30 novembro, 2014

Coincidências

COINCIDÊNCIAS
 
Não sou suspeito de nutrir simpatia ou empatia por José Sócrates ou pelos seus governos, especialmente o segundo. Aliás, no que hoje poderia parecer premonitório, publiquei um post em 24 de Outubro de 2010, intitulado “WANTED” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2010_10_01_archive.html ) e ilustrado com esta imagem:
Não obstante, tenho alguma dificuldade em acreditar em certas coincidências. Não que elas não existam. Lembro-me que uma vez encontrei uma colega de universidade na praia… em Nice. Um sítio onde nunca tinha ido e onde nunca regressei.
 
Agora, quando as coincidências deixam de ser eventos inocentes que não afectam ninguém e não são susceptíveis de ser planeados, para serem algo de muito oportuno e conveniente para uns e especialmente danoso para outros e quando aqueles têm poder para provocar ou influenciar a ocorrência da coincidência, aí esvai-se a minha credulidade.
 
Chamem-me céptico, mas acreditar que a prisão de Sócrates na semana em que o Governo se debatia com um escândalo de corrupção nos mais altos níveis da administração pública, no fim-de-semana em que o PS elegia o novo Secretário-Geral, uma semana antes de se realizar o Congresso que entronaria António Costa e o lançaria para o assalto ao Governo, estica demasiado a corda da minha capacidade de acreditar.
 
Como diria o outro, eu não acredito, mas as bruxas existem….
 
 

28 novembro, 2014

Dezanove Meses

DEZANOVE MESES
No dia 24 de Novembro, as negociações P5+1-Irão NÃO fruiram. As 6 potências e o Irão NÃO chegaram a um entendimento quanto a um acordo definitivo.
 
Irão Nuclear.
in “The Ecoonomist” em www.economist.com
Há 12 meses, o Irão e o designado P5+1 (5 membros permanetes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) assinaram um acordo interino (Joint Action Plan), dando-se 6 meses para concluir um acordo final. Ness altura publicámos um post intitulado “Seis Meses” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/12/seis-meses.html ) onde se apontava os objectivos, desafios e perigos que poderiam advir deste empreendimento.
 
Em Julho, na ausência de acordo, o Irão e as 6 potências acordaram numa extensão de 6 meses. Na passada segunda-feira, 24 de Novembro, passaram 12 meses desde a assinatura do Joint Action Plan sem acordo final e é anunciada uma nova prorrogação, agora de 7 meses. Serão os 19 meses suficientes para chegar a esse acordo? Dar-se-á um rompimento do atribulado processo negocial por divergências insanáveis? Ou assistiremos a uma sucessão de adiamentos ao estilo de “kicking the can down the road”?
 
As declarações após o adiamento variaram do optimismo (Rouhani, Sergey Lavrov) ao pessimista/desafiante (Ali Khamenei). Contudo, o processo negocial não se decidirá nas declarações públicas, mas sim nos seguintes factores:
 
1- A NECESSIDADE
 
O grau de necessidade em chegar a um acordo poderá dar (ou retirar) ímpeto à negociações. Desde há muito (09/02/2010) que em Tempos Interessantes se afirma que Obama está desesperado por chegar a um acordo (“Get Real Obama em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2010_02_01_archive.html). Contudo, esse desespero só atingirá patamares mais elevados dentro de um ano, quando estiver perto do fim do mandato e o seu legado em política externa correr um sério risco de ser definido pela palavra desastre.
 
A necessidade também reside em Teerão, onde a crise económica aperta, fruto da conjugação das sanções internacionais com a baixa do preço do petróleo. A ala dita moderada do regime também necessita bastante de um acordo que a afirme face aos elementos mais radicais do regime. O prolongamento das negociações e das sanções farão com que o Presidente Hassan Rouhani acumule o ónus da falta de resultados nas negociações (neste caso alívio e subsequente término das sanções) com o da continuidade crise económica. Tal poderá ser-lhe fatal.
 
 
2- O CONTRA-VAPOR
 
As equipas negociais são vistas por muitos em Washington e em Teerão com grande desconfiança.
 
Nos EUA, muitos congressistas e senadores, Republicanos e Democratas, são muito cépticos do processo negocial. Por um lado, não acreditam na boa-fé dos Iranianos (e não têm muitos motivos para acreditar); por outro lado, não acreditam na firmeza negocial da Administração (e também não têm razões para acreditar em tal).
 
