“WHAT’S SO CIVIL ABOUT WAR?”
Civil
War - Guns N’ Roses
As guerras civis são dos conflitos mais cruéis,
traumatizantes e prolongados. Desenvolvem-se num só território (país) e opõem irmãos. Pessoas que partilham a
nacionalidade, mas divididos pela política, pela religião, pela etnia, pela
língua, ou simplesmente pela manipulação e ambição de alguns que acicatam os
ânimos e as animosidades.
What
we’ve got here is failure to communicate.
Some men you just can’t reach…
So, you get what we had here last week,
Which the way he wants it!
Well, he gets it!
I don’t
like it any more than you, man.
Some men you just can’t reach…
So, you get what we had here last week,
Which the way he wants it!
Well, he gets it!
Civil
War - Guns N’ Roses
A artificialidade de muitos países, desenhados pelas
potências coloniais europeias no século XIX e pelas potências vencedoras das
duas Guerras Mundiais no século XX estão frequentemente na origem dessas
divergências internas irreconciliáveis. Por outro lado, vivemos num sistema
internacional crescentemente confrangedor dos conflitos internacionais, mas que
é muitas vezes impotente ou indiferente perante as guerras civis.
Esta realidade vem cada vez mais tornando as guerras na
tipologia de conflito dominante no mundo.
As guerras civis activas
entre 2002 e 2012.
Seria, porém, ingénuo pensar que as guerras civis são
conflitos puramente internos. Na verdade, a maioria das guerras civis, sendo-o
de facto, contam com a participação activa, directa ou indirecta, de potências
estrangeiras. Mais, as guerras civis são por vezes instigadas por essas
potências que procuram delas retirar dividendos geoestratégicos ou económicos,
ou simplesmente pôr em cheque a posição dominante de um país terceiro, seu
rival. Esta situação era frequente durante a Guerra Fria, em que os Estados Unidos e a União Soviética transformaram
o globo num gigantesco tabuleiro de xadrez, onde cada pedra comida ao inimigo constituía um ganho.
Tal como no jogo de xadrez, as peças mais numerosas eram os peões e no xadrez
como na guerra, os peões eram descartáveis em nome de um interesse maior.
My hands are tied
The billions shift from side to side
And the wars go on with brainwashed pride
For the love of God and our human rights
And all these things are swept aside
By bloody hands time can't deny
And are washed away by your genocide
And history hides the lies of our civil wars
The billions shift from side to side
And the wars go on with brainwashed pride
For the love of God and our human rights
And all these things are swept aside
By bloody hands time can't deny
And are washed away by your genocide
And history hides the lies of our civil wars
Civil
War - Guns N’ Roses
Vem isto a propósito da Guerra Civil da Síria, o
conflito bélico dominante deste início de década. A maioria dos ingredientes do
cocktail está lá: confronto religioso envolvendo primordialmente
Alawitas/Xiitas e Sunitas, existindo também minorias cristãs e drusas;
sectarismo étnico entre Árabes e Kurdos; spillover regional ameaçando contágio
- Líbano, Jordânia e Iraque; envolvimento de potências estrangeiras – Turquia,
Arábia Saudita, Qatar, EUA, França, Reino Unido de um lado, Rússia e Irão do
outro; atracção de combatentes estrangeiros – Hezbollah, Al Qaeda no Iraque e
muitos outros.
Podemos ainda lembrar a Guerra da Bósnia-Herzegovina
(1991-1995) em que se bateram encarniçadamente Sérvios Ortodoxos, Croatas
Católicos e Bósnios Muçulmanos, após cerca de meio século de convivência
aparentemente pacífica.
Na verdade, a coexistência pacífica por longos períodos
não é garantia de um desenlace “they lived happily together everafter”. Os demónios da História e da memória em
hibernação estão à distância de um click para despoletarem um espasmo de fúria
violenta, envolvendo os concidadãos e os vizinhos de ontem numa luta sem
quartel como se não houvesse amanhã. E para muitos não há mesmo.
