02 outubro, 2013

Vencedores, Vencidos e Outras Cenas

VENCEDORES, VENCIDOS E OUTRAS CENAS

 
Algumas notas sobre as eleições autárquicas: vencedores, vencidos e outras cenas.

VENCEDORES:


* PS. Foi o vencedor. Teve mais votos, venceu em mais concelhos, obteve o maior número de presidências de câmara da sua história (150), conquistou câmaras importantes, como Coimbra, Sintra, Gaia e Funchal e ficou com  44 câmaras municipais de vantagem sobre o PSD. Negativo foi a perda de autarquias relevantes para o PCP (Évora, Beja, Loures) e PSD (Braga e Guarda) e para um ex-PS (Matosinhos). Os media insistem que a vitória retumbante de António Costa em Lisboa lhe dá carta de alforria para desafiar Seguro, mas creio que é pouco provável, a não ser que as europeias corram mal, dado que Seguro liderou uma vitória inequívoca no país quase todo.


* PCP. Ganhou muito. Já dediquei um post ao PCP (“Assim Se Vê a Força do PC” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/10/assim-se-ve-forca-do-pc.html ), pois o PCP venceu em toda a linha: aumentou as câmaras (de 28 para 34), as câmaras emblemáticas, os votos, a percentagem de votação, obteve a hegemonia no Alentejo e Península de Setúbal e o melhor resultado desde 1997 (41 câmaras). Pedia-se um Jerónimo de Sousa com um ar mais jovial e distendido na conferência de imprensa da noite eleitoral. Estamos em crise, mas uma vitória não é para encarar de forma carrancuda.


* CDS. Desde 2001 que o CDS estava reduzido a uma Câmara Municipal: Ponte de Lima. Este Domingo subiu o total para 5 (três conquistadas ao PSD e uma ao PS), com participação numa 6ª, dado que foi o único partido a apoiar a e a participar na candidatura vencedora no Porto. Cinco câmaras não é excepcional, mas representa uma viragem. Tal como o PCP, o CDS obteve o melhor resultado desde 1997 (8 câmaras). Para Paulo Portas foi um balão de oxigénio no momento oportuno, depois da trapalhada da irreversibilidade há 4 meses atrás. Aliás, ao contrário de Jerónimo de Sousa, Portas estava eufórico, com um sorriso rasgado e quase aos pulos quando anunciava os cinco triunfos. Pudera, ganhou novo fôlego no Partido e ainda conseguiu demarcar-se da hecatombe eleitoral da coligação que governa o país.


* Voto de protesto (Brancos & Nulos). Os votos brancos e nulos, forma de protesto mais eficaz e inequívoca do que a abstenção, mais do que duplicou para 340.000, atingindo um score equiparável aos independentes. Este voto crescente demonstra que o descontentamento de muitas pessoas não se cinge ao partido A, B, ou C, mas é transversal a todos eles. Houve 324.000 eleitores (7% do total) que se deram ao trabalho de se deslocar à assembleia de voto para dizer que não se revêem nas candidaturas apresentadas. Esta é a principal mensagem que o sistema partidário devia ouvir. Infelizmente, nem esta nem outras serão captadas e digeridas pelos partidos.


* Independentes. Também ganharam. Nada menos do que 13 câmaras. Contudo, não partilho o entusiasmo desenfreado que grassa na opinião publicada sobre os independentes. Não acredito que sejam uma solução salvífica para os problemas do sistema político. Tal como acontece com os candidatos partidários, haverá os bons, os medianos e os maus. A minha experiência passada e a minha observação presente, também me leva a concluir que a maioria dos independentes, não o é verdadeiramente. A maioria foi preterida pelo seu partido e, não acatando essa decisão, concorre à revelia do partido, mas levando com ele a maioria da estrutura e candidatos, do partido, que com ele já haviam concorrido. Tal foi o caso de Guilherme Pinto em Matosinhos e de Adelaide Teixeira em Portalegre, como já havia sido o caso de Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Fátima Felgueiras. Mesmo Rui Moreira, que não tinha lastro partidário, contou com o apoio do CDS e de parte substancial do PSD-Porto; para todos os efeitos, teve a máquina eleitoral do CDS de forma aberta e de algum PSD de forma encapotada. Não obstante, o certo é que obtiveram resultados muito positivos e a vitória no Porto não deixa de ser um feito assinalável. É óbvio que Rui Moreira criou expectativas dentro e fora do Porto e se o seu mandato for um sucesso poderá constituir um incentivo para o independentismo. Se for uma mera extensão de Rio, o balão esvaziará.

