24 agosto, 2013

The Rock

THE ROCK


Spain: between a Rock and a hard place.
in “Expresso” em http://expresso.sapo.pt/   



The Rock, como Gibraltar é conhecido, é território britânico desde 1704 quando foi conquistado por tropas Anglo-Holandesas num dos episódios da Guerra da Sucessão Espanhola. A posse ficou consagrada um a década mais tarde no Tratado de Utrecht (1714).



Desde então, de vez em quando a Espanha puxa pelos seus galões nacionalistas e reclama a posse de Gibraltar. Tal foi notório durante o regime franquista, que selou o acesso terrestre ao Rochedo. Mesmo em democracia, Madrid de tempos a tempos, especialmente quando esses tempos estão difíceis em Castela, lá vem esgrimir o fantasma do neo-colonialismo britânico.


Este Verão esses tempos voltaram. Desta vez o pretexto são as medidas tomadas pelo Governo de Gibraltar para travar a pesca predatória dos pesqueiros espanhóis em águas circundantes do Rochedo (e os Portugueses sabem como eles podem ser predadores). Os motivos reais são outros: desemprego record de 26%; economia mergulhada em recessão; o desaparecimento de 25% das empresas espanholas nos últimos 5 anos; e, last but not least, um Primeiro-Ministro sobre o qual impendem sérias e graves suspeitas de corrupção.


Como o ridículo já não mata, a Espanha parece querer criar uma aliança com a Argentina contra o Reino Unido por causa das Falkland (o tal arquipélago que já era britânico ainda a Argentina nem existia) e de Gibraltar. Curiosamente, a Argentina invadiu as Falkland (e foi derrotada) precisamente porque a Junta Militar argentina queria criar um fait-divers com um inimigo externo para desviar a atenção dos Argentinos dos graves problemas que o país atravessava. Temos, pois, o lamentável Mariano Rajoy e a inenarrável Cristina Kirchner a seguir a cartilha do General Galtieri e sus muchachos!


Como se não bastasse, a Espanha ainda se coloca pela enésima vez na ridícula situação de reclamar a posse de Gibraltar quando ocupa os enclaves de Ceuta e de Melilla em Marrocos, no Norte de África.


É claro que a Espanha e a Argentina se confrontam com o aborrecido detalhe democrático de as populações de Gibraltar e das Falkland se expressarem de forma repetida inequívoca e esmagadora a favor de permanecerem dependências do Reino Unido. A democracia tem destes contratempos.


A Espanha está, literalmente entre a espada e a parede, ou na versão inglesa, between a rock and a hard place: the Rock of Gibraltar and the hard determination of the UK in not letting the Gibraltarians and the Falklanders down.

 
P.S. No cartoon, Gibraltar aparece representado por um macaco porque o Rochedo tem uma numerosa colónia de macacos.

 

2 comentários:

Sérgio Lira disse...

e eu que penei que irias continuar com a silly season ;)

Estive em Gibraltra apenas uma vez na minha vida; a pantomina da entrada (e da saída) é quase inacreditável - parece que, de repente, a Europa desaparace como a conhecemos hoje e ocorrem-nos memórias das fronteiras com os agentes da PIDE e da Guardia Civil (aqueles do capacete ridículo) de serviço...

Depois avança-se a pé ao longo de uma larga esplanada que é a parte da pista de aterragem de aviões - num espaço que mais parece um porta-aviões que uma pista terrestre; a sensação de se estar em terreno militar só desaparece nas ruas estreitas e tipicamente espanholas - onde se fala (fundamentalmente) inglês. A temperatura, as pessoas e o comércio são paradoxais. Mas os golfinhos da baía são simpáticos (presumo que não se metem em questões nacionalistas...).

A sensação com que de lá saí foi a de um imenso ridículo: ridículo fazer tanta birra por um rochedo, ridículo o ritual de fronteira, ridículo o aparato militar, ridículo dois meninos crescridos (o UK e a Espanha) não serem capazes de se entender... mas o que dizes da expressão de "autodeterminação" é, de facto, um aborrecimento - essa coisa da democracia deveria ser mesmo reduzida à expressão mais simples - e mais inócua - de votar sempre nos mesmos (aliás, a bem dizer, nem valeria a pena esvaziar as urnas - se seguirmos o sapientíssimo modelo da Múmia algarvia), e pronto. Mas isso é na Córsega, não em Gibraltar! ;)

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sérgio,

Bela descrição da realidade no terreno. E estamos totalmente de acordo quanto à Democracia. Quanto à autodeterminação, já dizia o "democrata liberal" Kwame Nkrumah que a autodeterminação era compulsiva, isto é, um indivíduo não podia escolher continuar a viver dependente de outro estado; a opção (?) pela independência era obrigatória. Toma lá que é democrático.