Look at the shoes you're filling
Look at the blood we're spilling
Look at the world we're killing
The way we've always done before
Look in the doubt we've wallowed
Look at the leaders we've followed
Look at the lies we've swallowed
And I don't want to hear no more
Look at the blood we're spilling
Look at the world we're killing
The way we've always done before
Look in the doubt we've wallowed
Look at the leaders we've followed
Look at the lies we've swallowed
And I don't want to hear no more
Civil
War - Guns N’ Roses
Os trends
recentes e actuais das relações Internacionais apontam para o acentuar do
predomínio das guerras civis. Palcos em motivos não faltam:
* Na Síria a guerra está para durar e a contagem de
óbitos já ascende a 120.000.
* Na Líbia a guerra foi curta, mas a instabilidade do
país na era pós Khaddafi é tal, que o governo, fraco, tem de se submeter às
vontades das milícias regionais e tribais que controlam a maior parte da Líbia;
a possibilidade de uma derrapagem de regresso à guerra é bem possível.
* O Iémen vive numa situação de quase anarquia, onde à
pobreza se somam as lutas fraticidas do próprio regime, as pulsões
secessionistas no antigo Iémen do Sul, a revolta dos Al Houthis (Xiitas) no
Norte e a presença do mais poderoso franchise da Al Qaeda (AQAP).
* O Líbano que viveu uma prolongada guerra civil no
século XX (1975-1990) que destruiu o país mais próspero do Médio Oriente, vive
sob uma permanente tensão , fruto de uma segmentação sectária constitucionalizada
entre Cristãos, Sunitas, Xiitas e Drusos. O forte risco de spillover da Guerra
da Síria, tornam o Líbano um forte candidato a uma guerra de consequências
imprevisíveis.
* Finalmente, o Iraque, que embora seja um candidato
menos provável, tem vivido um terrível surto de violência desde a retirada das
tropas norte-americanas. Os incontáveis ataques bombistas, que são
desencadeados principalmente por jihadistas sunitas, Al Qaeda incluída, podem
conduzir a uma recaída que teria efeitos dramáticos no Médio Oriente.
E isto é uma elencagem feita sem alargar o escopo da
análise para além do Médio Oriente e do mundo árabe.
Certo é que as guerras civis são brutais, causando tremendos danos humanos, morais e materiais. Certo é, também, que elas vieram para ficar. Em face disto, a frase final da música dos Gun N’ Roses “Civil War”, repleta de ironia e perplexidade, é também a nossa frase final:
What’s so Civil about War anyway? *
Civil
War - Guns
N’ Roses
Civil War by Guns N' Roses
6 comentários:
Nós também tivemos a nossa com o seu estendal de mortes e destruição. Ela e as invasões francesas constituíram o começo da nossa decadência. Políticos ambiciosos, corruptos e incompetentes fizeram o resto.
Pobre humanidade que não aprende com os erros do passado.
Caro Penso,
É bem verdade, o primeiro quartel do século XIX foi bem sangrento e penoso. Felizmente não ficaram sequelas (animosidades) das guerras. Infelizmente a corrupção e a incompetência assentaram arraiais....
Permito-me objectar: As animosidades continuaram não tanto por motivos ideológicos, mas ambições pessoais que sempre contaram mais que o interesse do País. O que foi o reinado de D. Maria II mostra-o bem.
Presumo que o Rui queria dizer que os minhotos não têm uma imensa urgência em matar os algarvios, e que os beirões estarão a salvo dos estremenhos ou dos transmontanos (bom, pelo menos a maior parte dos beirões... a uns quantos uma boa limpadela de sebo não seria nada mal empregue). Que não nos esfaqueamos porque somos "liberais" ou "socialistas" (ou outras patacoadas do género, como cristãos ou islamitas) com se assiste em outras regiões da europa. Dessas sequelas, de facto, não ficámos eivados - mas as outras, as da imbecilidade, da corrupção, da incompetência, da má-fé... essas chegam e sobejam.
Caro Penso,
Sim essas ficaram e minam o país até hoje: a ganância, corrupção, deslealdade, ausência de sentido de estado e de serviço público, são situações que em muitas casos deviam configurar o crime de traição à Pátria, tal o dano causado.
Caro Sérgio,
Sim, interpretaste bem o que eu quis dizer. É exactamente isso.
Enviar um comentário