IRAQ: MAKE OR BREAK?
in “The Economist”, 13 de Janeiro 2007
O Presidente George W. Bush anunciou finalmente a nova estratégia para o Iraque. 2007 será, provavelmente, um ano decisivo para a evolução do Iraque e para a política da Coligação que derrubou Saddam Hussein em 2003. Make or Break: tudo indica que, ou a situação começa a melhorar, ou os EUA e o Reino Unido encontrar-se-ão num beco sem saída.
MAKE:
1- O reforço do
contingente militar norte-americano no Iraque apresenta-se como um factor sine qua non para tentar conter e
inverter a escalada de violência que se abateu sobre o Iraque desde Fevereiro
de 2006. A
insuficiência desse contingente é o pecado original da intervenção
Anglo-Saxónica. O seu reforço traz alguma esperança de que, à capacidade para limpar uma zona de grupos armados, se
soma a capacidade de manter essas zonas violence-free. O factor segurança é
primordial. Sem ele não há estabilidade política, nem desenvolvimento económico.
2- O compromisso de
Bagdad em atacar de frente as
fontes de violência, sejam elas sunitas ou xiitas. Sem a participação activa
das forças armadas e de segurança do Iraque, não há segurança à la longue, dado que a Coligação não
pode lá ficar eternamente.
3- O compromisso de
Bagdad de tentar resolver de
forma efectiva as graves fracturas políticas que dilaceram o país, mormente
criando condições para que os Sunitas sintam ter uma boa oportunidade de
participação na governação do Iraque e na gestão dos respectivos recursos
(petróleo).
4- Ausência de prazo
e exigência de resultados. O Presidente
Bush não estabeleceu um deadline para a retirada. Fez muito bem. Tal opção
condicionaria as operações militares e constituiria um incentivo aos
terroristas e às milícias. O Presidente Bush exigiu que o governo do Iraque
produzisse resultados nas frentes política, económica e da segurança. Fez muito
bem. Sem um compromisso eficaz do Governo Iraquiano não há vitória possível. Os
EUA, Reino Unido e outros países podem ajudar, mas se os Iraquianos não se
quiserem salvar, então pouco haverá a fazer.
5- Nem Irão, nem
Síria. O Irão e a Síria são
parte do problema e não parte da solução. Como tal deve-se combater a sua
influência nefasta e não ser arrastado para mais umas negociações intermináveis
em que as outras partes apostam no tempo e no desgaste para fazer prevalecer os
seus objectivos.
6- O reforço e a diversificação
da ajuda económica é vital para
escapar do ciclo da morte. Uma vez “libertada” uma área, é crucial apostar no
desenvolvimento sócio-económico dos seus residentes para neutralizar a
apetência pela violência.
BREAK:
1- Too little? Tenho dúvidas que 21.500 soldados sejam suficientes para atingir
os objectivos propostos. Não sei se seria possível enviar um reforço mais
substancial, mas dado que este será possivelmente o último que realisticamente
Washington poderá enviar, teria sido melhor subir mais a parada para maximizar as
possibilidades de sucesso.
2- Too late? Penso que não, mas é óbvio que estas medidas vêm tarde. Tomadas
meio ano antes (para não dizer mais), teriam tido mais possibilidades de
inverter a situação no terreno e até poderiam ter amenizado a derrota eleitoral
dos Republicanos em Novembro.
3- A vertigem
Democrata pela retirada é um dos
obstáculos para o sucesso deste ou de qualquer outro plano com alguma
possibilidade de sucesso. A irresponsabilidade desta postura consegue
ultrapassar quase todos os erros cometidos pela Administração Republicana no
pós-Guerra do Iraque: é a receita para a catástrofe final.
Dentro da conjuntura
difícil que se vive no Iraque, penso que as medidas vão no sentido correcto.
