10 outubro, 2006

The Big Small Bang

THE BIG SMALL BANG
 
 Se bem  o disse, melhor o fez: a Coreia do Norte de Kim Jong Il, declarou que ia realizar um teste nuclear, e no dia 9 de Outubro, fê-lo. Assim, tornou-se a 9ª potência nuclear do planeta.


Embora o Bang Norte-Coreano não tenha sido exactamente small para uma explosão nuclear normal, o efeito político-diplomático no mundo inteiro foi really big.

A realidade é que não se tratou de nada surpreendente e veio na sequência do anúncio feito em Fevereiro de que a Coreia do Norte se tinha tornado uma potência nuclear e dos testes com mísseis balísticos realizados em Julho. E não é surpreendente, porque Pyongyang, especialmente desde 1994, vem demonstrando um comportamento errático, imprevisível e pouco permeável a pressões externas.

Portanto, vir hoje pedir o reatamento das “Six Party Talks” (conversações envolvendo os EUA, a China, o Japão, a Rússia, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte) é ignorar a desagradável realidade de a Coreia do Norte ter passado os últimos anos a jogar com o tempo, com a cumplicidade de Pequim, com o medo de Seoul e com a passividade das outras potências, protelando negociações, recebendo ajuda energética e alimentar e dando promessas vazias em troca. De quando em vez o dito “Querido Líder” amua e faz um número deste género (lembre-se o míssil que sobrevoou o Japão em 1998).

É óbvio que conversar com os camaradas de Pyongyang é um número estafado e que vale zero. É claro para mim, que eles percebem melhor os actos do que as palavras, como percebem que a China e a Coreia do Sul os criticam, mas mantém-nos ligados à máquina, como percebem que os EUA estão demasiados ocupados do outro lado da Ásia, como sabem que a Rússia não está preocupada com o assunto e sabem que o Japão está, mas não pode fazer grande coisa sobre isso.

E agora? Agora, passado o espalhafato do choque, da surpresa e das condenações palavrosas, é altura de o Conselho de Segurança da ONU impor sanções duras contra a Coreia do Norte.

E isso vai acontecer? É claro que não. A China e a Coreia do Sul e até a Rússia, vão fazer tudo para que o menino Kim não tenha mais que um puxão de orelhas.

E depois? Bem, depois, quando o menino Kim ficar aborrecido outra vez, vai tentar brincar com coisas perigosas novamente.

Solução? Apresentar uma frente unida dos 5 países supra-mencionados mais o Reino Unido e a França para impor medidas duras que ponham Kim Il Sung entre a espada e a parede e fazê-lo escolher. Assim, pelo menos, somos “nós” a escolher o tempo e o modo.

Como já vimos, tal não vai acontecer, e portanto o menino Kim provavelmente terá a possibilidade de escolher o timing do seu apocalipse.

30 comentários:

Afonso Duarte disse...

Queres... dizer Mini Bang???!!!
Para variar foi no teu dia de ANOS.
Não estou a perceber. Fazem um teste NUCLEAR... e se passava uma pessoa com um Camelo e fizessem explodir a bomba Nuclear?
A pessoa morria e porquê? Porque eles não puseram lá câmaras para ver se a via estava livre!!!

Também, já agora. Fazem um teste Nuclear! Porquê? Querem ser assassinos?!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Afonso, realmente o teste nuclear da Coreia do Norte foi no meu aniversário. Como disse o teu Tio e meu Irmão Ricardo Pedro, o meu aniversário começou espectacularmente com um fogo de artifício nuclear, embora não creio que os norte-Coreanos tivessem essa coincidência em mente.
Quanto à pessoa e ao camelo a passarem pelo local do teste, é realmente um risco, mas normalmente essas zonas são restritas e rodeadas de rigorosa segurança. Mesmo que não fossem, não creio que os dirigentes da Coreia do Norte se preocupassem muito, dado o pouco valor que atribuem à vida dos seus cidadãos.
Finalmente, a questão mais complicada: porquê? Há várias hipóteses: demonstração de poder; vaidade; intimidação (meter medo) aos países vizinhos; tentar que outros países continuem a ajudar a Coreia do Norte a sobreviver. Assassinos eles já são meu Filho. O Governo da Coreia do Norte é dos mais cruéis à face da Terra e já milhões de Norte-Coreanos já morreram por causa dos caprichos de quem os governa. Mas como diz a tua T-Shirt, what goes around, comes around, e o dia chegará em que essas pessoas pagarão pelos crimes que vêm cometendo.

