- NUCLEAR NON-PROLIFERATION TREATY

O NPT (1968) foi ao longo de quase quatro décadas a pedra angular do esforço de não-proliferação nuclear. 2006 foi o annus horribilis do NPT: o avanço do programa nuclear do Irão, com a cobertura de Moscovo, o teste nuclear da Coreia do Norte, contando com a benevolência de Pequim e Seoul e o cada vez mais próximo reconhecimento oficial do estatuto de potência nuclear da Índia, com Washington a apadrinhar, foram pregos sucessivos bem martelados no caixão do NPT. Como é óbvio, com sponsors deste calibre, as sanções e ameaças do Conselho de Segurança da ONU à Coreia do Norte e ao Irão, tornam-se cada vez mais risíveis.


IRAQUE E SADDAM HUSSEIN



The end of the line for Saddam Hussein.

O Iraque está num estado desgraçado, pasto do selvagem sectarismo de (alguns) Sunitas e Xiitas, do terrorismo internacional, de interesses inconfessáveis de vizinhos mal-intencionados (Irão/Síria) e de um pós-guerra desastrado gerido (?!?) pelos EUA.
 
Saddam Hussein, atingiu o previsível fim da linha. Enforcado no dia 30/12/06, é a imagem forte que nos fica neste estertor final de 2006. No surprise, no mercy, no sorrow. Talvez fosse bom alguns recordarem tudo o que aconteceu no Iraque entre 1979 e 2003 para não cantarem loas ao “idílico” Iraque de Saddam Hussein.


PORTUGAL - GOVERNO E OPOSIÇÃO

Entalados entre um Governo que faz o contrário do que prometeu e aumenta a ingerência do Estado na vida do cidadão e uma oposição amorfa (PSD), ou em processo autofágico (CDS), os Portugueses terminam mais um ano de sacrifícios, sem vislumbrar perspectivas de um futuro melhor. O surto consumista deste Natal, faz lembrar o Titanic a ir ao fundo com a orquestra a tocar!
in “Diário de Notícias”

Com os melhores e os piores, desejo a todos os leitores do “Tempos Interessantes” um 2007 pleno de felicidade, saúde e realizações pessoais. And may you live in Interesting Times!

Rui Miguel Ribeiro

27 dezembro, 2006

10-0

10-0


Simão festeja com Nuno Gomes e Nuno Assis o 1-0.

O Benfica tem sido intratável no Estádio da Luz nesta época: 7 vitórias em 7 jogos para o Campeonato e 10 vitórias em 11 jogos oficiais.

Mesmo assim, é com particular satisfação que eu e o Afonso registamos um score particular de 3 jogos, 3 vitórias e 10-0 em golos! Depois de 3-0 ao Áustria de Viena e outra vez 3-0 ao Celtic Glasgow, tivemos uma prenda de Natal sob a forma de 4-0 ao Belenenses.

A jogar bem, a marcar golos e a ganhar, talvez ainda voltemos à Luz mais um par de vezes esta época…Assim vale a pena!


Kikin Fonseca estreia-se a marcar pelo Benfica, fazendo o 3-0 contra o Belenenses.
in http://www.slbenfica.pt/  

P.S. O Post anterior de “Tempos Interessantes” foi o 100º do Blog. A um número marcante, correspondeu O evento mais relevante: o NATAL. Feliz coincidência, que não quis deixar de sublinhar.

24 dezembro, 2006

Feliz e Santo Natal

FELIZ E SANTO NATAL
REMBRANDT – The Holy Family At Night – Rijksmuseum, Amsterdam

Desejo a todos os leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes” um Santo e Feliz Natal, na companhia dos que mais amam, com todo o conforto e na Paz do Senhor.

Rui Miguel Ribeiro

21 dezembro, 2006

One Million Dollar Report

ONE MILLION DOLLARS REPORT
 




















 
in International Crisis Group

Os Estados Unidos e o mundo viveram, no que concerne o Iraque, suspensos do famigerado Relatório do Iraq Study Group, liderado por James Baker e Lee Hamilton. Ao longo de 8 ansiosos e intermináveis meses, respaldados num orçamento de US$ 1 milhão, foram ao Iraque, falaram com George Bush e Tony Blair, reuniram dezenas de vezes, a situação no Iraque foi-se agravando, os EUA tiveram eleições, o Médio Oriente continuou no seu perpétuo estado de agitação, houve uma pequena guerra no Líbano, o petróleo subiu ao pico e começou a descer… e a comissão deliberava.