Curiosamente, embora não tenha sido consultado, elas estão na linha do que
defendi aqui mesmo no post “One Million Dollar Report”, publicado no dia 21 de
Dezembro de 2006 (http://tempos-interessantes.blogspot.com/2006/12/one-million-dollar-report.html).
30 comentários:
mas atletico??!!!nao me diga que tem andado no ginasio??!!!ja agora, quando é que o benfica joga para a liga dos campeões??
Angel: Não leves a mal, mas respondo-te no último post sobre o Benfica: "10-0" de 27/12/06.
Aqueles iraquianos radicais só percebem a linguagem da força. Se os EUA conseguirem pô-los nos eixos ainda poderão salvar o país.
Paulo
Eu acho que para o Iraque estava a ser preciso um Schwarzkopf 2.
Ou seja aplicar a máxima força durante o tempo necessário.
agora acho que vai se muito dificil aos americanos sairem daquele atoleiro em ques estão metidos.
Julgo que a solução poderá passar pela divisão do Iraque em dois paises,um sunita e outro xiita.
Mas também acho que se a nova geopolitica tiver como base as divisoes religiosas poderá estar aberta uma perigosissima caixa de Pandora.
É por isso que lamento,e muito,que a resposta de alguns paises europeus aos perigos que vem do Oriente seja tão titubeante.
O problema é sério,muito sério e toca-nos a todos.
Mais depressa do que alguns pensam.
Luís: Concordo contigo; no estado em que o Iraque está, é preciso aplicar a força de forma duradoura, eficaz e sustentada para suster a hemorragia, complementando isso com trabalho político e económico de reconstrução do país.
Quanto à divisão do país, partilho dos teus receios, pelo que acho que é algo a evitar a todo o custo. Acho ainda que essa solução, iria arrastar a Turquia, o Irão e a Arábia Saudita de forma irreversível para o conflito.
Senhores Rui Miguel Ribeiro e Luis Cirilo
Retiro três pontos interessantes nos comentàrios deste “blog” respeitantes ao desastre iraquiano.
1° - A força, mais força ainda, sempre mais força, a força total para resolver o problema! Como se o desastre criado por um governante considerado pelos seus proprios compatriotas como o pior Presidente da historia dos EUA so pudesse ser resolvido pela força..
Esta guerra ilegal do Iraque, que jà durou mais que a ultima guerra mundial, guerra do Iraque na qual se utilizaram as armas mais sofisticadas detidas pela maior potência militar que jamais existiu no mundo, que beneficiou do apoio directo do exército profissional mais competente e mais corajoso, que jà ocasionou centenas de milhares de mortos iraquianos, sobretrudo civis, mais de 3000 soldados americanos mortos e milhares de feridos marcados, a maior parte, para o resto da vida , que custou bilioes de dollars, os Senhores acham que ainda nao chega e que é necessàrio continuar ainda mais forte. Para quando a bomba nuclear ? Sim, porque finalmente so falta esta arma para completar o arsenal guerreiro.
2° - Senhor Luis Cirilo: A divisao étnico-religiosa existia antes da guerra ter começado e era precisamente nessa divisao do pais em três etnias religiosas – curda, shita e sunita -.que se assentava o poder de Saddam e dos sunitas. E toda a gente estava ao corrente desta particularidade do Iraque, criado pelas potências ocidentais. A caixa de Pandora foi aberta no dia em que os EUA e os seus aliados ignoraram soberbamente esta particularidade, apesar dos conselhos dos amigos e dos grandes especialistas do Médio Oriente.
Por outro lado , estou de acordo com o Senhor Rui Miguel Ribeiro : é impossivel ignorar a realidade curda, e a partinha do Iraque entre chitas e sunitas é simplesmente mortal porque a Turquia nunca o permitiria, ou entao os Turcos chegarao a Mossul em poucas horas !
3° - Quando um Presidente, responde ao Povo Americano que a estratégia consiste em ignorar os conselhos de homens politicos do seu pais, que têm uma capacidade politica e uma experiência de dezenas de anos na gestao dos problemas internacionais muito superior àquela que ele pensa ter , creio que podemos realmente considerar que o mundo està em perigo.
