28 dezembro, 2013

Man of the Year 2013

MAN OF THE YEAR 2013:
 VLADIMIR PUTIN


VLADIMIR PUTIN

TEMPOS INTERESSANTES’ MAN OF THE YEAR 2013


Tal como aconteceu com a escolha de 2012 (Angela Merkel), o Man of the Year 2013 para Tempos Interessantes não é um modelo de popularidade, neste caso no Ocidente. Contudo, Vladimir Putin, que é uma figura de destaque na Rússia e nas Relações Internacionais desde 1999, registou durante este ano um conjunto de triunfos que conferiram merecimento a esta distinção.

 
Vladimir Putin vem defendendo com intransigência o interesse nacional da Rússia, conseguindo elevar o país do estado lastimável em que se encontrava no final do século XX à potência ascendente, confiante e respeitada que é na segunda década do século XXI.

 
Fê-lo pela Rússia e contra o Ocidente. A primeira parte é óbvia. A segunda decorre do seu entendimento que o Ocidente, sob pretexto de um novo começo e amizade, na realidade pisou, ignorou e humilhou a Rússia pós-soviética durante a presidência de Boris Yeltsin. A traição da NATO à Rússia no Kosovo em 1999, imediatamente antes de Putin ser nomeado Primeiro-Ministro, convenceu-o disso mesmo. O apoio das potências ocidentais às revoluções coloridas pró-ocidentais na Geórgia, Kirguizistão e, principalmente, na Ucrânia entre 2003 e 2004, retiraram-lhe quaisquer dúvidas.

 
Putin encarou esses apoios/instrumentalizações como um cerco ao coração da Rússia, que ficaria isolada e vulnerável. Após os ataques de 11 de Setembro, Putin foi dos primeiros a manifestar solidariedade e apoio a George W. Bush e aos Estados Unidos. Após 2004, a Rússia seguiu, definitivamente um caminho autónomo, deixando cair qualquer hipótese de integração com a Europa Ocidental e Central e afirmando uma política interna e externa baseada numa visão específica do mundo e num conjunto de valores e métodos diversos dos do Ocidente. Isso é que o torna particularmente detestado pelos defensores e praticantes do politicamente correcto, que são os mesmos que julgam que a superioridade moral que se atribuem lhes dá o direito único de impor os seus valores e convicções.

 
No longo mandato de Putin, a Rússia estabilizou política e socialmente e retomou o crescimento económico assente na exportação de petróleo e gás natural e na conjuntura favorável de preços dos hidrocarbonetos. Uma vez consolidada a situação interna russa, na qual se inclui o poder do próprio Putin, o Presidente da Rússia encetou a missão de recuperar a grandeza perdida da Rússia. Para tal, afastou-se da ordem vigente criada pelo Ocidente e tutelada pelos EUA e aplicou a política externa russa de acordo com três princípios:

 
1- Os interesses fundamentais de Moscovo são para prosseguir pelos meios mais eficazes, mesmo recorrendo ao hard power (guerra com a Geórgia, cortes nos abastecimentos de gás à Ucrânia e outros países da Europa Oriental) e retaliações de índole económica contra os refractários.

 
2- A afirmação de uma ordem internacional assente na soberania dos estados e tutelada por um concerto de grandes potências.

 
3- A Rússia entra em negociações e acordos sempre numa posição de igualdade e nunca numa posição subalterna.

 
Do ponto 1, decorrem as pressões exercidas sobre os países da Europa Oriental que integram a Eastern Partnership. No espírito do ponto 2, apontamos as negociações P5+1 – Irão. Resultante do ponto 3, temos as negociações Geneva 2 sobre a Guerra Civil na Síria, promovidas em parceria pela Rússia e pelos Estados Unidos.


A cereja no topo do bolo em 2013 para Putin: a assinatura dos acordos entre a Rússia e a Ucrânia, a 17 de Dezembro no Kremlin. Da esquerda para a direita: Leonid Koshara, MNE da Ucrânia, Viktor Yanukovych, Presidente da Ucrânia, Vladimir Putin, Presidente da Rússia, e Seguei Lavrov, MNE da Rússia.


 
Focando-nos apenas em 2013, Putin conseguiu:

 
* Manter um nível de apoio político, militar e diplomático à Síria suficiente para manter o regime à tona e, conjuntamente com outros apoios, ajudar a reverter o curso da guerra.