Anónimo disse...

Acho que está aqui em jogo uma questão de liberdade. Porque é que a Coreia do Norte não pode ter nuclear? Quem são os EUA para julgar quem deve ou não ter armas nucleares? Apesar de ser um pacifista e de desejar que ninguém tenha armas, não vejo por que a Coreia do Norte não as possa ter sabendo que outros países têm. Enfim, lógica norte-americana.

João R. Nabo

Anónimo disse...

Muitos parabéns pelo blogue, não conhecia. Excelente post, espero bem que este lunático regresse á Terra.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cara Filipa: muito obrigado pela gentileza. Espero que continue a visitar o e a participar no "Tempos Interessantes".

P.S. Já agora, senão for indiscrição, como veio cá parar?

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro João Nabo: Eu não sou pacifista no sentido que se costuma atribuir à designação. Quanto às armas nucleares da Coreia do Norte, não são os EUA quem determina que ela não as pode ter, mas sim o TNP - Tratado de Não Proliferação Nuclear (NPT na sigla inglesa), que foi subscrito pela maioria esmagadora dos países do mundo (Índia, Israel e Paquistão são excepções). É certo que Pyongyang se retirou do Tratado em 2003, mas o seu incumprimento já vinha de longe.
A isto acrescem dois factores: por um lado, quantos mais países tiverem arsenais atómicos, maior é o risco/probabilidade de algum(ns) ser(em) usado(s); por outro lado, os Esatdos Unidos, concorde-se ou não com a sua política externa, são uma potência estável, democrática, fiável, que detém armas nucleares há 61 anos e só as usou numa situação limite como foi a II Guerra Mundial. Como sabe, o regime norte-coerano, não tem nada de democrático, de rtansparente, de previsível, sendo frequentemente governado de forma errática e irresponsável.

Anónimo disse...

Antes de mais, parabéns...mil desculpas pelo atraso!É por demais o que está a acontecer na peninsula coreana...ninguém faz nada! Como é que um país com um sistema político daqueles ainda subsiste...eu so espero que não seja preciso acontecer nenhuma catastrofe para as Nações Unidas actuarem...

freitas pereira disse...

Rui Miguel Ribeiro fez uma analise muito interessante e, creio eu, muito justa.Claro que ninguém vai impôr o que quer que seja a Pyongyang. Na realidade a Coreia do Sul veria com muita preocupaçao a queda eventual do regime do norte se este fosse atacado. Ficaria muito mais caro a REUNIFICACAO que a ajuda alimentar. O Japao idem. E os EUA muito ocupados noutras paragens, também nao atacarao. Esta é uma politica jà conhecida, praticada pelo Pai do actual Presidente Bush quando mandou parar as tropas americanas a 100 km. de Bagdade, aquando da primeira guerra do Iraque, evitando assim a queda de Saddam. Saddam ainda era util no poder nessa altura. E depois, a Coreia do Norte também nao tem petroleo.E se se admite que uma certa corrente politica sul-coreana tem uma certa admiraçao pelos "feitos" dos irmaos do norte em matéria nuclear, pela imagem mesmo do desafio que eles lançam aos EUA, ao Japao, à propria China e ao mundo inteiro, e a partir do momento em que eles nao passam uma vez mais o 38° paralelo, o que eles pensam é que se deve ajuda-los e compreender-los. E por outro lado, os Coreanos do norte como do sul detestam os Japoneses, e na pespectiva duma reunificaçao,hipotese que apesar de tudo nao se pode recusar, entao a Coreia, com a arma nuclear estaria em condiçoes de discutir em condiçoes diferentes com o Japao. Que pensa o Senhor Ribeiro?

freitas pereira disse...