Em conclusao, Senhor Rui Miguel Ribeiro, pretender suster a hemorragia provocando uma hemorragia ainda maior, nao é certamente o que o Povo Americano pretendia ao recusar a confiança ao Comandante Supremo do Exército dos EUA.
O Iraque já foi....literalmente!!O caos impera e imperará e não há forma de resolver o problema dentro dos cânones americanos; aliás eles estão a colher, ainda com juro baixo, o que semearam e,à custa de um presidente bacôco e básico conseguiram alterar para muito pior toda a situação na região. Parabéns aos americanos pelo trabalho interessante que fizeram a favor do Irão, pois não falta muito.... Lamento as baixas de ambas as partes,as carnificinas diárias e que os americanos continuem a ter o presidente que têm, mas a sabedoria popular também é imensa quando diz que "cada um tem o que merece"... O problema é que vamos todos ser vítimas de toda a insegurança que se vai gerar na região, pois a globalização é incontornável!
Toze
O problema para o mundo é que o Presidente Bush decidiu satisfazer o seu "ego" em vez de afrontar a realidade dos factos tais como eles se apresentam. Infelizmente para todos nos a Constituiçao permite-lhe continuar esta grande façanha!
Sr. Freitas Pereira: É com gosto que o revejo novamente no "Tempos Interessantes". Como de costume, estamos em "rota de colisão", mas pelo menos não precisamos de carros de combate, caças, ou mísseis para dirimir as nossas diferenças. Pois, realmente é necessário mais força no Iraque, mas tal não significa elevar os patamares da mesma. O que está em causa é um aumento do contingente e uma alteração da metodologia. Eu não sei se vai resultar, mas sei que dificilmente haveria melhor solução nesta altura, a não ser o "surge" ser ainda maior.
Quanto aos conselhos dos homens experimentados, muito honestamente, como já escrevi neste Blog, acho que o Report do Iraq Study Group foi um flop.
Em relação à sua conclusão, sometimes you need to fight fire with fire.
P.S. Gostava de saber onde foi buscar as "centenas de milhares de mortos"....
Tozé: Não subscrevo os epítetos ao Bush e aos EUA. Quanto ao resto, é um risco real. No entanto, as ambições desmedidas do Irão existiriam com ou sem a Guerra do Iraque. Em relação ao Irão, pede-se prudência, mas também eficácia.
Sr. Freitas Pereira: Ainda bem, pelo menos neste caso, que a Constituição dos USA assim é! Antes ter George Bush a dirigir a estratégia para o Iraque do que Pelosi, Reid, Levin, Kennedy, Murta!
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Desculpe a ponctuacao, mas o computador do hotel....out of fashion|
Nao estamos, mais uma vez, de acordo sobre a solucao que nos parece mais viavel para esta guerra atroz. Penso na realidade que o raciocinio do Sr. consiste sempre na solucao militar, enquanto eu estou convencido que nemhum poder militar ,qualquer que ele seja ,nao pode vencer a determinacao dum povo, sobretudo quando a religiao constitui um factor importante desta determinacao.
Acresce ainda o facto que eles sabem bem que a justificacao desta guerra nao se pode encontrar numa qualquer cruzada da democracia, que a maioria considera como um valor abstracto, mas sim na geoestrategia do petroleo que a nossa civilizacao procura avidamente e que justifica todos os atropelos. Ha nao muito tempo Bush queria mesmo explorar o Alaska , embora para o momento so a zona de Valdez tenha sido sacrificada. Isto prova bem o valor que ele atribui a humanidade e a todos os valores que nao sejam capitalisticos| Os 'outros' tem uma importancia relativa.
O futuro nos dira quem tera razao, se o Sr. ou eu. Mas se for o Sr., o que quer dizer que as armas calariam para sempre , se possivel,esses povos do medio-oriente, entao posso dizer-lhe que o mundo sera cada vez mais perigoso para nos todos.