 
 
VENCIDOS:

* PSD. Foi o perdedor. Perdeu câmaras, votos, percentagem e ânimo. Teve, aliás, o pior resultado de sempre: 106 câmaras (em 1989 teve 113). Na coluna das perdas amontoam-se o Porto, Coimbra, Sintra, Vila Real, Gaia, Funchal, enquanto os únicos ganhos relevantes foram Braga e Guarda. Passos Coelho surgiu na noite eleitoral para fazer a “leitura nacional dos resultados” e reconheceu a estrondosa derrota. Dito isto, deixou de saber ler e declarou que não retirava qualquer consequência da pesada derrota. Não esperava outra coisa. Fica a imagem de um líder tristonho e sozinho que continua a ter uns assomos de sobranceria. Contudo, quando em Maio de 2014 somar uma provável nova derrota, o isolamento será maior, como maior será o número de cortesãos a afiar as adagas nos bastidores. Um exercício interessante será o de tentar perceber quem será o “Bruto” que avança e crava primeiro.


* Bloco de Esquerda. O BE virou Bloquinho. Não o digo com carinho, que não tenho, mas porque foi aquilo a que o BE ficou reduzido. Perdeu a câmara que herdara e ficou à porta das vereações de Lisboa e Porto. Foi deprimente ver João Semedo vestido do mesmo azul que o background do palco (parecia que estava atrás de um daqueles bonecos de feira onde se coloca a cabeça para tirar uma foto), vergado ao peso da derrota, a vociferar contra a Direita e Alberto João Jardim apontando a sua (deles) colossal derrota tentando omitir a sua (dele próprio) derrota colossal. Será que o BE bicéfalo está a ficar acéfalo?


OUTRAS CENAS:

* Oeiras foi o palco do surrealismo. O candidato vencedor, Paulo Vistas, clamava louvores a um presidiário chamado Isaltino Morais, com o mesmo fervor fanático dos pregadores de certas seitas. Os apaniguados do vencedor foram comemorar para o exterior da prisão para partilhar o triunfo com o referido presidiário. Este foi um dos tais independentes que ganhou, apesar de ser doentiamente dependente. Do presidiário, claro está. A este ritmo, poderemos vir a ter os irmãos Dalton a liderar o concelho.


* O Porto foi o palco da falta de fair-play. Manuel Pizarro protagonizou a mais miserável intervenção da noite. Ele perdeu as eleições, mas bajulou o vencedor (ai a vereação, que vontade!) e regozijou-se de forma larvar e raivosa com a derrota de Luís Filipe Menezes, atirando aleivosias como quem atira perdigotos. Lamentável. O vencedor Rui Moreira, cumprimentou o rival do PS e ignora o concorrente do PSD, que algum tempo antes o havia felicitado e feito um apelo à colaboração com o vencedor. Muita prosápia acerca de ser diferente, mas a mesma falta de chá de muitos outros. Menezes pode ter muitos defeitos, mas foi dos três o que teve uma postura mais digna na noite eleitoral.


* Acerto de Contas. Rui Rio e Luís Filipe Menezes há muitos anos que nutrem um ódio de estimação mútuo. Quis o destino que gerissem duas câmaras em simultâneo nas duas margens do trecho final do Douro. Mais do que o poderoso rio (o Douro), separava-os o estilo, o feitio e o modelo de governação; nem o partido comum (PSD) os unia. Só o ódio. O destino maroto obrigou-os a deixar os respectivos cargos na mesma altura. Menezes arriscou atravessar o Douro. Rio (o Rui) optou por ficar em casa e, de pés enxutos, minou e armadilhou o trilho de Menezes da Ribeira à Avenida dos Aliados. Menezes soçobrou e Rio ganhou sem ir a jogo. Não creio que tenha sido o combate final.


* Blá, Blá, Blá. Porque será que nas noites eleitorais, os porta-vozes dos perdedores, derrotados e esmagados gastam a sua intervenção inicial com platitudes? Dizem, por exemplo: “Quero felicitar os Portugueses, blá, blá, blá, pelo enorme civismo e maturidade democrática, blá, blá, pela forma ordeira e sem incidentes como decorreu o acto eleitoral, blá, blá, blá…”, enquanto pensam: “Que grande banhada que levámos! Quem me dera estar longe daqui… Será que o gajo (o líder) se demite ainda hoje? A quem me devo colar? Tenho de me pôr a mexer!” Este papel no Domingo coube a Marco António (o do PSD).

7 comentários:

Bruno Rodrigues disse...

Excelente análise, como é hábito.

Bruno Rodrigues disse...

Excelente análise, como é hábito.

Bruno Rodrigues disse...

Excelente análise, como é hábito.

Anónimo disse...

Muito bom este artigo. Parabéns! Claro que admiro imenso a sua escrita em geral.

Abraço

Mina

Rui Miguel Ribeiro disse...

Obrigado Bruno, é muito amável da tua parte. Ainda por cima em triplicado ;-)

Rui Miguel Ribeiro disse...

Obrigado Bruno, é muito amável da tua parte. Ainda por cima em triplicado ;-)

Rui Miguel Ribeiro disse...

Obrigado Mina! Fico sensibilizado.