Voltando ainda ao "post" precedente do Senhor Rui Miguel Ribeiro, relativo ao TNP:- Nao acha que os tratados internacionais, como o TNP (Tratado de Nao-Proliferaçao Nuclear) tem a mesma sorte de alguns outros tratados internacionais, que a partir do momento em que uma grande potência - os EUA- ,nao assinou o tratado de Kyoto,e Deus sabe se este problema nao é actualmente, talvez, o mais importante de todos para o nosso planeta,e que a mesma potência também nao aceitou o Tribunal Internacional da Haia, com receio que os seus militares sejam um dia condenados, os tratados internacionais perdem muito da sua importancia e pelo menos as pequenas naçoes tem uma tendencia a nao os respeitar?
Sabemos que o Presidente Bush nao assinou o tratado de Kyoto, porque pôz na balança uma perda eventual de 400 bilioes de dollars de crescimento economico para os EUA, (4% do PNB)e 5 milhoes de postos de trabalho eventualmente perdidos. Mas os USA que representam 5% da populaçao mundial sao responsàveis de 25% da poluiçao mundial. Este tratado impunha-se portanto.

As grandes potências tem que decidir se promovem o bem estar da humanidade ou se contribuem à sua perda . Por isso o exemplo tem uma importancia capital.

Anónimo disse...

Respondendo à questão colocada pelo blogger, quero dizer-lhe que não é nenhuma indiscrição. Vim aqui parar através do link do blogue "O Que Diz Ele", pois sou uma leitora assídua.

PVM disse...

Gosto particularmente do argumento do Tratado de não proliferação de armas nucleares. Se não me engano, a sua lógica é a seguinte: os poderosos armam-se até aos dentes e depois, como num bom cartel, assinam um tratado a impedir que outros possam ser potências nucleares.
Chama-se a isto (des)igualdade de oportunidades...
Se houvesse coragem, em vez daquele tratado hipócrita, os países desfaziam-se dos seus arsenais nucleares.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sandra, a Coreia do Norte é um anacronismo no século XXI, como o são Cuba e a Birmânia, para citar dois exemplos. Subsiste porque é uma sociedade totalmente submetida a um poder tentacular e implacável e porque, ao longo de meio século contou com o apoio de Russos e Chineses e, mais recentemente, da Coreia do Sul. No entanto, é um regime a prazo.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Ribeiro: obrigado pelos seus comentários. É evidente que é mais barato e fácil à Coreia do Sul dar ajuda económica à Coreia do Norte do que absorver um país paupérrimo. Veja-se o exemplo da RFA com a RDA, apesar de mais rica e menos pobre, respectivamente, do que as duas Coreias, o quanto custou (custa) a unificação alemã.
O Japão tem direito para assumir a sua plena soberania; a sua Constituição e a divisão da península serão dos poucos resquícios da II Guerra Mundial que ainda sobrevivem.
Quanto a Kyoto e ao TIJ, entendo que os Estados devem subscrever os tratados que lhes interessam. Há muitos Europeus que vivem na ilusão de que o conceito de Interesse Nacional já é passado, mas só o é nas suas cabeças.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Ok, Filipa. Espero que se torne também frequentadora assídua dos Tempos Interessantes. Até sempre.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Paulo, não é a minha lógica. É (parte) da lógica do NPT, que reconhece como legítimas as 5 potências nucleares oficiais (EUA, URSS/Rússia, Reino Unido, França e RPC). É verdade que o Tratado também requer que estas 5 caminhem no sentido do desarmamento nuclear, embora não estableça targets nem deadlines.
Porém, sejamos francos, o desarmamento nuclear total é quase uma utopia, porque o know-how existe. Estima-se que o Japão, que nunca teve um arma nuclear, a possa obter num espaço de semanas. Por isso, o máximo a que podemos realisticamente ambicionar, é conter a proliferação, principalmente para aqueles cujos objectivos, características e historial, se mostrem muito pouco recomendáveis para as ter.

PVM disse...

Rui, não percebeste a lógica do meu comentário. Acho desonesto que cinco países se armem até aos dentes e depois venham impor aos outros a impossibilidade de fazerem o mesmo. Este é o tipo de directório mundial que, à escala da UE, tanto te repugna (e na UE ele é muito menos evidente que no teatro das RI).
Já agora: se o Japão vier a fazer testes nucleares, também vai merecer o mesmo tratamento do CS da ONU?
(E só mais uma alfinetada a uma resposta que deste a um comentário de Freitas Pereira: então os EUA têm o direito de respeitar os acordos internacionais que bem entenderem? Pasmo com esse argumento! Invertamos a lógica: podem os EUA protestar contra outros países que fazem tábua rasa de acordos internacionais que são convenientes a Washington?)
PVM

freitas pereira disse...