Quanto aos EUA e os valores que este pais incarna, sera necessario uma geracao para esquecer os estragos que esta grande Nacao tera feito no mundo.
Os meus passeios no deserto ,neste momento ,proximo da fronteira da Libia, com homens duma outra civilizacao, esta mesma civilizacao que nos, Portugueses, fomos entre os primeiros a combater ha seculos atras, ao grito de S.Tiago e sob a bandeira do Cristo, fizeram-me pensar que apesar desses combates heroicos dos nossos antepassados, que por vezes acabaram mal, e nos custaram mesmo a nossa independencia, como em Alcazer Kibir, nao demoveram os nossos inimigos de entao, porque cada um guardou a sua fe pelos seculos fora .
Curiosamente, nos meus pensamentos nas areia do deserto, cheguei mesmo a conclusao, que nem uns nem outros nao avancaram muito em termos de civilizacao, excepcao feita do avanco tecnologico. A pobreza e mesmo miseria que por ca existe, tambem a encontro facilmente na velha Europa.
Esta a razao porque nao creio que a guerra seja a solucao para os problemas da humanidade, sobretudo quando sao os paises ricos que a provocam para proveito proprio.
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Para responder às suas duvidas no post precedente:
Sabendo que o seu Francês é excelente, nao traduzo!
Note por favor a data desta contagem e adicione os dois ultimos anos, e verà que o desastre humano, além do que foi a obra de Saddam, é simplesmente horrivel. Sobretudo para as crianças e as pessoas idosas. E tudo isto porque se presumia que havia armas de destruiçao etc,etc,
Plus de 100 000 Irakiens sont morts - où sont notre honte et notre colère ?
Lundi, 1er novembre 2004
The Guardian
L’ampleur totale du coût humain de la guerre d’Irak commence seulement à apparaître. L’estimation, la semaine dernière, par des enquêteurs utilisant une méthodologie crédible, selon laquelle plus de 100 000 civils irakiens - en majorité des femmes et des enfants - sont morts depuis le début de l’invasion menée par les États-Unis, est une grave accusation morale contre nos pays. Les gouvernements américain et britannique ont vite réagi pour semer le doute sur les conclusions du journal médical The Lancet en citant d’autres études. Ces rapports, se basant surtout sur des sources médiatiques, estiment le nombre total des morts civils irakiens à environ 15 000, bien que le fondement de ces estimations ne soit pas clair, puisque ni les États-Unis, ni la Grande Bretagne n’admettent collecter des données sur les pertes civiles irakiennes.
Plus de 100 000 Irakiens sont morts - où sont notre honte et notre colère ?
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Respondendo ao seu PS) e a sua duvida sobre os mortos iraquianos desta guerra mortifera, particularmente para os civis e sobretudo as crianças e as mulheres:-
"-. Une étude confidentielle des Nations Unies, dévoilée en décembre et souvent citée par des activistes antiguerres, avance un chiffre stupéfiant de 500'000 morts. Une étude publiée en novembre par Medact, la branche anglaise de l'Internationale des Physiciens pour la Prévention de la Guerre Nucléaire – qui a reçu le prix Nobel de la paix – fournissait un nombre similaire. Un communiqué de presse du groupe affirme que "une attaque américaine sur l'Irak pourrait tuer entre 48'000 et 260'000 civils et combattants dans les trois premiers mois du conflit seulement, selon une étude menée par des experts en médecine et en santé publique. Les effets d'après-guerre sur la santé pourrait coûter 200'000 vies supplémentaires."
Mais les estimations de Medact sont basées sur les pires suppositions que les militaires américains vont détruire l'essentiel de l'infrastructure civile irakienne, qu'ils ne seront pas en mesure d'aider immédiatement les civils après la guerre, et que Bagdad sera le siège de féroces combats urbains. Nombre d'éléments annoncés sur ce que le Pentagone appelle la stratégie "choc et respect", dans laquelle des centaines de projectiles vont bombarder Bagdad dans les premiers jours de la guerre, semblent renforcer le pessimisme de Medact. Un représentant a déclaré en janvier "qu'il n'y aurait aucun endroit sûr à Bagdad."