No Irão, a desconfiança vem da dita ala dura do regime, centrada na Guarda Revolucionária Islâmica e na estrutura clerical. Este grupo poderoso opõe-se à negociações por três ordens de razões: porque é contra negociações e cedências ao Ocidente por uma questão de princípio; porque pensam que uma abertura ao Ocidente pode desestruturar o regime da República Islâmica; porque temem perder poder e privilégios com a afirmação da facção contrária em caso de sucesso nas negociações.
 
Para muitos políticos e comentadores, o prolongamento das negociações por período indefinido apresenta-se como uma não-solução interessante porque “congela o diferendo: não haveria progressos no programa nuclear do Irão e não haveria guerra.
 
Tal até poderia ser verdade noutras circunstâncias, mas há neste caso um factor crucial: o TEMPO.
 
 
3- O TEMPO
O Tempo de Obama: 24 meses. O Tempo de Rouhani: não se sabe quanto, mas não será muito se as negociações não fruírem algo de palpável e vantagens para o Irão. O Tempo de outras potências, como a Rússia, a China, ou a Alemanha, que anseiam por retomar os negócios com Teerão. O Tempo de outros actores regionais, como Israel, Arábia Saudita, ou Egipto, que não tolerarão bem um prolongado impasse nuclear.
 
Estes três factores, NECESSIDADE, CONTRA-VAPOR E TEMPO serão decisivos em 2015. Deles e da gestão que as partes fizerem dos seus trunfos e pressões, dependerá a existência ou ausência de resultados e perceber quem ganha mais, ou quem perde menos. E caminhamos para os 19 meses…
 
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20 novembro, 2014

Guerra Fria?

GUERRA FRIA?
 O ano de 2014 foi marcado por muita conversa sobre o “regresso” da Guerra Fria, seja a mesma, ou uma nova (Guerra Fria II). É um rematado disparate.
 
A Guerra Fria foi um longo conflito multidimensional e global.
 
Multidimensional, porque foi ideológico, geopolítico, militar (por entrepostos agentes) e até económico, cultural e desportivo (veja-se os Jogos Olímpicos).
 
Global, porque foi combatido urbi et orbi: Europa, Nordeste da Ásia (Península da Coreia), Sudeste Asiático (Indochina), Ásia do Sul, Médio Oriente, América Central, América do Sul, África do Atlântico ao Índico e do Mediterrâneo ao Cabo.
 
O Âmbito do Conflito na Guerra Fria.
A “conversa” de 2014 é motivada pelo conflito na Ucrânia e pela resultante hostilidade entre a Rússia e os Estados Unidos e entre aquela e vários países europeus.
 
Resumamos então o que se tem realmente passado:
 
* A Ucrânia, na sequência do derrube do Presidente anterior, entrou em estado de guerra civil no Leste, entre o novo poder em Kiev e rebeldes separatistas.
 
* A Rússia anexou a região da Crimeia com apoio popular da maioria dos habitantes.
 
* A Rússia tem apoiado os rebeldes com equipamento militar, logística e homens.
 
* O Ocidente tem apoiado Kiev e impôs sanções à Rússia.
 
* A Rússia incrementou substancialmente a sua presença aérea e naval nos mares e oceanos – Atlântico Norte, Ártico, Pacífico Norte, Mediterrâneo, Báltico, Mar Negro.
 
* Aumentou a tensão entre a Rússia e o Ocidente (especialmente EUA) e nos países que rodeiam a Rússia (nomeadamente Polónia e Lituânia).
 
Resumamos agora o que NÃO se tem realmente passado:
 
* Não há um conflito e/ou rivalidade à escala mundial.
 
* Não existem duas superpotências.
 
* Não há qualquer indício de escalada de tensão ao nível nuclear.
 
* Não existe qualquer ameaça de ataque russo ao Ocidente.
 
* Não existe qualquer intenção ou vontade de intervenção militar ocidental contra a Rússia ou nos países que com ela confinam.
O Âmbito do Conflito na Ucrânia.
in STRATFOR em www.stratfor.com
Ou seja, em vez de um conflito hegemónico à escala global (que a Rússia não pode e os EUA não querem disputar), estamos perante um tradicional e localizado conflito pela definição de esferas de influência e que, racionalmente, só é realmente relevante para uma das potências envolvidas: a Rússia.
 
A Guerra Fria acabou há muito tempo, no século passado. Embora o actual Presidente dos EUA tenha declarado, com a sua proverbial soberba, que a Guerra Fria acabara em Lisboa (!!!) em 2010, aquando da Cimeira da NATO, na verdade acabou em 1989 com a queda do Muro de Berlim. Quando muito, pode colocar-se o óbito em 1991 quando a União Soviética finou.
 