Senhor Rui Miguel Ribeiro:- Este "blog" merece bem o nome que lhe deu-Tempos Interessantes. Permita que o cumprimente pela qualidade dos temas escolhidos.

Voltando ao assunto dos Tratados: Nao creio que sejam sempre os Estados que aceitam ou nao os Tratados Internacionais.
No caso do Tratado de Kyoto, sabe-se bem que Clinton o tinha assinado, mas G.Bush e o seu "think tank" recusou a sua aplicaçao.
Al Gore, hà dias em Paris, garantiu que no caso duma vitoria dos democratas nas proximas eleiçoes, dentro de dois anos, este Tratado serà imediatamente promulgado.Ele considera na realidade que este Tratado se impoe à consciência do povo Americano.
Quanto ao Tribunal Penal Internacional e a outros tratados tais como:-
a Convençao sobre as minas anti-pessoal;
a Convençao sobre as armas biologicas;
o Protocolo sobre a pena de morte (incluindo para os menores), tudo isto recusado pela Administraçao Bush, eu creio sinceramente que esta posiçao, se ela é a do Estado Americano, nao é a do Povo Americano, que tem outros valores.

Alias, como compreender que os parceiros dos EUA nesta cruzada anti Kyoto e todos os outros tratados mencionados sejam a China, onde se fusila os condenados à morte nos estàdios, com espectadores, nesses mesmos estàdios onde a juventude do mundo se reunirà para os Jogos Olimpicos!, a Rùssia, o Irao e a maioria dos Estados Arabes (estrangulaçao, decapitaçao, etc).

O Povo Americano merece melhor companhia.

Nao se pode pretender ser o guia do mundo ocidental e defensor dos seus valores e, ao mesmo tempo, recusar, por meros interesses economicos, politicos e géo-estratégicos, os passos em frente para um mundo mais equilibrado.

Nao se pode proclamar a guerra para defender o Direito e a Moral e recusar estes mesmos valores quando for mais conveniente para os interesses de quem quer que seja.Como muito bem disse PVM.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Paulo: só aderiu ao NPT quem quis, mas o NPT é um Tratado realista que reconhece a situação à época - a existência de 5 potências nucleares. Eu não disse que os EUA tinham o direito de não respeitar tratados. Disse que tinham o direito de não os assinar.
O Japão não teria as mesmas reacções que a Coreia do Norte até pelos motivos que apontei no meu comment anterior no que concerne a responsabilidade de cada Estado. Posso assegurar, porém, que a reacção atingiria a histeria em vários países asiáticos, a começar pela China e pelas Coreias.
Quanto à UE, o que eu critico é tentarem impingir-nos a ideia de que todos os Estados-Membros são iguais em direitos, poder e obrigações, o que é uma patranha.

Sr. Freitas Ribeiro: a moral nas RI tem efectivamente alguma relatividade; desde logo, não se pode aplicar aos Estados rigorosamente os mesmos critérios que se aplicam aos indivíduos. De qualquer forma, não podemos comparar o incomparável: a pena de morte existe nos EUA como existiu em muitos países europeus no século XX, mas é aplicada com o cumprimento das regras do estado de direito e de garantia dos direitos dos réus, o que nada tem a ver com o que se passa na China, Irão, Arábia Saudita, Cuba, ou muitos outros. E olhe que a maioria dos Norte-Americanos é favorável à pena de morte. Mesmo em Portugal, a julgar por alguns estudos de opinião, não são tão poucos quanto isso.

PVM disse...

Rui:
Quando a tua argumentação descamba para a justificação da pena de morte nos EUA (e, afinal, tudo se defende no "paraíso", não é? Olha que nos tempos áureos da URSS os comunistas domésticos tinham um comportamento idêntico...),acho que chegamos a um ponto de não retorno na discussão.
Existir pena de morte está nos antípodas do civilizacional. Por mais cambalhotas que dês, por mais que tentes justificar com detalhes formais, começas a rivalizar com o inefável João Carlos Espada (essa de passar a esponja pela pena de morte porque ela é aplicada num Estado de direito não lembra ao diabo!)

Rui Miguel Ribeiro disse...