As estimaçoes do mesmo organismo confirmam actualmente estas previsoes, mesmo se os militares americanos e britânicos nao se interessam ao numero de mortos civis.
Por outro lado também nao creio que o Senhor vai argumentar dizendo que a guerra serà mais moral se houver somente 1000 mortos! E se forem 10.000 ? ou 100.OOO, serà ela mais moral ?
Sr. Freitas Pereira: Eu não defendo que a guerra seja a panaceia para resolver todos os conflitos. O que eu acho é que há situações em que o recurso à força armada se me afigura o único viável ou, pelo menos, uma parte essencial da resolução do problema.
E neste caso nem se trata de "não pode vencer a determinação dum povo", porque um dos dois problemas mais graves que afligem o Iraque do ponto de vista da segurança é a desunião violenta do povo iraquiano (o outro é a violência de origem exógena), que só pode ser resolvido ou mitigado, com o emprego de uma força firme e sustentada que consiga dissuadir, subjugar ou eliminar os elementos/facções mais nocivos.
Como eu disse no post, este esforço tem de ser acompanhado por outros no plano das obras públicas, da revitalização económica e no plano social, que provoquem a normalização dos laços de fidelidade e convivência.
Quanto à democratização, confesso que pensei que alguns ganhos pudessem ser alcançados nessa área, mas eu não sou um neo-conservador, sou um Realista e vejo o cerne das Relações Internacionais pelo prisma do Interesse Nacional e do Poder e portanto já não é fácil incorrer no pecado da ingenuidade nas RI.
Sr. Freitas Pereira: A propósito das suas cogitações enquanto deambulava no deserto líbio, tenho de discordar mais uma vez. Se não tivesse existido uma enorme evolução civilizacional no Ocidente, o Senhor não estaria, provavelmente, deprimido com recurso à guerra e teríamos assistido à execução de saddam Hussein com a mesma alarvidade com que os nossos amigos Ingleses se entusiasmaram com o esventramento, mutilação e enforcamento dos conspiradores contra a vida de Elizabeth I, filme que pude ver ontem na RTP2.
Finalmente, as Cruzadas. Só queria lembrar-lhe que, possivelmente nesses trilhos por onde felizardamente passeia, galoparam os exércitos árabes na sua Jihad em meados do século VII, enquanto que a I Cruzada se realizou somente no final do século XI (1096/99).
Escapou-me a questão das baixas. Uma vida humana é uma uma vida humana. Contudo, não é indiferente avançar com números da ordem das centenas de milhar ou das dezenas de milhar.
As informações que vou referir retirei-as da BBC e do Washington Post. Confesso que os 655.000 mortos calculados pela "Lancet" me parecem absurdos e ficam muito longe de todas as outras estimativas que conheço. O Governo Iraquiano fala em 150.000 óbitos, incluindo os que morreram de causas não relacionadas com o conflito.
A ONU estimou, para os primeiros 10 meses de 2006 28.000 mortos e a Associated Press 14.000. Estes números, extrapolados para 3/4 anos, nunca poderiam dar números na ordem das centenas de milhar. Finalmente, a organização britânica "Iraq Body Count" refere 58.000 mortes para o período desde 2003.
É trágico, mas uma diferença de 600.000 mortos é demasiado grande para mereecr credibilidade.
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Como pretendemos somente confrontar ideias ou opiniões, não tem importância que estejamos ou não de acordo, tanto mais que o respeito é mutuo, o que é essencial.
Notei entretanto alguns pontos nos seus comentários que merecem mais ampla apreciação.
Por exemplo, noto que o Senhor fala de "baixas" tratando-se dos mortos provocados por esta guerra imbecil.