 
* Travar um ataque dos EUA à Síria e levar Washington a aceitar as propostas de Moscovo sobre as armas químicas sírias, para as quais também obteve o acordo de Damasco.

 
* Não só recuperou um grau de reconhecimento internacional para o regime de Bashar Al Assad, como conseguiu promover a Conferência Geneva 2 em parceria com os EUA e com a participação do Governo da Síria.

 
* A Rússia voltou a ser um player no Médio Oriente.

 
* Esvaziar a Cimeira de Vilnius da Eastern Partnership entre a União Europeia e 6 países da Europa Oriental. A Arménia manifestou vontade de aderir à União Aduaneira promovida pela Rússia; a Ucrânia recusou assinar o acordo de livre comércio com a EU; a Bielorrússia e o Azerbaijão mantiveram-se à margem; apenas a Geórgia e a Moldova rubricaram acordos preliminares.

 
* Duas semanas após-Vilnius, a Ucrânia assinou um conjunto de acordos que a aproximaram mais de Moscovo, passando a beneficiar de gás natural mais barato e de apoio financeiro.

 
* A Rússia ganhou este round na luta por áreas de influência na Europa Oriental.

 
O primeiro objectivo da Rússia é garantir que as áreas que a circundam estão sob a sua influência ou, no mínimo, não lhe são hostis. A cintura eslava a Oeste e a Sul, mormente a Ucrânia e a Bielorrússia são cruciais porque envolvem a Rússia numa área toda ela vulnerável. Numa segunda linha, a Moldova, os Estados Bálticos e os antigos parceiros do Pacto de Varsóvia também assumem relevo. Outras áreas importantes são o Cáucaso e a Ásia Central. Exercendo um grau de controlo sobre estas regiões, a Rússia resolve as suas vulnerabilidades geoestratégicas, para além de garantir mercados e benefícios económicos.

 
Nesta área, Putin tem somado pontos. A capacidade económica actual da Rússia permite-lhe premiar os que alinham com Moscovo e pressionar e ameaçar os que têm dúvidas. A grave crise interna que muitos estados europeus e a própria EU atravessam, e o enfoque dos EUA noutras áreas, têm ajudado os desideratos russos.

 
O segundo objectivo da Rússia é ser reconhecida como uma grande potência. Apesar de não deter o poder dos EUA e não ter o poder económico e demográfico da China, a Rússia assenta a sua afirmação nos recursos naturais (especialmente energéticos), no seu poder militar e no seu estatuto de grande potência nuclear. Sobre estes factores, acresce a determinação e a habilidade política de Putin. A forma como os EUA foram ultrapassados e postos em cheque no dossier da Síria, é digna de um exímio jogador do xadrez geopolítico.

 
Finalmente, a Rússia vai diversificando os tabuleiros onde joga. Japão, Coreia do Sul, Índia, Egipto, Venezuela, Vietname, Golfo Pérsico, são exemplos de áreas onde a Rússia se tem empenhado em alcançar acordos e parcerias de índole energética, comercial e militar, que reforçam a sua posição e influência.

 
A confiança que Putin tem hoje e que lhe permite jogadas de risco no plano externo, também lhe deu margem para mostrar magnanimidade no plano interno, como foi o caso da recente amnistia que abrangeu o antigo magnata Mikhail Khodorkovsky.

 
Com menos meios do que outros, Putin conseguiu pôr a Rússia em certos palcos em pé de igualdade com os EUA, noutros viu a China a seguir as suas políticas e com a Alemanha vai dividindo a Europa Central e Oriental em zonas de influência.

 
A Rússia, na esteira de mestres de xadrez, tem agora um mestre do xadrez geopolítico. Contudo, na Geopolítica os riscos, as variáveis e os imprevistos são maiores do que no tabuleiro e as vulnerabilidades da Rússia não lhe garantem que 2013 se repita. No entanto, por agora Vladimir Putin encerra o 2013 como Man of the Year. E abre 2014 com o protagonismo de presidir à abertura dos seus Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na costa do Mar Negro.


Vladimir Putin com Alexander Lukashenko, Presidente da Bielorrússia, durante o exercício militar conjunto ZAPAD-2013, realizado no Nordeste da Europa.


 

Posts anteriores com referências relevantes a Vladimir Putin:

“CHEQUE RUSSO” em


 
“O CZAR VLADIMIR” em


 
“SOBERANIA LIMITADA” em



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