DE 2 FEZ-SE 1, DE 1
FAZ-SE 4
E 4 = 0
Pouco se liga ao Iémen. País pobre, o mais pobre do
Médio Oriente, perdido nos confins da Península Arábica, apesar de ser quase do
tamanho da França no mapa parece um mero prolongamento da Arábia Saudita.
Enfim, é um lugar pouco notável, recôndito e violento. E a palavra-chave é violento.
Na verdade, o Iémen ocupa uma posição estratégica secularmente reconhecida:
Afonso de Albuquerque conquistou a ilha de Socrota, entre o Golfo de Aden e o
mar Arábico em 1507. Na segunda metade do século XX, quando ainda havia dois
Iémenes, o porto de Aden, então capital do Iémen do Sul, era uma das duas principais
bases navais e logísticas disponíveis para a União Soviética no Índico. A outra
era Berbera na Somália até o líder Somali Siad Barre pular a cerca da Guerra
Fria.
A importância do Iémen é mesmo geográfica dado que está
estrategicamente situado para controlar o Estreito de Bab el Mandeb na
embocadura do Mar Vermelho, bem como o acesso ao Mar Arábico, uma das
principais rotas marítimas mundiais.
A parte setentrional do Iémen que pertencia ao Império Otomano
obteve a independência após a I Guerra Mundial. A parte meridional esteve na
posse do Reino Unido até 1967, altura em que obteve a independência com a
designação de Iémen do Sul. O Iémen unificou-se em 1990 sob a égide de Ali Abdullah
Saleh que se manteve no poder até 2012, quando abdicou na sequência de revoltas
e protestos no âmbito da chamada Primavera Árabe.
A unificação não foi sinónimo de pacificação e
estabilidade, pois as tensões independentistas no Sul subsistiram até hoje. A
estas soma-se o estado de rebelião permanente da minoria xiita, os Zaidi,
liderados por Hussein Al-Houthi, no Norte do país e, mais recentemente a
Al-Qaeda da Península Arábica (AQAP) que ocupa boa parte do Centro e do Leste
do país e que é, presentemente, o ramo da Al-Qaeda com maior capacidade para
planear ataques terroristas no Ocidente.
Nos últimos meses, um pouco como o Estado Islâmico no Iraque, a
insurgência Zaidi conheceu notáveis avanços militares, ao ponto de tomar a
capital, Sanaa, em Setembro e, este mês, a 4ª cidade e 2º maior porto
do Iémen Al-Hudaydah, no Mar Vermelho.
Tal como no Iraque, também no Iémen o avanço dos Zaidis deve-se
não só ao seu potencial bélico, mas também à inércia de muitas unidades das
forças armadas iemenitas. A diferença é que em vez da fuga apavorada de Mosul,
aqui assistiu-se a uma suspeita inacção
de unidades militares que são conectadas com o ex-Presidente Ali Saleh.
Al-Houthi não derrubou o Presidente Abd Hadi, mas
apresentou exigências que passam pela federalização do Iémen em moldes favoráveis
aos Zaidi, pela nomeação de um Primeiro-Ministro independente de facções e pela
inclusão de Zaidis em cargos governamentais importantes. A pressão dos Zaidi e o seu poder na capital são tão fortes que o Primeiro-Ministro
nomeado após a ocupação de Sanaa, o infeliz Ahmed bin Mubarak, durou 33 horas
no cargo! O seu substituto, Khaled Bahah, entregou 6 pastas ministeriais
aos Zaidi, incluindo o Petróleo e a Justiça.
A situação no Iémen é explosiva e tem todos os ingredientes para
acabar mal:
* A maioria Sunita, apoiada pela Arábia Saudita versus a minoria
Xiita que tem o apoio do Irão.
* Conflitos políticos entre o Sul independentista e o poder
central.
* Conflito militar com a AQAP e actividade terrorista permanente desta organização, a que acresce o envolvimento dos Estados
Unidos.
* A guerra surda entre Presidentes: o ex, Ali Saleh e o actual,
Abd Hadi.
Enquanto os múltiplos players se preparam para os próximos
confrontos, o Iémen que já foram 2 (1967-1990), dos quais se fez 1 (1990), está
feito em 4. Neste caso, 4 = 0!
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