SETIL
UM RETRATO DE UM PORTUGAL DESERTO
O Inter-Cidades parado
na abandonada estação dos caminhos-de-ferro de Setil (Cartaxo).
Setil é uma
estação no meio do nada. Vêem-se meia dúzia de edificações abandonadas ou mesmo
arruinadas, mais 3 ou 4 que poderão ser habitadas. Contudo, uma breve pesquisa
posterior, mostrou que Setil é uma estação antiga, datada de 1903 e que
desempenhava um papel importante como entroncamento entre a Linha de Vendas
Novas e a Linha do Leste, inaugurada em 1858!
O infeliz destino
de Setil, que a inopinada avaria me fez conhecer, levou-me a pensar mais uma
vez na desertificação de vastas regiões de Portugal, de que Setil, inserida no
concelho do Cartaxo nem será o exemplo mais flagrante e dramático.
O pretexto para a retirada de serviços
públicos é frequentemente a sua menor utilização em virtude do esvaziamento
demográfico. No entanto, a inversa também é verdadeira: uma vila, ou uma região
destituída de serviços públicos perde atracção e convida ao êxodo dos que lá
ainda vivem.
Não sou
defensor de despesas estatais supérfluas. Todavia, o Estado tem de assegurar a sua presença por toda a mancha territorial
e não pode retirar-se de inúmeras regiões do país sob pretexto orçamental.
O êxodo dos serviços estatais ou para-estatais é assustador: hospitais,
escolas, centros de saúde, postos da GNR, estações dos CTT, estações dos
caminhos-de-ferro, linhas ferroviárias, quartéis do Exército, repartições
públicas.
Tem de haver
um equilíbrio entre uma despesa pública sustentável e a desertificação de
grande parte do país. Este é um dever de que o Estado não se pode abstrair.
Voltando a Setil, passeando pela
estação encerrada no início de 2011, eu e um funcionário da CP fizemos uma
descoberta: uma ventilação a funcionar; depois outra: luzes acesas; e ainda
mais outra: aparelhos de ar condicionado a funcionar.
Estado
miserável. Nem apagar a luz e fechar a porta é capaz de fazer com competência.
As pessoas partiram há dois anos e
meio, mas as luzes permanecem acesas.
Os aparelhos de ar condicionado e a
ventoinha em pleno funcionamento numa estação semi-arruinada.
9 comentários:
Luz e ar condicionado que todos pagamos, bem entendido.
A política de destruição da rede ferroviária é d etal modo óbvia que não me parece haver nenhuma desculpa de "mal-entendido" que a permita desculpar. Primeiro alteram-se os horários de tal forma que os que sobram não interessam a ninguém; depois argumenta-se que as linhas não têm utilizadores; finalmente encerram-se os serviços e, por epílogo, destroem-se materialmente as vias férreas.
Isto tem sido feito sistematicamente, por todo o país (um dos casos mais escandalosos será a linha do Douro até Barca d'Alva - mas muitos outros há).
Esta volúpia "privitizacionista", esta manobra imensa de reduzir o Estado a um nada (que apenas serve os interesses imediatos dos que dele se apossaram) está já muito para lá da mania, da birra: já é taradice, já é obscenidade...
Todos os dias, por motivos uns mais relevantes que outros, nos vamos apercebendo da inutilidade dos nossos governantes, autênticos criminosos da nossa economia. A cumplicidade e despudor são vergonhosos. Não só não há o mínimo respeito pelo que é de todos, como ainda culpam os funcionários públicos pela situação em que se encontra o País. Ainda que nos saqueassem o vencimento todo (lá chegaremos!), nunca, mas nunca pagaremos a dívida. Porque os vampiros, apesar de nos sugarem o sangue nunca estão saciados.
Qualquer dia, o nosso País não passará de uma imensa memória, despovoado, a lembrar o farwest americano com as suas cidades fantasmas... E pensar que somos a Nação mais antiga da Europa!
Sérgio,
A destruição do caminho-de-ferro é um duplo crime:
1- Liquida-se um meio de transporte não poluente e considerado o mais seguro.
2- Vai-se sangrando as regiões mais desprotegidas de Portugal.
É indesculpável.
EStella,
Tem tanta razão... :-(
Os aparelhos do ar condicionado estão sempre ligados para manter sempre a sala a uma determinada temperatura por causa do servidor...e nesta terrinha ainda vivem cerca de 30 pessoas....velhos novos e crianças
Caro Dicas,
Obrigado pela..dica :-)
Eu escrevi baseado no que vi e no que ouvi de vários funcionários da CP.
Agora se me diz que há um servidor que ainda serve, o caso muda de figura, embora não justifique as luzes acesas, nem ponha em causa a essência do post.
Finalmente, eu não disse que a aldeia de Setil estava abandonada, apenas descrevi o que vi da ponte pedonal que atravessa a via férrea.
Agradeço o seu interesse pelo meu Blog!
Muito boa tarde venho por este meio mostrar a minha pro fum da triste por saber que o Setil se encontra em tal estado de abadano pois vivi la por muitos anos e tenho muitas memorias tanto da pequena escola que la existia como da própria estação e tris te ver um lugar que já teve tanta vida e pessoas abandonado por causas tão …. Nem sei o que descrever.
Tenho muitas fotas dos tempos em que o Setil era um lugar cheio de vida e uma vez mais só posso lamentar o fato de estar praticamente abandonado.
Cara Susy,
Nem sei o que lhe diga: vivemos num país em que se abandona e despreza terras e gentes como se fossem objectos descartáveis.
Embora agradeça a sua visita ao meu blog, lamento que o conteúdo lhe tenha causado tanta tristeza e nostalgia.
Susy
Pode divulgar fotos desse tempo
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