30 dezembro, 2013

Líbia 2013 - O Pandemónio

LÍBIA 2013 – O PANDEMÓNIO



A divisão da Líbia em 3 regiões imposta pela Itália, potência colonial, em 1934.

Ibrahim Jadhran, sabem quem é? Bem, eu também não, pelo menos até há dois meses atrás. Ibrahim Jadhran é Líbio e é um antigo líder de uma das dezenas de milícias armadas da Líbia. Actualmente ostenta o pomposo cargo de Petroleum Facilities Guard Commander (Comandante da Guarda das Infra-Estruturas Petrolíferas). Em Setembro foi enviado pelo Governo para o Leste da Líbia, para Ras Lanuf, o principal terminal petrolífero da Líbia. Este terminal mais outros dois estavam paralisados devido a protestos de forças defensoras do federalismo no país.

Estes protestos levaram a uma redução de 60% na exportação de petróleo da Líbia (cerca de 1.000.000 barris/dia. Pois bem, o bom do Ibrahim Jadhran, chegado a Ras Lanuf na qualidade de Petroleum Facilities Guard Commander, em vez de pôr cobro à paralisação, juntou-se aos protestos e passou a liderar o movimento que impede a exportação de 600.000 barris de petróleo diários. Empolgado pelo impacto da sua liderança, escaalou as reivindicações: das típicas exigências de melhorias salariais para si e para os seus homens, Jadhran passou a reclamar um governo autónomo para Cirenaica, com uma fatia mais generosa dos rendimentos do petróleo, claro está.

Este é um retrato da Líbia de 2013.

No dia 10 de Outubro de 2013, o Primeiro-Ministro da Líbia, Ali Zeidan, foi raptado da sua residência por um grupo armado que o reteve sequestrado pro várias horas antes de o libertar

Este é outro retrato da Líbia em 2013.

Tripoli, a capital da Líbia, esteve uma semana sem abastecimento de água porque elementos afectos ao regime de Kadhafi destruíram uma bomba de água que faz fluir água do Deserto Líbio para o litoral. Uma obra de Kadhafi, por sinal.

Este é mais um retrato da Líbia em 2013.

Em Maio, milícias armadas cercaram o parlamento líbio, exigindo a aprovação de uma lei que barrava o acesso a cargos políticos e na administração pública a elementos que tivessem exercido funções no regime de Kadhafi.

Um último retrato da Líbia em 2013.

Pela amostra sucinta, não será difícil concluir que, mais de dois anos após a execução de Kadhafi, quase três desde o início da rebelião na Líbia, o país encontra-se perto do caos.

Na Líbia assistimos às tensões federalistas na região de Cirenaica (Leste) e no Sul, face às pulsões centralistas da Tripolitânia (Oeste). Concomitantemente e paralelamente, existem regulares demonstrações de força das principais milícias que ajudaram a NATO a derrubar Kadhafi, nomeadamente as das cidades de Benghazi (Leste), Misurata (centro) e Zintan (Oeste).

As consequências do pandemónio líbio são:

·         A quebra brutal da produção e exportação de petróleo com as consequentes perdas de receitas e liquidez. O Governo da Líbia previu exportar 1.300.000 barris de petróleo/dia para sustentar o seu orçamento. Durante a primeira metade do ano ficou frequentemente aquém do milhão. Desde Agosto que ronda o meio milhão.
·         A instabilidade no país, refém de milícias mais poderosas do que o exército e de um poder político impotente para manter a ordem e a segurança.
·         A desestabilização da região motivada pela fraqueza de Tripoli, pela disseminação de armas que acompanhou o esboroamento do regime de Kadhafi e pelo insuficiente controlo das fronteiras. Os efeitos notam-se, para além da Líbia, no Mali, no Níger e no Sul da Argélia.

Nada disto é uma surpresa. Podia-se não se conhecer os contornos exactos, mas a intervenção para derrubar Khadafi já trazia estas consequências escritas de forma bem clara em apêndice.

A NATO já partiu há muito e Kadhafi já era. A herança é o pandemónio na Líbia e a instabilidade e insegurança no Sahara e no Sahel. É este o retrato da Líbia em 2013.



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