O termo "baixas" é um termo puramente militar, quando o efectivo ou a unidade não regressa à base na totalidade. Eu escrevi "vitimas", o que é completamente diferente. Já aqui se vê que o raciocínio que o guia é realmente muito mais severo e selectivo que o meu, que considero que o maior numero de "vitimas" é o dos civis, que pagam muito caro o erro ou pior ainda, o calculo, daqueles que dão a prioridade à guerra sobre o dialogo, negociação ou todo e qualquer esforço ou boa vontade para evitar o caos.
Esta tendência militarista foi bem sentida na precipitação dos EUA e do Reino Unido, quando retiraram rapidamente o apoio à comissão da ONU no Iraque, que procurava activamente as tais armas de destruição maciça, que nunca se descobriram porque não existiam.
Mas a vontade de fazer a guerra era tal (os planos já estavam prontos há muito tempo, como hoje se sabe!) que G.Bush e Blair não esperaram mais. G.Bush , particularmente , queria a "sua" guerra! O resto não interessava.
Que os militares neguem o numero de vitimas da guerra é elementar. Sempre assim foi. Que Bush e Blair neguem os "números" é normal. Bush nunca assistiu à chegada dos sacos macabros dos pobres GI's de regresso do Iraque. Era imperativo de esconder ao máximo esse espectáculo. Irá ele assistir à chegada dos 20 GI's mortos hoje mesmo no Iraque ? Não.
Nesta guerra mentiu-se tanto, tanto, em todos os aspectos, para servir uma política, que aquilo que o Senhor considera absurdo ( Lancet report ), pode ser considerado facilmente verosímil pela mesma razão.
Quando o Senhor diz "que não é indiferente avançar com números da ordem das dezenas ou centenas de milhar" choca-me! Porque para mim um ou mil ou cem mil é de mais , porque poderia ter sido evitado. Mas quem é que pode pôr-se no lugar daquelas mães ou esposas que perderam os filhos ou os maridos numa guerra que podia ter sido evitada ? Que por vezes para lá foram morrer porque lhes tinham prometido um passaporte americano ?
Mas nesta guerra não há lá nenhum filho de senador ou deputado dos EUA. Quanto a G.Bush, ele passou mais tempo sentado no bar que na unidade militar onde ele tinha sido integrado.
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Nas minhas cogitações , como o Sr. muito bem escreveu, nos trilhos do deserto libio, o silêncio absoluto e a distância das nações "civilizadas" ajudando, fizeram-me na realidade pensar nas guerras do passado, como escrevi.
O que é fascinante é de constatar que se as necessidades do povo dessas aldeias perdidas no deserto, embora a maior parte sejam nómadas, são infinitamente reduzidas em relação às dos nossos países "desenvolvidos", isso não impede que uma certa consciência do que separa estes povos dos nossos do ocidente não apareça à superfície cada vez que se fala de educação, saúde, informação, futuro dos filhos, etc.
Mas se bem que muitos consigam acompanhar a evolução do mundo graças a uma certa dose de tecnologia, (radio e mesmo televisão ,controlada) aquilo que me parece contar mais para eles é a espiritualidade. Uma certa comunhão com a natureza que os aproximam da religião e do Deus que veneram.
Esta disponibilidade e fidelidade em relação ao Islão é uma força que não devemos esquecer se quisermos compreender certos problemas que nos preocupam hoje. E isto tanto mais, que a nossa própria religião atravessa tempos difíceis numa sociedade que evolui a uma velocidade que ela não pode ou não quer acompanhar.
