30 outubro, 2014

De 2 Fez-se 1, De 1 Faz-se 4 e 4= 0


DE 2 FEZ-SE 1, DE 1 FAZ-SE 4
E 4 = 0


As regiões de um Iémen federal.
in STRATFOR em www.Stratfor.com  


Pouco se liga ao Iémen. País pobre, o mais pobre do Médio Oriente, perdido nos confins da Península Arábica, apesar de ser quase do tamanho da França no mapa parece um mero prolongamento da Arábia Saudita. Enfim, é um lugar pouco notável, recôndito e violento. E a palavra-chave é violento.


Na verdade, o Iémen ocupa uma posição estratégica secularmente reconhecida: Afonso de Albuquerque conquistou a ilha de Socrota, entre o Golfo de Aden e o mar Arábico em 1507. Na segunda metade do século XX, quando ainda havia dois Iémenes, o porto de Aden, então capital do Iémen do Sul, era uma das duas principais bases navais e logísticas disponíveis para a União Soviética no Índico. A outra era Berbera na Somália até o líder Somali Siad Barre pular a cerca da Guerra Fria.


A importância do Iémen é mesmo geográfica dado que está estrategicamente situado para controlar o Estreito de Bab el Mandeb na embocadura do Mar Vermelho, bem como o acesso ao Mar Arábico, uma das principais rotas marítimas mundiais.


A parte setentrional do Iémen que pertencia ao Império Otomano obteve a independência após a I Guerra Mundial. A parte meridional esteve na posse do Reino Unido até 1967, altura em que obteve a independência com a designação de Iémen do Sul. O Iémen unificou-se em 1990 sob a égide de Ali Abdullah Saleh que se manteve no poder até 2012, quando abdicou na sequência de revoltas e protestos no âmbito da chamada Primavera Árabe.


A unificação não foi sinónimo de pacificação e estabilidade, pois as tensões independentistas no Sul subsistiram até hoje. A estas soma-se o estado de rebelião permanente da minoria xiita, os Zaidi, liderados por Hussein Al-Houthi, no Norte do país e, mais recentemente a Al-Qaeda da Península Arábica (AQAP) que ocupa boa parte do Centro e do Leste do país e que é, presentemente, o ramo da Al-Qaeda com maior capacidade para planear ataques terroristas no Ocidente.


Nos últimos meses, um pouco como o Estado Islâmico no Iraque, a insurgência Zaidi conheceu notáveis avanços militares, ao ponto de tomar a capital, Sanaa, em Setembro e, este mês, a 4ª cidade e 2º maior porto do Iémen Al-Hudaydah, no Mar Vermelho.


Tal como no Iraque, também no Iémen o avanço dos Zaidis deve-se não só ao seu potencial bélico, mas também à inércia de muitas unidades das forças armadas iemenitas. A diferença é que em vez da fuga apavorada de Mosul, aqui assistiu-se  a uma suspeita inacção de unidades militares que são conectadas com o ex-Presidente Ali Saleh. 

Al-Houthi não derrubou o Presidente Abd Hadi, mas apresentou exigências que passam pela federalização do Iémen em moldes favoráveis aos Zaidi, pela nomeação de um Primeiro-Ministro independente de facções e pela inclusão de Zaidis em cargos governamentais importantes. A pressão dos Zaidi e o seu poder na capital são tão fortes que o Primeiro-Ministro nomeado após a ocupação de Sanaa, o infeliz Ahmed bin Mubarak, durou 33 horas no cargo! O seu substituto, Khaled Bahah, entregou 6 pastas ministeriais aos Zaidi, incluindo o Petróleo e a Justiça.

As zonas de conflito e as 4 áreas de influência do Iémen contemporâneo.
in STRATFOR em www.Stratfor.com


A situação no Iémen é explosiva e tem todos os ingredientes para acabar mal:


* A maioria Sunita, apoiada pela Arábia Saudita versus a minoria Xiita que tem o apoio do Irão.

* Conflitos políticos entre o Sul independentista e o poder central.


* Conflito militar com a AQAP e actividade terrorista permanente desta organização, a que acresce o envolvimento dos Estados Unidos.


* A guerra surda entre Presidentes: o ex, Ali Saleh e o actual, Abd Hadi.


Enquanto os múltiplos players se preparam para os próximos confrontos, o Iémen que já foram 2 (1967-1990), dos quais se fez 1 (1990), está feito em 4. Neste caso, 4 = 0!





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