MAN OF THE YEAR 2013:
VLADIMIR PUTIN
TEMPOS INTERESSANTES’ MAN OF THE
YEAR 2013
Tal
como aconteceu com a escolha de 2012 (Angela Merkel), o Man of the Year 2013 para
Tempos Interessantes não é um modelo
de popularidade, neste caso no Ocidente. Contudo, Vladimir Putin, que é uma figura de destaque na Rússia e nas
Relações Internacionais desde 1999, registou durante este ano um conjunto de
triunfos que conferiram merecimento a esta distinção.
Vladimir
Putin vem defendendo com intransigência o interesse nacional da Rússia, conseguindo
elevar o país do estado lastimável em que se encontrava no final do século XX à
potência ascendente, confiante e respeitada que é na segunda década do século
XXI.
Fê-lo
pela Rússia e contra o Ocidente. A primeira parte é óbvia. A segunda decorre do
seu entendimento que o Ocidente, sob pretexto de um novo começo e amizade, na
realidade pisou, ignorou e humilhou a Rússia pós-soviética durante a
presidência de Boris Yeltsin. A traição da NATO à Rússia no Kosovo em 1999,
imediatamente antes de Putin ser nomeado Primeiro-Ministro, convenceu-o disso
mesmo. O apoio das potências ocidentais às revoluções coloridas pró-ocidentais
na Geórgia, Kirguizistão e, principalmente, na Ucrânia entre 2003 e 2004,
retiraram-lhe quaisquer dúvidas.
Putin
encarou esses apoios/instrumentalizações como um cerco ao coração da Rússia,
que ficaria isolada e vulnerável. Após os ataques de 11 de Setembro, Putin foi
dos primeiros a manifestar solidariedade e apoio a George W. Bush e aos Estados
Unidos. Após 2004, a Rússia seguiu, definitivamente um caminho autónomo,
deixando cair qualquer hipótese de integração com a Europa Ocidental e Central
e afirmando uma política interna e externa baseada numa visão específica do
mundo e num conjunto de valores e métodos diversos dos do Ocidente. Isso é que
o torna particularmente detestado pelos defensores e praticantes do
politicamente correcto, que são os mesmos que julgam que a superioridade moral
que se atribuem lhes dá o direito único de impor os seus valores e convicções.
No
longo mandato de Putin, a Rússia estabilizou política e socialmente e retomou o
crescimento económico assente na exportação de petróleo e gás natural e na
conjuntura favorável de preços dos hidrocarbonetos. Uma vez consolidada a
situação interna russa, na qual se inclui o poder do próprio Putin, o
Presidente da Rússia encetou a missão de recuperar a grandeza perdida da
Rússia. Para tal, afastou-se da ordem vigente criada pelo Ocidente e tutelada
pelos EUA e aplicou a política externa russa de acordo com três princípios:
1- Os
interesses fundamentais de Moscovo são para prosseguir pelos meios mais
eficazes, mesmo recorrendo ao hard power
(guerra com a Geórgia, cortes nos abastecimentos de gás à Ucrânia e outros
países da Europa Oriental) e retaliações de índole económica contra os
refractários.
2- A
afirmação de uma ordem internacional assente na soberania dos estados e
tutelada por um concerto de grandes potências.
3- A
Rússia entra em negociações e acordos sempre numa posição de igualdade e nunca
numa posição subalterna.
Do
ponto 1, decorrem as pressões exercidas sobre os países da Europa Oriental que
integram a Eastern Partnership. No espírito do ponto 2, apontamos as
negociações P5+1 – Irão. Resultante do ponto 3, temos as negociações Geneva 2
sobre a Guerra Civil na Síria, promovidas em parceria pela Rússia e pelos
Estados Unidos.
A cereja no topo do bolo em 2013 para Putin: a assinatura dos
acordos entre a Rússia e a Ucrânia, a 17 de Dezembro no Kremlin. Da esquerda
para a direita: Leonid Koshara, MNE da Ucrânia, Viktor Yanukovych, Presidente
da Ucrânia, Vladimir Putin, Presidente da Rússia, e Seguei Lavrov, MNE da
Rússia.
Focando-nos
apenas em 2013, Putin conseguiu:
* Manter um nível de apoio político, militar
e diplomático à Síria suficiente para manter o regime à tona e,
conjuntamente com outros apoios, ajudar a reverter o curso da guerra.
* Travar um ataque dos EUA à Síria e levar
Washington a aceitar as propostas de Moscovo sobre as armas químicas
sírias, para as quais também obteve o acordo de Damasco.
