UNIFIL OU UNIFIM?
A UNIFIL está há duas décadas no Líbano a desempenhar um papel de observadora, no sentido literal do termo. Observa as provocações do Hezbollah, as retaliações de Israel, a prepotência da Síria, a farsa de Estado em que se transformou o Líbano, os desmandos de múltiplas milícias, contabiliza os rockets lançados de Norte para Sul e os disparos de Sul para Norte. É, enfim, uma espécie de força burocrática na frente do fogo. O que a diferencia dos burocratas normais, é não ter clientes e serem alvejados pontualmente.
A nova UNIFIL não começa com bons auspícios. O seu mandato não é bem claro, nomeadamente nas condições de uso da força. A forma de lidar com o Hezbollah é um enorme ponto de interrogação. A capacidade do Exército Libanês é outro.
A atitude das principais potências também não é prometedora. Os EUA e o Reino Unido estavam a priori de fora. O mesmo se aplica à Rússia, China e Japão. A França entrou de peito feito prometendo milhares de tropas e reclamando o comando da Força. Confrontada com o facto de as dificuldades superarem os penachos, a França reduziu a oferta para 200 homens. A Alemanha fornece meios navais e financeiros, mas não dá o corpo ao manifesto. Outros fazem igual. Quando percebeu que a Itália estava disponível para comandar a UNIFIL, a França lá resolveu disponibilizar 1700 homens e garante o comando da UNIFIL até Fevereiro. A partir daí, a Itália (3000 soldados) assume a liderança).
Entretanto a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU já tem barbas e não se vislumbra a chegada dos primeiros capacetes azuis. Todos os sinais que chegam das chancelarias europeias transmitem uma mensagem clara: muitos países europeus sentem que não têm alternativa a formar a base da UNIFIL depois de se terem batido por um cessar-fogo; porém, também têm um medo de morte de que a coisa dê para o torto, que a missão seja um fiasco, ou que a força sofra pesadas baixas.
Pior que tudo, ninguém tem a mínima ideia (ou intenção) de resolver o cerne do problema do Líbano: desarmar o Hezbollah! Sem isso, nada feito.
Resta esperar para ver, mas confesso que não estou optimista quanto ao fim da missão da UNIFIL. Parece-se que é mais perceptível a UNIFIM do que a própria UNIFIL.
4 comentários:
Realmente, os europeus têm uma tendência para arranjar destas trapalhadas. As coisas até agora não têm corrido muito mal paea a UNIFIL, mas a situação no Líbano não está melhor do que estava no Verão. Carlos Alberto
Bom jogo de palavras e mais uma boa embrulhada. Os Europeus estão a fazer alguma diferença no Líbano?
Cristina
Carlos Alberto,
De facto. Têm um critério duvidoso na escolha do onde, quando e porquê intervir ;-)
Obrigado Cristina.
Muito pouca.
Enviar um comentário