A Guerra Fria só subsiste nalguma Nomenklatura política e jornalística de Washington movida pro uma sanha anti-russa e numa Nomenklatura simétrica em Moscovo que demoniza os EUA e deseja ver a Rússia a bater-se de igual para igual com os Americanos.
 
Não há pois qualquer Guerra Fria. Digo mais, a haver uma reedição da Guerra Fria, será mais provável que os contendores sejam os Estados Unidos e a República Popular da China do que Washington e Moscovo.

19 novembro, 2014

Miguel Macedo

MIGUEL MACEDO
 
Declaração prévia de interesses: considero Miguel Macedo um amigo, embora não fale nem esteja com ele há cerca de 3 anos, resultado de rumos desencontrados. Logo, dificilmente viria aqui desancá-lo. Conhecemo-nos há muitos anos nos primórdios da política, no PSD, na JSD, onde o Miguel já era figura de destaque.
 

É público, pelo menos no âmbito de Tempos Interessantes, o que penso deste Governo (muito mau) e do seu líder (péssimo). Não obstante, e creio que não toldado pela amizade, acho que Miguel Macedo foi gerindo a sua pasta com acerto, eficiência, tranquilidade e discrição. É óbvio que tem a sua quota-parte de responsabilidade  pelo que o Governo tem feito e desfeito, mas entre ideólogos fanáticos, serventes do exterior e incompetentes, Miguel Macedo sobressai por não ser nenhum deles.
 
Pessoalmente gostaria que Miguel Macedo tivesse saído do Governo mais cedo, muito mais cedo, saturado de tanta incompetência e malfeitoria, mas isso, para o bem e para o mal, era uma escolha que só a ele cabia.
 
Sair de um governo porque houve irregularidades graves na esfera da sua competência não é uma proeza histórica, mas é um acto digno e responsável, o que no actual contexto político em que o erro, a incompetência, a estupidez (Passos, Crato, Teixeira da Cruz, Pires de Lima, etc) sobressaem sem quaisquer consequências, é digno de nota.
 
Não esperava dele outra coisa.
 
Termino com um pequeno episódio já antigo. Foi em Braga em 2002. Encontrei o Miguel Macedo num evento da campanha eleitoral para as legislativas com a presença de Durão Barroso. Eu estava lá na condição de candidato. Macedo estava lá na condição de apoiante. Tinha sido excluído das listas e o seu estado de espírito não era o melhor. Fui ter com ele e disse-lhe: “Lamento que não estejas nas listas. Merecias mais do que muitos. Mas a roda da fortuna gira e estou convicto que vais ser Secretário de Estado depois de ganharmos as eleições. Vais ver!”
 
E assim foi. Miguel Macedo foi o Secretário de Estado da Justiça. Não por intervenção minha, obviamente, pois esses assuntos estavam muito acima do meu patamar, mas o certo é que foi.
 
Tal como em 2002, em 2014 tenho a convicção de que o percurso de Miguel Macedo na política ainda não terminou. Só espero que continue em melhores circunstâncias.
 
Boa sorte Miguel!

14 novembro, 2014

QUIZ

QUIZ
 
Uma coluna de carros de combate de separatistas pró-russos na região de Luhansk.
in STRATFOR em http://www.stratfor.com/
 
Os carros de combate, ou tanques de guerra, proporcionam sempre imagens tremendas pelo poder, massa, temor e fascínio que projectam. Esta, contudo, chamou-me a atenção pelas inscrições no tanque que líder a coluna.
 
Incapaz de decifrar exactamente a razão e o significado no contexto, deixo um quiz, um exercício de multiple choice aos leitores. Usem a caixa de comentários e podem não só escolher, mas adicionar respostas alternativas.
 
Então, a inscrição neste tanque dos rebeldes pró-russos a circular nos confins da Europa na zona cinzenta entre a Rússia e a Ucrânia significa que:
 
a)      Os rebeldes são muito malcriados.
 
b)     Em Russo, aquilo significa “Só paramos em Kiev!”
c)      É verdade que há mesmo sempre um Português em qualquer lado.
 
d)     É uma provocação às tropas ucranianas.
e)      O tanque está à venda.
f)       Trata-se na verdade de um tanque português prestes a invadir a Espanha.
g)      Marte (o deus da guerra) decidiu abandalhar esta guerra.