* Não só
recuperou um grau de reconhecimento
internacional para o regime de Bashar Al Assad, como conseguiu promover a
Conferência Geneva 2 em parceria com os EUA e com a participação do Governo
da Síria.
* A Rússia voltou a ser um player no Médio Oriente.
* Esvaziar a Cimeira de Vilnius da Eastern
Partnership entre a União Europeia e 6 países da Europa Oriental. A Arménia
manifestou vontade de aderir à União Aduaneira promovida pela Rússia; a Ucrânia
recusou assinar o acordo de livre comércio com a EU; a Bielorrússia e o
Azerbaijão mantiveram-se à margem; apenas a Geórgia e a Moldova rubricaram
acordos preliminares.
* Duas
semanas após-Vilnius, a Ucrânia assinou
um conjunto de acordos que a aproximaram mais de Moscovo, passando a
beneficiar de gás natural mais barato e de apoio financeiro.
* A Rússia ganhou este round na luta por áreas
de influência na Europa Oriental.
O
primeiro objectivo da Rússia é garantir que as áreas que a circundam estão sob
a sua influência ou, no mínimo, não lhe são hostis. A cintura eslava a Oeste e
a Sul, mormente a Ucrânia e a Bielorrússia são cruciais porque
envolvem a Rússia numa área toda ela vulnerável. Numa segunda linha, a Moldova,
os Estados Bálticos e os antigos parceiros do Pacto de Varsóvia também assumem
relevo. Outras áreas importantes são o Cáucaso e a Ásia Central. Exercendo um grau de controlo sobre estas
regiões, a Rússia resolve as suas vulnerabilidades geoestratégicas, para
além de garantir mercados e benefícios económicos.
Nesta área,
Putin tem somado pontos. A capacidade económica actual da Rússia permite-lhe
premiar os que alinham com Moscovo e pressionar e ameaçar os que têm dúvidas. A
grave crise interna que muitos estados europeus e a própria EU atravessam, e o enfoque
dos EUA noutras áreas, têm ajudado os desideratos russos.
O
segundo objectivo da Rússia é ser reconhecida como uma grande potência. Apesar
de não deter o poder dos EUA e não ter o poder económico e demográfico da China,
a Rússia assenta a sua afirmação nos recursos naturais (especialmente energéticos),
no seu poder militar e no seu estatuto de grande potência nuclear. Sobre estes
factores, acresce a determinação e a habilidade política de Putin. A forma como
os EUA foram ultrapassados e postos em cheque no dossier da Síria, é digna de
um exímio jogador do xadrez geopolítico.
Finalmente,
a Rússia vai diversificando os tabuleiros onde joga. Japão,
Coreia do Sul, Índia, Egipto, Venezuela, Vietname, Golfo Pérsico, são exemplos
de áreas onde a Rússia se tem empenhado em alcançar acordos e parcerias de
índole energética, comercial e militar, que reforçam a sua posição e
influência.
A
confiança que Putin tem hoje e que lhe permite jogadas de risco no plano
externo, também lhe deu margem para mostrar magnanimidade no plano interno,
como foi o caso da recente amnistia que abrangeu o antigo magnata Mikhail
Khodorkovsky.
Com
menos meios do que outros, Putin conseguiu pôr a Rússia em certos palcos em pé
de igualdade com os EUA, noutros viu a China a seguir as suas políticas e com a
Alemanha vai dividindo a Europa
Central e Oriental em zonas de influência.
A Rússia,
na esteira de mestres de xadrez, tem agora um mestre do xadrez geopolítico. Contudo,
na Geopolítica os riscos, as variáveis e os imprevistos são maiores do que no
tabuleiro e as vulnerabilidades da Rússia não lhe garantem que 2013 se repita.
No entanto, por agora Vladimir Putin
encerra o 2013 como Man of the Year. E abre 2014 com o protagonismo de presidir
à abertura dos seus Jogos Olímpicos
de Inverno em Sochi, na costa do Mar Negro.
Vladimir Putin com Alexander Lukashenko, Presidente da
Bielorrússia, durante o exercício militar conjunto ZAPAD-2013, realizado no
Nordeste da Europa.
Posts anteriores com
referências relevantes a Vladimir Putin:
“CHEQUE RUSSO” em
“O CZAR VLADIMIR” em
“SOBERANIA LIMITADA” em
Sem comentários:
Enviar um comentário