VENCEDORES, VENCIDOS E
OUTRAS CENAS
VENCEDORES:
* PS. Foi o vencedor. Teve mais votos, venceu em mais concelhos, obteve o
maior número de presidências de câmara da sua história (150), conquistou câmaras
importantes, como Coimbra, Sintra, Gaia e Funchal e ficou com 44 câmaras municipais de vantagem sobre o PSD.
Negativo foi a perda de autarquias relevantes para o PCP (Évora, Beja, Loures)
e PSD (Braga e Guarda) e para um ex-PS (Matosinhos). Os media insistem que a
vitória retumbante de António Costa em Lisboa lhe dá carta de alforria para
desafiar Seguro, mas creio que é pouco provável, a não ser que as europeias
corram mal, dado que Seguro liderou uma vitória inequívoca no país quase todo.
* PCP. Ganhou muito. Já
dediquei um post ao PCP (“Assim Se Vê a Força do PC” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/10/assim-se-ve-forca-do-pc.html
), pois o PCP venceu em toda a linha:
aumentou as câmaras (de 28 para 34), as câmaras emblemáticas, os votos, a
percentagem de votação, obteve a hegemonia
no Alentejo e Península de Setúbal e o melhor resultado desde 1997 (41
câmaras). Pedia-se um Jerónimo de Sousa com um ar mais jovial e distendido
na conferência de imprensa da noite eleitoral. Estamos em crise, mas uma
vitória não é para encarar de forma carrancuda.
* CDS. Desde 2001 que o CDS
estava reduzido a uma Câmara Municipal: Ponte de Lima. Este Domingo subiu o total para 5 (três conquistadas ao
PSD e uma ao PS), com participação numa 6ª, dado que foi o único partido a
apoiar a e a participar na candidatura vencedora no Porto. Cinco câmaras não é
excepcional, mas representa uma viragem. Tal como o PCP, o CDS obteve o melhor resultado desde 1997 (8 câmaras). Para Paulo
Portas foi um balão de oxigénio no momento oportuno, depois da trapalhada da
irreversibilidade há 4 meses atrás. Aliás, ao contrário de Jerónimo de Sousa,
Portas estava eufórico, com um sorriso rasgado e quase aos pulos quando
anunciava os cinco triunfos. Pudera, ganhou novo fôlego no Partido e ainda
conseguiu demarcar-se da hecatombe eleitoral da coligação que governa o país.
* Voto de protesto
(Brancos & Nulos). Os votos brancos e nulos, forma
de protesto mais eficaz e inequívoca do que a abstenção, mais
do que duplicou para 340.000,
atingindo um score equiparável aos independentes. Este voto crescente demonstra
que o descontentamento de muitas pessoas não se cinge ao partido A, B, ou C,
mas é transversal a todos eles. Houve 324.000 eleitores (7% do total) que se deram
ao trabalho de se deslocar à assembleia de voto para dizer que não se revêem
nas candidaturas apresentadas. Esta é a principal mensagem que o sistema partidário
devia ouvir. Infelizmente, nem esta nem outras serão captadas e digeridas pelos
partidos.
* Independentes. Também ganharam.
Nada menos do que 13 câmaras. Contudo, não partilho o entusiasmo desenfreado
que grassa na opinião publicada sobre os independentes. Não acredito que sejam uma solução salvífica para os problemas do
sistema político. Tal como acontece com os candidatos partidários, haverá os
bons, os medianos e os maus. A minha experiência passada e a minha
observação presente, também me leva a concluir que a maioria dos independentes,
não o é verdadeiramente. A maioria foi preterida pelo seu partido e, não
acatando essa decisão, concorre à revelia do partido, mas levando com ele a
maioria da estrutura e candidatos, do partido, que com ele já haviam
concorrido. Tal foi o caso de Guilherme Pinto em Matosinhos e de Adelaide
Teixeira em Portalegre, como já havia sido o caso de Valentim Loureiro,
Isaltino Morais e Fátima Felgueiras. Mesmo Rui Moreira, que não tinha lastro
partidário, contou com o apoio do CDS e de parte substancial do PSD-Porto; para
todos os efeitos, teve a máquina eleitoral do CDS de forma aberta e de algum
PSD de forma encapotada. Não obstante, o certo é que obtiveram resultados muito
positivos e a vitória no Porto não deixa de ser um feito assinalável. É óbvio
que Rui Moreira criou expectativas
dentro e fora do Porto e se o seu mandato for um sucesso poderá constituir um
incentivo para o independentismo. Se
for uma mera extensão de Rio, o balão esvaziará.
