AMUOS DE WASHINGTON COM MOSCOVO
Barack Obama
cancelou a cimeira que teria em Moscovo, em Setembro, com Vladimir Putin.
Motivo oficial: os dossiers
bilaterais mais relevantes para os EUA estão estagnados, pelo que a cimeira não
teria resultados e por isso o melhor era não a realizar.
Motivo oficioso: a Rússia não
extraditou Snowden para os Estados Unidos.
Motivo mais real: a situação política
interna norte-americana aconselhava a tomada de uma posição de força dos EUA
face à Rússia.
Motivo acrescentado
por mim: Putin
cancelou há pouco mais de um ano a sua presença numa Cimeira NATO-Rússia que se
realizou nos EUA.
Putin versus Obama
in Independent Journal Review at http://www.ijreview.com/2013/06/60696-cartoon-obama-and-putin/
Curiosamente,
alguma imprensa americana, fontes oficiais e oficiosas e analistas concluíram que
Putin é que queria muito a cimeira por causa do prestígio que ela lhe traria e
houve quem, como o diplomata e analista, Sthephen Pifer, sentenciasse com
gravidade e sem apelo, que a Rússia acabava de se tornar irrelevante para os
Estados Unidos. Finalmente, o próprio Obama, numa tirada estafada a que recorre
quando Moscovo não faz o que ele pretende, acusou a liderança russa de ter recaídas
de mentalidade de Guerra Fria.
Os Estados Unidos não
conseguem lidar com a frustração de serem contrariados. Tique de
Superpotência, agravado com a eleição em 2008 de um Presidente arrogante e
convencido de que com as suas ditosas palavras conseguiria mudar o mundo.
Previsivelmente, deu com os burros na
água. Mesmo assim, esse Presidente não mudou muito. Façamos um pequeno
exercício:
1-
Se a Rússia enganasse a
Rússia na aprovação de uma Resolução de intervenção de índole humanitária na
Líbia, os EUA reagiriam passivamente?
2-
Se, pouco depois, os
Russos tentassem a mesma jogada com a Síria, os Estados Unidos deixar-se-iam
enganar novamente?
3-
Se um qualquer Snowdov procurasse asilo nos
EUA, estes deportá-lo-iam para a Rússia?
4-
Se a Rússia banisse agentes
políticos e dos serviços de segurança norte-americanos envolvidos, por exemplo,
num espancamento até à morte de um cidadão desarmado e inofensivo, de entrarem
na Rússia, Washington reagiria com conformismo?
5-
Se a Rússia condenasse
histrionicamente e repetidamente os EUA por incidentes ocorridos nas Guerras do
Afeganistão e do Iraque, acusando-os de desrespeito pelos direitos humanos e de
autoritarismo, os EUA acusariam a culpa?
Não, não, não, não e
não. E podíamos
continuar.
As diferenças e
semelhanças dos Estados Unidos e da Rússia na Guerra Civil na Síria.
Quanto às questões
de conteúdo, a situação actual é a seguinte: Putin quer que os EUA parem a
instalação de dispositivos anti-míssil na Europa; Obama quer que Putin devolva
Snowden, que deixe cair Assad na Síria e que assine novo tratado de redução de
forças nucleares estratégicas. Neste último caso, quere-o desesperadamente
porque se convenceu por um discurso proferido pelo próprio em Praga, em 2009,
que vai varrer as armas nucleares da face da Terra. É óbvio que não o vai
conseguir, mas pelo menos quer coleccionar umas reduções bilaterais que acha
que lhe vão conferir um lugar na história.
No cenário actual, o
mais provável é nenhum dos Presidentes conseguir o que quer. Saldo final:
Putin, 3 – Obama, 1.
Uma palavra
final para a questão da Guerra Fria. É verdade que a Rússia continua a encarar
os Estados Unidos como o seu principal rival geopolítico, o que acaba por ser normal
dado o poder e preponderância que Washington tem no xadrez político mundial.
Não deixa de ser curioso, contudo, que o principal antagonismo que se detecta
nas lideranças políticas nos EUA, quer na Casa Branca, quer no Congresso, é em
relação à Rússia. E não é por causa do autoritarismo, porque há bem pior pelo
mundo, a começar pela China, mas que não gera a mesma repulsa. Ou é um problema
do foro freudiano, ou então a Rússia é mesmo relevante.
Amuos e
recriminações, prestígio e convencimentos à parte, certo é que, quando Obama entrou na ribalta política mundial, já Putin
tinha sido eleito Presidente da Rússia duas vezes e quando Obama sair de cena,
Putin provavelmente lá continuará por mais uns anos. Até por isso, me parece
que Obama é capaz de precisar mais de Putin do que o contrário.
2 comentários:
"Possuímos 50% das riquezas do planeta, mas somente 6% da população. Nesta situação, a nossa principal tarefa no futuro será de criar um tecido de relações que nos permitirá fazer perdurar esta desigualdade."Departamento do Estado - Planning Study 23
Caro Dr. Miguel Ribeiro : Estas palavras bastam para justificar a política dos EUA e o jogo que descreve entre Putin e Obama.
A NATO, esta "aliança" de 28 países que possui 24 000 aviões de combate, 800 navios oceânicos e 50 aviões radars Awacs, está pronta para o ataque e absorve todos os anos mais de 1 000 biliões de $ de despesas de manutenção. Meios colossais em relação à tarefa indicada mais acima! O posto avançado desta autêntica força de dissuasão é a Turquia, com as suas 24 bases aéreas, navais e de espionagem eletrónica, com o Landcom de Izmir. Sem esquecer o Jfc de Lago Patria em Nápoles. Visados o Irão e a Síria .
Eu já fui um grande defensor e admirador da NATO. Hoje em dia é uma organização um pouco à deriva, desunida, sem liderança e estratégia claras.
Cada país defende os seus interesses nacionais. Neste jogo de xadrez, Putin tem levado claramente a melhor sobre Obama.
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