THE ROCK
Spain: between a Rock and a hard place.
in “Expresso” em http://expresso.sapo.pt/
The Rock, como
Gibraltar é conhecido, é território britânico desde 1704 quando foi conquistado
por tropas Anglo-Holandesas num dos episódios da Guerra da Sucessão Espanhola.
A posse ficou consagrada um a década mais tarde no Tratado de Utrecht (1714).
Desde então,
de vez em quando a Espanha puxa pelos seus galões nacionalistas e reclama a
posse de Gibraltar. Tal foi notório durante o regime franquista, que selou o
acesso terrestre ao Rochedo. Mesmo em democracia, Madrid de tempos a tempos,
especialmente quando esses tempos estão difíceis em Castela, lá vem esgrimir o
fantasma do neo-colonialismo britânico.
Este Verão
esses tempos voltaram. Desta vez o pretexto são as medidas tomadas pelo Governo
de Gibraltar para travar a pesca predatória dos pesqueiros espanhóis em águas
circundantes do Rochedo (e os Portugueses sabem como eles podem ser
predadores). Os motivos reais são outros: desemprego record de 26%; economia
mergulhada em recessão; o desaparecimento de 25% das empresas espanholas nos
últimos 5 anos; e, last but not least, um Primeiro-Ministro sobre o qual
impendem sérias e graves suspeitas de corrupção.
Como o
ridículo já não mata, a Espanha parece querer criar uma aliança com a Argentina
contra o Reino Unido por causa das Falkland (o tal arquipélago que já era
britânico ainda a Argentina nem existia) e de Gibraltar. Curiosamente, a
Argentina invadiu as Falkland (e foi derrotada) precisamente porque a Junta
Militar argentina queria criar um fait-divers com um inimigo externo para
desviar a atenção dos Argentinos dos graves problemas que o país atravessava.
Temos, pois, o lamentável Mariano Rajoy e a inenarrável Cristina Kirchner a
seguir a cartilha do General Galtieri e sus muchachos!
Como se não
bastasse, a Espanha ainda se coloca pela enésima vez na ridícula situação de
reclamar a posse de Gibraltar quando ocupa os enclaves de Ceuta e de Melilla em
Marrocos, no Norte de África.
É claro que a
Espanha e a Argentina se confrontam com o aborrecido detalhe democrático de as populações de Gibraltar e das Falkland se
expressarem de forma repetida inequívoca e esmagadora a favor de permanecerem
dependências do Reino Unido. A democracia tem destes contratempos.
A Espanha está, literalmente entre a espada e a parede, ou na versão
inglesa, between a rock and a hard place: the Rock of Gibraltar and the hard
determination of the UK in not letting the Gibraltarians and the Falklanders
down.
P.S. No cartoon, Gibraltar
aparece representado por um macaco porque o Rochedo tem uma numerosa colónia de
macacos.
2 comentários:
e eu que penei que irias continuar com a silly season ;)
Estive em Gibraltra apenas uma vez na minha vida; a pantomina da entrada (e da saída) é quase inacreditável - parece que, de repente, a Europa desaparace como a conhecemos hoje e ocorrem-nos memórias das fronteiras com os agentes da PIDE e da Guardia Civil (aqueles do capacete ridículo) de serviço...
Depois avança-se a pé ao longo de uma larga esplanada que é a parte da pista de aterragem de aviões - num espaço que mais parece um porta-aviões que uma pista terrestre; a sensação de se estar em terreno militar só desaparece nas ruas estreitas e tipicamente espanholas - onde se fala (fundamentalmente) inglês. A temperatura, as pessoas e o comércio são paradoxais. Mas os golfinhos da baía são simpáticos (presumo que não se metem em questões nacionalistas...).
A sensação com que de lá saí foi a de um imenso ridículo: ridículo fazer tanta birra por um rochedo, ridículo o ritual de fronteira, ridículo o aparato militar, ridículo dois meninos crescridos (o UK e a Espanha) não serem capazes de se entender... mas o que dizes da expressão de "autodeterminação" é, de facto, um aborrecimento - essa coisa da democracia deveria ser mesmo reduzida à expressão mais simples - e mais inócua - de votar sempre nos mesmos (aliás, a bem dizer, nem valeria a pena esvaziar as urnas - se seguirmos o sapientíssimo modelo da Múmia algarvia), e pronto. Mas isso é na Córsega, não em Gibraltar! ;)
Sérgio,
Bela descrição da realidade no terreno. E estamos totalmente de acordo quanto à Democracia. Quanto à autodeterminação, já dizia o "democrata liberal" Kwame Nkrumah que a autodeterminação era compulsiva, isto é, um indivíduo não podia escolher continuar a viver dependente de outro estado; a opção (?) pela independência era obrigatória. Toma lá que é democrático.
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