Como acontece frequentemente quando a expectativa sobe demasiado, o resultado tende a ser um pouco pífio. Já em Dezembro, da bruma saiu, não o poderoso Nabucodonosor de Verdi (Nebuchadnezzar II da Babilónia) em estilo sebastiânico, mas um longo relatório, que pouco acrescenta de novo e que deverá ter um efeito prático residual. E o que se sabia é que:

1- Não há soluções tipo pudim instantâneo para o Iraque.
2- A resolução dos confrontos sectários intra-iraquianos passam fundamentalmente pelos próprios Iraquianos.
3- A retirada das tropas da Coligação, mormente as dos EUA, lançarão, com toda a probabilidade, o país no caos.
4- Algo precisa de ser mudado.

O Iraq Study Group (ISG) propõe 79 medidas. Duas das mais emblemáticas estão erradas e, tudo o indica, não vão ser aplicadas pela Administração Norte-Americana: a gradual mas vincada redução das tropas combatentes do Iraque e o estabelecimento de conversações com o Irão e a Síria.

O anúncio de um calendário de retirada, seja ele formal ou subsumido, teria um efeito muito próximo do supra-enunciado no ponto 3. Sabedores que as tropas dos EUA estão em via de ir embora, as diversas facções ou grupos armados preparar-se-iam para, a partir desse dia, levar às últimas consequências os ajustes de contas, as lutas pelo controle de parcelas do território e a expulsão ou extermínio de populações de etnia e/ou religião diferente da sua, das zonas por si controladas. Por outras palavras, é impraticável no curto prazo.

Negociar com o Irão e a Síria nos termos e âmbito propostos, seria humilhante para os EUA, penalizador e inaceitável para Israel, reforçaria a hegemonia que Teerão tenta afirmar no Médio Oriente e, pior ainda, não produziria resultados. Isto porque, na actual conjuntura, o que Iranianos e Sírios tentariam extorquir de Washington não lhes poderia ser dado por George W. Bush – hegemonia regional e programa nuclear para Teerão, Montes Golan e Líbano para Damasco. Finalmente, porque, havendo interferência externa no Iraque, na actual conjuntura, nem que o Irão e a Síria colaborassem de boa fé, não teriam o poder de estancar a violência no Iraque, pois esta tem vindo a perder carácter exógeno e a ganhar contornos endógenos cada vez mais nítidos.

A melhor alternativa que se prefigura, passa por tentar aumentar a presença militar dos EUA no Iraque, mesmo que por pouco tempo, para aumentar a capacidade de conter/bater os grupos armados, acelerar ainda mais o treino das forças militares e de segurança iraquianas, garantir que o Governo de Bagdad combata as milícias armadas com mão de ferro (esta não é fácil) e intensificar os investimentos e os esforços tendentes a caminhar para normalização económica do país.

É uma via estreita e sem nenhuma certeza de sucesso, mas parece-me francamente melhor, em termos de probabilidade de sucesso do que o Relatório do ISG.

P.S. E podem ter a certeza de que demoraria menos do que 8 meses e cobraria menos de US$ 1.000.000!



19 dezembro, 2006

Europa e África


EUROPA E ÁFRICA

Portugal tem insistido frequentemente na realização de Cimeiras Europa-África, ou melhor, UE-UA. Este ano, o Governo Português porfiou para conseguir essa realização durante o 2º semestre de 2007, durante a Presidência Portuguesa da EU. Esta semana conseguiu-o: a Cimeira terá lugar em Lisboa.

Um dos obstáculos à realização do evento foi a resistência que alguns Estados-Membros, mormente o Reino Unido, puseram à participação de Robert Mugabe, Presidente vitalício do Zimbabwe.

Aliás, a União Europeia tem uma posição comum, que terá de alterar, que veda tais convites a tal criatura. O problema é que vários países africanos não participarão se Mugabe for excluído “em nome da solidariedade entre Africanos.” (DN, 16/12/06; p. 12) Duas notas:


1- EUROPA: Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, tem de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.

