08 dezembro, 2013

Senkaku: A Sarajevo do Pacífico?

SENKAKU: A SARAVEJO DO PACÍFICO?

 
O Mar da China Oriental (East China Sea) está novamente agitado. Confinado pela China a Oeste, por Taiwan a Sul, pelo Japão a Nordeste, pela Coreia do Sul a Norte e pelo Pacífico a Oeste, o Mar da China Oriental é um espaço no qual estas potências convergem e onde os seus interesses colidem.

O mapa mostra a laranja as zonas de overlapping (sobreposição) das ADIZ do Japão, China, Coreia do Sul e Taiwan no Mar da China oriental e no Mar Amarelo.
in STRATFOR em www.stratfor.com

A mais recente de tensão foi despoletada de novo por causa das ilhas Senkaku, apresentadas aos nossos leitores a 1 de Agosto de 2012 (ver Senkaku & Takeshima em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012_08_01_archive.html) mais de um mês antes de serem notícia nos media. No dia 23 de Novembro, a China anunciou o estabelecimento de uma nova Zona de Identificação de Defesa Aérea (acrónimo inglês ADIZ). *

 Esta decisão de Pequim suscita dois problemas: as Senkaku estão sob administração e controlo do Japão que reclama a soberania sobre os ilhéus; a nova ADIZ sobrepõe-se a espaços e ADIZ’s de 3 outros países: Japão, Coreia do Sul e Taiwan. As consequências eram previsíveis:

* O Japão continuou a sobrevoar as ilhas e instruiu as companhias aéreas nipónicas para não responderem a qualquer solicitação de identificação ou de rota feita pelos Chineses nesse espaço.

* A Coreia do Sul anunciou a intenção de aumentar a sua ADIZ e deu às companhias de aviação sul-coreanas instruções similares às de Tóquio.

* Os EUA já atravessaram a nova ADIZ chinesa com dois bombardeiros B-52.

* Taiwan também já enviou patrulhas aéreas para a zona.

Não é a primeira vez que uma ADIZ é aumentada na Ásia Oriental. O Japão já o fez recentemente em resposta à crescente assertividade militar chinesa. A novidade neste caso, está na sobreposição das diversas zonas que esta medida provocou e que tem um óbvio cariz de afirmação, de provocação e de teste às reacções dos outros Estados.

O problema é que é claro nesta altura que os Japoneses, os Norte-Americanos e os Sul-Coreanos vão continuar os voos. E o que fará a China? Há duas hipóteses:

1- A China exige a identificação e rota aos aviões.

2- A China não materializa a ADIZ e nada exige às aeronaves que a atravessem.

No segundo caso, nada acontece. A China terá feito um political statement inconsequente, transmitindo fraqueza e receio e perdendo a face. Seria um grande fiasco.

A primeira hipótese desdobra-se em 3:

1A »»» Os aviões submetem-se à intimação chinesa. Japão, EUA e Coreia do Sul dão parte de fracos e convidam a China a fazer novos avanços e imposições. É altamente improvável.

1B »»» Os aviões ignoram a intimação chinesa e a China não reage, ou emite um protesto diplomático. É uma situação em tudo similar à segunda hipótese e as consequências serão as mesmas, mas é mais provável

1C »»» Os aviões ignoram a intimação e são interceptados pela Força Aérea do Exército Popular de Libertação.

Esta última seria a situação mais interessante (e dramática), porque poderia configurar um casus belli (motivo para guerra).

Não prevejo que a situação derrape a esse ponto a curto-médio prazo, mas as 3 potências asiáticas (há também a Rússia e os Estados Unidos) do Nordeste da Ásia sentem-se crescentemente desconfortáveis umas com as outras e a desconfiança é geral.

Tenho poucas dúvidas que as tensões geopolíticas na região tenderão a crescer num cenário em que os participantes têm todos pretensões conflituantes. Nestes power games, um pouco como na vida animal selvagem, exibe-se capacidades, posturas agressivas e retórica nacionalista mais ou menos exacerbada. E ninguém estará disponível para ceder ou recuar, porque tal acarreta sérios custos internos e externos.

Se o caminho for esse, o confronto será inevitável a prazo. As Senkaku são um bom candidato a ser o rastilho desse conflito, um Sarajevo do Extremo Oriente.


* A ADIZ (Air Defence Identification Zone) é uma extensão do espaço aéreo de um país. Enquanto o espaço aéreo nacional está legalmente definido como sendo o espaço sobre a totalidade do território e do mar territorial (12 milhas desde o litoral) e sobre o qual o detentor exerce total soberania, a ADIZ é estabelecida unilateralmente, para além do espaço aéreo e nela o país que a invoca, arroga-se o direito de exigir a identificação, rota e propósito de qualquer aeronave que atravesse esse espaço.

4 comentários:

Sergio Lira disse...

Sugestão: enviar rapidamente (e em força) o Marchenete para asSentakiuku. Aliás: se fosse o desgoverno todo, como aquilo fica longe pra chuchu, seria o ideal. Com a probabilidade de um sério conflito, melhor ainda... e gente paga de bom grado a viagem (de ida). E ficam lá como aqueles canários detectores de grizu, antigamente nas minas: quando morrerem é sinal de que houve coisa...

Rui Miguel Ribeiro disse...

Olha que bela ideia! Ainda ganhávamos protagonismo internacional e eles podiam planear toda a austeridade e esbulho que quisessem que ninguém se ia maçar, porque...não há lá ninguém.
E se mesmo assim alguém se incomodasse....PUM! Case closed!!!

Sergio Lira disse...

Desculpa ter «avacalhado» o teu post que, como sempre nestes assuntos, é muito interessante. Mas não resisti...

Rui Miguel Ribeiro disse...

No problem Sérgio: bom humor também é preciso. E obrigado pelo elogio :-)