Bem, a comparação coo o J. C. Espada vinda de ti é muito pouco lisonjeira, to say the least. Eu não acho que os EUA sejam um paraíso, nem constituem o meu modelo de sociedade em muitos aspectos. Quanto à pena de morte:
1- Não vejo em que é que seja incompatível com a civilização. Há crimes abomináveis que, em última instância não merecem outra retribuição.
2- Independentemente do que se possa achar sobre a pena capital, é óbvio que há uma diferença enorme entre ela ser aplicada num estado de direito com garantias de julgamento justo, ou num estado totalitário no qual o exercício da justiça (?!?) é feito de forma arbitrária e tortuosa.

freitas pereira disse...

Senhor Rui Miguel Ribeiro: Creio que temos realmente uma ideia do mundo actual muito diferente. Permita entretanto que nesta semana do Combate Mundial Contra a Pena de Morte, inscreva aqui alguns elementos mais.

O Senhor conhece de certeza esta "Affaire Calas", na qual o Senhor de Voltaire se ilustrou em 1763.
Monsieur Voltaire inventou, criou, nesse ano, em França, no reinado de Luis XV, creio eu, uma arma extraordinaria contra a injustiça, que viria a chamar-se nos nossos tempos "OPINIAO PUBLICA".
Esta arma consistiu no apelo aos intelectuais do Reino, aos Nobres, ao proprio Rei e mesmo à Tsarina de todas as Russias, a Grande Catarina, de interceder na famosa "Affaire Calas".
Jean Calas, cidadao de Toulouse, foi condenado a ser esquartejado na Praça do Capitolio de Toulouse, depois de ter sido torturado (ah, a tortura,tao de actualidade!)assim como a mulher e os filhos, todos acusados de terem enforcado o filho Calas, apos este ter manisfestado a intençao de se converter ao catolicismo, sendo a familia protestante.
A guerra de religiao assolava a França nessa altura.
O pobre homem foi esquartejado e, alguns meses mais tarde, apos inquérito ,que nao tinha sido feito antes, porque o homem era protestante(!) verificou-se e provou-se que o filho Calas se tinha enforcado sozinho.

Jean Calas foi reabilitado pelo Rei em 1763.

Hoje, Jean Calas, graças ao ADN, talvez nao tivesse sido esquartejado .

O erro judiciàrio é uma autentica espada de Damoclés sobre a cabeça dos inculpados e dos juizes.

O numero de condenados à morte nos EUA e reconhecidos inocentes mais tarde, apos anos e anos de processo civil, foi de 122 desde 1973. Este numero corresponde so àqueles que foram salvos in extrémis.
Sabe-se que muitos condenados à morte talvez tivessem sido salvos hoje pelo ADN.

O Senhor Rui Miguel Ribeiro tem razao:-So 12 estados americanos sobre 52 sao abolicionistas. As execuçoes existem particularmente nos estados do sul, segregacionistas , o Texas e a Florida sobretudo, onde 112 condenaçoes foram pronunciadas e 66 execuçoes efectuadas. em 2001.

Triste palmarés nestes dois estados que foram e é ainda para a Florida, governadas pelos irmaos Bush.

Mas também se poderia dizer que dos 195 Estados da ONU, 118 sao abolicionistas.
Na velha Europa, como diria Rumsfeld, a mais velha democracia do mundo, a Grande Bretanha, nunca executou um so membro da IRA Irlandesa.
Em Espanha, nunca se executou um so membro da ETA Vasca.

Porquê ?

Creio que existe uma certa consciência nestes dois paises que o recurso à pena de morte nao protege melhor os cidadaos contra o crime.
E que em nenhum pais a pena de morte nao reduziu a criminalidade.
E que a pena de morte desonra a sociedade dos homens livres.
E que uma democracia que aceita de assassinar um homem em nome da justiça faz exctamente aquilo que o leva a condenar esse homem.

Isto é vingança da sociedade e nao justiça.

Hà dias, os jurados americanos que julgaram Massaoui, recusaram a pena
de morte, mesmo depois de ele ter confessado pertencer à Al-Qaida, ter pedido ainda mais atentados contra os EUA e ter pedido ele mesmo a pena de morte. Para ser um martire, claro.

Estes jurados serviram melhor a causa da civilizaçao e dos EUA que aqueles que gritam " à Morte, à Morte" como os Romanos que baixavam o polegar nas arenas de Roma e do Império.