2- ÁFRICA: “Solidariedade entre Africanos”?!? Seria verdadeiramente hilariante se não fosse tão trágico. Solidariedade entre Sudaneses? Entre Hutus e Tutsis no Ruanda e no Burundi? Entre o Ruanda e o Congo? Entre a Etiópia, a Eritreia e a Somália? Entre Marrocos e a Argélia? Entre o Uganda e a Tanzânia? Entre o Sudão e o Chade? Entre Nigerianos? Entre Liberianos? Na Serra Leoa, ou na Costa do Marfim? Entre a Guiné-Bissau e o Senegal? É claro que alguns dos “solidários” também não terão grande moral para condenar Mugabe, mas isso só vem agravar o problema.

Pelo menos que a Cimeira sirva para deixar cair a máscara de que a UE e/ou os seus Estados-Membros não praticam a Real Politik. Desde que haja interesses envolvidos, nem que seja o da mera vaidade e prestígio de organizar uma grande cimeira internacional, guarda-se os princípios na gaveta por uns dias. It’s business as usual.

11 dezembro, 2006

"Portugal Merece Melhor"

“PORTUGAL MERECE MELHOR”

Portugal padece de um mal comum a muitas democracias: uma ausência de reais políticas alternativas. Os principais partidos têm uma vincada diferença histórica e programática, mas o dito pragmatismo e a luta desenfreada pelo centro político, fazem com que não tenham muito mais do que nuances de direita ou de esquerda.

Conquistado o poder, frequentemente as grandes linhas de acção conhecem vários pontos em comum, havendo casos, como no Reino Unido com o Labour de Tony Blair e em Portugal com o PS de José Sócrates, em que os partidos vencedores se apropriam de algumas bandeiras características dos seus adversários, assim retirando-lhes uma parte da respectiva base de apoio.

Neste tipo de cenários, o papel da oposição alternativa ao governo torna-se mais complicado do que o normal, pois a gradual confluência da praxis política estreita o espaço para a crítica, retira credibilidade aos ataques à acção governativa e, à falta de uma real e completa alternativa, confina o exercício da oposição ao trivial, ao acessório, ao fait-divers. Por outras palavras, aniquila-a.

Daí, alguns terem concluído que o poder não se ganha, mas sim que se perde. Não deixando de ser, por vezes, verdade, esta convicção conduz à prostração e passividade políticas, tornando-se o líder de oposição bem sucedido aquele que, pelo timing em que exerce o cargo, ou pela tenacidade com que a ele se agarra, se encontra nessa posição quando o poder efectiva e eventualmente, cai de podre.

Foi por recusar este estado de resignação, foi por ter alergia a este síndroma do politicamente correcto que assola as democracias europeias do nosso tempo e que conduz a uma crescente igualdade de políticas, foi por ter consciência que a democracia definha à falta de reais e credíveis alternativas, que no simbólico dia 1 de Dezembro, fui a Gaia participar no almoço realizado sob o lema “Portugal Merece Melhor”.

O slogan foi bem achado e é difícil não concordar com ele. Eu também apreciei a extraordinária mobilização (perto de 3000 pessoas) num período amorfo de militância político-partidária, o profissionalismo com que o evento foi organizado que o assemelhou à apresentação de um candidato a Primeiro-Ministro e, principalmente, o conteúdo das intervenções, nas quais foi feita uma real e implacável oposição ao governo do PS e se adiantaram algumas alternativas substantivas e não meramente retóricas ou cosméticas.

Luís Filipe Menezes está de parabéns. Contudo, como médico, saberá melhor do que eu que a última coisa que um doente em situação difícil precisa é de falsas esperanças; o fatal regresso à realidade coloca-o num estado de desespero e desesperança superior ao anterior. A sua responsabilidade é demonstrar ao paciente, até 2009 e nos quatro anos seguintes (se for caso disso), que tem efectivamente receitas e remédios diferentes e mais eficazes para Portugal do que aqueles que nos têm sido apresentados. Para bem de todos, desejo-lhe muito boa sorte, engenho e arte.