* PSD. Foi o perdedor. Perdeu câmaras, votos, percentagem e ânimo. Teve,
aliás, o pior resultado de sempre: 106 câmaras (em 1989 teve 113). Na coluna das perdas
amontoam-se o Porto, Coimbra, Sintra, Vila Real, Gaia, Funchal, enquanto os
únicos ganhos relevantes foram Braga e Guarda. Passos Coelho surgiu na noite
eleitoral para fazer a “leitura nacional dos resultados” e reconheceu a
estrondosa derrota. Dito isto, deixou de saber ler e declarou que não retirava
qualquer consequência da pesada derrota. Não esperava outra coisa. Fica a
imagem de um líder tristonho e sozinho que continua a ter uns assomos de
sobranceria. Contudo, quando em Maio de 2014 somar uma provável nova derrota, o isolamento será maior, como maior será o
número de cortesãos a afiar as adagas nos bastidores. Um exercício interessante
será o de tentar perceber quem será o “Bruto” que avança e crava primeiro.
* Bloco de Esquerda. O BE virou Bloquinho. Não o digo com carinho, que não tenho, mas porque foi aquilo a que
o BE ficou reduzido. Perdeu a câmara que
herdara e ficou à porta das
vereações de Lisboa e Porto. Foi deprimente ver João Semedo vestido do mesmo
azul que o background do palco (parecia que estava atrás de um daqueles bonecos
de feira onde se coloca a cabeça para tirar uma foto), vergado ao peso da
derrota, a vociferar contra a Direita e Alberto João Jardim apontando a sua (deles) colossal derrota
tentando omitir a sua (dele próprio) derrota colossal. Será que o BE bicéfalo
está a ficar acéfalo?
OUTRAS CENAS:
* Oeiras foi o palco
do surrealismo. O candidato
vencedor, Paulo Vistas, clamava louvores
a um presidiário chamado Isaltino Morais, com o mesmo fervor fanático dos
pregadores de certas seitas. Os apaniguados do vencedor foram comemorar para o exterior da prisão
para partilhar o triunfo com o referido presidiário. Este foi um dos tais independentes que ganhou, apesar de ser
doentiamente dependente. Do presidiário, claro está. A este ritmo,
poderemos vir a ter os irmãos Dalton a liderar o concelho.
* O Porto foi o
palco da falta de fair-play. Manuel Pizarro protagonizou a mais miserável intervenção da noite.
Ele perdeu as eleições, mas bajulou o
vencedor (ai a vereação, que vontade!) e regozijou-se de forma larvar e raivosa
com a derrota de Luís Filipe Menezes, atirando aleivosias como quem atira
perdigotos. Lamentável. O vencedor Rui Moreira, cumprimentou o rival do PS
e ignora o concorrente do PSD, que algum tempo antes o havia felicitado e feito
um apelo à colaboração com o vencedor. Muita prosápia acerca de ser diferente,
mas a mesma falta de chá de muitos outros. Menezes pode ter muitos defeitos,
mas foi dos três o que teve uma postura mais digna na noite eleitoral.
* Acerto de Contas. Rui Rio e Luís Filipe Menezes há muitos anos que nutrem um ódio de
estimação mútuo. Quis o destino que
gerissem duas câmaras em simultâneo nas duas margens do trecho final do Douro. Mais do que o poderoso rio (o Douro),
separava-os o estilo, o feitio e o modelo de governação; nem o partido comum
(PSD) os unia. Só o ódio. O destino maroto obrigou-os a deixar os respectivos
cargos na mesma altura. Menezes arriscou
atravessar o Douro. Rio (o Rui) optou por ficar em casa e, de pés enxutos,
minou e armadilhou o trilho de Menezes da Ribeira à Avenida dos Aliados. Menezes soçobrou e Rio ganhou sem ir a
jogo. Não creio que tenha sido o combate final.
* Blá, Blá, Blá. Porque será que nas
noites eleitorais, os porta-vozes dos perdedores, derrotados e esmagados gastam
a sua intervenção inicial com platitudes? Dizem,
por exemplo: “Quero felicitar os
Portugueses, blá, blá, blá, pelo enorme civismo e maturidade democrática, blá,
blá, pela forma ordeira e sem incidentes como decorreu o acto eleitoral,
blá, blá, blá…”, enquanto pensam: “Que
grande banhada que levámos! Quem me dera estar longe daqui… Será que o gajo (o
líder) se demite ainda hoje? A quem me devo colar? Tenho de me pôr a mexer!”
Este papel no Domingo coube a Marco António (o do PSD).
7 comentários:
Excelente análise, como é hábito.
Excelente análise, como é hábito.
Excelente análise, como é hábito.
Muito bom este artigo. Parabéns! Claro que admiro imenso a sua escrita em geral.
Abraço
Mina
Obrigado Bruno, é muito amável da tua parte. Ainda por cima em triplicado ;-)
Obrigado Bruno, é muito amável da tua parte. Ainda por cima em triplicado ;-)
Obrigado Mina! Fico sensibilizado.
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