DEZANOVE
MESES
No dia 24 de Novembro, as negociações P5+1-Irão NÃO fruiram. As 6 potências e o Irão NÃO chegaram
a um entendimento quanto a um acordo definitivo.
Irão Nuclear.
Há 12 meses, o Irão e o designado P5+1 (5 membros
permanetes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) assinaram um acordo
interino (Joint Action Plan), dando-se 6 meses para concluir um acordo final.
Ness altura publicámos um post intitulado “Seis Meses” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/12/seis-meses.html
) onde se apontava os objectivos, desafios e perigos que
poderiam advir deste empreendimento.
Em Julho, na ausência de acordo, o Irão e as 6 potências
acordaram numa extensão de 6 meses. Na passada segunda-feira, 24 de Novembro,
passaram 12 meses desde a assinatura do Joint Action Plan sem acordo final e é
anunciada uma nova prorrogação, agora de 7 meses. Serão os 19 meses suficientes
para chegar a esse acordo? Dar-se-á um rompimento do atribulado processo
negocial por divergências insanáveis? Ou assistiremos a uma sucessão de
adiamentos ao estilo de “kicking the can down the road”?
As declarações após o adiamento variaram do optimismo
(Rouhani, Sergey Lavrov) ao pessimista/desafiante (Ali Khamenei). Contudo, o
processo negocial não se decidirá nas declarações públicas, mas sim nos
seguintes factores:
1- A NECESSIDADE
O grau de necessidade em chegar a um acordo poderá dar
(ou retirar) ímpeto à negociações. Desde há muito (09/02/2010) que em Tempos
Interessantes se afirma que Obama está desesperado por chegar a um
acordo (“Get Real Obama em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2010_02_01_archive.html). Contudo, esse desespero só atingirá patamares mais elevados
dentro de um ano, quando estiver perto do fim do mandato e o seu legado em
política externa correr um sério risco de ser definido pela palavra desastre.
A necessidade também reside em Teerão, onde a crise
económica aperta, fruto da conjugação das sanções internacionais com a baixa do
preço do petróleo. A ala dita moderada do regime também necessita bastante de
um acordo que a afirme face aos elementos mais radicais do regime. O
prolongamento das negociações e das sanções farão com que o Presidente Hassan
Rouhani acumule o ónus da falta de resultados nas negociações (neste caso
alívio e subsequente término das sanções) com o da continuidade crise
económica. Tal poderá ser-lhe fatal.
2- O CONTRA-VAPOR
As equipas negociais são vistas por muitos em Washington
e em Teerão com grande desconfiança.
Nos EUA, muitos congressistas e senadores, Republicanos
e Democratas, são muito cépticos do processo negocial. Por um lado, não acreditam
na boa-fé dos Iranianos (e não têm muitos motivos para acreditar); por outro
lado, não acreditam na firmeza negocial da Administração (e também não têm
razões para acreditar em tal).
No Irão, a desconfiança vem da dita ala dura do regime,
centrada na Guarda Revolucionária Islâmica e na estrutura clerical. Este grupo
poderoso opõe-se à negociações por três ordens de razões: porque é contra negociações e cedências ao Ocidente por uma questão
de princípio; porque pensam que uma
abertura ao Ocidente pode desestruturar o regime da República Islâmica; porque temem perder poder e privilégios
com a afirmação da facção contrária em caso de sucesso nas negociações.
Para muitos políticos e comentadores, o prolongamento
das negociações por período indefinido apresenta-se como uma não-solução
interessante porque “congela o diferendo: não haveria progressos no programa
nuclear do Irão e não haveria guerra.
Tal até poderia ser verdade noutras circunstâncias, mas
há neste caso um factor crucial: o TEMPO.
3- O TEMPO
O Tempo de Obama: 24 meses. O Tempo de Rouhani: não se sabe quanto,
mas não será muito se as negociações não fruírem algo de palpável e vantagens
para o Irão. O Tempo de outras potências,
como a Rússia, a China, ou a Alemanha, que anseiam por retomar os negócios com
Teerão. O Tempo de outros actores
regionais, como Israel, Arábia Saudita, ou Egipto, que não tolerarão bem um
prolongado impasse nuclear.
Estes três factores, NECESSIDADE, CONTRA-VAPOR E TEMPO serão
decisivos em 2015. Deles e da gestão que as partes fizerem dos seus trunfos e
pressões, dependerá a existência ou ausência de resultados e perceber quem
ganha mais, ou quem perde menos. E caminhamos para os 19 meses…
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