O terrorismo assassina em nome duma ideologia.A democracia defende a liberdade e uma certa ética de civilizaçao.

Que os politicos e os homens publicos de todos os quadrantes se devotem antes a este combate pela ética e por uma sociedade mais justa, atacando os problemas que degradam a nossa sociedade:-
- a miséria no sentido mais largo do termo;
- a injustiça social
- a corrupçao ;
- o problema da instrucçao e da cultura;
- o problema do civismo e da violência, que estao na origem da maioria dos males do nosso tempo.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira: antes de mais, peço desculpa por me ter enganado no seu nome no comment anterior. Não sei se temos visões diferentes do mundo; provavelmente não, mas também não serão iguais. É irónico que pouco tempo depois de Voltaire ter "inventado" a sua arma, no mesmo país foi inventada (e profusamente usada) a guilhotina, por sinal com grande apoio popular até se atingir a náusea por tanta carnificina.
Como o Senhor refere e bem no seu comment, com a tecnologia actual (nomeadamente o recurso ao DNA), o grau de falibilidade é muito menor do que no passado. Também saberá que na Idade Moderna europeia, muitas execuções, principalmente por motivações religiosas, resultavam de falsos testemunhos, motivados pela inveja ou antipatia pessoal. Como salientei antes, uma pessoa não é hoje executada nos EUA de forma arbitrária e irresponsável, embora o homem seja sempre falível.
Não é algo que se defenda com prazer, mas as democracias têm de se defender das enormes ameaças que as afligem e isso pode implicar cedências pontuais a alguns princípios. No que concerne a pena de morte, confesso que há crimes tão abomináveis que não merecem outro castigo.

P.S. A Espanha não condenou à morte nenhum membro da ETA, mas criou os GAL, que assassinavam militantes da ETA à revelia do sistema judicial e de toda a legalidade. Existem poucos inocentes nas RI.

freitas pereira disse...

Senhor Rui Miguel Ribeiro

Desculpe voltar ao post precedente:

Tem razão: O pais de Voltaire , 25 anos depois do "Tratado da Tolerância", mergulhou na Revolução. A invenção de Monsieur Guillotin funcionou de dia e de noite e não poupou os seus próprios filhos, aqueles que declararam a revolução:-Robespierre, Danton, Barras,
Desmoulins e muitos outros. Mas é próprio das revoluções de devorar , por vezes, aqueles que as criam.
"After all", a Revolução Francesa não fez mais vitimas que a guerra das religiões da Irlanda, da guerra civil de Espanha, da América, da China ou da Rússia.
Mas ela marcou mais os espíritos.

E porque o Senhor introduziu este facto no nosso debate, permita que lhe diga que a Revolução Francesa, para mim e para muitos apaixonados da Historia, foi, apesar da carnificina como muito bem disse, um marco que se impõe, concreto, do fim do absolutismo, do poder divino do rei, eleito por Deus, e que os princípios que ela proclamou passaram para lá das fronteiras da França e são reconhecidos universalmente.

Embora estes princípios ainda durmam no subconsciente de muitos humanos ,em muitos países , como uma nostalgia de esperança, o facto é que o principio da legitimidade do povo , o verdadeiro poder, estão hoje mais que nunca na actualidade do mundo contemporâneo.
E os políticos de hoje não se cansam de reivindicar o apoio do povo para chegar ao poder.

Sem preconizar a forma audaciosa e mesmo violenta de Danton ou Desmoulins, creio que, mais que nunca, o combate aos privilégios é uma alta responsabilidade da Democracia. Senao esta estaria em perigo.

Curiosamente, quando o Senhor evoca de novo os EUA e a justiça ai aplicada hoje, menos falível, como diz, o que eu não creio, acho interessante recordar que foram alguns jovens privilegiados Franceses, que tinham descoberto nos EUA, durante a guerra da independência , regras mais simples e mais democráticas, que os levaram a sonhar de abolir em França as distinções da velha monarquia e introduzir um pouco da liberdade republicana que existia nos EUA. O chefe desses jovens era, como sabe, Monsieur de La Fayette.

As revoluções, alguém disse, são os rios que arrastam no seu curso, escorias e ao mesmo tempo pepitas de ouro, e considero (opinião muito pessoal, claro) que a torrente de 1789 depositou nas margens da Historia pepitas que alimentam o presente após ter fecundado o passado. E isto para lá das fronteiras da França, claro está. Estas pepitas alimentam os sonhos de Democracia de hoje.