Então, quando o Sr. escreve que " assistimos a uma enorme evolução civilizacional no Ocidente " (que me permitiu passear por aqui !) , o facto é que se o termo 'civilização significa desenvolvimento tecnológico , cientifico, em todos os aspectos do saber humano, isso não significa forçosamente "evolução" no sentido civilizacional do ser humano , no seu comportamento individual na sociedade, no seu espirito de solidariedade para com os outros, no controlo dos seus instintos, que sendo normalmente humanos podem virar rapidamente ao bestial , no que o termo comporta de brutalidade, imprevisão e premeditação do mal, com os requintes que o Sr. descreveu na "justiça" feita aos conspiradores de Elizabeth I, que eu por acaso também vi. A cabeça do irmão de Saddam que rola no solo patibular , aos pés dos verdugos, é a comparar às cabeças decapitadas que caiam no cesto colocado ao pé do cadafalso parisiense para serem mostradas à multidão que aplaudia... como nos dias de hoje através da televisão... onde se aplaude também , aqui ou ali !
Só que em Paris como na Torre de Londres, isso não era feito em nome da Democracia nem dos valores da civilização !
E nao esqueçamos a Shoa, n'est-ce-pas ?
Era neste sentido que escrevi no meu comentário precedente.
Quanto à expansão Árabe do século VII, que os trouxe até à Andaluzia ( a propósito, Senhor Rui Miguel Ribeiro, quando fará um "post" sobre a civilização das três religiões monoteistas nesta bela terra Espanhola ?. Talvez valesse a pena criar um debate sobre todos os aspectos desta "civilização" que nos deu nomes ilustres que o Sr. conhece), devo reconhecer que esta expansão , que corresponde ao surto do Islão , de Granada ate às Ilhas Filipinas, não pode ser comparada às Cruzadas do século XI .
E também não se pode comparar a Atila e aos Hunos que de 430 a 450 devastaram o Império de Oriente e em seguida o Império de Ocidente, e que não deixaram nenhuma marca religiosa como as Cruzadas ou os Árabes.
Senhor Rui Miguel Ribeiro
Enfim, ultimo comentário sobre o que escreveu " a desunião violenta do povo iraquiano ". Mas , Dear Sir, já durante a primeira do golfo, G.Bush (Pai) tinha encorajado os Chitas à revolta contra os Sunitas de Saddam ! Que os Americanos abandonaram e que custou caro aos Chitas ,como sabe, e que constituiu a principal acusação(!) no julgamento de Saddam, que mandou fuzilar uns 164 Chitas, se me recordo bem.
Os Americanos sabiam que as três facções religiosas estavam unidas somente como os povos da Jugoslávia ! E como será possível reunir Chitas e Sunitas, quando se sabe que o governo actual é liderado por Maliki, Chefe do clã mais influente da seita Chita ferozmente anti-Sunita !
Mesmo que se pense que os
Estados Unidos arranjaram um problema, agora têm o dever de o resolver e esta proposta parece-me razoável. Sair à pressa seria péssimo.
Cristina
Muitos Americanos crêem realmente que seria um erro de abandonar o Iraque. Mas perdoam dificilmente o facto que se lhes mentiu. Eles são sinceros, mas sentem-se vitimas da Administração Bush, das suas acções dramáticas para os EUA.
Aqueles que propõem o reforço de tropas no Iraque pensam que os EUA ainda podem derrotar os insurgentes e acabar com a guerra civil, tomando agora as medidas que deviam ter sido tomadas no inicio, i.é., enviar os meios militares suficientes para estabilizar a situação e trazer a segurança aos Iraquianos.
Esta ideia, boa, foi possível há muito tempo, mas já não é possível hoje.Desta vez, enviar mais GI's e forçà-los a entrar nas cidades para ganhar o coração dos Iraquianos constitui uma visão das coisas que se assemelha ao suicido e à insanidade.
Serão mais umas centenas ou milhares de soldados mortos. Para nada. Porque se trata duma guerra civil entre Chitas e Sunitas, num pais dividido, onde nem sabem calcular o comprimento duma corda para enforcar um indivíduo, culpado de assassinatos, sem separar a cabeça do corpo, mutilação que para muitos Sunitas começa a ser uma prova que o governo Chita de Maliki o fez por vingança, para agradar à milícia Sadr.
