28 novembro, 2014

Dezanove Meses

DEZANOVE MESES
No dia 24 de Novembro, as negociações P5+1-Irão NÃO fruiram. As 6 potências e o Irão NÃO chegaram a um entendimento quanto a um acordo definitivo.
 
Irão Nuclear.
in “The Ecoonomist” em www.economist.com
Há 12 meses, o Irão e o designado P5+1 (5 membros permanetes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) assinaram um acordo interino (Joint Action Plan), dando-se 6 meses para concluir um acordo final. Ness altura publicámos um post intitulado “Seis Meses” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/12/seis-meses.html ) onde se apontava os objectivos, desafios e perigos que poderiam advir deste empreendimento.
 
Em Julho, na ausência de acordo, o Irão e as 6 potências acordaram numa extensão de 6 meses. Na passada segunda-feira, 24 de Novembro, passaram 12 meses desde a assinatura do Joint Action Plan sem acordo final e é anunciada uma nova prorrogação, agora de 7 meses. Serão os 19 meses suficientes para chegar a esse acordo? Dar-se-á um rompimento do atribulado processo negocial por divergências insanáveis? Ou assistiremos a uma sucessão de adiamentos ao estilo de “kicking the can down the road”?
 
As declarações após o adiamento variaram do optimismo (Rouhani, Sergey Lavrov) ao pessimista/desafiante (Ali Khamenei). Contudo, o processo negocial não se decidirá nas declarações públicas, mas sim nos seguintes factores:
 
1- A NECESSIDADE
 
O grau de necessidade em chegar a um acordo poderá dar (ou retirar) ímpeto à negociações. Desde há muito (09/02/2010) que em Tempos Interessantes se afirma que Obama está desesperado por chegar a um acordo (“Get Real Obama em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2010_02_01_archive.html). Contudo, esse desespero só atingirá patamares mais elevados dentro de um ano, quando estiver perto do fim do mandato e o seu legado em política externa correr um sério risco de ser definido pela palavra desastre.
 
A necessidade também reside em Teerão, onde a crise económica aperta, fruto da conjugação das sanções internacionais com a baixa do preço do petróleo. A ala dita moderada do regime também necessita bastante de um acordo que a afirme face aos elementos mais radicais do regime. O prolongamento das negociações e das sanções farão com que o Presidente Hassan Rouhani acumule o ónus da falta de resultados nas negociações (neste caso alívio e subsequente término das sanções) com o da continuidade crise económica. Tal poderá ser-lhe fatal.
 
 
2- O CONTRA-VAPOR
 
As equipas negociais são vistas por muitos em Washington e em Teerão com grande desconfiança.
 
Nos EUA, muitos congressistas e senadores, Republicanos e Democratas, são muito cépticos do processo negocial. Por um lado, não acreditam na boa-fé dos Iranianos (e não têm muitos motivos para acreditar); por outro lado, não acreditam na firmeza negocial da Administração (e também não têm razões para acreditar em tal).
 
No Irão, a desconfiança vem da dita ala dura do regime, centrada na Guarda Revolucionária Islâmica e na estrutura clerical. Este grupo poderoso opõe-se à negociações por três ordens de razões: porque é contra negociações e cedências ao Ocidente por uma questão de princípio; porque pensam que uma abertura ao Ocidente pode desestruturar o regime da República Islâmica; porque temem perder poder e privilégios com a afirmação da facção contrária em caso de sucesso nas negociações.
 
Para muitos políticos e comentadores, o prolongamento das negociações por período indefinido apresenta-se como uma não-solução interessante porque “congela o diferendo: não haveria progressos no programa nuclear do Irão e não haveria guerra.
 
Tal até poderia ser verdade noutras circunstâncias, mas há neste caso um factor crucial: o TEMPO.
 
 
3- O TEMPO
O Tempo de Obama: 24 meses. O Tempo de Rouhani: não se sabe quanto, mas não será muito se as negociações não fruírem algo de palpável e vantagens para o Irão. O Tempo de outras potências, como a Rússia, a China, ou a Alemanha, que anseiam por retomar os negócios com Teerão. O Tempo de outros actores regionais, como Israel, Arábia Saudita, ou Egipto, que não tolerarão bem um prolongado impasse nuclear.
 
Estes três factores, NECESSIDADE, CONTRA-VAPOR E TEMPO serão decisivos em 2015. Deles e da gestão que as partes fizerem dos seus trunfos e pressões, dependerá a existência ou ausência de resultados e perceber quem ganha mais, ou quem perde menos. E caminhamos para os 19 meses…
 
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