E é por isso que escrevi num post precedente que é urgente de estar à escuta das vissicitudes dos povos e de tratar os problemas que os afectam e que são frequentemente a origem dos sobressaltos violentos da Historia.

E nos tempos de hoje, a miséria social onde vegeta uma grande parte dos nossos contemporâneos, e não só os mais pobres mas também muitos da faixa média que para ai escorregam pouco a pouco, tem uma relação directa com o nível dos desmandos sociais.

Mas tenho de admitir que em França os problemas de sociedade nunca são tratados muito pacificamente.

E também é verdade que em Inglaterra, quando Henrique II quis aplicar taxas nas propriedades da Igreja e submeter os clérigos ao poder do Rei, a reacção de Tomas Becket, apoiado pelo Papa da época, ao Tratado de Clarendon, só fez uma vitima : o próprio Tomas Becket , assassinado pelos homens do Rei na Catedral de Westminster.

Mas esta foi uma revolução da Igreja contra o Rei.

Em França foi uma revolução do Povo contra todos os poderes : o Rei , a Nobreza e a Igreja.

E atenção aos homens políticos que esquecem estes factos, porque além dos ambiciosos a não importa qual preço, os loucos, os sectários, os indigentes na sua crueldade e na sua pequenez, os corrompidos, os aproveitadores da condição humana, não tenhamos duvida que toda a reflexão social onde se encontra a dignidade e a felicidade dos deserdados da vida , se encontra neste período revolucionário de 1789, apesar dos rios de sangue e do fanatismo.

Anónimo disse...

THE GUARDIAN • Les Britanniques craignent plus George W. Bush que Kim Jong-Il



Terrivel sinal de alarme, nao acham?

Freitas Pereira

Rui Miguel Ribeiro disse...

Não, francamente não acho.
Em primeiro lugar, o "Guardian" nutre um sentimento anti-Bush primário, como se viu quando, em 2004, incentivou os seus leitores a escreverem a eleitores do Ohio a explicar-lhes porque não deviam votar em George W. Bush. É claro que a iniciativa se revelou contra-producente.
Em segundo lugar, a ideia de considerar Bush mais perigoso que Kim Jong Il é tão absurda que chega a ser hilariante. Já agora, será que também acham que Tony Blair é mais ameaçador do que o Ayatollah Ali Khameney?

freitas pereira disse...

Sr. Rui Miguel Ribeiro

Tenho, claro está, o maior respeito pela sua opinião, mas não sei o que deva mais admirar: se é a sua fidelidade ou a obstinação a defender a acção de G.Bush, quando 2/3 dos seus compatriotas o abandonaram.

São 4 jornais de quatro países, que fizeram a sondagem e não só o "Guardian". Mesmo o "Haaretz" de Israel conseguiu encontrar 20% de israelianos para considerar G.Bush mais perigoso para a paz do mundo que os tais "terroristas". E Deus sabe quanto Israel deve a G.Bush em particular e aos EUA em geral. Mas toda a gente sabe que em política a gratidão...


Ao ler a imprensa americana e ao ver a CNN e outras cadeias de televisão americanas, quem não tem a mesma fidelidade são muitos deputados Republicanos que preferem evitar a presença de G.Bush nos comícios, por razoes evidentes.

Tenho amigos nos EUA a quem telefono e estou estupefacto da rapidez da mudança de intenção de voto. Como sempre, os Americanos são pragmáticos.

Quanto ao Ohio veremos terça-feira se este estado fiel mantém a sua fidelidade.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira

Em primeiro lugar, gostaria de lhe agradecer o interesse que tem demonstrado pelo meu Blog. Embora escreva por prazer, não deixo de sentir uma satisfação acrescida quando verifico que os meus apontamentos são lidos por outros e mais ainda quando lhes suscita o interesse suficiente para gastarem algum tempo a acomentá-los.

Posto isto, verifiquei que deixei o seu antepenúltimo comentário sem resposta. Partilho de muitas das suas considerações e preocupações, mormente quanto ao combate à miséria e à intolerância e á necessidade de os políticos terem um acrescido sentido de serviço público.

