OS
PODRES DA POLÍTICA
O ex-Secretário do Tesouro Joaquim Pais Jorge, escreveu
um comunicado no qual se queixava que tinha sido vítima dos podres da política.
Enganou-se. Ele É um dos podres da
política portuguesa. Pelo que fez e pelo que representa.
O que é que ele fez?
Mentiu repetida e descaradamente sobre matérias
sensíveis da governação com repercussões directas na sua área de competência.
Mentiu porque a verdade o comprometia e punha em causa a sua credibilidade e
isenção enquanto governante. Não se arrependeu nem pediu desculpa, porque
também é arrogante e se julga acima daqueles que representa. Mas demitiu-se.
Demitiu-se porque viu que estava encurralado, ou porque foi simplesmente
corrido.
E o que é que ele representa?
Representa o maior cancro da vida política em Portugal.
É um mero exemplo e estará longe de ser dos mais representativos e nefastos,
mas faz parte.
Representa a promiscuidade vergonhosa entre PSD e PS no
que respeita a nomeações, cargos e compromissos espúrios, que minam a
transparência, a honestidade e as alternativas na política. E também representa
a indecorosa promiscuidade entre os partidos do poder e finança, nomeadamente a
banca (extensível a outros grandes interesses económicos). Esta será,
porventura, ainda mais danosa porque configura um Estado cúmplice e/ou subserviente
perante poderes que usam e abusam dos escassos recursos públicos, realizando
negócios (???) leoninos para a banca e ruinosos para o erário público.
Para cúmulo, é um sector de actividade que está proibido
de falir por obra e graça do Terreiro do Paço, ou do Bloco Central de
interesses. Para cúmulo dos cúmulos, quando os bancos estão em apuros, são
resgatados pelo Estado, ou seja, por nós. Custa dizer isto, mas eles são os
agiotas e nós somos os otários.
Isto é a verdadeira podridão da vida política portuguesa.
Um verdadeiro cancro do qual Joaquim Pais Jorge é uma célula maligna e não uma
vítima inocente. O que é pena é que a sua queda não tenha consequências para
além dele mesmo. As metástases continuarão a corroer o tecido político
nacional, agravando a ruína do Estado e o empobrecimento dos Portugueses.
P.S. Maria Luís Albuquerque não sai bem deste filme. A somar
às fortes suspeitas (certezas?) de mentira no caso dos swaps, junta-se uma
protecção até ao limite do seu Secretário de Estado. Perante as evidências,
essa atitude assemelha-se mais a cumplicidade do que a solidariedade.
6 comentários:
Caro Professor
Todos os governos que temos tido desde o 25 de Abril são como baralhos de cartas: estão viciadas e o desfecho do jogo previsível - ganha sempre a "casa".
Aliás, é graças a este somatório de quadrilhas "legais" que estamos na situação em que nos encontramos. Se a sociedade civil não muda de atitude, o desfecho já visível, é por demais espectável. Democraticamente falando, teremos o que merecemos.
Cara Estella,
Estou de acordo consigo. Aliás, o PS e o PSD estão SEMPRE destacados nos dois primeiros lugares das sondagens. Palavras para quê?
Mais um "post" excelente, o seu, Caro Dr. Miguel Ribeiro.
Como muito bem escreve, as ligações entre o poder político e o poder financeiro são numerosas: em cada grande banca os "economistas" têm o seu lugar à espera e as idas e voltas entre o "publico" e o "privado" são moeda corrente, a tal ponto que em França se lhes deu um nome : "pantouflage". (Pantoufle= chinelo, ou situação de espera dum funcionário num emprego do Estado, antes de encontrar um lugar na banca, ou numa grande empresa, à sua medida!). Os homens da finança sabem quem colocar nos postos chave do Estado, nos centros de decisão, ajudados pelos media que estão às ordens poisque pertencendo quase sempre às multinacionais e grupos financeiros para manipular a opinião e enganar os cidadãos.
Mas esta aliança vai contra os princípios do sistema capitalista e aparenta-se à corrupção: ela é a causa e a conseqüência, porque cria as condições dum conflito entre o interesse geral, que o político pretende defender, e o seu próprio interesse particular - que lhe confere a sua proximidade com o mundo das empresas ( os lobbies em Bruxelas servem precisamente para isso!).
A partida, esta aliança operou-se pela necessidade para os países ricos de ver perdurar a sua proeminência econômica sobre o resto do mundo e evitar, ou atrasar a emergência inevitável daqueles que se chamavam ainda há pouco países "sub-desenvolvidos", em "desenvolvimento" e depois "emergentes", e, por certos, já "emersos"!
Não podendo alinhar-se sobre a competitividade destes últimos, os países ricos criaram através desta aliança uma comunidade de interesses na qual os ricos obtêm o poder político oferecendo aos políticos uma parte da riqueza: eles obtêm assim o direito de modificar as leis vantajosamente, enquanto que os outros também beneficiam sendo já ricos.
Em conjunto ,os dois comparsas, modificam as leis da concorrência livre e não falseada para mudar não a letra mas o espirito: com subvenções, regras particulares ou a criação de espaços "offshore", permitiram a conservação ou o aumento do nível de vida duma parte das suas populações criando com a especulação e o crédito fácil um bolha financeira escandalosamente explosiva, a tal ponto que a totalidade dos haveres representa hoje não sei mesmo quantas vezes o PIB do planeta. Vimos bem que vivemos certamente a crédito, sentados em cima de vento, mas o poder de compra duma fração da população elevou-se, até à queda final.
Isto é o que traduz o "décalage" entre a economia real e os valores da bolsa: o desemprego aumenta por toda a parte enquanto que as grandes multinacionais aumentam sempre cada vez mais os lucros, conduzindo inevitavelmente à crise da qual suportamos hoje os efeitos. E não é nada comparado com o que nos espera!
Se observarmos bem a situação, assistimos hoje à ruptura da comunidade de interesses que acaba por degenerar necessariamente : quando os ricos pedem mais desregulação, o poder político deve suportar a ira do povo, e quando o povo reclama mais regulação são os ricos que ameaçam de sancções...
Os políticos, vê-se bem, encontram-se entalados entre dois fogos sem nunca conseguir contentar nem um nem o outro, a tal ponto que, perpetuando-se, a situação continua a deteriorar até ao ponto de não retorno, ponto que já ultrapassamos. Hoje estamos no "salve-se quem puder", e que se regule ou não já não mudará a situação.
Tenho a impressão que uma explosão final seguirá que será a única que permitirá de estabelecer as bases dum novo sistema, que ele seja capitalista ou não: os ricos reclamarão um novo Bretton Woods, os políticos tentarão de nos vender uma boa velha ditadura ( tipo Orwell ou Huxley), e os pobres sonharão de democracia. Uma vez mais.
Mais uma vez, mil desculpas pelo longo comentário, Caro Dr. Miguel Ribeiro.
Freitas Pereira
Caro Sr. Freitas Pereira,
Os meus agradecimentos e não tem que pedir de para além desculpa. Escreveu mais um comentário que merecia ser um post.
Eu só acrescentaria que, para além de muitos esquemas formalmente legais, muitos outros configuram descarada corrupção. Um político sério percebe facilmente onde a sua lealdade reside: no povo e na pátria. O que for para além disso é ilegítimo.
Quanto ao que o futuro próximo nos reserva, a sua visão de colapso aproxima-se muito do que escreve o meu amigo Sérgio Lira e realmente cada vez menos vejo outra saída....
Não poderia concordar mais contigo, Rui.
Eu sei Sérgio :-)
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