Quando um Governo não é capaz de executar condenados sem inflamar uma parte do povo, como é que será possível para este governo Maliki reunir os dois povos que se combatem desta maneira?
A confiança que a Administração Bush ainda concede ao Governo Maliki, só custará mais vidas Americanas e biliões de dollars. Isto acabara muito mal.
Sr. Freitas Pereira: tem obviamente razão quando distingue vítimas de baixas. Embora tenha usado este termo uma vez, referia-me àquele. O nº de baixas da coligação, aliás, de mortes, é um pouco superior a 3.000 e é oficialmente assumido. Os nº de vítimas que eu referi são reportados por entidades que não têm a ver com os governos dos EUA, do Reino Unido, da Austrália, ou do Iraque.
Eu sei perfeitamente que, para as famílias enlutadas, é a morte do SEU ente querido que conta. Mas o Senhor também sabe, que na guerra, são os grandes números que são referenciados, na impossibilidade de os listar. E mantenho que 100.000 mortes é muito pior do que 3.000, quanto mais não seja porque, se 1 morte é mau, 2 será pior.
Finalmente, convém referir que a grande maioria das vítimas civis não foi e não é liquidada pelas forças da coligação, mas sim pelos próprios Iraquianos e por terroristas estrangeiros. O seu a seu dono.
Sr. Freitas Pereira: As execuções bestiais que descreve na actualidade ocorrem nos caminhos por onde anda e não na margem norte do Mediterrâneo. Mesmo aí o Ocidente evoluiu. E no Ocidente que mantém a pena de morte, a componente "espectáculo público" desapareceu há muito.
A sugestão do debate sobre as influências civilizacionais é interessante, e certamente levar-nos-á por novas polémicas.
Eu não fiz uma comparação qualitativa das grandes invasões que refere, mas apenas as ordenei cronologicamente, porque muita gente (não o Senhor claro está) tende a pensar que as Cruzadas foram um primeiro e provocatório acto dos Cristãos contra o Islão.
Sr. Freitas Pereira: O que George H. Bush fez foi um erro crasso - quando incita à revolta tem de estar disponível apra apoiar. Ele sabia (ou devia saber) que as forças em presença não eram comparáveis. Terá, talvez, tido a ilusão que a rebelião se generalizasse e Hussein fosse derrubado. Não foi e o resultado foi o que se sabe.
Não creio que o Sr. Maliki seja o principal problema. O problema original é a de muitos Sunitas não aceitarem que 15% ou 20% não se podem impor a 80%, como aconteceu durante 80 anos. That is over. O problema seguinte é o Moqtada Al-Sadr e o seu infame exército de Mahdi, que depois da explosão na Mesquita de Samarra, se assumiu como uma força sectária, extermamente violenta, empreendendo acções do tipo limpeza étnica.
Cristina: Concordo em absoluto consigo.
Sr. Freitas Pereira: Eu também escrevo no post que pode ser "too little, too late", mas é a única hipótese que me parece poder etr alguma viabilidade e por isso tem de ser tentada.
O blogger, o Cirilo e a cristina têm razão. O problema existe e é preciso resolvê-lo. Parece claro que há grupos e milícias no Iraque que só compreendem e acatam a linguagem da metralhadora. Assim seja.
João Manuel
Por uma vez, o Presidente Bush conseguiu tomar medidas correctas, ou menos más. Concordo plenamente com o seu comentário e, também, acho que a divisão do país, como foi referida noutros comentários, seria desastrosa para a geopolítica mundial. O problema do Iraque deve ser visto de forma muito cuidada por parte, não só da Administração Bush como, também, da União Europeia. Não podemos olhar para o Iraque pensando que é um problema dos Estados Unidos. Toca-nos a todos!
João Manuel,
Nem mais. Por muito que nos custe, há muito quem só perceba a linguagem da força.
João Carlos,
Comentário equilibrado e ponderado, especialmente a frase final.
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