Também não ignoro o impacto sócio-político e histórico da revolução Francesa, embora pense que a génese da democracia moderna se encontre do outro lado do Canal, em Inglaterra. A propósito, não resisto a contar um episódio ocorrido com Margaret Thatcher, em 1989, quando acabada de aterrar em Paris para a Cimeira dos G7 e para a comemoração do Bicentenário da Queda da Bastilha, lhe perguntaram o que pensava sobre a importãncia da efeméride. Com a sua proverbial e fria franqueza, respondeu "Ainda andavam os Franceses a cortar as cabeças uns aos outros e já a
Grã-Bretanha tinha uma democracia parlamentar há 100 anos!" Touché!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Realmente sou uma pessoa de convicções fortes e não vacilo com os ventos da moda ou da maioria, o que não quer dizer que nunca mude de opinião. Eu discordo de muitas coisas que George W. Bush fez, mas continuo a achar que ele é melhor do que as alternativas. A colocação de Bush ao lado de Kim Jong Il, Ali Khameney, Bin Laden e outros "facínoras" parece-me um exercício absurdo e sem sentido. É claro que serve para alguns destilarem o seu anti-americanismo (e não me refiro a si como é óbvio), ou o seu anti-bushismo.
Também não tenho grandes ilusões sobre as eleições de 7 de Novembro, embora ainda tenha uma esperança que o GOP consiga aguentar o Senado, mas estou convencido que nem nós nem os Norte-Americanos vão ganhar nada com uma maioria democrata no Congresso. Quanto ao Ohio, francamente acho que vai ficar bastante azulado.

freitas pereira disse...

Ribeiro

Pode crer que aprecio também este Blog , de alguém da minha terra, que me parece muito versado nos temas políticos no sentido mais largo do termo..
Só espero não abusar da sua hospitalidade.
Mas os problemas do nosso tempo merecem todo o meu interesse e gosto, por isso, de dialogar e debater ideias. Que será a democracia se, um dia, os combates de ideias desaparecem? Um bulício de interesses subalternos? Um afrontamento de clãs ou de grupos que estando de acordo sobre o essencial se batem só pelo poder, como um fim em si?

Eu tenho receio que seja frequentemente o caso. E isso não é lá muito mobilizador. E é perigoso para a Democracia, porque os cidadãos podem muito bem perder o interesse pela vida da "cité" e duvidar da honestidade daqueles que governam e dos outros que querem governar.

O Blog , é, na minha opinião , uma alavanca que pode facilitar o dialogo e o debate entre pessoas que não se conhecem, mas que se interessam à coisa publica, e que não se exprimiriam, talvez, se o Blog não existisse.



Estou realmente "touché", porque tem razão, isto é, Maggie is right! A primeira democracia parlamentar, foi certamente a Inglesa. Só que, creio, a Revolução Francesa teve talvez mais repercussões fora das fronteiras.

Quanto à sondagem dos quatro jornais que já citamos, Bush , comparado aos outros é certamente exagerado, embora , pelas mentiras e acçoes que o levaram a invadir o Iraque, tenha contribuído muito a tornar o mundo mais perigoso.
Alias o Povo Americano sancionou-o duramente por isso mesmo. Mesmo se os Republicanos pagam também os escândalos de alguns dos seus amigos.

Mas o Senhor tem razão: A diferença entre os democratas e os republicanos não é mais espessa que uma folha de cigarro. Os interesses da América serão sempre prioritários. E duma certa maneira Bush vai procurar fazer entrar os democratas na caldeira do Iraque. E se o problema não estiver resolvido antes do fim do mandato, os democratas serão bem obrigados de partir do Iraque à maneira do Vietname. O que é "de bonne guerre", porque foi assim que os democratas deixaram o problema do Vietname aos republicanos.

De qualquer maneira, espero que ninguém vai lançar uma operação de "impeachment" contra G; Bush, senão teremos o Vice , Dick Cheney, que será ainda mais perigoso para os Americanos e para o mundo.

freitas pereira disse...

Sr. Rui Miguel Ribeiro : Desculpe por favor a entrada na matéria do meu ultimo 'post' onde escrevi "Ribeiro" ! Nao é a minha maneira de tratar pessoas que nao conheço. Problemas de teclado e distracçao.Peço me desculpe.
Freitas Pereira